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7 CONSIDERAÇÕES FINAIS

7.2 O EFEITO DE SENTIDO DA COMPETÊNCIA NO DISCURSO DE

A competência aparece no Discurso de Formação Específica (Inglês) com um efeito de

Abordagem Comunicativa, ou seja, um discurso sobre o ensino de língua estrangeira. O

ensino da Língua Inglesa no IFRN, ao integrar o currículo dos cursos técnicos integrados de nível médio (Regulares e EJA) e os cursos técnicos subsequentes, perfaz o que temos chamado de Discurso Pedagógico Curricular (DPC – LI). Neste discurso, embora se diga que o ensino de LI “corrobora uma visão crítica de homem, de mundo, de sociedade, de trabalho, de cultura e de educação” (PTDEM/IFRN, 2012, p. 61), o termo competência aparece com o efeito de sentido de uma abordagem – a abordagem comunicativa – compartilhando traços discursivos com a assim chamada competência comunicativa. Ou seja, a competência tem um funcionamento hiponímico: seu sentido é englobado pela discursividade da Abordagem Comunicativa, de modo tal que ao se dizer Abordagem Comunicativa, se diz também a competência (comunicativa). Nesses termos, a Abordagem Comunicativa circunscreve a competência na medida em que reclama o desenvolvimento da competência comunicativa na materialidade do DPC – LI, prolongando a discursividade da competência. É nessa perspectiva que temos dito que a AC se situa no DPC – LI como um prolongamento, uma extensão do discurso da competência.

A partir da leitura da SD 4.4, pode-se perceber a materialização desse efeito de sentido: por um processo de predicação, vê-se que “uma abordagem comunicativa para o ensino de língua estrangeira” envolve o “domínio da mesma por parte dos sujeitos”. Esse “domínio” linguístico tem, segundo o que enxergamos, um deslizamento de sentido para competência, a chamada competência comunicativa. É que o efeito que se produz da competência no DPC – LI a partir da abordagem comunicativa é o de competência comunicativa. Nesses sentido, competência e competência comunicativa, no fio do discurso, são sinônimos.

É por meio das características dessa abordagem no interior da SD 4.4 que se pode observar o compartilhamento de traços discursivos entre os termos competência e competência comunicativa. Isso porque, ao determinar “o domínio” da língua, a abordagem comunicativa também determina os “componentes da competência comunicativa”, as “técnicas” (de linguagem e comunicativas), o “ser capaz de” (usar a língua), e as “estratégias mais apropriadas”. Há, assim, um movimento discursivo que permite a compreensão de que a AC requer o domínio dos componentes da competência comunicativa, o domínio de técnicas, a

capacidade de usar a língua e a utilização de estratégias de aprendizagem, prolongando a discursividade ligada à competência.

É importante dizer que, nesse esforço de tornar-se um sujeito competente, incluindo- se aí o desejo de “dominar” a Língua Inglesa, a AC objetiva desenvolver a competência comunicativa “como um meio de viabilizar seu acesso a pessoas pertencentes a outras culturas bem como a obtenção de informações sobre outros povos” (IFRN/PTDEM, 2012, p. 62). Mas é interessante ver, sobretudo, o que se pode apreender ao se dizer “abordagem comunicativa” no DPC-LI: que a língua permanece com um sentido instrumental, mantendo-se a ideia do pensamento sobre a expressão.

Segundo Revuz (1998), antes de ser um objeto do conhecimento, a língua é o “material fundador de nosso psiquismo e de nossa vida relacional” (REVUZ, 1998, p. 217), e o contato com outra língua inevitavelmente traz perturbações naquilo que já estava previamente inscrito na estrutura da língua materna do aprendiz, não se concebendo, portanto, uma vivência de aprendizagem de Língua Estrangeira a partir da concepção de língua somente como instrumento de comunicação. Nesse passo, Grigoletto (2003) afirma que a abordagem comunicativa é extremamente reducionista, pois a concepção de língua que está em sua base (instrumento de comunicação) apaga a dimensão discursiva da língua, e “implica escamotear toda uma gama de funções inerentes à existência das línguas e de relações entre a língua e o sujeito falante” (GRIGOLETTO, 2003, p. 228).

