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sugere compreender as categorias educação e trabalho de modo imbricado Considera que suas chances seriam outras na Alemanha, uma vez que no Brasil tem-se

No documento MESTRADO EM PSICOLOGIA SOCIAL (páginas 124-138)

conseguirei ser alemã de tudo, nem é meu objetivo Descendente de alemã na Alemanha para mim é um objetivo que talvez consiga equilibrar as balancinhas

P. sugere compreender as categorias educação e trabalho de modo imbricado Considera que suas chances seriam outras na Alemanha, uma vez que no Brasil tem-se

maior dificuldade para obter sucesso. O reconhecimento que almeja é de certa forma, mais difícil de acontecer no Brasil.

Veremos, contudo, que a obtenção de “sucesso” de sua família foi algo igualmente demorado, fruto de luta e idas e vindas entre Brasil-Alemanha, intercalados por crises, guerras e perdas. Em seu projeto de vida P. associa a mudança para a Alemanha ao sucesso praticamente garantido, mas parece não destacar a elaboração destas idas e vindas de sua família, bem como, a construção da vida no Brasil como fato que pôde manter a família ao ponto de P. poder alcançar o que atualmente tem e assim vislumbrar o projeto de mudança para a Alemanha como possibilidade. Logo, devido ao momento em que a família se encontra no Brasil é possível que A.P. possa formular seu projeto de mudança para a Alemanha sem maiores percalços, guardando dinheiro, dando-se tempo para planejar melhor cada detalhe etc. A despeito de seu descontentamento para com o Brasil, há a falta de reconhecimento do sucesso que sua família conquistou neste país. O desejo em conhecer a Alemanha é antigo, algo que P. sempre quis. Questiona-se até que ponto o desejo antigo não a tenha, de certa forma, direcionado à forma como se sente atualmente no Brasil.

P. tinha grande curiosidade em conhecer a Alemanha desde a infância, mas era muito caro e então decidiu: “falei não, vou começar a me preparar para isso, vou

começar a guardar dinheiro e vou me preparar pra isso também.” Aqui se sugere o que

foi abordado quanto a vida da família de P. no Brasil enquanto facilitador de sua tomada de resolução, que em termos práticos, pôde organizar-se financeiramente para a viagem. Explica-nos como tal preparação se deu:

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“Eu tava numa empresa alemã já, então falei bom, já é um passo. Trabalhei muito, até que um dia pedi transferência e o pessoal ficava me enrolando, até que um dia falei não, cheguei pro meu chefe e falei pra ele, meu último dia é dia tal e eu tô indo embora, eu ia pedir demissão pronto e acabou.”

Seu chefe informou haver uma vaga na Alemanha e que eles aguardariam o contrato para sua transferência. Entretanto, tal contrato ainda não chegou e P. diz que dará um “ultimato”, propondo seu último dia de trabalho. Posteriormente, informou-nos que seu plano dera certo e que viajaria em 7 semanas para a Alemanha, com a vaga de trabalho garantida. P. conta que “precisa” tentar qualquer coisa e mesmo que não dê certo com o trabalho, viverá na Alemanha, mesmo trabalhando no que considera “subempregos”. Mesmo com preparo, P. demonstra receio, mesmo com a vaga de trabalho seja certa.

A passagem já havia sido comprada por P., mesmo antes de saber a resposta definitiva de seu chefe. Precavida, levará consigo passagem de ida e volta para sua segurança, mesmo tendo parentes na Alemanha e sabendo não “passar fome”.

Curiosamente relata ter mais contato com sua família alemã (na Alemanha) do que com a família no Brasil. “Nossa com a família da parte de meu pai eu não tenho

contato nenhum.” Com relação a isto, conta-nos um episódio marcante:

“Um dia apareceram duas mulheres no portão de casa e eu odeio visita não

programada, assim, essa coisa bem alemã, não apareça na minha casa que não vou abrir a porta, você nem me ligou pra perguntar se podia! Sabe? A minha avó já deixou muita gente na porta já e eu aprendi isso com ela, é o suprassumo da falta de educação né, pra eles. Então aí eu falei mãe tem duas mulheres ai no portão, batendo palmas. Ai minha mãe, nossa, é sua tia! Nossa, minha tia mora aqui do lado sabe (risos) e eu nem sabia que existia! Ela veio trazer convite de casamento de minha prima, que eu nem sabia que existia! Aí eu falei assim, que situação esquisita né?”

