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2 O PERCURSO DA EDUCAÇÃO PROFISSIONAL OFERTADA

2.3 OS INSTITUTOS FEDERAIS DE EDUCAÇÃO, CIÊNCIA E TECNOLOGIA

2.3.1 O Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio

Pelos termos da Lei 11.892, de 29 de dezembro de 2008, o então Centro Federal de Educação Tecnológica do Rio Grande do Norte (CEFET/RN) passa a ter uma nova institucionalidade, isto é, passa a ser o Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Norte (IFRN), fazendo parte, assim, da Rede Federal de Educação Profissional e Tecnológica, vinculada ao Ministério da Educação. Desde 1994, a instituição tem “a cultura institucional de reger-se por meio de um Projeto Político-Pedagógico” (IFRN, 2012, p. 15). Primeiro, elaborou-se a Proposta Curricular da Escola Técnica Federal do Rio Grande do Norte,

que foi revisada em 1999 por ocasião das reformas decorrentes do decreto 2.208/1997; em 2004, o documento é reelaborado e passa a se chamar Redimensionamento do Projeto Político- Pedagógico do CEFET-RN: um documento em construção. Por ocasião de sua nova institucionalidade, em que a instituição passa a ser Instituto Federal, o documento passa por uma redefinição das práticas pedagógicas, culminando no atual Projeto Político-Pedagógico (IFRN, 2012).

O PPP do IFRN (IFRN, 2012) é entendido como “um instrumento de gestão democrática que possibilita a reflexão crítica e contínua a respeito das práticas, dos métodos, dos valores, da identidade institucional e da cultura organizacional” (IFRN, 2012, p. 15) e como tal objetiva “promover mudanças nas concepções e nas práticas cotidianas traçando diretrizes referenciadoras da caminhada educativa” (IFRN, 2012, p. 15). O documento divide-se em sete volumes: Documento Base, Processo de construção do PPP, Organização Didática, Diretrizes Orientadoras da Revisão das Ofertas, Propostas de Trabalho para as Disciplinas do Ensino Médio – PTDEM, Projetos Pedagógicos de Curso e Cadernos temáticos.

Possuindo natureza jurídica de autarquia e detendo autonomia administrativa, patrimonial, financeira, didático-pedagógica e disciplinar, o IFRN é “uma instituição de educação superior, básica e profissional, especializada na oferta de educação profissional e tecnológica nas diferentes modalidades de ensino, conjugando conhecimentos científicos, técnicos e tecnológicos a ideais pedagógicos de fundamentação histórico-crítica” (IFRN, 2012 p. 19).

Com estrutura multicampi, o IFRN tem sua Reitoria localizada em Natal e, por ocasião da expansão da Rede Federal de Educação Profissional (que possibilitou a criação de mais vinte campi, sendo quatro deles denominados de campi avançado), é composto, até o ano de 2020, por vinte e dois campi (IFRN/PLANO DE ATIVIDADES, 2020), conforme segue:

→ Campus Natal Central → Campus Mossoró

→ Campi oriundos da expansão da Rede Federal de Educação Profissional: Apodi, Caicó, Canguaretama, Ceará-Mirim, Currais Novos, Ipanguaçu, João Câmara, Lajes, Macau, Natal Cidade-Alta, Natal-Zona Norte, Nova Cruz, Parnamirim, Pau dos Ferros, Santa Cruz, São Gonçalo do Amarante e São Paulo do Potengi.

→ Campi avançados: Lajes, Parelhas, Jucurutu e Natal-Zona Leste. A figura abaixo apresenta essa distribuição geográfica no estado do Rio Grande do Norte.

Figura 1 - Distribuição geográfica dos campi do IFRN.

Fonte: Plano de Atividades 2020 (IFRN, 2020)

O IFRN possui estrutura pluricurricular organizada em quatro eixos, a saber, ciência, trabalho, cultura e tecnologia, e são compreendidos como princípios norteadores da prática educativa. Desenvolvendo também pesquisa e extensão, o IFRN busca contribuir para a transformação dos processos educacionais e, de modo mais amplo, para transformação da sociedade.

