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6 O EFEITO DE SENTIDO EM TORNO DA NOÇÃO DE COMPETÊNCIA

6.5 O COMPONENTE CURRICULAR LÍNGUA INGLESA NA

6.5.3 A competência nos métodos formativos

Num ensino pautado pelos efeitos da competência, observa-se a frequente utilização da ideia de “técnicas” no DPC – LI como um dos aspectos do método formativo. Ao se remeter à um ensino voltado para a resolução de problemas90, esse método é apontado por Araújo (2001, p. 53) como “o método da competência por excelência, já que permite a mobilização combinada de conhecimentos, habilidades e atitudes em situações autênticas ou muito parecidas com a realidade”. Ao se deslocar essas ideias para o espaço do Discurso Pedagógico Curricular – Língua Inglesa, observa-se algumas relações entre as “técnicas” e um ensino voltado para a resolução de problemas. Tomemos mais uma vez aqui a materialidade da sequência discursiva 4.4, em que se enuncia os seguintes dizeres:

4.4a - “As técnicas de linguagem são modeladas para engajar os alunos no uso pragmático, autêntico e funcional da linguagem para propósitos comunicativos significativos”; e

4.4b - “A fluência e a correção gramatical são vistas como princípios subjacentes às técnicas

comunicativas.

Tal como se percebe, as “técnicas de linguagem” e as “técnicas comunicativas” enunciadas em 4.4a e 4.4b mostram o olhar da competência sobre os métodos formativos no DPC – LI. É que, ao se trazer a abordagem comunicativa para o espaço do ensino de Língua Inglesa, traz-se toda a discursividade dessa abordagem, incluindo a questão das técnicas linguísticas e comunicacionais. A partir de 4.4b, ao se dizer que “a fluência e a correção gramatical são vistas como princípios subjacentes”, é possível perceber pelo discurso que as “técnicas comunicativas” se sobrepõem a “correção gramatical” e a “fluência”. Ou seja, há uma valorização das “técnicas comunicativas”. Há uma dominância dessas técnicas. Mesmo com essa sobreposição, veja-se que não se deixa de fazer também uma referência à “gramatica”, um certo comprometimento em se dizer a gramática, ainda que para servir de contraponto à abordagem comunicativa. Ou seja, há essa marcação de posição a partir da discursividade ligada à gramática. Decorre daí que, mesmo a abordagem comunicativa sendo considerada uma alternativa ao ensino de gramática no DPC – LI, observa-se ainda o tom do discurso vinculado ao ensino da gramática:

Ressaltamos que, ao fazer uso de uma proposta que busque respaldo nessa abordagem [comunicativa], o professor de inglês pode tornar seu ensino comunicativo até mesmo quando tiver tópicos gramaticais a serem explorados: basta utilizar a criatividade para

90 Segundo Araújo (2001, p. 53), o método de ensino por problema foi desenvolvido por Dewey, numa “crítica aos

desenvolver propostas lúdicas, interacionais e significativas para os alunos, ajudando- os a atingir seus objetivos (PTDEM/IFRN, 2012, p. 63).

Pelo que se diz, o ensino pode ser comunicativo, mas para isso tem que se “utilizar a criatividade para desenvolver propostas lúdicas, interacionais e significativas para os alunos”. Isso implica, necessariamente, que o ensino também pode ser gramatical, caso não se utilize a criatividade. Assim, o que se observa aqui é que a competência perpassa a discursividade do DPC – LI também nos métodos formativos.

É que ao possibilitar que o professor desenvolva uma “abordagem comunicativa” para o ensino de Inglês, o PTDEM menciona necessariamente o modo de implementação dessa abordagem, que deve levar em consideração a indagação “como se aprende uma língua estrangeira?” (PTDEM/IFRN, 2012, p. 62). O próprio documento traz a reposta na forma de negativas, afirmando “NÃO SER através: (1) do ensino de gramática pela gramática, sem foco em sentido; (2) da manipulação da forma, das transformações de estruturas afirmativas em negativas e interrogativas; (3) do uso de textos artificiais; (4) do uso de exemplos com atividades muito distantes da realidade dos alunos” (PTDEM/IFRN, 2012, p. 62, negrito e caixa alta do documento). Logo em seguida, ao se dizer que “a aprendizagem de uma língua estrangeira ocorre quando a língua faz sentido ao aluno, oferecendo-lhe oportunidade de uso desse instrumento, ao ler, ouvir, falar, escrever, interagir pela internet” (PTDEM/IFRN, 2012, p. 62 - 63), o documento expressa que sua proposta metodológica “se adequa ao que conhecemos como abordagem comunicativa” (PTDEM/IFRN, 2012, p. 63), e busca o desenvolvimento:

1) de um ensino que coloque o aluno como centro do processo de ensino- aprendizagem (learner-centered instruction); 2) de uma aprendizagem cooperativa e colaborativa (cooperative and colaborative learning); 3) de uma aprendizagem interativa (interactive learning); 4) de uma visão de educação de língua como um todo

(whole language education); 5) de um ensino baseado em conteúdos (content-based instruction); 6) e de um ensino baseado em tarefas (task-based instruction).

Observa-se, dessa forma, que há uma ênfase na “visão de educação de língua como um todo” e em “um ensino baseado em conteúdos e tarefas”. Para nós, todos esses aspectos remetem à uma ideia de se buscar desenvolver a competência comunicativa, o domínio da língua, a habilidade oral, o que pode se traduzir numa dimensão da língua e do ensino em que se pode “tirar” algo dela, conseguir alcançar alguma coisa por meio dela, como domínio, conhecimento, competência, etc. Nesses termos, a língua seria um instrumento de comunicação em que “transmitem-se blocos fechados e adquiridos” (PFEIFFER, 2005, p. 30) de conteúdos e conhecimentos.

Portanto, ao se estimular uma aprendizagem situada e por meio de materiais autênticos e reais, a abordagem comunicativa possibilitaria uma aprendizagem contextualizada e útil aos

estudantes. As situações de aprendizagem de língua seriam extraídas de conversações naturais e verdadeiras e adaptadas às situações didáticas de sala de aula, requerendo do aluno conhecimentos, habilidades e atitudes para seu completo “domínio”. Os procedimentos de ensino dessa abordagem são aqueles de trabalhos em grupo (ou em pares), dramatizações e seminários voltados para o desenvolvimento da competência comunicativa dos estudantes.

6.6 CONCLUSÃO PARCIAL

Aqui no capítulo VI a competência demonstrou seu funcionamento hiponímico no interior do Discurso de Formação Específica. Funcionamento hiponímico porque tem seu sentido englobado pela chamada Abordagem Comunicativa. Pelo discurso, a competência funciona como hiponímia da Abordagem Comunicativa. Nesse funcionamento, a competência vai ganhando um efeito sinonímico de competência comunicativa. Ou seja, falar em competência no DFE significa falar em competência comunicativa.

Nesse passo, a competência vai sendo trabalhada nos objetivos, nos conteúdos e nos métodos de formação, elementos que compõem o documento chamado PTDEM. Seria, portanto, a sua materialização. Foi possível observar ainda que a enunciação dos termos remete sempre a algo que se pode “tirar” da língua, que se pode “subtrair”, como por exemplo o domínio, a competência, etc. Essa visão da língua foi trabalhada a partir de algumas construções teóricas de Michel Pêcheux acerca da memória coletiva e da questão das “técnicas” da psicologia social dos anos 1960, e é entendida aqui como um olhar cognitivista de base psicológica.