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CAPÍTULO VII ALINHANDO ÁRVORES E SOLOS NA REDE DA

8.3 A FLORESTA EM SOLOS MARGINAIS

Os materiais de divulgação do Programa Florestal Catarinense destacavam entre os benefícios sociais, econômicos e ambientais do reflorestamento, com relação aos solos: o aproveitamento de todo o potencial produtivo da propriedade rural, e o aumento da capacidade de infiltração da água e da sua quantidade, com melhoria da qualidade. Da mesma forma, o “Manual de Silvicultura para Produtores Rurais”, produzido pela EPAGRI e Klabin, o Boletim Didátito n. 50, é distribuído pela empresa em seu programa de fomento, e utilizado pela Epagri para capacitar agricultores para o reflorestamento (EPAGRI, 2003).

191 16/07/2006 21:27 http://www.orkut.com/Profile.aspx?uid=12379370289493860470 192 http://www.orkut.com/Profile.aspx?uid=557572436944268881 15/08/2006 22:47.

O manual propõe o Planejamento da Propriedade para orientar a escolha do local de plantio. Utiliza uma figura produzida primeiramente pela Sousa Cruz, na qual "cada área de terra tem uma vocação específica dentre da sua capacidade de uso do solo ou de proteção da natureza." Neste sentido, a "escolha das áreas para reflorestar e proteger a natureza" estão previamente distribuídas entre as áreas de produção e proteção. As áreas de produção são as áreas formadas por "lavouras, pastagem e fruticultura, floresta cultivada, floresta nativa de reserva legal"; as de "proteção" são as áreas de "mata ciliar com nativas frutíferas, nascente com nativas frutíferas, topo de morro e encosta íngreme com vegetação nativa espontânea". As "orientações para a conservação do meio ambiente" iniciam com a recomendação de que "a floresta comercial deve ser plantada nas áreas impróprias para as culturas anuais". Para a Souza Cruz, isto é fundamental para não competir com o fumo, carro chefe da empresa. Para a Klabin, não competir com outros usos do solo, evitando aumento do custo de terra, aliada a baixa exigência em solos pelas espécies utilizadas de pinus.

Recomenda-se o reflorestamento para ocupar mais eficientemente áreas marginais, áreas abandonadas ou áreas não aproveitáveis. Tomando-se por base o Censo de 1995 do IBGE, as áreas em descanso (pousio)193 são pouco expressivas, e foram reduzidas de 3,17 % em 1985 para 2,97% em 1995. As áreas produtivas não utilizadas194 baixaram de 2% para 1,4%. As áreas inaproveitáveis195 mantiveram-se em 5,27%, Indicando aumento da utilização da terra na região sul. Não constituindo uma cifra muito expressiva, mas se utilizadas para o cultivo de florestas seria o suficiente para dobrar a área refloresta na região Sul.

O manual recomenda que as áreas muito inclinadas, topos de morros, canhadas e matas ciliares devem permanecer com vegetação nativa de preservação permanente, além da reserva legal. A reserva legal, é "uma área de floresta nativa, que segundo as leis vigentes, cada propriedade deve deixar 20% de sua área, além da vegetação nativa de preservação permanente. Esta floresta "pode ser explorada sob a forma de manejo sustentado com um projeto aprovado pelo órgão ambiental competente".

No entanto, recomenda que nos "solos muito rasos, encharcados, com laje na superfície ou muito inclinados, e na beirada de cursos de água não se devem plantar florestas

193 Terras habitualmente utilizadas para o plantio de lavouras temporárias que em 31 de dezembro de 1995 se

encontravam em descanso, por prazo não superior a 4 anos em relação ao último ano de sua utilização.

194 Constituídas pelas áreas que se prestavam à formação de culturas, pastos ou matas e não estivessem sendo

utilizadas para tais finalidades à época do Censo Agropecuário. Foram incluídas as terras não utilizadas por período superior a 4 anos.

195 Formadas por áreas imprestáveis para formação de culturas, pastos e matas, tais como: areais, pântanos,

encostas íngremes, pedreiras, etc., e as formadas pelas áreas ocupadas com estradas, caminhos, construções, canais de irrigação, açudes, etc.

comerciais. Deixar estas áreas para o crescimento espontâneo de espécies nativas para formar a área da reserva legal e de preservação permanente". Ou seja, embora a reserva legal seja incluída no manual como uma área produtiva da propriedade rural, para ela é relegada os piores solos da propriedade rural. No entanto, se as florestas plantadas com finalidade comercial, que tem custo para serem implantadas, não devem disputar os melhores solos, qual tipo de solo será recomendado para ser ocupado pela Reserva Legal?

