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CAPÍTULO I DO LIVRO LITERÁRIO À TELA DA T

CAPÍTULO 2 PERCURSO METODOLÓGICO

2.1. Metodologia: Por que Pesquisa-Ação?

2.1. Metodologia: Por que Pesquisa-Ação?

Diante das críticas historicamente feitas pela ciência moderna hegemônica, qual o método compatível com um paradigma transformador, crítico, participativo e emancipatório? É exatamente nesse ponto que colocamos, dentre os métodos viáveis, a Pesquisa-Ação. Todavia, antes de explicar o método que adotamos na nossa pesquisa, faremos uma consideração. No Brasil, não somente a Pesquisa-Ação é entendida como método participativo e se coaduna à educação, e existem outros métodos que também são de grande validade no estudo da sala de aula, tais como a etnografia e a etnometodologia.

Porém, o destaque dado na adequação da Pesquisa-Ação ao nosso trabalho sobre o processo de leitura da imagem no contexto de sala de aula, decorre do fato de buscarmos enfaticamente um método que evitasse o distanciamento entre a teoria e a prática, obtendo resultados de curto prazo. É exatamente esse método, constituído de um duplo objetivo, pesquisa e ação, que vem corresponder às nossas expectativas investigativas para o referido estudo. A ação promove melhoria onde a investigação está sendo realizada e a pesquisa amplia o conhecimento científico.

Na Pesquisa-Ação, o foco está na investigação de questões de pesquisa para a compreensão de um problema e de ações para solucioná-lo dentro de um contexto específico e não na corroboração ou na refutação de uma hipótese de caráter geral. Outra característica desse método, que satisfaz aos propósitos de nossos objetivos, é o posicionamento do pesquisador, que não se coloca como um mero observador afastado do objeto de estudo, mas interfere e interage com os membros do grupo, na busca de solucionar o problema detectado. A Pesquisa-Ação tem sido utilizada, nas últimas décadas, de diferentes maneiras, a partir de diversas intencionalidades, passando a compor um mosaico de abordagens teórico-metodológicas.

Parece unânime considerar que a pesquisa tem suas origens nos trabalhos de Kurt Lewin, em 1946, em um contexto de pós-guerra, dentro de uma abordagem de pesquisa de campo. Suas atividades com Pesquisa-Ação foram desenvolvidas quando trabalhava junto ao governo norte-americano. Suas pesquisas tinham por finalidade a mudança de atitudes, de hábitos alimentares da população e também a mudança de atitudes dos norte-americanos frente aos grupos étnicos minoritários.

Essa concepção inicial da Pesquisa-Ação dentro de uma abordagem de campo adquire muitas feições fragmentadas durante a década de 1950 e modifica-se, estruturalmente, a partir da década de 1980, quando absorve aos seus pressupostos a perspectiva dialética, a partir da incorporação da teoria de Habermas, e assume como finalidade a melhoria da prática educativa docente. Quando optamos por trabalhar com a Pesquisa-Ação, temos que ter a convicção de que pesquisa e ação podem e devem caminhar juntas, quando se pretende a transformação da prática.

No Brasil, de acordo com Franco (2005, p.483-502), tem-se observado, pelo menos, três conceituações diferentes: quando a transformação é solicitada pelo grupo de referência à equipe de pesquisadores, é mais conhecida como pesquisa-ação colaborativa; a Pesquisa- Ação previamente planejada, sem a participação dos indivíduos, apenas do pesquisador que acompanha os efeitos e avalia os resultados de sua aplicação, passa a ser denominada de pesquisa-ação estratégica.

Na nossa investigação, utilizamos a Pesquisa-Ação crítica, que se desenvolve a partir dos trabalhos iniciais do pesquisador com o grupo, decorrente de um processo que deverá valorizar a construção cognitiva da experiência, sustentada por reflexão crítica coletiva, com vistas à emancipação dos participantes e das condições que o coletivo considerar difíceis.

A Pesquisa-Ação crítica rejeita as noções positivistas de racionalidade, de objetividade e de verdade absoluta e deve pressupor a exposição entre valores pessoais e práticos. Isso se deve, em parte, porque a Pesquisa-Ação crítica não pretende apenas compreender e descrever o mundo da prática, mas transformá-lo. A condição para ser Pesquisa-Ação crítica é o mergulho na práxis do grupo social em estudo, e deve gerar um processo de reflexão-ação coletiva, em que há uma imprevisibilidade nas estratégias a serem utilizadas. A voz do participante fará parte da tessitura da metodologia da investigação. Daí o caráter formativo dessa modalidade de pesquisa, pois o sujeito deve tomar consciência das transformações que vão ocorrendo em si próprio e no processo.

Outra razão para adotar a Pesquisa-Ação é a possibilidade do reconhecimento de que um sistema social pode ser mais profundamente entendido se o pesquisador tornar-se parte do sistema social técnico que está sendo estudado, realizado com sucesso aplicando intervenções positivas no sistema. Como vimos, esse envolvimento favorece a cooperação entre pesquisa e pesquisado. O fenômeno passa a ser entendido de forma participativa, o que permite readequações e alterações de rumo ao longo do processo.

Nesse sentido, torna-se relevante buscar no conceito teórico de Pesquisa-Ação elucidações para esse método. No Brasil, um dos grandes nomes da Pesquisa-Ação é o professor Michel Thiollent (1998), que a define como:

Um tipo de pesquisa social com base empírica, que é concebida e realizada em estreita associação com uma ação ou com a resolução de um problema coletivo, e no qual os pesquisadores e os representantes da situação ou do problema estão envolvidos de modo cooperativo ou participativo. (THIOLLENT, 1998. p.16).

