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3 BIOCOMBUSTÍVEIS: A IMPORTÂNCIA DA PRODUÇÃO NACIONAL SOB O VIÉS CONSTITUCIONAL DA JUSTIÇA INTERGERACIONAL

3.1 CONCEITOS E TEORIAS DA JUSTIÇA ENTRE GERAÇÕES

Para se compreender o surgimento das teorias da justiça entre gerações123, faz-se necessária a compreensão do surgimento dos direitos de terceira e de quarta dimensão ou geração124. O marco histórico que ocasionou o surgimento da terceira dimensão de direitos foi a Segunda Guerra Mundial, tendo em vista que os direitos desta dimensão são direitos baseados nos valores da solidariedade e da fraternidade, marcas do movimento humanista em ascensão no pós-guerra.

Sobre essa geração de direitos, Paulo Bonavides ensina que é dotada de alto teor de humanismo e de universalidade, tendo por primeiro destinatário o gênero humano, em um momento internacionalmente expressivo de sua afirmação como valor supremo. Englobam, efetivamente, o direito ao desenvolvimento, à paz, ao meio ambiente, à comunicação e ao patrimônio comum da humanidade125. São direitos da coletividade, também identificados pela nomenclatura “direitos transindividuais”.

Já os direitos de quarta dimensão emergiram no contexto da derrocada da bipolaridade comunismo versus capitalismo, com o final da Guerra Fria, e da ascensão da globalização e da internacionalização da humanidade; são aqueles que versam sobre a democracia, à informação e ao pluralismo. Deles depende a concretização da sociedade aberta para o futuro, em uma dimensão de máxima universalidade126.

Os três direitos supramencionados constituem os direitos de quarta dimensão, mesmo sem trazerem nenhum valor específico. Esses são pertencentes ao gênero humano, pois dependem de uma internacionalização desses direitos para se concretizarem. Surgiram nas últimas décadas do século XX, a partir da mudança de paradigma gerada pelo desenvolvimento tecnológico-científico e dos avanços no campo das comunicações.

No momento do surgimento dos direitos retromencionados, a dogmática do positivismo jurídico127 já era incapaz de dar respostas suficientes à nova função do Direito,

123 Neste capítulo, a despeito de qualquer discussão teórica mais aprofundada, não utilizaremos o termo

“geração” em referência aos direitos fundamentais, nesse sentido utilizaremos “dimensões”, a fim de evitar qualquer confusão quando tratarmos de “futuras gerações”.

124 Apenas a título de complemento, os direitos fundamentais de primeira e segunda dimensão são,

respectivamente, os direitos civis e políticos (direito à vida, à intimidade, à inviolabilidade de domicílio, à propriedade, entre outros) referentes ao ideal da liberdade; e os últimos são direitos positivos, por reclamarem a presença do Estado, para propiciar um bem estar social, são direitos sociais, econômicos e culturais, buscando diminuir as desigualdades sociais.

125 BONAVIDES, Paulo. Curso de direito constitucional. 18. ed. São Paulo: Malheiros, 2006, p. 563-569. 126 BONAVIDES, Paulo. Curso de direito constitucional. 18. ed. São Paulo: Malheiros, 2006, p. 571.

127 O positivismo, em seu sentido amplo, é uma teoria monista sobre o direito, excluindo o direito natural da

posto ter sido utilizada para cometer as mais diversas barbaridades do nazifascismo e das guerras. Buscava-se uma teoria mais voltada ao sentido de promoção por parte do Estado, uma necessidade prestacional que ultrapassava a esfera individual para alcançar todo o planeta e as gerações futuras. Em um claro reflexo da preocupação em salvaguardar os seres humanos de novas guerras e arbitrariedades.

Entra em cena, então, o pós-positivismo jurídico que, segundo Luis Roberto Barroso, é o marco filosófico da nova etapa e objetiva a interpretação do direito fundamentada em uma teoria da justiça, como forma de minimizar o qualquer potencial dano a ser por ele fundamentado128. Com esse novo marco na sociedade, e uma nova teoria representada pelo pós-positivismo jurídico, surge no campo do Direito Constitucional o Neoconstitucionalismo.

Ainda segundo Luis Roberto Barroso, com o Neoconstitucionalismo continua em voga a premissa da supremacia constitucional; agora agregando a prevalência da força normativa e dirigente dos princípios constitucionais, esses passando a ser a síntese dos valores recepcionados no ordenamento jurídico, sempre os aproximando da ética para evitar distorções129.