A comunidade acadêmica é composta por estudantes, professores e técnicos- administrativos e a destinação das vagas contempla 50% (cinquenta por cento) para a Educação Profissional Técnica de Nível Médio, 20% (vinte por cento) para a formação de professores da Educação Básica e as demais vagas são destinadas à complementação ou outras formas de oferta como Especializações, Mestrados e Doutorados (profissionais ou Interinstitucionais). A gestão é pautada pela consolidação de uma sociedade democrática e “para efeito de regulação, avaliação e supervisão da Instituição e dos cursos de educação superior”, o IFRN equipara-se às Universidades Federais (IFRN, 2012, p. 25). O IFRN está submetido a legislação federal específica e é regido pelos seguintes documentos: estatuto, regimento geral, regimento interno dos campi e dos demais órgãos componentes da estrutura dos IFs. É regido também por resoluções do Conselho Superior (CONSUP), deliberações do Colégio de Dirigentes (CODIR) e do Conselho de Ensino, Pesquisa e Extensão (CONSEPEX) e atos da Reitoria.

De acordo com seu PPP (IFRN, 2012, p. 20), “a expansão do IFRN amplia, significativamente, a atuação nas áreas de ensino, de pesquisa, e de extensão”, contribuindo para a formação humana e cidadã e estimulando o desenvolvimento socioeconômico. Oferece “um ensino público, laico, gratuito e de qualidade” e em sintonia com sua função social, isto é,

Ofertar educação profissional e tecnológica – de qualidade referenciada socialmente e de arquitetura político-pedagógica capaz de articular ciência, cultura, trabalho, e tecnologia – comprometida com a formação humana integral, com o exercício da cidadania e com a produção e a socialização do conhecimento, visando, sobretudo, a transformação da realidade na perspectiva da igualdade e da justiça sociais (IFRN, 2012, p. 21).

O IFRN busca contribuir para uma formação omnilateral e humanística pautada pelo “(re)dimensionamento qualitativo da práxis social” (IFRN, 2012, p. 21) e ancorada nos seguintes princípios:

a) justiça social, com igualdade, cidadania, ética, emancipação e sustentabilidade ambiental;

b) gestão democrática, com transparência de todos os atos, obedecendo aos princípios da autonomia, da descentralização e da participação coletiva nas instâncias deliberativas;

c) integração, em uma perspectiva interdisciplinar, tanto entre a educação profissional e a educação básica quanto entre as diversas áreas profissionais;

d) verticalização do ensino e sua integração com a pesquisa e a extensão;

e) formação humana integral, com a produção, a socialização e a difusão do conhecimento científico, técnico-tecnológico, artístico-cultural e desportivo;

f) inclusão social quanto às condições físicas, intelectuais, culturais e socioeconômicas dos sujeitos, respeitando-se sempre a diversidade;

g) natureza pública, gratuita e laica da educação, sob a responsabilidade da União; h) educação como direito social e subjetivo; e

i) democratização do acesso e garantia da permanência e da conclusão com sucesso, na perspectiva de uma educação de qualidade socialmente referenciada (IFRN, 2012, p. 21)

Os artigos 6º e 7º da lei 11.892 de 29, de dezembro de 2008, definem as características e objetivos do IFRN, respectivamente apresentadas conforme quadro abaixo:

a) ofertar educação profissional e tecnológica, em todos os níveis e em todas as modalidades, formando e qualificando cidadãos para atuação profissional nos diversos setores da economia, com ênfase no desenvolvimento humano e socioeconômico; b) desenvolver a educação profissional e tecnológica como processo educativo e investigativo de geração e adaptação de soluções técnicas e tecnológicas que atendam às demandas sociais e às peculiaridades regionais;

c) promover a integração e a verticalização em todos os níveis de ensino (da educação básica à educação profissional e à educação superior), otimizando a infraestrutura física e valorizando os recursos humanos;

Características

d) orientar a oferta formativa em benefício da consolidação, do desenvolvimento e do fortalecimento dos arranjos produtivos sociais e culturais, identificados com base no mapeamento das potencialidades locais e regionais;

e) constituir-se em centro de excelência na oferta do ensino de ciências, em geral, e de ciências aplicadas, em particular, estimulando o desenvolvimento de espírito crítico, reflexivo e voltado à pesquisa;

f) qualificar-se como centro de referência no apoio à oferta do ensino de ciências nas instituições públicas de ensino, oferecendo formação inicial e continuada aos docentes das redes públicas de ensino;

g) desenvolver programas de extensão e de divulgação científica e tecnológica; h) realizar e estimular a pesquisa científica e tecnológica, a produção cultural e a inovação

tecnológica;

i) estimular o cooperativismo e o desenvolvimento científico e tecnológico; e

j) promover a produção, o desenvolvimento e a transferência de tecnologias, notadamente as voltadas à sustentabilidade ambiental e às demandas da sociedade.