Existem ainda dois novos deslocamentos possíveis. Segundo o manual ainda, a recuperação da mata ciliar pode ser feita de forma prática e barata através do abandono do uso da área, eventualmente, protegida do gado com cercas. A "natureza se encarregará de formar, rapidamente uma mata ciliar bem diversificada, já que nestes solos existe um bom estoque de sementes de nativas e o solo é úmido e fértil". Este solo pode ser considerado pelo proprietário rural como de ótima qualidade para a produção agrícola, divergindo neste caso, da recomendação técnica inscrita no manual.

Outra assunção do manual é o fato que o proprietário rural não fará o plantio de matas ciliares, mas que a natureza se encarregará disso, evidentemente que para isto é necessário a existência da resiliência florestal. E nem sempre existem sementes de nativas na área em recuperação. "Na medida que a mata ciliar se recupera naturalmente, pode-se enriquecê-la, de preferência, com espécies nativas frutíferas para a alimentação de pássaros e do próprio homem".

O manual publicado em 2003 considerava as áreas de preservação permanente impossibilitadas de uso pelo proprietário da terra. Atualmente, o uso parcial de matas ciliares pode ser admitido, com reformas legais realizadas em abril de 2006, permitindo que o manual pudesse ser reformulado. Para isto, sistemas agroflorestais podem ser adotados, proporcionando uso agrícola concomitante com a recuperação da área.

O Levantamento edafoclimático Pinus taeda Santa Catarina realizado pela Embrapa Solos produziu um mapa de aptidão dos solos para P. taeda e P. elliottii com diferentes níveis tecnológicos (EMBRAPA SOLOS, 1999). O nível tecnológico Médio de manejo (Vide Quadro) se caracteriza pela modesta aplicação de capital e de resultados de pesquisa para manejo, melhoramento e conservação das condições das terras e das lavouras.

As avaliações de necessidade de adubação de essências arbóreas são distintas das adotadas para culturas agrícolas. As recomendações de adubação para essências exóticas e nativas constantes no Manual de recomendação de adubação e calagem do sul do Brasil não possuem vinculação com índices de produtividade, tais como incremento anual médio ou corrente, nem estão relacionados a índices de sítio. Tem a vantagem de correlacionar os

nutrientes mais exigidos pelas principais espécies, como K para pinus e P para eucalipto, de acordo com indicadores normalmente oferecidos nas análises de rotina dos laboratórios de análise de solos. Buscam apenas um crescimento satisfatório, relacionados muitas vezes a experimentos em vasos que não representam as necessidades das plantas durante o ciclo, e imitam parcialmente as condições iniciais de implantação do povoamento, o que poderia variar fortemente de acordo com os sistemas silviculturais adotados e históricos de uso solo a ser utilizado.

Quadro 18 - Critérios de aptidão para Pinus taeda em regime de manejo de nível B. Fonte: Embrapa Solos, 1999.

Como parte do processo de certificação, a Klabin Florestal Santa Catarina, distribuiu o documento "Resumo Público do Plano de Manejo Florestal", "com o intuito de levar informações sobre as atividades florestais desenvolvidas pela empresa" para a comunidade (KLABIN FLORESTAL, 2003). O Manejo Florestal da empresa possui sete diretrizes que abordam questões ambientais (5), sociais (1) e econômicas (1), dentre as quais a "Conservação do Solo” através da adoção de conceitos ambientais nas operações de preparo de terreno e abertura/manutenção de estradas.

Já a "proteção dos recursos hídricos", se dá "a partir de um Programa de Recuperação Ambiental [PRA] das áreas de preservação permanente". Seguindo a tese de que, a água está desvinculada da floresta plantada, e que protegendo as áreas mais vulneráveis da sua própria atividade econômica, garante-se a liberdade para continuar atuando no restante da bacia hidrográfica com "sustentabilidade econômica e competitividade florestal" (KLABIN, 2003).

O programa de fomento florestal da Klabin desenvolvido desde em 1989 em parceria com a Epagri e Prefeituras municipais distribuiu até 2003 cerca de 22 milhões de mudas de

Pinus taeda. Além da doação das mudas, foram realizados treinamentos dos agricultores

beneficiários nas regiões de atuação da empresa, "possibilitando o uso de terras impróprias para a agricultura e viabilizando a utilização do sistema agrosilvopastoril"196 (KLABIN, 2003). Atuando "na linha da agricultura familiar", a promoção da silvicultura é orientada para utilização no máximo de 35% da área útil da propriedade (KLABIN, 2003). Afirmação controversa, pois a ciência florestal e agronômica mundial podem apresentar alternativas de utilização de qualquer tipo de solo (PEREIRA, 2004).

8.4 COMO A SILVICULTURA RESISTIU AOS ATAQUES DE UM