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Uma Experiência de Mediação na Leitura de Hoje é dia de Maria

CAPÍTULO I DO LIVRO LITERÁRIO À TELA DA T

CAPÍTULO 3 MEDIAÇÃO PEDAGÓGICA NA LEITURA DE HOJE É DIA DE MARIA

3.4. Uma Experiência de Mediação na Leitura de Hoje é dia de Maria

A relação professor-aluno vem sofrendo, ao longo dos tempos, modificações expressivas, seja por motivos internos das instituições escolares, vinculados a um plano educacional amplo, seja por motivos externos. Dentre os motivos externos, a mídia é o que parece exercer maior influência. Os jovens têm, como uma de suas características atuais, a capacidade de produzir formas culturais próprias que estão associadas aos meios de comunicação, principalmente, a televisão, que valoriza a linguagem audiovisual. Isso se deve ao fato de que esse meio utiliza uma narrativa composta de várias linguagens superpostas, que acostuma os jovens a lidar com as informações atraentes, rápidas, sintéticas, tornando difícil a capacidade de compreender temas mais abstratos e de menos envolvimento sensorial.

No campo da educação escolar, a influência da mídia televisiva é crescente, os alunos consomem as informações cotidianamente e acabam transferindo-as para a escola. A TV transmite imagens em tempo real nos mais variados formatos, proporcionando em um primeiro instante, um grande leque com opções de programas. Com isso, é preciso considerar que a televisão exerce uma função genérica de conhecimento/informação sobre a cultura, que pode enriquecer a apreciação e a interpretação do aluno-espectador.

A televisão ao estabelecer uma ligação aparentemente lógica com as coisas, pretende mostrá-las e demonstrá-las, utilizando a imagem como argumento comprobatório,

impressionando e convencendo. A TV modela as imagens do mundo ao selecionar e organizar símbolos mediadores da realidade, que são por demais amplas e complexas para um entendimento direto. O conhecimento, por outro lado, quando aplicado socialmente, expande, amplifica e dinamiza a compreensão que temos do real. A grande questão estaria, então, em como simplificar e torná-lo complexo ao mesmo tempo. Para isso, a escola deve se aproximar de maneira crítica e criativa da linguagem televisiva.

Será possível ir mais adiante se os professores souberem adaptar as atividades às necessidades dos alunos, criando conexões com o cotidiano, com o inesperado, se souberem transformar a sala de aula em um espaço de motivação, de estímulo ao aprendizado, adotando diferentes opções metodológicas.

As instituições educacionais, tanto quanto a mídia, narram o mundo, dando-lhe um sentido, imputando-lhe uma forma. No entanto, as práticas educativas em relação à mídia, estão em desvantagem, porque a TV possui uma audiência cativa, que se liga na tela sem que para isso a emissora empreenda grandes esforços. Já as escolas lutam, diariamente, pra conservar seus alunos atentos aos desafios que o conhecimento apresenta.

A presença da imagem na vida das pessoas não representa um fenômeno recente. Entretanto, na atualidade, sua proliferação e circulação alcançam níveis consideráveis. Assim, os meios de comunicação destacam-se como uma das esferas de maior produção imagética, principalmente a televisão.

Por conseguinte, podemos destacar que outra possibilidade de leitura ocorre diante da tela da TV, com a linguagem audiovisual, caracterizada por um conjunto de elementos que estimulam a percepção sensorial, as emoções, apresentando-se como forte potencial para contribuir no aprendizado. Esse estímulo acontece em função da junção de três códigos: o icônico, o linguístico e o sonoro.

No icônico, o espectador encontra significado através da percepção visual, sendo que as imagens podem ou não fazer parte de seu referencial de conhecimento. O linguístico é empregado a partir de expressões técnicas ou de palavras que correspondem às imagens do código icônico, e o sonoro está relacionado aos sons, músicas e efeitos sonoros empregados na produção.

A TV dispõe de uma forma de representar o mundo, através da qual se fala mais que se escreve, se vê mais que se lê, e se sente antes de compreender, porém, poderá transformar a escola não em um centro de ensino, mas de aprendizagem. Um centro que

objetiva não a mera transmissão de conhecimentos, mas o enriquecimento em experiências de todo tipo: sensações, emoções, conhecimentos e atitudes.

