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CAPÍTULO I DO LIVRO LITERÁRIO À TELA DA T

CAPÍTULO 3 MEDIAÇÃO PEDAGÓGICA NA LEITURA DE HOJE É DIA DE MARIA

3.1. Conceito de Mediação Pedagógica

Tem se falado muito em mediação pedagógica, no entanto, na maioria das abordagens, não se define o que ela vem a ser, cabendo aqui algumas considerações quanto ao termo. Segundo o Dicionário Interativo de Educação Brasileira (2005, p.98), é a

expressão que se refere, em geral, ao “relacionamento professor-aluno na busca da aprendizagem, como processo de construção do conhecimento”.

A mediação, de acordo com Masetto (2000, p.144-145), “é uma atitude, o comportamento do professor que se coloca como um facilitador, incentivador ou motivador

da aprendizagem”. O professor, que assume a postura de facilitador, deverá estar atento às

informações dos novos meios, e, junto com os alunos, decodificá-las para alcançar

objetivos comuns. Para Belloni (2001, p. 63), mediatizar significa “codificar as mensagens

pedagógicas, traduzindo-as sobre diversas formas, dependendo do suporte técnico

escolhido”.

A mediação pedagógica se refere, em geral, ao relacionamento do professor-aluno na busca da aprendizagem como processo de construção do conhecimento, a partir da reflexão crítica das experiências e do processo de trabalho. O princípio da mediação ampara-se nas teorias integracionistas, em que todo processo de aprendizagem se dá de forma mediada, considerando que o aprendiz, mesmo que não domine algumas funções, possa realizar atividades em conjunto, de forma compartilhada.

A mediação é um processo relacional, operado pelos sistemas simbólicos de que o sujeito dispõe, portanto, enfatiza a construção do conhecimento como uma interação mediada por várias relações e por outros sujeitos. Para se efetivar uma boa mediação, é de fundamental importância diferenciar, com clareza, o modelo pedagógico utilizado. É preciso saber distinguir o modelo pedagógico, cujo sentido é educar, do modelo cujo propósito é ensinar. O primeiro é voltado para a formação integral do aluno, criatividade, expressividade e criticidade, e o segundo, dá ênfase à transmissão dos conteúdos, verifica sua assimilação e avalia a retenção das informações pelos alunos.

Percebemos, portanto, que mediar não significa, tão somente, efetuar uma

passagem, mas, intervir no outro polo, transformando-o. Se mediar é intervir, quais seriam as características da mediação pedagógica?

Em Masetto (2000, p. 146) encontramos indicativos importantes para essa questão:

“dialogar permanentemente [...]; apresentar perguntas orientadoras; orientar nas carências e

dificuldades técnicas ou de conhecimento quando o aprendiz não consegue encaminhá-las sozinho; desencadear e incentivar reflexões”. Além disso, a mediação está presente quando o professor faz perguntas, devolve aos alunos respostas sobre suas colocações, problematiza o conteúdo, com o objetivo de colocar o pensamento do aluno em movimento, e estimula os alunos a dialogarem entre si sobre suas atividades.

À medida que o ensino passa a ser entendido como um processo de mediação, entendemos que ele é feito de relações e que, portanto, ensinar é essencialmente trabalhar para estabelecer uma relação de um tipo particular, a relação pedagógica, que guia uma pessoa na aquisição de novas capacidades. Esse processo se realiza graças a três relações distintas, mas que se mantêm sempre em interação, conforme Saint-Onge (1999, p.212)

a) Relação Didática Conhecimentos---Professor(a)---Conhecimentos b) Relação de Estudo Conhecimentos---Alunos---Conhecimentos c) Relação de Mediação Professor---Alunos---Professor

Por tudo isso, podemos dizer que, à medida que o ensino é considerado como um processo de mediação, que é feito de relações e que, portanto, ensinar é essencialmente trabalhar para estabelecer uma relação de um tipo muito particular, “a relação pedagógica”, que guia uma pessoa na aquisição de novas capacidades. Essa relação pedagógica, segundo Saint-Ong (1999, p.212), constitui-se de três outras bem distintas, mas que se mantêm em interação:

- A relação didática, que se estabelece entre o professor e o conteúdo a ser ensinado, pois sabemos que quando um professor precisa ensinar determinados conhecimentos, adquire nova compreensão de sua disciplina, reestruturando o processo com finalidades didáticas.

- A relação de estudo, que coloca o aluno diante dos conhecimentos a aprender, pois é ele quem deve apropriar-se dos conteúdos e a relação de mediação, que deve assegurar a qualidade do encaminhamento do aluno em busca do saber.

- A relação de mediação, que deverá assegurar a qualidade do encaminhamento do aluno em busca do saber. Enfatiza, ainda, o autor, que as atividades do professor na mediação visam os processos intelectuais de pensamento e raciocínio, que dividimos em duas categorias: operações lógicas – expõe, define, explica, compara, associa, justifica –, que visam à ativação dos processos mentais dos alunos; e, as operações estratégicas, que visam influenciar o andamento da aprendizagem.