Com o advento do Facebook (rede social ligada à internet) P. pede que sua mãe lhe dê o nome de todos os parentes. “Vou adicionar né, só pra lembrar que existe.” Demonstra como se deu tal processo, sem grande comoção:

126 Mesmo que seus parentes brasileiros tenham sido adicionados à sua rede social na internet, estes não parecem configurar papel importante. O episódio destes no portão fora marcante devido ao fator surpresa, por existirem parentes e estes surgirem em seu portão sem aviso prévio, do que pelos laços ou busca por conhecimento ou pertencimento. Outro dado que promove curiosidade, foi o fato de P. ter mencionado muito pouco sobre seu pai, sobre os sentimentos envolvendo seu falecimento, sua relação com ele etc. Talvez se configure aí a razão para o elo faltante com a família brasileira.

Ao revelar que a família era “separada mesmo” gera interesse o fato de P. não ter questionado ou procurado por seus parentes brasileiros, ao contrário do que se deu (e se dá) com os parentes alemães- na Alemanha. Desta forma, tal fato contribuiu para que sua socialização primária ocorresse de modo distante de costumes ligados ao Brasil, o que ainda se mantém durante a socialização secundária. P. escolhe permanecer em contato com os familiares ligados a Alemanha que lhe remetem ao pertencimento e reconhecimento almejados. P. diz ter mais contato com seus primos da Alemanha, o que relata com entusiasmo, diferente da forma como retratou o encontro junto aos parentes brasileiros no portão.

P. não sabe dizer o motivo do distanciamento dos parentes brasileiros, conheceu apenas a avó, com quem teve pouco contato e deste encontro revela-nos apenas uma lembrança:

“(...) tive pouco contato com ela, eu só lembro do doce de figo, nossa era

sensacional, ela tinha um pé de figo, nossa era um doce caseiro de verdade, acho que a descendência dela era portuguesa.”

A lembrança que traz de sua avó envolve o doce e este é relacionado à descendência portuguesa desta. Tal associação remete P. a outra parte de sua família e à origem desta- novamente europeia. De alguma forma a busca pela construção identitária não brasileira parece ser uma constante, que leva P. a negar suas origens brasileiras.

Parte significativa da entrevista foi baseada nas diversas viagens que P. fez à Alemanha e de como estas a levaram ao que viria ser seu projeto de vida.

127 Ao falar da primeira viagem a Alemanha, P. menciona o falecimento de sua avó alemã. “Acho que ela ficou muito feliz de ter me visto indo (...)”. Sua avó faleceu logo depois que P. foi à Alemanha pela primeira vez, a isto P. acrescenta:

“(...) quando fiz 15 anos o pessoal falou você quer uma festa ou uma viagem? E eu falei não, quero viagem! Então imagina gastar dinheiro com uma festa que dura 4 horas? Acho dinheiro jogado pela janela. E eu falei quero muito conhecer a Alemanha. Aí passei um mês lá conhecendo todos os parentes, pagando mico assim

sabe? Típico. Teve um que eu lembro o primeiro choque que eu falei peraí a cultura é realmente diferente, embora eu não me pareça, porque eu me sinto mais diferente do pessoal daqui do Brasil, mas o que aconteceu que me deixou assim, opa, foi no trem, numa viagem e aí eu tinha 14 nem tinha completado 15 anos ainda. Aí eu tava no trem e do meu lado tinha uma menina nova assim, devia ter uns 18, 19 anos e eu abri a bolacha e ofereci, você quer? Ela, não, não, obrigada (faz um gesto imitando a garota, esta, perplexa ante o oferecimento da bolacha) então eu fiquei assim, sem entender, mas agora entendo.”

P. estranha a reação causada por seu gesto espontâneo. Desta forma percebe também que, ainda que tenha descendência alemã e se sinta diferente das pessoas no Brasil, também não pertence àquele lugar- Alemanha, onde seu gesto espontâneo é interpretado de modo tão díspar. Tal episódio leva P. a refletir sobre o seu pertencimento, o que revela o prenúncio de um conflito:

“Não dá pra você ser as duas coisas, mas você também não é nenhuma das duas individualmente.”