Portanto, é primordial que a escola incorpore no seu cotidiano, as diferentes e novas linguagens midiáticas, procurando desvendar seus códigos e utilizar suas possibilidades de expressão. Assim sendo, tornam-se necessárias ações de educação para as mídias. Utilizá- las, compreendê-las e criticá-las é fundamental.

Diante dessa realidade, o professor é o elemento principal no processo de discutir as relações entre escola e mídia, utilizando-se da mídia como ferramenta pedagógica. Fazer uso da televisão como instrumento de aprendizagem é utilizá-la não apenas como recurso inovador, mas como forma de intervenção na própria sociedade.

A mediação de leitura da televisão na escola deve ser efetivada levando-se em consideração a bagagem que o aluno carrega acerca dessa mídia e suas reflexões sobre os diferentes programas veiculados. Atendendo a essas questões, o professor deverá construir, juntamente com o educando, os caminhos que o levem à compreensão dos conteúdos, importante para a ampliação do seu conhecimento de mundo.

Em um movimento de interação, visando à aprendizagem, iniciamos nossa experiência de mediação de leitura do texto televisivo Hoje é dia de Maria em sala de aula, buscando, através do diálogo, sentir o nível de leitura dos educandos. Percebemos que a escolaridade, as atividades profissionais de seus familiares e os materiais de leitura que dispunham, são fatores que se apresentam como indicadores de uma população de baixa renda, retratando a real carência de recursos de leitura.

A ação mediadora se efetivou na atividade pedagógica, através da realização de oito aulas ministradas, visando ao cumprimento do conteúdo programático, organizado em roteiros previamente aprovados e entregues à direção da escola. A aula compõe-se de três momentos, assim determinados: abordagem de temas específicos sobre televisão,

denominado de “Temas Introdutórios”, tais como: “Televisão e Literatura”, “O que é Imagem?”, “Linguagem Televisiva”, “O que é Narrativa?”, “Elementos da Narrativa”, “A Ficção na TV”, “Os Formatos da Ficção na TV”, O que é Leitura?”.

Podemos dizer, contudo, que essa atividade corresponde à fase de planejamento da experiência de leitura. O procedimento de exposição temática foi pensado para avaliar o conhecimento dos educandos em relação à especificidade da linguagem a ser analisada.

O segundo momento a compor a aula é o da exibição da obra televisual em sala de aula. Nessa atividade utilizamos a leitura silenciosa acompanhada de anotações escritas que serviram para a elaboração dos questionamentos, reflexões e arguições acerca da obra. O terceiro momento destina-se à atividade de Mediação propriamente dita que visa auxiliar os estudantes a realizar uma leitura proficiente do texto, pensar a leitura como algo além da decodificação, entendê-la como uma prática social. Nesse sentido, enfatizamos a importância do ato de mediar, porque torna a história mais interessante para o leitor, debatendo, colocando-o na história. O mediador se responsabiliza por fazer a ponte entre autor-texto-leitor.

Entendemos a mediação de leitura como um ato de ler para o outro de forma a despertar seu gosto pela narrativa, percebemos que é uma estratégia chave na formação de leitores. Para garantir maior sucesso nas iniciativas de mediação de leitura, sugerimos a

busca de uma “sinergia” entre os saberes dos educandos e da professora, tanto no que diz

respeito às práticas pedagógicas quanto ao respeito pelo nível de conhecimento dos alunos. Pesquisadora e alunos estabeleceram uma comunicação que permitiu a expressão das diferentes vozes, buscando compreender o conceito de cultura popular que emergia da obra em estudo. O grupo, atento à leitura do texto, vai dando indícios de entendimento da existência de estratégias narrativas que o compõe, em um claro desenvolvimento de sua percepção e criatividade, ao mesmo tempo em que ampliava seu universo cultural, tornando-se mais crítico e reflexivo.

Os alunos demonstram interesse pelo conteúdo da obra, passam a vê-la de forma lúdica, prazerosa, diferente de outras disciplinas estudadas, em que os conteúdos eram vistos como obrigação. A proposição dessa atividade assume uma nova conotação em suas vidas, outro significado.