No processo de mediação pedagógica, o professor deve utilizar-se de recursos motivadores e diversificados que atendam à diversidade de alunos existentes na sala de aula, conhecendo e analisando suas produções, considerando seus ritmos e possibilidades de aprendizagem. É pertinente que o professor tenha claros os objetivos e caminhos que precisam percorrer para favorecer a apropriação dos conteúdos. Dessa forma, o planejamento pedagógico não deve se limitar à organização dos conteúdos e dos recursos, mas à organização do tempo e do espaço em sala de aula.

Na mediação pedagógica é importante que o professor estabeleça um clima de confiança e de diálogo em que os alunos possam participar das reflexões propostas em sala de aula, respeitando a diversidade cultural, a vivência de cada um, em uma relação dialógica e aberta. Seu papel está associado a uma postura de articulador do processo educativo, procurando valorizar as experiências prévias dos educandos, contextualizar os conhecimentos e propiciar atividades de interação com a turma, sem perder o foco de elaboração dos conceitos.

Outro aspecto a ser considerado na mediação pedagógica é a afetividade. Até recentemente entendia-se que as práticas pedagógicas voltavam-se apenas para o aspecto cognitivo, desprezando a dimensão afetiva. Prevalecia a visão dualista de homem, entendendo-o como um ser dividido entre o racional/emocional, corpo/mente, cognição/afeto.

A superação dessa visão dicotômica, anteriormente estabelecida, toma como pressuposto o fato de que o ser humano deve ser entendido como um todo: assume-se que as dimensões afetivas e cognitivas são indissociáveis no processo de desenvolvimento humano. Recentemente, as pesquisas vêm contribuindo para a discussão afetiva na constituição do sujeito e do conhecimento.

A base teórica dessa nova concepção encontra-se na abordagem histórico-cultural defendida por Vygotsky (1998) e Wallon (1979), que destacaram o papel das interações sociais no desenvolvimento humano e defenderam a relação entre o ambiente social e os processos afetivos e cognitivos, além de afirmarem que ambos se inter-relacionam e se influenciam mutuamente.

A afetividade é território das emoções e dos sentimentos, a aprendizagem é território do conhecimento, da descoberta e da atividade, que se organizam em fenômenos complexos e multideterminados, definidos por processos individuais internos que se desenvolvem através do convívio humano. Isso significa que, ao abordar esse aspecto, estamos enveredando por um caminho intrigante que envolve processos psicológicos difíceis de serem percebidos e desvendados.

Para Wallon (1979), a afetividade é determinante, tanto na construção da pessoa quanto na construção do conhecimento. Em seus estudos, esse autor faz uma importante distinção ente os conceitos emoção e afetividade.

Ele acredita que as emoções são manifestações de estados subjetivos, mas com componentes orgânicos, enquanto a afetividade tem uma concepção mais ampla, pois envolve uma quantidade maior de manifestações, englobando sentimentos – ordem psicológica – e emoções – ordem biológica –. As emoções são, para o autor, de grande importância para a formação psíquica, pois funcionam como um amálgama entre o social e o orgânico.

Vygotsky (1993) também discute a relação afeto e cognição em seus estudos sobre o desenvolvimento do ser humano. Defendeu que os estados emocionais diversos causam reações orgânicas semelhantes. Apesar de supor a base biológica como ponto de partida, sua visão sociointeracionista, entendia que, além do biológico, o social deve ser considerado de grande importância.

O autor enfatiza, ainda, que a separação corpo/mente afetou não somente os estudos das emoções, mas a psicologia de um modo geral, gerando a cisão entre os dois campos que perdura até hoje: afeto e cognição. O autor procurou elaborar uma nova perspectiva que tratasse de outro modo as relações entre corpo/mente e entre afeto e cognição.

Diferentemente da abordagem dualista, Vygotsky propôs uma solução que apontava para a necessidade de reunir os diferentes aspectos com o objetivo de compreender o ser psicológico completo. O autor alerta que reconhecer a íntima relação entre o pensamento e

a dimensão afetiva é uma condição necessária. Desse modo, o autor considera que as dimensões do afeto e cognição estão, desde cedo, íntima e dialeticamente relacionadas.

Entendemos que é possível admitir que a afetividade se expressa através de várias dimensões do trabalho pedagógico e que, portanto, está presente nas principais decisões tomadas pelo professor, marcando intensamente a qualidade dos vínculos estabelecidos entre os sujeitos e o objeto de conhecimento.

Ao abordarem o tema da afetividade, percebemos que Wallon (1979) e Vygotsky (1998) apresentam pontos comuns. Ambos apontam o caráter social da afetividade, que se desenvolve a partir das emoções, na perspectiva orgânica, e vai ganhando complexidade, passando a atuar no universo simbólico. Dessa maneira vão se constituindo os fenômenos afetivos. Partimos desses pressupostos, para pensar as implicações da mediação empreendidas na aprendizagem da leitura, pois é nesse processo de interação social que se constitui a subjetividade, no qual, o sujeito, através de mediações intersubjetivas, se apropria da cultura de forma qualitativamente diferenciada de outros animais, transformando o mundo e a si mesmo.