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Mostra nossa cultura e a realidade de vida de cada ser humano.

CAPÍTULO I DO LIVRO LITERÁRIO À TELA DA T

Aluno 15: Mostra nossa cultura e a realidade de vida de cada ser humano.

As questões levantadas nos levam a expor algumas considerações em torno das relações entre mídia e cultura, pois consideramos pertinentes e esclarecedoras. Essas elaborações nos levaram a assumir uma posição crítica em relação às ideias anteriormente expostas, nas quais os alunos demonstram uma maior deficiência cultural. Nesse aspecto, é

interessante explicar que o nível de escolaridade é igual, porém, as respostas apresentam conteúdos diversos. Atribuímos essa constatação, à questão cultural, por entendermos que, embora as definições de cultura sejam numerosas, há consenso sobre o fato de que a cultura é apreendida e permite a adaptação humana ao seu ambiente natural. Uma definição

breve e útil é: “cultura é parte do ambiente que é feita pelo homem” (SANTAELLA 2003,

P. 30). Nisso está implícito que a vida humana é vivida em um complexo duplo: o natural e seu ambiente social. Nela estão incluídos todos os elementos do legado humano que foi adquirido através de seu grupo pela aprendizagem consciente, ou em um nível diferente, por processos de condicionamentos, técnicas de várias espécies, sociais ou institucionais, crenças e modos padronizados de condutas.

A cultura, ou civilização, entendida no sentido etnográfico amplo, é um conjunto complexo que engloba os conhecimentos, as crenças, a arte, a moral, os costumes, e todas as aptidões que o homem adquire como membro de uma sociedade. Formada por modelos, formas de expressão e ação, é de ordem simbólica, constituindo a camada macrossociológica de toda a ação social, cujas manifestações só terão sentido em um quadro de comunicação. Assim sendo, a linguagem, situada no cerne da função simbólica, estruturará o sistema cultural, ditando as interações entre as diversas estruturas que, apreendidas e partilhadas por determinado grupo social, lhe conferirão especificidade.

Estamos vivendo, hoje, uma verdadeira revolução cultural, visto que, cada vez mais, se tornam fundamentais aquelas atividades relacionadas à expressão ou à comunicação de sentidos, à produção de significados. A isso está relacionada, também, a expansão, quase ilimitada, dos meios tecnológicos de produção, circulação e de troca cultural. Hoje se torna difícil e complicado separar, por exemplo, o que seria material, daquilo que seria, propriamente, cultural. Em meio a essa realidade, situa-se o adolescente, criado e alfabetizado pela TV, que encontra uma série de dificuldades em sua aprendizagem, porque a educação ainda não conseguiu estabelecer um trabalho amplo e diversificado sobre as múltiplas relações entre mídia, cultura e sociedade no espaço escolar.

2.9.4. Minissérie Favorita

Associada a essa questão está a escolha da minissérie mais assistida pelos alunos. Dentre as 13 citadas, destacam-se “A Casa das Sete Mulheres” (2003), “A Muralha”

(2000) e “Hoje é dia de Maria” (2005), todas realizadas pela Rede Globo de Televisão. Das três, “A Casa das Sete Mulheres” – veiculada de 7 de janeiro a 8 de abril de 2003, de Maria

Adelaide Amaral e Walter Negrão, com 52 capítulos, baseada no romance homônimo de Letícia Wierchowski, sob direção de Jaime Monjardim – obteve oito votos, seguida de “A

Muralha”, com cinco, e, “Hoje é dia de Maria” com quatro.

Esses números nos chamaram a atenção pelo fato de apenas quatro sujeitos destacarem a microssérie Hoje é dia de Maria como a menos assistida entre os pesquisados. Esse resultado é compreensível, porque os sujeitos indagados sobre a obra televisiva revelaram que, por ocasião da primeira leitura, não haviam entendido o enredo e consideraram a obra como sendo de difícil compreensão. Tal fato deve-se, possivelmente, ao caráter inovador da obra.