Aqui se abre um parêntese para relembrar-se o que foi citado em capítulo anterior, sobre um aspecto aventado por Hommi Bhabha (2001). Fica clara a situação de “entre lugares” vivenciada por nossa colaboradora, bem como o conflito que disto advém. Quando colocada em uma situação onde sua atitude não é reconhecida tal qual, seu pertencimento também é colocado em cheque, ocasionando conflito. No entanto, o mesmo autor, ao falar sobre hibridismo cultural, aponta para a formação de um terceiro elemento que de certa forma, poderia levar à superação criativa do conflito. Naturalmente não é algo simples, mas algo a ser levado em consideração, sobretudo, em uma nação (aqui se pensando o Brasil) onde a população miscigenada tem em si presentes elementos e tradições diversas que, frente ao impasse da “escolha” podem agregar e assim transitar na composição identitária do terceiro elemento como possibilidade de superação do sentir-se “entre lugares”.

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“Acho que tem uma coisa, justamente os dois, a gente não tá nem lá nem cá, eu sinto muito assim, especialmente aqui, mesmo porque lá eu tinha uma situação diferente, eu tenho muitos parentes lá. Eu tenho uma prima, que ela é adotada, tem cabelo enroladinho, então é assim, ela fala alemão fluentíssimo, muito melhor que eu, mas é assim, ela, andando na rua o pessoal não fala que ela é alemã. Então ela, pra arranjar amigos também foi muito mais difícil e ela acabou é conseguindo, mas assim, fez amigos do Cazaquistão, russos é estrangeiros em geral e aí através disso. O ex- namorado dela era do Cazaquistão e o pai dele tinha cidadania alemã e fez uma coisa parecida com o que minha avó fez, tinha todo tipo de problema no Cazaquistão, inverno é menos trinta graus (...) passando fome, falaram que tinham que comer pomba aí ele vendeu tudo o que tinham e veio com a família pra Alemanha, chegou numa prefeitura qualquer e falou: eu quero morar aqui, eu preciso de ajuda e ele conseguiu, conseguiu apartamento, num

desses programas do governo, que são muito diferentes dos daqui né, e aí ele falou assim: olha, foi a melhor coisa que eu fiz, então é assim, eles são tecnicamente alemães, mas não são também né e foi assim, assim até que ela chegou nos alemães mesmo, que já tinham outros amigos e tal (...)”

De alguma forma P. busca encaixar-se no que acredita ser “alemão” e o é, ironicamente, no Brasil. Neste país se vê como diferente das pessoas em seu comportamento, em sua aparência e em sua forma de pensar. Após o episódio da bolacha, retrata o exemplo da prima adotada, compara-a como também sendo “nem lá e

nem cá” algo que tranquiliza P., uma vez que diferente da prima, P. se parece fisicamente com os alemães, então “é” alemã. Com base nisto legitima seu personagem, diminuindo o conflito gerado por não ser nem uma coisa e nem outra.

Outro dado, demonstra que a história de vida de sua família tem pontos de aproximação com a história da família do namorado desta prima. Este emigrou devido às necessidades que passavam no Cazaquistão, assim como a família de P. Para ela a descendência alemã e sua aparência são considerados facilitadores de sua inclusão na sociedade alemã, enquanto a prima e o namorado do Cazaquistão, tiveram dificuldades

“até chegarem, nos alemães mesmo.” Logo P. com tais colocações realiza alguns

ensaios que a afastam de maiores dificuldades com a adaptação, pois é alemã.

Após mais um parêntese para falar das bolachas e da associação com a história de emigração da prima e do namorado, seguiremos com apontamentos sobre outra viagem de P. a Alemanha.

“Então assim eu lá já conheci um monte de alemães por causa disso, mas por causa do trabalho também né, quando eu fui pra lá, por exemplo, (visitou a empresa cuja filial trabalha aqui no Brasil), conheci a cidade (diz o nome da

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idade) e achei horrível, não quero sair de São Paulo para ir pra uma cidade assim. Então fui a cidade (diz o nome da cidade) e lá tem um riozinho tranquilo e não era verão era outono já, e as pessoas são muito felizes lá e eu perguntei pra onde vocês vão quando tiram férias, porque isso aqui já é tão lindo e eles viajam muito porque tem condições também e aqui né, só de pedágio...”

