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4 ALGUNS APONTAMENTOS METODOLÓGICOS

4.3 O RECORTE DISCURSIVO

4.3.2 Os Materiais de Divulgação Institucionais (MDIs)

Por também envolver, em nossa análise, corpora eletrônicos, sentimos a necessidade de especificarmos o que estamos chamando de Materiais de Divulgação Institucional (MDIs): o que seriam esses materiais? Com que propósito estamos utilizando essa nomenclatura? Conforme já dissemos na introdução desta tese, este é um trabalho que surge a partir do questionamento acerca da recente retomada e consequente circulação da temática da competência no espaço político-educacional do IFRN.

Pois bem, observa-se que essa retomada tem sido discursivizada e materializada principalmente no sítio oficial da instituição, ou seja, é nele que tem sido publicizada, entre outras temáticas, aquela da competência. Isso não quer dizer, entretanto, que alguma noção de competência já não estivesse lá, no espaço político-educacional do IFRN, materializada em seus documentos desde o ano de 199747, ano da publicação do documento que é considerado a primeira proposta de um PPP para a instituição. A competência aparece lá, escrita no documento, e é a partir deste documento que estamos iniciando a temporalidade do recorte dos PPPs.

Voltemos então a questão do que estamos considerando como Materiais de Divulgação Institucional. Nogueira (2015), em seu estudo acerca das relações de trabalho na Petrobrás estabelece, para a análise de seu corpus, o que chama de “materiais de comunicação institucional”, ou seja, um conjunto de discursos que circulavam no interior da empresa e que foram objeto de seu estudo. A autora se refere a materialidade desses discursos para trabalhá- los enquanto um conjunto discursivo de materiais utilizados na comunicação institucional da empresa.

45 Cada um dos PPPs pode ser encontrado no sítio oficial do IFRN: https://portal.ifrn.edu.br/institucional/projeto-

politico-pedagogico-1

46 Em alguns momentos utilizo a palavra “documento”, “texto”, e “PPP” de forma intercambiável.

47 Consideramos, conforme relata o documento de 1997, que o discurso da competência já circulava mesmo antes

É, pois, a partir desse construto metodológico definido por Nogueira (2015) que estamos compreendendo as postagens de notícias institucionais publicadas e circuladas no sítio oficial do IFRN e os documentos a elas vinculados48 como Materiais de Divulgação Institucional (MDIs). Observe-se, porém, que, ao tomarmos as notícias veiculadas no sítio institucional como um material, não estamos dizendo que esse material é um documento institucional no sentido que tem os PPPs para o IFRN. O que estamos chamando de Materiais de Divulgação Institucional é um conjunto de fragmentos discursivos extraídos de notícias e de alguns de seus respectivos anexos (ppt ou pdf). Portanto, o que estamos formulando é a apresentação de um conjunto de fragmentos de notícias recortadas em determinada temporalidade para os fins desta tese, sob o título de Materiais de Divulgação Institucional. Divulgação por que esta é uma das funções a que se destina o sítio institucional: divulgar as ações do IFRN. Institucional por que é vinculado à uma instituição (IFRN). Para nós, isso não implica em uma análise de todas as “entradas” de notícias veiculadas no sítio oficial, mas sim uma busca por aquelas notícias cuja temática possibilita enxergar alguma relação discursiva com a competência para servir aos propósitos analíticos desta tese.

Mesmo conscientes de que essa temática vem sendo discursivizada na materialidade dos PPPs, apontando para um sentido ou outro, sentimos que as notícias publicadas no sítio da instituição, na temporalidade em que as recortamos, entrecruzam e redizem o que já foi dito, no papel ou na tela, nas entrelinhas dos PPPs. Por esta razão, enxergamos os MDIs com um olhar perscrutador, de observar cada ponto dado nessa malha discursiva que é a prática político- pedagógica, de forma que o que ali se diz sobre a competência (ou a algo a seu respeito), tem uma historicidade, já foi dito antes, mas que está sendo reformulado, reescriturado, portanto produzindo (ou silenciando) sentidos. E é essa historicidade que nos interessa estudar.

Entendemos que o que ocorre nesses materiais é uma possível repetição do já-dito, do já-estabelecido institucionalmente, e que agora está sendo retomado, fazendo “laço” (GUIMARÃES [2011] 2012, p. 29). Esse agora a que nos referimos diz respeito ao recorte temporal dos MDIs, ou seja, mesmo sabendo da publicação de notícias envolvendo alguma noção de competência desde a publicação de sua primeira proposta de PPP (em 1997), é a partir de dezembro de 2018 – marco inicial do nosso recorte temporal do MDI – que ela ganha força, muitas vezes escamoteadas em notícias, headings, tags, etc. que não tratam especificamente da competência, mas que é possível, a partir da nossa posição, mapeá-la. O recorte dessas

48 Os documentos a que nos referimos aqui incluem apresentações (de projetos institucionais, tanto no formato

PPT como PDF) realizadas em reuniões institucionais e publicadas no sítio institucional do IFRN, portanto, disponíveis a qualquer pessoa.

postagens se estende até o fim de abril de 2019, quando o governo federal anuncia o contingenciamento de gastos das universidades e dos institutos federais, ocasião em que parece haver certo silenciamento desse discurso.

Ao nosso ver, portanto, de dezembro de 2018 a abril de 2019, a temática da competência figura entre as “tendências do momento” no espaço virtual do IFRN. Nesse período, bem entendido, observa-se a circulação de temáticas outras que não necessariamente tomam a competência como seu objeto central, mas que continha algum rastro desse discurso em seu modo de enunciar. São as postagens contendo essas temáticas que recortamos para servir de entrecruzamento ao recorte dos PPP.

O que importa para nós, com a configuração dos MDIs aqui delineada, é dizer que o sítio oficial da instituição tem servido como um espaço para circulação de discursos, eles os mais variados. E, para os propósitos desta tese, um importante lugar de observação das práticas discursivas institucionais. Observações que, a partir de nossos interesses e objetivos, somadas ao teor da materialidade dos PPPs e do PTDEM na discursividade do arquivo, formam os fios que se entrecruzam para compor uma malha discursiva, o corpus, de modo que recortá-lo não deixa de ser já uma análise discursiva, entendida nos termos colocados por Orlandi (2015).