A escolha da minissérie “A casa das sete mulheres” nos mostra certa contradição

em relação à postura assumida em outras respostas comentadas anteriormente. Especificamente, podemos dizer que essa produção retrata a história da Revolução Farroupilha – considerado o mais longo conflito civil do continente americano – sob o ponto de vista dessas mulheres, com idades e temperamentos diferentes, que enfrentam toda a sorte de privações, dificuldades, tentativas de invasão e saque, sem jamais abrir mão dos seus sonhos, paixões e projetos de vida. O interesse demonstrado por essa minissérie mostra que os alunos adotaram um posicionamento mais cuidadoso, com uma visão mais primorosa, visto que essa produção apresenta uma narrativa densa, demonstrando que é possível uma relação integrada entre história e literatura.

A história, real, e a literatura, ficcional, trabalhadas em “A casa das sete mulheres”, propõe, tanto a análise da mulher-observadora, coadjuvante, como da mulher-participante, envolvida nas situações e nas decisões, pessoais e sociais, derivadas da Revolução Farroupilha. A minissérie analisa a representação da identidade feminina como prática subversiva ao discurso patriarcal dominante. Como podemos ver, a narrativa manifesta certa complexidade, exigindo uma percepção mais apurada de seu leitor.

O que conseguimos verificar através do questionário, é que os alunos, em sua maioria, entenderam o texto televisual, apesar de seu grau de complexidade. De certa maneira, intrigamo-nos um pouco com essa constatação. Afinal, em que se basearam os sujeitos para tal afirmativa? Resta-nos pensar que tenha sido através das experiências adquiridas anteriormente, o que lhes possibilitou um conhecimento prévio acerca dos

vários tipos de programas televisivos e o reconhecimento do gênero ficcional e o formato minissérie.

A prova disso é a resposta afirmativa dada por 14 dos 17 alunos consultados através do questionário, de que não sentiam nenhuma dificuldade em entender as minisséries brasileiras.

A prova disso são as respostas afirmativas dadas por nove dos 17 participantes consultados. Apenas os alunos 7, 13 e 16 argumentaram: ”às vezes sim e às vezes não”. O

sujeito 12 respondeu “sim”, porém, compara com as minisséries de outros países,

reafirmando que nunca deixou de entender, o que de certa forma, deixa margem para dúvidas. Por sua vez, o sujeito 14 foi o único que considerou difícil, ressaltando, contudo,

que as do tipo “teatrais”, como Capitu, sem explicitar o que entende por esse formato de

minisséries.

Talvez essa afirmativa tenha como base o esquema estrutural do formato minissérie, que, como outros, origina-se de um roteiro, história contada em imagens, sempre constituída de início, meio e fim, ainda que nem sempre nessa ordem. Essa estrutura linear que é a forma de qualquer roteiro serve para sustentar os elementos do enredo no lugar. Para entender melhor a dinâmica da estrutura, é importante começar com a própria palavra. A origem de estrutura, structura, significa “construir” ou “organizar e

agrupar elementos diferentes”. Mas, existe uma definição de Field (1995) que é o “relacionamento entre as partes e o todo”. Se compreendermos que uma história é um todo,

e as partes que a compõem – a ação, personagens, cenas, sequência, atos, incidentes, episódios, música, etc. – são o que a formam, ela é um todo. É bom lembrar que essa estrutura se repete na maioria das edições do programa.

Dito isso, podemos dizer que o espectador, ao reconhecer a estrutura dramática, constituída de tempo, espaço e ação que compõem os produtos ficcionais na TV, especificamente, a minissérie, não deve encontrar dificuldades no seu entendimento. Todos os bons roteiros correspondem a um paradigma, que é uma forma, o que contém algo; é estrutura, é configuração. E, dentro dessa conformação, pode-se ter qualquer variação de estilo, material, mas a forma permanece. Isso é o que mantém a história coesa, assim como quem utiliza os componentes estruturais é que determina a forma. Compreendemos, portanto, que é, a partir daí, que teremos clareza do que são os formatos de programas em TV, ademais, o formato equivale a uma estrutura a ser seguida pelo programa e pode ser adaptado às mais diferentes culturas.