Vimos o jogo de interlocução na classe se transformar em um efetivo palco de negociações, marcado pelas trocas e conflitos de opiniões entre os sujeitos que, ao contribuírem com a elaboração do conhecimento do outro, reelaboram seu próprio conhecimento. A mediação vai possibilitando ao aluno compreender que o processo receptivo, através de um programa televisivo, desperta sentidos e, com eles, a curiosidade inconsciente de ampliar a instrumentação sensorial.

Mesmo assim, percebemos, inicialmente, certas dificuldades no desenvolvimento da leitura entre os alunos. Um dos fatores que parece ter contribuído para tal situação é a prática adotada por alguns professores, que preferem dar ênfase apenas à decodificação,

um peso maior ao discurso da autoridade, uma tendência em trazer os conteúdos já definidos, não enfatizando os múltiplos sentidos que a leitura pode implicar. Nas falas dos alunos, quando questionados sobre o significado da obra, ficava explícita a hesitação em expressar suas ideias e, quando faziam, ficavam presos a conceitos pré-concebidos.

Os alunos aguçam a percepção e concentram-se no texto para extrair as intencionalidades, voltam-se para a situação de aprendizagem da compreensão leitora, configurando-se uma situação de ir-e-vir para superar os problemas que emergiram no percurso da leitura, o que nos faz perceber, com clareza, a importância das intervenções no processo de construção do conhecimento desses alunos.

O andamento da experiência mediadora nos possibilita o esclarecimento de como podemos proceder no ato de mediar com vistas a ajudá-los na atividade de leitura. Aprendemos, contudo, que a operacionalização de qualquer intervenção desenvolvida nesse sentido pressupõe etapas imprescindíveis para o alcance dos resultados esperados:

1) Formação do professor; 2) Diagnóstico do grupo; 3) Mediação na classe.

O processo de formação do professor não acontece em um momento estanque. Ele tem origem na formação inicial. É preciso um curso técnico e/ou de graduação, que forneça os elementos necessários para que haja uma preparação desse profissional. O processo de formação não deve ser interrompido, ou seja, é imprescindível que se prolongue através de estudos de formação continuada. Essa formação é um dos fatores essenciais para a garantia na qualidade do ensino.

A etapa do Diagnóstico de grupo é entendida aqui como sendo o processo através do qual conhecemos o estado ou situação em que se encontra alguém, com a finalidade de intervir, se necessário. Para que o professor tenha clareza do desenvolvimento do grupo quanto ao desempenho de leitura, é importante que, no início de suas atividades docentes, ele faça uma avaliação diagnóstica dos alunos, a fim de conhecer suas capacidades.

Para tanto, aplicamos um questionário com perguntas semiestruturadas, a fim de diagnosticar as escolhas dos alunos pela assistência dos programas televisivos, assim como o tempo dedicado a essa atividade. Elaboramos questões que apontassem o desenvolvimento real do grupo, suas potencialidades e dificuldades, para, a partir dele, utilizar uma mediação eficaz, de modo a reverter a situação anteriormente detectada.

Para entender sobre mediação na classe, explicamos o sentido do termo concebido por Vygotsky (1998), em seus estudos sobre as formas superiores do comportamento humano, com a ideia de que, através delas, o indivíduo produz e modifica ativamente o seu comportamento. Com uma visão social do homem, o autor aponta a relação com o outro, por intermédio da linguagem, como essencial para o desenvolvimento do ser humano.

O ensino para Vygotsky, não pode ser definido a partir apenas daquilo que a criança é capaz de realizar sozinha, mas que a interação com um adulto pode ajudá-la a avançar. O aluno é capaz de fazer mais com o auxílio de outras pessoas – professor, colegas –, do que faria sozinho; sendo assim, o trabalho escolar, para Vygotsky, deve voltar-se especialmente para a zona de desenvolvimento proximal – ZDP – em que se encontram as capacidades e habilidades potenciais, em amadurecimento.

Contudo, devemos estar alertas para o fato de que as interações de parceria e cooperação entre alunos e professor podem ser tensas e conflituosas, não podendo ser vistas estritamente no sentido de mediação harmoniosa e de caráter pedagógico homogêneo. Essa observação chama a atenção para a complexidade da mediação e confirma que a interação social é fundamental para a construção do conhecimento, a referência do outro, por meio do qual podemos conhecer os diferentes significados.

