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4 ALGUNS APONTAMENTOS METODOLÓGICOS

4.3 O RECORTE DISCURSIVO

4.3.1 Os Projetos Político-Pedagógicos (PPPs)

As versões do Projeto Político-Pedagógico (PPP) que estamos recuperando para servir aqui de materialidade da língua na discursividade do arquivo (ZOPPI-FONTANA, 2005, p. 97) são o conjunto de documentos oficiais do IFRN disponíveis em seu sítio institucional43, e, como tal,

Deve ser compreendido como um planejamento global de todas as ações de uma instituição educativa, abarcando direcionamentos pedagógicos, administrativos e financeiros. É um instrumento de gestão democrática que possibilita a reflexão crítica e contínua a respeito das práticas, dos métodos, dos valores, da identidade institucional e da cultura organizacional (IFRN, 2012, p. 15).

Sendo o documento que rege as práticas escolares e institucionais do IFRN e construído no interior desse ambiente, o PPP toma aqui o caráter de materialidade de discursos que o atravessam, tornando-se lugar privilegiado para a compreensão de como um objeto simbólico pode revestir-se de uma multiplicidade de sentidos. Eis aí o processo pelo qual a Análise do Discurso vai se interessar de modo particular: “a explicitação dos processos de significação presentes no texto”, permitindo “que se possam ‘escutar’ outros sentidos que ali estão, compreendendo como eles se constituem” (ORLANDI, 2012, p. 26). Se, por um lado, pode-se dizer que o PPP por definição envolve um ambiente histórico-social, dotado de intenção,

sentido e ideologia, por outro lado pode-se falar que necessariamente implica discurso, logo, “se torna um corpus fértil para a Análise do Discurso” (ALAMINI, 2015, p. 64).

Podemos dizer, assim, que a própria ordem cronológica de suas publicações já é o nosso recorte temporal, pois retratam três momentos distintos da instituição ao longo do último quarto de século. O que se torna presente para nós, dessa forma, é que a competência numa versão do PPP institucional se reporta sempre a outras versões anteriores, a outros PPPs. A diferença está no modo que é formulada. Há sempre em cada um deles um dizer de outros: um documento fala de outros, ou a partir de outros, nos termos expressos por Guimarães ([2011] 2012), e nessa relação, incorpora-se, modifica-se, produz-se, apaga-se outros sentidos.

Para efeito de exemplificação, o PPP da ETFRN foi publicado em 1997 (ETFRN, 1997) e reflete sua institucionalidade enquanto Escola Técnica Federal; os PPPs do CEFET/RN44 foram publicados em 1999 e 2005 (CEFET, 1999; 2005) e retratam sua institucionalidade enquanto Centro Federal; e finalmente o PPP do IFRN (IFRN, 2012) discute sua mais recente institucionalidade enquanto Instituto Federal. Nessa história do dizer institucional, encontramos, portanto, algumas versões deste mesmo PPP, mas o que interessa para nós é saber o que o modo de dizer de uma palavra significa nessas versões.

Especifiquemos, então, esse recorte: o documento de 1997 serve aqui como o marco inicial do recorte dos PPPs, sendo ele mesmo objeto de análise, se estendendo até a publicação do mais recente PPP, datado de 2012. Ou seja, podemos dizer que de 1997 a 2012, nos vários documentos norteadores da prática pedagógica que se seguiram, sob três diferentes institucionalidades, a competência perpassa cada um deles.

É preciso dizer ainda que, ao estabelecermos a temporalidade desse recorte, não significa que analisaremos todos os documentos institucionais publicados no referido período, até por que após a publicação do PPP de 1997, outros documentos o seguiram: (a) Projeto de Reestruturação Curricular do CEFET (1999, volume I e II); (b) Proposta Curricular do Ensino Médio do CEFET (2001); (c) Redimensionamento do Projeto Pedagógico do CEFET (2003); (c) Projeto Político-Pedagógico do CEFET (2005); e (d) Projeto Político-Pedagógico do IFRN (2012). O que se busca é a compreensão de um dizer, nos documentos que tratam especificamente da Educação Profissional, cuja temporalidade recorta um passado de sentidos já produzidos e que pode projetar um futuro com outros sentidos. Nessa perspectiva, os

44 Embora o CEFET também tenha publicado, por ocasião da reforma estabelecida pelo decreto 2.208/1997, um

PPP especificamente para o Ensino Médio (CEFET, 2001), aqui trabalharemos apenas os dois documentos que tratam especificamente da Educação Profissional Técnica de nível médio, isto é, o documento de 1999 e do documento de 2005, conforme veremos mais à frente.

documentos que estamos apontando como pertencentes ao nosso recorte, para fins da análise empreendida nesta tese, e por retratar cada uma das três diferentes institucionalidades da mesma instituição, são os PPPs que seguem:

1 - O documento de 1997 (ETFRN, 1997), devido ser considerado o primeiro PPP institucional, e, para nós, o marco inicial de análise. Sobre este documento, é preciso deixar claro sua temporalidade: embora “a cultura institucional de reger-se por meio de um projeto político-pedagógico vem se consolidando desde 1994” (IFRN, 2012, p. 15), a versão publicada no sítio oficial da instituição data de 1997. Mesmo compreendo que as discussões acerca da proposta do primeiro PPP se iniciaram antes de 1997, trabalharemos a versão publicada no site oficial, datada de 1997.

2 - O documento de 1999 (CEFET/RN, 1999), por retratar a realidade do CEFET/RN no momento da reforma da Educação Profissional conferida pelo decreto 2.208/1997, no governo do então presidente Fernando Henrique Cardozo (PSDB), que impossibilitava a integração da modalidade de ensino profissional com o ensino médio.

3 – O documento de 2005 (CEFET/RN, 2005), que busca redimensionar as ofertas educacionais do CEFET/RN após a revogação do decreto 2.208/1997 e a consequente promulgação do decreto 5.154/2005 no governo do então presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), cujo teor permitia a retomada da integração da modalidade de ensino profissional com o ensino médio.

4 - O documento de 2012 (IFRN, 2012), por retratar sua mais recente institucionalidade enquanto Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia.

Este último PPP é o mais recente documento a “nortear, em todos os âmbitos do IFRN, as práticas político-pedagógicas institucionais” (IFRN, 2012, p. 14) e divide-se em sete volumes: Documento Base, Processo de construção do PPP, Organização Didática, Diretrizes Orientadoras da Revisão das Ofertas, Propostas de Trabalho para as Disciplinas do Ensino Médio – PTDEM, Projetos Pedagógicos de Curso e Cadernos temáticos. Na materialidade deste documento, além de recortamos Sequências Discursivas do Documento Base (Volume I) e dos MDIs, no que estamos chamando de Discurso de Formação Profissional, selecionamos também sequências da Proposta de Trabalho das Disciplinas do Ensino Médio – PTDEM (Volume V), no que estamos chamando de Discurso de Formação Específica. Conforme já mencionamos, o Discurso de Formação Específica engloba as disciplinas de formação propedêutica, ou seja, as disciplinas específicas do Ensino Médio.

Com o objetivo de facilitar a análise, distinguiremos, ao longo desta tese, cada um dos PPPs45 pelo seu ano de publicação, ou seja, chamaremos de Documento46 de 1997 (DOC/1997) o PPP da ETFRN, de Documento de 1999 (DOC/1999) e Documento de 2005 (DOC/2005) os PPPs do CEFET/RN e de documento de 2012 (DOC/2012) o PPP do IFRN e seu volume V (DOC/2012-PTDEM).