Quando nos referimos ao formato, estamos admitindo a ideia de um conjunto de diversos elementos, informações e características sobre os quais o programa se baseia e se operacionaliza. Em outras palavras, é a estrutura que descreve e possibilita, não só a efetiva realização do programa, como também a sua adaptação. Por sua própria essência, os formatos não possuem uma definição conclusiva e ostentam um universo de elementos que podem variar de um programa para outro. O que podemos acrescentar, é que existe um relativo consenso de que o formato situa-se entre a ideia e o programa propriamente dito.

A caracterização de um formato de programa passa pela questão da enunciação. A reiteração de determinados procedimentos enunciativos é um dos fatores que leva ao reconhecimento de estruturas formais específicas de um tipo de programa, do mesmo modo que o deslocamento dos procedimentos enunciativos recorrentes leva ao efeito de sentido de inovação no formato. Assim, sua caracterização está ligada, antes de tudo, à questão da competência discursiva do enunciador.

No caso específico da minissérie, seus formatos se caracterizam por serem histórias fechadas, fragmentadas em episódios, cuja duração pode variar, e resguardam a característica da continuidade e a não multiplicidade de tramas, que são determinantes nas telenovelas. As minisséries são quase sempre baseadas em temas da história e do cotidiano nacional, com textos originais ou adaptações literárias. Esse formato caracteriza-se pelo esmero na produção e na realização. A sua exibição, em geral, acontece após as 22 horas, o que pressupõe um público alvo mais seletivo do que o da telenovela. Só vai ao ar quando está inteiramente concluída e é mais autoral.

Embora a microssérie seja o formato ficcional da TV de maior destaque no panorama descrito pelos alunos, o horário de veiculação foi considerado por 14 sujeitos como sendo “muito tarde”, se tornando difícil de acompanhar. Em conformidade com o questionário, 15 alunos responderam que assistem às minisséries e apenas os educandos 1 e 7 não dispõem de tempo para tal. Confrontando, portanto, esses resultados, vemos que há certa incongruência quanto à questão do horário, pois, se a grande maioria prefere esse formato e assiste, o que os levou a considerar ruim a hora estabelecida para sua veiculação? A nosso ver, essa decisão deve-se ao fato de que a grande maioria dos alunos trabalha durante o dia e estuda à noite, o que se torna cansativo e exaustivo. Há, contudo, um entendimento de que os atores sociais logo cedo são obrigados a enfrentar o mercado de trabalho, com vistas à sua própria manutenção.

Dadas as questões colocadas neste trabalho, faremos uma breve reflexão sobre a problemática que aflige a maioria dos jovens estudantes: a inserção no mundo do trabalho. Os jovens iniciam sua vida laboral precocemente, e conseguir um emprego está mais ligado à necessidade da remuneração do que, necessariamente, encontrar um emprego que corresponda às suas expectativas. É uma questão de ordem social, de níveis de renda familiar que devem ser examinados com muita atenção pelas instâncias governamentais. Sabemos, contudo, que nos tempos atuais, o trabalho opera como status do homem contemporâneo. É dessa compreensão que surge a necessidade de entendermos o aluno que atribui um valor negativo à veiculação de um dado programa de TV, mesmo que o entretenimento esteja incluído no tempo dedicado ao seu lazer.

O ingresso precoce no mercado de trabalho acaba afetando em vários sentidos a vida dos jovens estudantes. No campo da educação, a repetência e o abandono escolar, e no trabalho, o mercado informal, a baixa remuneração, participam de um conjunto de obstáculos que dificultam o futuro dessas pessoas. São essas dificuldades que levaram os alunos à constatação de que, apesar de optarem pela minissérie, o horário destinado à sua propagação se torna proibitivo. O efeito desses problemas acaba provocando uma espécie de desânimo causado pelo excessivo dia de trabalho, mesmo que a assistência do produto televisivo faça parte de seu tempo livre.