Para o autor, os principais aspectos da Pesquisa-Ação, considerando-a como uma estratégia metodológica, são: ampla e explícita interação entre pesquisadores e pessoas implicadas na situação investigada; dessa interação resulta a ordem de prioridade dos problemas a serem pesquisados e das soluções a serem encaminhadas sob a forma de ação concreta; durante o processo investigativo deve haver um acompanhamento das decisões e das ações e de toda atividade intencional dos atores da situação; a Pesquisa-Ação não se limita a uma forma de ação, pretende aumentar o conhecimento dos pesquisadores e o nível de consciência das pessoas ou grupos.

De acordo com Thiollent (1998, p.36), a Pesquisa-Ação pressupõe uma concepção

de ação, que “requer, no mínimo, uma definição de vários elementos: um agente, ou ator,

um objeto sobre o qual se aplica a ação, um evento ou ato, um objetivo, um ou vários

meios”. De posse dessas informações, podemos perceber que Pesquisa-Ação é uma opção

metodológica que estimula a participação das pessoas envolvidas na pesquisa e abre o seu universo de respostas, buscando as explicações dos próprios participantes, que se situam, assim, na situação de investigador. O participante é conduzido à produção do próprio conhecimento e se torna o sujeito dessa produção. Nesse aspecto, esse método se distancia dos demais e se afirma constituindo-se como fundamental instrumento de participação e transformação.

Trata-se de um método constituído de uma ação educativa que tenta promover o conhecimento da consciência e a capacidade transformadora dos grupos com quem se trabalha. Busca superar, essencialmente, a separação entre conhecimento e ação. A Pesquisa-Ação é um processo cíclico, ou em “espiral”, que envolve quatro momentos, de acordo com Susman e Evered (1978): 1 – diagnóstico; 2 – ação; 3 – avaliação; e, 4 – reflexão. A Pesquisa-Ação possui três dimensões principais: Ontológica, na qual se pretende conhecer a realidade social, foco da pesquisa, de forma a transformá-la;

Epistemológica, que é incompatível com uma abordagem positivista, uma vez que requer um aprofundamento na intersubjetividade dialética do coletivo; Metodológica, que privilegia uma metodologia que instaure no grupo uma dinâmica de princípios e práticas dialógicas, participativas e transformadoras. Por tais concepções, a natureza da Pesquisa- Ação ancora os seguintes princípios:

1. Deve-se rejeitar noções positivistas de racionalidade, objetividade e de verdade; 2. A práxis social é o ponto de partida e de chegada na construção/ressignificação do conhecimento;

3. O processo de conhecimento se constrói nas múltiplas articulações com a intersubjetividade em dinâmica construção;

4. A Pesquisa-Ação deve ser realizada no ambiente natural da realidade a ser pesquisada;

5. A flexibilidade de procedimentos deve permitir ajustes e caminhar com as sínteses provisórias que vão se estabelecendo no grupo;

6. O método deve contemplar o exercício contínuo de planejamento, ação, reflexão, pesquisa, ressignificação, replanejamento, ações cada vez mais ajustadas às necessidades coletivas.

Como vimos, o método da Pesquisa-Ação implica em planejar/diagnosticar, agir, avaliar e refletir de maneira consciente, sistemática e rigorosa. Visa produzir mudanças – ação – e compreensão – pesquisa –. Consideramos que essas dimensões, mudança e compreensão, podem dar uma importante contribuição para a produção do conhecimento sobre o objeto investigado. Com isso, acreditamos que a Pesquisa-Ação pode lidar com determinadas dificuldades bem melhor que outras formas de pesquisas tradicionais, pois, o rigor, a validade e a confiabilidade são resultado da discussão e reflexão com os participantes do grupo. Podemos observar que a Pesquisa-Ação procura a mudança, mas, uma mudança para capacitar. Assim sendo, seus objetivos são: desenvolver a prática dos participantes; sua compreensão dessa prática e a situação na qual se produz a prática; envolver e assegurar a participação dos integrantes no processo; assegurar a organização democrática da ação e propiciar o compromisso dos participantes com a mudança. Mediante a amplitude de atuação desse método, nos arriscamos a dizer que a Pesquisa- Ação vai além da ação, pressupõe um aumento do conhecimento e do nível de consciência das pessoas envolvidas com a situação e a do próprio pesquisador.

Por essa razão, é possível acreditar que o objeto em estudo possa estar amparado pelo método da Pesquisa-Ação, tendo em vista a pertinência de um pensamento construtivista. Os participantes da pesquisa, incluindo pesquisador e pesquisados, devem

estar envolvidos com “o desenvolvimento de uma dinâmica coletiva que permita o

estabelecimento de referências contínuas e evolutivas com o coletivo, no sentido da

apreensão dos significados construídos e em construção”. (FRANCO, 2005, p.489). Nesse

sentido, adotar a Pesquisa-Ação como método, nos parece ser a melhor forma de compreender o fenômeno investigado, mesmo levando-se em conta sua complexidade.

Com vistas ao êxito dos objetivos propostos, o presente processo investigativo parte dos pressupostos do sociointeracionismo cognitivista da linguagem e da teoria do efeito estético, na esteira dos pensamentos de Vigotsky, Bakhtin, Jauss e Iser. Pretendemos construir uma articulação entre as concepções interacionistas e outras da estética da recepção, a fim de compreender como ocorre o processo de leitura do texto televisivo Hoje é dia de Maria, no contexto de sala de aula. Tentaremos entender o sentido atribuído a essa obra televisual pelos alunos, adotando a mediação como recurso que vem promover os processos de acercamento do texto narrativo televisual, apropriação dos sentidos que por aí perpassam, até alcançar a compreensão, finalidade última da leitura.