No que cinge aos princípios, Ronald Dworkin os define de forma célebre, e bastante referenciada pela doutrina, como um padrão que deve ser observado, mesmo que não assegure uma situação econômica, política ou social desejável, mas sim pelo fato de ser uma exigência de justiça ou equidade ou outra dimensão da moralidade130.

Foi nessa conjuntura de Neoconstitucionalismo e pós-positivismo jurídico somada às mudanças na sociedade que, por volta da década de 1970, foram amplamente difundidas as ideias de desenvolvimento sustentável, uma das vertentes da justiça intergeracional131.

Na Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente em Estocolmo, no ano de 1972, em uma tentativa de se institucionalizar a problemática ambiental frente ao

jurídica da PUC-SP. Celso Fernandes Campilongo, Alvaro de Azevedo Gonzaga e André Luiz Freire (coords.).

Tomo: Teoria Geral e Filosofia do Direito. Celso Fernandes Campilongo, Alvaro de Azevedo Gonzaga, André Luiz Freire (coord. de tomo). 1. ed. São Paulo: Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, 2017. Disponível em: <https://enciclopediajuridica.pucsp.br/verbete/84/edicao-1/positivismo-juridico:-significado-e-correntes>. Acesso em: 17 jun. 2017.]

128

BARROSO, Luis Roberto. Neoconstitucionalismo e constitucionalização do direito: O triunfo tardio do direito constitucional no Brasil. Revista de Direito Administrativo, Rio de Janeiro, n. 240, p.1-42, abr./jun. 2005. Disponível em: <http://dx.doi.org/10.12660/rda.v240.2005>. Acesso em: 17 jun. 2017.

129

BARROSO, Luís Roberto Barroso. O novo direito constitucional brasileiro: contribuições para a construção teórica e prática da jurisdição constitucional no Brasil. Belo Horizonte: Fórum, 2013. p. 122.

130 DWORKIN, Ronald. Levando os direitos a sério. São Paulo: Martins Fontes, 2002. p. 36.

131 Remontando o contexto da Declaração Universal dos Direitos Humanos, de 1948, tratada em capítulo

desenvolvimento econômico, a temática do desenvolvimento sustentável ganhou força, culminando em sua conceituação pelo Relatório Brundtland.

Contudo, o conceito de justiça intergeracional já havia sido introduzido em 1974 por James Tobin, ao escrever que os administradores ou curadores de instituições detentoras de patrimônio (como exemplo Tobin menciona grandes universidades) exercem a função de guardiões do futuro contra as reivindicações do presente, devendo administrar esse patrimônio e preservá-lo entre gerações132.

Na Declaração de Estocolmo percebe-se que o próprio conceito de desenvolvimento sustentável se sobrepõe à ideia de justiça intergeracional: “o desenvolvimento que satisfaz as necessidades presentes, sem comprometer a capacidade das gerações futuras de suprir suas próprias necessidades” 133.

Para se compreender a expressão “justiça intergeracional” ou “justiça entre as gerações” além do contexto do seu surgimento explanado supra, é necessário entender conceitualmente a ideia de justiça, a definição da expressão “futuras gerações”, o objeto de estudo da justiça intergeracional e a função do direito.

Antes de se apresentar os conceitos listados acima, cabe a reflexão trazida por Leonardo Alves Corrêa: atualmente, a discussão sobre uma nova ética ambiental, pautada inicialmente pelo desenvolvimento sustentável, influencia decisivamente o conceito de justiça, destacando-se o conceito de justiça intergeracional. Essa vertente da justiça é imprescindível, pois finda por corrigir racionalmente discursos céticos, utilitaristas e hedonistas; significando ainda um aprimoramento sofisticado do Direito134.

Dissecando a expressão “justiça intergeracional”, desdobram-se dois conceitos intrinsecamente correlacionados: “justiça” e “intergeracional”, portanto intergeracional é espécie do gênero justiça. Convém então entender o sentido mais amplo de justiça, para posteriormente se abstrair o sentido resultante dessa interação linguística.

Historicamente, o conceito de “justiça” está inicialmente associado à igualdade135

. Aristóteles já trazia a discussão desse conceito, acreditando ser a justiça uma disposição da alma que leva as pessoas dela dotadas a fazer o que é justo, a agir justamente e a desejar o que

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TOBIN, James. What Is Permanent Endowment Income? The American Economic Review, v. 64, n. 2, Papers and Proceedings of the Eighty-sixth Annual Meeting of the American Economic Association, p. 427-432, maio, 1974. Disponível em: <http://www.jstor.org/stable/1816077>. Acesso em: 20 set. 2017.