P. expressa o desejo de viver uma vida tranquila, em uma cidade diferente de São Paulo “onde as pessoas são felizes” e percebe que isto é possível na Alemanha, onde há uma cidade em que não se precisa viajar para se estar em férias... O contrário do que vive em seu cotidiano. Desta forma, para viver o que pretende ser seu projeto, valeria a pena arriscar-se, até mesmo em algo que em um primeiro momento, P. não pretende ser...

“Então é esse tipo de coisa, se for pra ser vendedora, faxineira, garçonete, qualquer coisa, qualquer coisa. E essas situações acabam fazendo você crescer muito né, esse tipo de coisa e eu falei, eu preciso ir pra lá, pra fazer qualquer coisa. Eu preciso ver, tirar, tentar, tirar isso do meu sistema porque eu não me sinto feliz aqui no Brasil, é muito barulho, o barulho me incomoda muito.”

P. vislumbra a vida em uma cidade que mesmo próxima à estrada é silenciosa e cheia de estrangeiros, é civilizada.

“A casa da minha prima fica em uma zona industrial e a cidade tem muito estrangeiro, um alto grau de estrangeiros e assim sem preconceito, mas uma cidade que tem mais estrangeiros, você imagina, também é um lugar mais sujo e tal e não, ali é lindo e mesmo assim, um silêncio absurdo, minha tia pediu desculpas pelo barulho e eu falei barulho, que barulho, ah o barulho da Autobahn (estrada) e que Autobahn, imagina, eu tô ouvindo o barulho do Bach (riacho) e na verdade não era o Bach era a Autobahn! Um silêncio magnífico.”

Quando P. se refere ao barulho pode associar este ao ruído da cidade grande onde mora atualmente e está descontente. Menciona para tanto, a paz que pretende encontrar na Alemanha- lugar onde mesmo um bairro “cheio de estrangeiros” pode ser silencioso e agradável.

Ainda sobre o silêncio, P. comenta:

“E aí um dia ia ter jogo Alemanha versus Áustria, e aí a gente foi assistir, eles tem um Party keller (salão de festas no porão) é tipo um pedaço do porão que eles usam quando querem fazer festas, pra não fazer barulho e não incomodar os vizinhos! E a gente chegou lá e eles puseram a TV e tal e eu falei e aí vocês não iam fazer barulho? Mas mesmo se não tivesse no Keller (porão) não ia ter barulho algum, então eu sinto muita falta disso do silêncio.”

130 O silêncio o qual P. sente falta parece representar a relação que ela faz deste com o respeito, ou com os preceitos que aprendeu em casa pela forma como foi educada (lembramos que é fato, os alemães costumam falar baixo em reuniões, ou restaurantes. Falam alto onde lhes “é permitido” como em festas de carnaval ou bares, por exemplo) e espera que outros correspondam. P. vivencia um desencontro entre o local onde vive sua conduta e forma que espera que outros se comportem. P. vive assim um conflito constante.

“Então tipo sabe têm umas coisas assim né, hoje eu fui pra academia e um cara parou atrás de mim e bloqueou totalmente a minha saída eu fiquei doida, é muita falta de respeito entendeu e o cara achava que tava com razão, ah porque eu não achei lugar... E tive que chamar ele e ficar esperando... Então sabe esse tipo de detalhe e eu tenho uma amiga que mora em Cotia e eu tava devendo uma visita pra ela e aí, era aniversário dela e eu fui lá. Ela marcou o evento começando às 19 horas e eu, me esforçando pra me atrasar, geralmente me esforço, faço um esforço tremendo pra me atrasar pras coisas e era 7:20 e eu já tava lá, não tinha ninguém e ela nem tinha tomado banho ainda e aí eu ficava assim, tipo sentada no sofá e as pessoas arrumando as coisas e tipo assim né...”

P. demonstra sua insatisfação, não se sente confortável em um ambiente onde sua forma de ser não seja a norma, não é comum. Acredita que foi criada deste modo e isto contribui para seu descontentamento atual.

“Com certeza, eu acho que fui criada assim na coisa alemã de pensar o que quê a situação vai fazer para os próximos, sempre minha mãe, tudo o que eu ia fazer minha mãe falava você vai incomodar o próximo então, isso foi ficando foi ficando, então é assim se você marcar um horário e chegar mais tarde pô é falta de respeito a pessoa se preparou pra aquilo, pra aquele horário. É que nem você vai no médico, você marcou às sete horas e ficou até às 9 você vai ter que justificar duas horas pro seu chefe entendeu, o que na verdade, não tem por quê todo mundo perder seu tempo então era assim, ah não faz isso que você vai incomodar e assim isso você chega numa conclusão, se todo mundo fizesse isso, ninguém se incomodaria com ninguém né, é meio impossível mas, assim acho que foi de criação mesmo assim, com certeza.”