Ao final da exibição de cada episódio, procedemos com os questionamentos sobre o que haviam apreendido da leitura, no sentido de analisar o nível de compreensão do texto, como também para devolver ao grupo um novo elemento, trazido por um dos alunos da turma, a fim de que construa sentido.

Percebemos que essas interações favoreceram em muito a compreensão e a construção do significado. A atividade proposta após a leitura era a elaboração de perguntas a respeito do texto e, à medida que as interpretações se desenvolviam, a mediadora instigava a discussão, formulando sempre outros questionamentos, forçando uma reflexão mais profunda que pudesse suscitar novas perguntas, em uma persistente busca de manter um diálogo, uma interação que pudesse eliminar as alternativas improváveis.

Cabe ressaltar, ainda, que o papel do professor no processo educativo assume essencial importância, na medida em que cria condições necessárias para que a mediação pedagógica seja fundamentada em ações ativas, dinâmicas, reconstrutivas, recriadoras, abertas a todas as possibilidades, como também humanas, afetivas e motivadoras.

Com vistas a facilitar a discussão, adotamos três critérios para facilitar a leitura: estrutura da obra, principais ideias e técnicas utilizadas. A mediadora começava sempre com questões relacionadas à narrativa do episódio apresentado, formulando indagações como as seguintes:

Mediadora: Que leitura faz deste episódio? Que cenas destacam?

Por quê?

Que modelo de sociedade apresenta a narrativa? Que diferenças percebem nesta minissérie? Existe relação da obra com a vida de vocês? Que acham do cenário da obra?

Percebem mudança de iluminação?

Como analisam o desempenho dos personagens? O que representa o Asmodeu na história?

Em determinados momentos da mediação, conseguimos verificar que os alunos não conseguiam entender de imediato o texto, por isso usavam o recurso do silêncio, forçando a mediadora a insistir na questão, formulando a pergunta de maneira diferente, recorrendo à linguagem coloquial, utilizando um nível de ajuda que fornece elementos para compreender melhor as intencionalidades da obra.

A solicitação de interpretar um por um dos episódios de forma oral e descritiva tinha um objetivo: verificar o grau de compreensão do texto lido e, para isso, é necessário utilizar não apenas a capacidade de interpretação das informações trazidas pelo texto, mas, sobretudo, a capacidade de síntese que está relacionada a uma operação mental que garante a composição das partes em um todo.

Além disso, sistematizamos alguns níveis de ajuda que aplicamos na mediação, tais como: conversa inicial sobre o conteúdo geral abordado em cada episódio, a fim de favorecer a ativação do conhecimento prévio; elaboração de previsões sobre o texto que significa um olhar mais concentrado, ou seja, direcionando para o que é, de fato, relevante no texto; e, perguntas de estímulo com vistas ao alcance de processos ainda não amadurecidos de leitura.

Utilizamos operações lógicas, ativando os processos mentais dos alunos e operações estratégicas, que procuravam influenciar o andamento da aprendizagem, guiando as atividades intelectuais. Adotando esses princípios, notamos que a mediação assegura a qualidade do encaminhamento do aluno em busca do saber.

Desse modo, a experiência mediadora vivenciada com alunos do terceiro ano do ensino médio nos possibilitou compreender melhor como ocorre o processo de mediação pedagógica em sala de aula e proporcionou uma análise mais profunda sobre a nossa prática educativa com estudantes de graduação do curso de Comunicação Social da UFRN. Possibilitou o entendimento de que o professor precisa demonstrar maior sensibilidade e disposição para desenvolver ações que se voltem para diagnosticar as dificuldades encontradas pelos alunos nas diferentes leituras realizadas, utilizando metodologias e estratégias didático-pedagógicas, a fim de amenizar ou solucionar os entraves.

Nesse sentido, podemos dizer que, de nossa parte, houve preocupação e cuidado para que o aluno desenvolvesse bem a leitura do código visual. Isso se manifestou em práticas voltadas, predominantemente, ao ensino da linguagem televisiva e seus elementos constitutivos, uma vez que constatamos acentuada falta de conhecimento nesse assunto. Verificamos um descompasso entre o discurso e a prática em sala de aula, sinalizando que os professores não estão conseguindo romper com uma prática tradicional de ensino da disciplina de Língua Portuguesa/Literatura, arraigada, ancorada e engessada em conteúdos gramaticais, e colocar como eixo dinamizador a leitura de textos em diferentes linguagens e suportes.