133

BRUNDTLAND, Gro Harlem. Nosso futuro comum: comissão mundial sobre meio ambiente e desenvolvimento. Rio de Janeiro: Fundação Getúlio Vargas, 1991, p. 10.

134 CORRÊA, Leonardo Alves. Desenvolvimento econômico e desenvolvimento: uma interpretação a partir da

constituição de 1988. Rio de Janeiro: Publit, 2011. p. 133.

135

é justo, assumindo caráter de virtude moral, ao observar da lei e ao respeitar aquilo que é legítimo e válido para o bem de toda comunidade. Trazendo duas perspectivas: a justiça corretiva (para equilibrar as perdas e os ganhos entre os indivíduos) e a justiça distributiva (divisão entre os cidadãos para que todos desfrutem dos benefícios coletivamente)136.

Trazendo uma visão mais atual, Gustavo Jaccottet Freitas analisa a existência de um conceito de justiça nas obras da filósofa Hannah Arendt, concluindo por encontrar um conceito implícito em suas obras, de justiça equitativa que amolda o Direito (lei, Constituição, jurisprudência e atos da administração pública) ao caso concreto, com identificação da justiça com a legitimidade137. A justiça como equidade é a teoria da justiça desenvolvida por John Rawls, a ser estudada adiante.

Por fim, Hans Kelsen reforça a ideia de que a humanidade é subdividida em nações, classes, religiões, por vezes divergentes entre si, e daí advém a grande quantidade de conceitos de justiça tão plurais quanto a sociedade, não havendo como uniformizar um único conceito de justiça138.

Visto o conceito de justiça, é necessário entender o significado da expressão intergeracional; intergeracional é tudo o que é relativo a gerações distintas. Sua tradução literal é “entre gerações”. A justiça entre gerações é consequência do maior foco no desenvolvimento de aspectos da justiça e da equidade139.

Busca-se agora o conceito da expressão “futuras gerações”, já que a geração presente é aquela temporalmente existente quando utilizado um parâmetro temporal comparativo. Ramos Júnior faz uma construção interessante sobre o conceito jurídico de futuras gerações, em suma, pode-se dizer que as futuras gerações são subjetividades coletivas formadas por indivíduos com menos de 18 anos de idade, e por todos aqueles que ainda não nasceram e que, sequer, foram concebidos. As referidas subjetividades coletivas são

136 SANTOS, Thiago Mendonça; SOARES, Josemar Sidinei. O conceito de justiça no pensamento filosófico de

Aristóteles. Disponível em:

<https://uspdigital.usp.br/siicusp/cdOnlineTrabalhoVisualizarResumo?numeroInscricaoTrabalho=5327&numero Edicao=18>. Acesso em: 17 jun. 2017.

137

A justiça arendtiana é abordada a partir do totalitarismo alemão, que não alterou leis, mas retirou a estabilidade que elas ofertam para a sociedade organizada, afastando-se, por tanto, da ética. [FREITAS, Gustavo Jaccottet. Existe um conceito de justiça em Hannah Arendt? Saberes: filosofia e educação, Natal, v. 1, n. 10, p.135-154, nov. 2014. Semestral. Disponível em: <https://periodicos.ufrn.br/saberes/article/view/4920/4918>. Acesso em: 17 jun. 2017.]

138 KELSEN, Hans. Teoria Geral do Direito e do Estado. 3. ed. São Paulo: Martins Fontes, 1998. p. 12.

139 A equidade intergeracional é o fundamento do direito das futuras gerações, sendo, portanto, um princípio

portadoras de direitos e interesses difusos fundamentais para a perpetuação da espécie humana140.

Mencionando, ainda, que o reconhecimento normativo dos direitos supramencionados ocorre pela via tradicional personalidade jurídica atribuída a pessoas vivas, conforme o artigo 2º do Código Civil brasileiro. Porém, considerando que uma parcela considerável dos indivíduos que integram as futuras gerações ainda não foi concebida, não detendo personalidade jurídica civil, essas futuras gerações se apresentam como subjetividades coletivas141 cujos direitos e interesses são reconhecidos por meio da técnica jurídica da presunção de nascimento antecipado, (a proteção jurídica ante natalem de pessoas não-nascidas – direitos obtidos antes do nascimento). Presumem-se, então, já nascidos os indivíduos das futuras gerações mais distantes142.