Objetivos

a) ministrar educação profissional técnica de nível médio, prioritariamente, na forma integrada, para os concluintes do ensino fundamental e para o público da educação de jovens e adultos;

b) ministrar cursos de formação inicial e continuada ou de qualificação profissional, objetivando a formação, o aperfeiçoamento, a especialização e a atualização de profissionais, em todos os níveis de escolaridade, nas áreas da educação profissional e tecnológica;

c) fomentar a pesquisa como princípio educativo;

d) realizar pesquisas aplicadas, estimulando o desenvolvimento de soluções tanto técnicas

quanto tecnológicas e estendendo os benefícios à comunidade;

e) desenvolver atividades de extensão articuladas com o mundo do trabalho e com os segmentos sociais, enfatizando o desenvolvimento, a produção, a difusão e a socialização de conhecimentos culturais, científicos e tecnológicos;

f) estimular e apoiar processos educativos que levem à geração de trabalho e de renda e à

emancipação do cidadão, na perspectiva do desenvolvimento humano, cultural, científico,

tecnológico e socioeconômico local e regional; e

g) ministrar, em nível de educação superior, cursos superiores de tecnologia,

bacharelado e engenharia, visando a formação de profissionais para as diferentes áreas

do conhecimento e para as demandas da sociedade; cursos de licenciatura e programas

especiais de formação pedagógica, com vistas à formação de professores para a atuação

na educação profissional e na educação básica, sobretudo nas áreas de ciências da natureza e de matemática; cursos de pós-graduação lato sensu (tanto de aperfeiçoamento quanto de especialização), visando a formação de especialistas nas diferentes áreas do conhecimento; e cursos de pós-graduação stricto sensu (tanto de mestrado quanto de doutorado), visando o estabelecimento de bases sólidas em educação, ciência e tecnologia.

A expansão do IFRN está pautada na interiorização da educação profissional e no “compromisso de contribuir, significativamente, para o desenvolvimento socioeconômico” (IFRN, 2012, p. 28) das regiões atendidas. Nesse sentido, a atuação da instituição busca a “consolidação e o fortalecimento dos arranjos produtivos, culturais e sociais locais” (IFRN, 2012, p. 25) como forma de contribuir para o combate às desigualdades estruturais por meio da formação humana e integral.

De acordo com Pacheco (2010), uma das finalidades dos Institutos Federais é estabelecer um diálogo vivo e próximo com a realidade local e regional, buscando na “compreensão dos aspectos essenciais dessa relação e na sedimentação do sentimento de pertencimento territorial” uma possível subversão “da submissão de identidades locais a uma global” (PACHECO, 2010, p.18). Pacheco (2010, p. 19) observa a importância do próprio lócus como passagem necessária para uma educação que proporcione ao sujeito “o desenvolvimento de sua capacidade de gerar conhecimento”. Para o autor:

O território de abrangência das ações de um Instituto é, em resumo, a mesorregião22

onde se localiza, mas pode ir além dela quando se concebe sua atuação em rede. Em sua intervenção, os Institutos devem explorar as potencialidades de desenvolvimento, a vocação produtiva de seu lócus; a geração e transferência de tecnologias e conhecimentos e a inserção, nesse espaço, da mão de obra qualificada. Para tanto, o monitoramento permanente do perfil socioeconômico-político-cultural de sua região de abrangência é de suma importância (PACHECO, 2010, p. 19)

Para efeito de ilustração dessas potencialidades e vocações produtivas, apresentaremos a seguir um quadro com os municípios que possuem campi do IFRN e seus respectivos arranjos produtivos sociais e culturais locais.

22 O autor compreende mesorregião como “uma área individualizada, em uma unidade da federação, que apresente

formas de organização do espaço definidas pelas seguintes dimensões: o processo social, como determinante, o quadro natural, como condicionante e, a rede de comunicação e de lugares, como elemento de articulação espacial (PACHECO, 2010, p.19).

Fonte: Sampaio (2013, p. 85)

Para a definição desses arranjos, o IFRN se baseia em dados político-administrativos do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), ou seja, são dados socioeconômicos gerais que envolve, entre outros aspectos, densidade populacional e as atividades produtivas dos municípios brasileiros. Voltaremos a tratar desses “arranjos locais” e sua vinculação ao discurso da competência no capítulo V desta tese. Por ora, nos deteremos na questão das condições de produção sócio-histórica do discurso da competência.