Portanto, a Abordagem Comunicativa, aqui encarada como um discurso sobre o ensino de Língua Inglesa, traduz-se no efeito da competência no interior do DPC – LI, estendendo seu sentido. Para nós, esse efeito reverbera, conforme mostramos no capítulo VI, nos objetivos, nos conteúdos e nos métodos formativos. Ao se dizer que “os objetivos das aulas são focados nos componentes da competência comunicativa” (PTDEM/IFRN, 2012, p. 62), desloca-se todo um leque de traços que a competência carrega, já que uma de suas finalidades na discursividade do DPC – LI é procurar associar aprendizagem e avaliação. Isso, para nós, se configura como um resquício da ideia behaviorista de objetivos referenciais. O ensino de Inglês, nesses termos, procura desenvolver a competência comunicativa em termos de saberes que devem ser avaliados. Ou seja, para a consecução de seus objetivos formativos, estabelece-se a verificação da performance dos sujeitos em tarefas de conversação em inglês. O aprendiz deve demonstrar o produto de sua aprendizagem: a manifestação de conhecimentos não só da língua, mas sobre a língua, deve demonstrar atitudes de quem “domina” a língua e de comportamentos apropriados.

No que toca a questão dos conteúdos formativos, sua expressão a partir dos efeitos competência toma corpo, de modo privilegiado, em ofertas de cursos técnicos na modalidade subsequente, já que é nessa modalidade que se teria uma ideia de racionalização dos processos formativos. A racionalização dos conteúdos demonstraria as intencionalidades pragmáticas de tomar os processos formativos segundo os interesses das empresas demandantes dos serviços de formação (ARAÚJO, 2001, p. 49). Pela discursividade da SD 4.6, pode-se enxergar que, embora a definição dos conteúdos envolva um “trabalho interdisciplinar”, isso não apagaria a incidência do olhar da competência sobre essa modalidade de oferta. É nesses termos que a discursividade do ensino da Língua Inglesa estaria perpassada pelo caráter de resolução de problemas demandados pelo setor produtivo.

Por meio dos conteúdos de ensino, os estudantes devem adquirir conhecimentos para serem postos à prova em situações específicas requisitadas pelas empresas, o que faz com que haja uma ampliação da ideia de conteúdos formativos para incorporar elementos do saber-ser e do saber-fazer, mas sem o abandono total dos conteúdos disciplinares. Ou seja, o que ocorre é a sua utilização em situações que incorporem os saberes profissionais e o processo de construção do “ser capaz de” (ARAÚJO, 2001). Por isso dizemos que existe a incidência de efeitos da competência nos conteúdos formativos.

Já no que diz respeito aos métodos formativos, a utilização da ideia de técnica no DPC – LI remete à um ensino voltado para a resolução de problemas. Esse ensino (por problema), segundo Araújo (2001, p. 53), apresenta-se como “o método da competência por excelência, já que permite a mobilização combinada de conhecimentos, habilidades e atitudes em situações autênticas ou muito parecidas com a realidade”. Ao se empregar a noção de “técnicas” (de “linguagem” e “comunicativa”) na materialidade do PTDEM, tem-se esse olhar da competência sobre os métodos formativos.

Isso porque, ao se estimular uma aprendizagem situada e por meio de materiais autênticos e reais, a abordagem comunicativa seria uma alternativa ao ensino tradicional de gramática, pois possibilitaria uma aprendizagem contextualizada e útil aos estudantes. As situações de aprendizagem de língua seriam extraídas de conversações naturais e verdadeiras e adaptadas às situações didáticas de sala de aula, requerendo do aluno conhecimentos, habilidades e atitudes para seu completo domínio. Os procedimentos de ensino dessa abordagem são aqueles de trabalhos em grupo (ou em pares), dramatizações e seminários voltados para o desenvolvimento da competência comunicativa dos estudantes. Portanto, ao se enunciar uma ênfase na “visão de educação de língua como um todo” e em “um ensino baseado em conteúdos e tarefas”, tem-se uma visão da língua e do ensino como algo sobre o qual se

pode tirar alguma coisa: domínio, conhecimento, competência, etc. Nesses termos, a língua pode ser vista como um instrumento de comunicação em que “transmitem-se blocos fechados e adquiridos” (PFEIFFER, 2005, p. 30) de conteúdos.