Curiosamente, o barulho também pode fazer falta, quando este denota uma forma (brasileira?) de expressarem-se emoções.

“Pra você ter uma noção a gente tava numa festa na Alemanha e tava tendo o jogo Alemanha versus Áustria, não era um jogo tão importante, tipo amistoso não sei e aí o tio do namorado da minha prima, a gente tava na casa dele (...) e ai a gente vendo o jogo e aí assim, não acompanho muito futebol, mas assim, quando tem algum jogo assim internacional, algum time de países aí acho legal e aí tava sentada no banquinho lá né, vendo aquela tevezona (...) aí a gente assistindo o

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jogo e tava emocionante tal e o pessoal tão quieto! Eu parei, olhei pra minha mãe, minha mãe pra mim... É ta bom, em Roma, faça como os romanos né , aí tava ficando emocionante e saiu um gol da Alemanha e todo mundo quieto! Aí eu mãe, foi gol mãe? Será que foi mesmo gol? Nem o narrador gritou gol, nem um tipo de indicação, ai falou ah... 1 X 0 para Alemanha... Aí eu falei pro cara, vocês sempre assistem jogo assim? E ele ah, não tá valendo nada... Tá bom né...”

Após percorrer-se o sentido do silêncio para P. o modo como percebeu as mulheres empreendedoras de sua família, a forma como se sente estrangeira no Brasil e algumas impressões iniciais que teve nas visitas à Alemanha, pode-se atentar para a compreensão de seu desejo de viver na Alemanha como um projeto de vida em construção permanente, reforçado a cada viagem, a cada experiência desagradável no Brasil.

“O desejo de ir pra Alemanha acho que veio depois que fui a primeira vez, com 14 anos. Achei tudo muito bonito, muito organizado e aí eu falei gente é isso que quero pra mim, me identifico com isso e acho assim, isso deveria ser o normal. Aí fui crescendo e tal e aí assim, a vida entrou no caminho das coisas e aí em 2008 sabe quando dá a última crise de adolescência minha amiga me chamou pra ir no Wacken (festival de música na Alemanha) aí eu falei quer saber de uma coisa?Vamos!

P. relaciona esta viagem com o início de sua vida adulta e independente. Percebe ainda que neste país é possível concretizar coisas com menos dinheiro e novamente reforça a ideia de uma vida melhor do que a que vive no Brasil.

“Na época eu tinha um salário ridículo, mas dividi em 12 vezes, a gente vai lá e começa a contar as moedas e eu fiquei lá, nem sei, 8 dias (...) eu já tava adulta pagando tudo sozinha e aí eu percebi que o dinheiro que gastei lá eu não passaria 8 dias aqui, então assim, mesmo fazendo vezes três e aí eu falei nossa como eles conseguem?”

P. desfruta a experiência no exterior percebendo a cidade, os espaços e a questão econômica, sempre como muito diferentes do que a realidade no Brasil. Entende que a Alemanha é um lugar que combina com o que pensa e também sente-se inserida nesta forma de organização. Sobre o Brasil retrata ainda o descontentamento produzido por sua dificuldade em encontrar roupas e sapatos para o seu tipo físico. P., em comparação, conta-nos sobre sua incursão por lojas na Alemanha, aonde as calças “chegavam até o

132 Faz ainda uma comparação entre a pequena cidade alemã que tem tudo e Guarulhos:

“(...) falei gente como eles conseguem, Guarulhos tem milhões de pessoas e só tem uma livraria e ainda uma loja que é dentro do shopping... e eu falei assim como eles conseguem, tem tudo nesta cidade, eles não precisam ir pra uma cidade grande pra ter as coisas.”

Em 2008 decidiu que “tinha que fazer alguma coisa” e relaciona este desejo à

vivencia que teve na viagem. Hamburgo é a cidade natal de sua mãe, considerada linda por P. “eu fiquei apaixonada por aquela cidade”. E para explicar seu encantamento,

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