Quanto ao objeto da justiça intergeracional, é justamente a geração futura, em virtude de não possuir nenhum representante na atualidade. Já o papel do direito é criar instrumentos jurídicos para regular as pretensas relações entre os indivíduos das gerações presentes e os das gerações não nascidas. Por fim, vistos os conceitos básicos, inicia-se agora um breve estudo das teorias da justiça e seus desdobramentos entre gerações.

Serão aqui abordadas resumidamente: a deontológica Teoria da Justiça como Equidade, de John Rawls, e o Princípio da Responsabilidade, de Hans Jonas, lançado em seu livro “Imperativo da Responsabilidade”, em 1979, assim como sua ética para uma civilização tecnológica; expõe-se, em sucintos termos, o Libertarianismo de Robert Nozick. No item 3.2, que trata especificamente da justiça intergeracional do meio ambiente, será explanada a Teoria da Equidade Intergeracional, formulada por Edith Brown Weiss, e adicionalmente algumas das ideias de François Ost sobre a dialética entre homem e natureza.

140 RAMOS JÚNIOR, Dempsey Pereira. Amplitude do conceito jurídico de futuras gerações e do respectivo

direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado. 2011. 403 f. Dissertação (Mestrado) - Curso de Direito,

Universidade do Estado do Amazonas, Manaus, 2011. p. 134-135. Disponível em: <http://tede.uea.edu.br/jspui/bitstream/tede/155/5/Amplitudedoconceitojurídicodefuturasgerações.pdf>. Acesso em: 18 jun. 2017.

141

A preocupação com a justiça intergeracional ultrapassou as barreiras jurídicas e filosóficas e está presente no conhecimento popular, como na música “Futura Geração”, da banda florianopolitana “Iriê”: “Pode dizer/ É nossa obrigação/ Saber cuidar/ Pra quem vier/ Futura geração/ Vivendo em conflito/ Entre o que é escrito/ E o que acontece de verdade”. E também nos versos musicalizados do cantor e compositor pernambucano Geraldo Azevedo [“Eu quero um país/ Eu quero um país de futuro.../Eu quero a América/ Eu quero a Futura América.../ Eu quero a terra/ Quero o futuro da terra.../ Não quero a história dos crimes/ Eu quero Bolívar e San Martin/ Los Hermanos de Zumbi/ Los Hijos de Tiradentes.../ A história de um índio/ Na Cordilheira dos Andes/ Dos Incas, Ianomamis/ Eu quero um futuro grande.../ Quero o futuro como um cesto/ Multiplicando seus pães”].

142

RAMOS JÚNIOR, Dempsey Pereira. Amplitude do conceito jurídico de futuras gerações e do respectivo

direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado. 2011. 403 f. Dissertação (Mestrado) - Curso de Direito,

Universidade do Estado do Amazonas, Manaus, 2011. p. 130-136. Disponível em: <http://tede.uea.edu.br/jspui/bitstream/tede/155/5/Amplitude do conceito jurídico de futuras gerações.pdf>. Acesso em: 18 jun. 2017.

John Rawls em sua obra “A theory of justice”, de 1971, trata da justiça como equidade, um marco na filosofia política contemporânea. Em breve síntese, Rawls tenta responder o significado de uma “sociedade justa”, elucidando o conceito de “justice as fairness”. Ainda, a possibilidade de uma sociedade democrática bem ordenada deriva de um conceito de justiça como equidade (em um sistema equitativo de cooperação social). A equidade, por sua vez, depende da escolha dos princípios da justiça que irão nortear as suas bases estruturais143.

Rawls define dois princípios: cada pessoa deve ter direito igual ao mais abrangente sistema de liberdades básicas que seja compatível com um sistema assemelhado de liberdade para outras (Rawls defende, portanto, uma teoria liberal); e que as desigualdades sociais e econômicas devem ser ordenadas de forma que sejam razoavelmente consideradas vantajosas (igualdade material) e estejam vinculadas a posições acessíveis a todos (igual oportunidade). Essa teoria seria vantajosa para a sociedade em virtude do seu pluralismo144.

Rawls define, no segundo princípio, o viés da poupança justa – cada geração deve preservar determinada quantidade de capital, desde meios de produção ao investimento na educação. A poupança é exigida como condição para a realização plena de instituições justas e das iguais liberdades para todos, agindo também como limite à taxa de acumulação. Extrai- se das ideias de Rawls que ele adota uma concepção contratualista da justiça entre gerações, apesar da estranha ideia de se firmar um contrato entre pessoas que não possuem vidas concomitantes145.