Ainda conseguimos perceber que, na escola pública, a grande maioria dos alunos conclui o ensino médio com dificuldades de leitura e compreensão dos textos pela escassez de oportunidades que lhes são oferecidas para a comunicação de suas ideias, expressão de seus pensamentos, podendo, dessa maneira, elaborar suas análises e construir seus próprios conceitos.

Vimos, também, que a visão da função mediadora do professor adquire nova significação. Ao colocar-se como leitor experiente e crítico do texto, sua ação interlocutiva pode contribuir significativamente para a melhoria qualitativa da leitura textual em sala de aula. É dentro dessa visão dialógica que reside a fundamentação para que o professor possa orientar o aluno a compreender os textos.

Os dados da pesquisa revelaram que a compreensão textual ocorre satisfatoriamente em resposta às intervenções mediadoras do professor, realizadas através do contínuo e

persistente trabalho de análise dos textos. Por parte do professor, a utilização da ajuda no processo de mediação pode possibilitar a evolução do educando na leitura, a fim de alcançar a compreensão. Por parte do aluno, a busca incansável de diferentes formas de se expressar, para melhorar sua competência argumentativa e comunicativa.

Constatamos que a mediação do professor mostrou-se altamente pertinente em todas as etapas de leitura da obra televisual Hoje é dia de Maria, mas, singularmente importante, evidenciou-se, na etapa da discursividade sobre o texto, quando os alunos em função da ação interventiva expressavam suas ideias com mais espontaneidade. Na maioria das vezes esperavam que a iniciativa partisse de quem para eles detém o conhecimento de questionar sobre o conteúdo exposto, assumindo uma posição de certa dependência do dizer do professor.

Como forma de conduzir o trabalho, o que se propôs, e se fez, foi partir de atividades que permitissem, inicialmente, a expressão do aluno, trazendo elementos do seu cotidiano e/ou suas formas de elaboração conceitual espontâneas para análise do texto.

Em outra etapa, apoiando-nos na mensagem do texto, buscamos sistematizá-la pela explicitação e problematização, fazendo conexões entre seus fragmentos e o todo social, em um procedimento que tentava extrair dos leitores suas potencialidades e habilidades crítico-interpretativas. Temos no primeiro momento das atividades, a ênfase nos conceitos espontâneos, e, no segundo, a mediação pedagógica intencionalmente organizada, com vistas à análise intelectual, ponto central na perspectiva Vygotskyana do desenvolvimento conceitual.

Isso nos revela o quanto a mediação contribuiu para o avanço no processo de compreensão da leitura pelos alunos. Do total de alunos, quase 70% afirmaram, na avaliação final do texto, que já haviam assistido a minissérie e apenas decodificaram, porém, com a ação mediadora, passaram a compreender o texto televisual, o que se constitui em um genuíno indicador de que se produziu desenvolvimento no grupo.

Conseguimos observar alguns tipos de relações que os leitores estabeleceram com as imagens. Inicialmente, a relação é Imagem-Mundo (IM), quando o leitor passa a creditar que a imagem é, literalmente, uma representação do mundo, servindo para mostrar a realidade, e o artista apenas transfere a realidade para a obra. Melhor dizendo, quando o leitor não admite a autonomia do artista.

Outra relação se dá entre Imagem-Artista (IA), em que o leitor pensa que a definição do significado da obra depende somente do artista, e tenta decifrar os

significados implícitos da obra. Nessa relação, o leitor ainda não tem consciência da constituição cultural do artista, valorizando sua expressividade e distinguindo o julgamento moral – bom – do estético – belo. Finalmente, a Relação-Leitor (RL), em que o leitor adquire consciência da atividade interpretativa, assumindo seu papel ativo na construção dos significados da imagem e seu sentido passa a ser buscado na própria subjetividade.

Percebemos, também, alguns tipos de julgamentos ao longo da leitura estética, tais