Entretanto, percebemos que o tempo livre dos alunos é quase totalmente preenchido pela televisão, pois o acesso a esse meio é fácil. Dessa forma, nenhum dos alunos considerou ver TV como uma atividade ruim ou negativa, entretanto, conhecem seus efeitos. A maioria costuma assistir em conjunto com a família, como forma de lazer, tornando-se um momento em que descansam de um dia inteiro de trabalho, ao mesmo tempo em que se divertem. Muitos chegam a lembrar que o velho hábito da conversação na calçada de casa, as histórias de príncipes e fadas foram substituídas pelas modernas histórias contadas pela televisão.

As discussões sobre suas escolhas nos desafiaram a (re)descobrir os fundamentos da recepção e seus efeitos, porque as respostas, direta ou indiretamente, atribuíram como principal sentido da televisão, a “informação e o divertimento”, como pode ser observado nos relatos através do questionário. Essa descoberta gerou uma expectativa sobre o modo como os alunos fariam a leitura de um texto televisivo de ficção e o sentido a ser atribuído, considerando a concepção formulada sobre o meio. Ficamos especialmente curiosos por

saber em que se basearam para tal compreensão, o que gerou uma expectativa quanto à leitura do texto televisual de ficção a ser desenvolvido com esse grupo.

Porém, nas experiências de leitura, os sujeitos vão se diferenciando uns dos outros e diferenciando-se com os outros, desenvolvendo modos particulares de construir suas interpretações. Em alguns momentos da leitura, as opiniões sobre o texto se aproximam, mas nem por isso os leitores deixam de demonstrar alegria pelas descobertas realizadas. A cada sessão, a percepção se amplia e a recepção estética se efetiva de maneira enriquecedora. As discussões tomam uma nova dimensão, atingindo um nível de criticidade ausente das falas nos primeiros encontros. Essa prática vem mostrar que, à medida que os conteúdos introdutórios são expostos e discutidos, os alunos tornavam-se mais estimulados cognitivamente, demonstrando melhor apreensão dos temas estudados.

A mesma situação se dava com a recepção do texto, quando a percepção ocorria pela experiência direta, diante das imagens, em condições propícias. Os alunos buscavam na leitura o entendimento da mensagem, travavam um diálogo com a TV, tentando desvendar as estratégias utilizadas na produção daquele texto que representava a realidade nordestina conhecida por todos, porém, reconstruída ao formato de uma mistura de imagens e sons, com uma constituição que carrega as formas expressivas da atualidade.

No caso específico da recepção, de uma ligeira aproximação, passou-se à tendência de integrar texto e leitor, em uma troca de mensagens que possibilitava o entendimento da narrativa em estudo. Mas, é um equívoco imaginar que isso ocorreu de forma exatamente igual para todos. Há diferenças na percepção dos indivíduos, as quais revelam especificidade da natureza psicológica de cada um. As diferenças culturais e sociais também delineiam padrões de percepções coletivos, definindo como devem entender o mundo, compreenderem o que se passa à sua volta.

Durante a leitura de Hoje é dia de Maria, no espaço da sala de aula, o posicionamento do grupo era rotineiro. Cada um ocupava seu lugar nas poltronas, de modo que os corpos ficavam mais relaxados, facilitando a mudança de atitudes com respeito às diferentes cenas: caretas e braços na face em momentos de perigo, suspense e mistério; risos, exclamações, quando os vilões eram castigados; tristeza e dor quando acontecia algo de ruim com a protagonista. A atenção era significativa e as emoções fluíam. O grupo torcia pelos heróis e evitava as ações dos malvados, envolvia-se fortemente com o desenvolvimento da trama.

O momento da recepção permitia-nos observar a competência de alguns, que comparavam atuações, imagens e situações, com outras minisséries. Assim como comparavam as situações vivenciadas por determinados atores com sua experiência de vida. A vida da menina Maria era admirada pelo grupo, por ser forte corajosa e justa. A partir daí passa a existir uma interação cada vez maior com o texto, demonstração que é dada através dos comentários sobre o texto, ricos de significação. A partir daí passa a existir uma interação cada vez maior com o texto, demonstração que é dada através dos comentários sobre o texto, ricos em significação.

CAPÍTULO 3 - MEDIAÇÃO PEDAGÓGICA NA LEITURA DE HOJE É DIA DE