Explicando as ideias de Rawls, Hirdan Costa menciona que tais princípios são necessários para uma construção da justiça por intermédio de um véu da ignorância, para se atingir a um elevado grau de racionalidade, de igualdade e de desinteresse, de forma que se desenvolva um senso de justiça, visando se adotarem os meios mais eficazes para se atingir determinado fim. Sendo assim, a melhor concepção de justiça será aquela cujas consequências mais amplas são desejáveis146.

143 BRESOLIN, Kleberson; CICHOWSKI, Vicente Cougo. Sobre o conceito de justiça em John Rawls e Robert

Nozick. Clareira: revista de filosofia da Região Amazônica, v.1, n. 2, p.123-138, ago./dez. 2014. Disponível em: <http://www.revistaclareira.com.br/index.php/clareira/article/viewFile/31/24>. Acesso em: 19 jun. 2017.

144 BRESOLIN, Kleberson; CICHOWSKI, Vicente Cougo. Sobre o conceito de justiça em John Rawls e Robert

Nozick. Clareira: revista de filosofia da Região Amazônica, v.1, n. 2, p.123-138, ago./dez. 2014. Disponível em: <http://www.revistaclareira.com.br/index.php/clareira/article/viewFile/31/24>. Acesso em: 19 jun. 2017.

145 SILVA, Ricardo Perlingeiro Mendes da Silva. Teoria da Justiça de John Rawls. Revista de Informação

Legislativa. Brasília a. 35, 193-212, n. 138, abr./jun.-1998. p. 201-202. Disponível em: <http://www2.senado.leg.br/bdsf/bitstream/handle/id/377/r138-16.pdf>. Acesso em: 19 jun. 2017.

146 COSTA, Hirdan Katarina de Medeiros. O princípio da justiça intra e intergeracional como elemento na

destinação das rendas de hidrocarbonetos: temática energética crítica na análise institucional brasileira. 2012. 342 f. Tese (Doutorado – Programa de Pós-Graduação em Energia) EP/FEA/IEE/IF da Universidade de São

Contrapondo-se à teoria da equidade de Rawls, Robert Nozick, em sua obra “Anarchy, State and Utopia”, de 1974, lança uma teoria política libertária, propondo um Estado mínimo – limitado a garantir a proteção contra a força, o roubo e a fraude. Enquanto Rawls defende o “justice as fairness”, Nozick atribui aos direitos individuais caráter fundamental e apenas um Estado mínimo seria compatível, de forma a não lesar tais direitos. O ponto em comum entre as teorias de Rawls e Nozick: ambos criticam o utilitarismo147 como forma de justiça e fundamentação do estado148.

Hans Jonas, em 1979, em seu livro “Imperativo da Responsabilidade” abordou o os impactos irreversíveis da moderna tecnologia sobre a natureza e sobre o futuro da humanidade. Antes disso, o homem não possuía a capacidade técnica de modificar a natureza em tão larga escala como atualmente. Baseado nisso, Hans Jonas propõe um imperativo novo, baseado na responsabilidade para com o meio ambiente, a saber: o novo imperativo clama pela coerência dos atos humanos com seus efeitos finais, de modo a haver a continuidade da atividade humana no futuro; além disso, as ações subordinadas a esse novo imperativo, ou seja, as ações do todo coletivo, assumem a característica de universalidade na medida real de sua eficácia149.

Entretanto, em seu Princípio da Responsabilidade, Hans Jonas ao definir o imperativo ético de responsabilidade – o conhecido não por em risco ou em perigo as condições da continuidade indefinida da humanidade na Terra –, afirma que o sacrifício do futuro em prol do presente não é mais refutável do que o sacrifício do presente a favor do futuro150.

Logo, a conservação da vida é algo que se deve tanto às vidas atuais quanto às novas gerações. E Jonas afirma que devemos agir de modo que os efeitos de nossas ações sejam compatíveis com a permanência de uma autêntica vida humana sobre a Terra, demonstrando a imensa preocupação e verdadeira responsabilidade com as futuras gerações. Também afirma de forma negativa: devemos agir de modo a que os efeitos de nossas ações não sejam destrutivos para a possibilidade futura da vida. Ou ainda, afirma para não por em

Paulo, São Paulo, 2012. Disponível em: <http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/86/86131/tde-21092012- 181014/ptbr.php>. Acesso em: 10 jun. 2017. p. 28.

147 Por utilitarismo entende-se uma doutrina filosófica que tem a utilidade como um princípio moral, ou seja, tem

por base os resultados. Jeremy Bentham foi um dos pioneiros representantes desta corrente filosófica. Tanto para Rawls quanto para Nozick, o utilitarismo infringe direitos fundamentais individuais.

148 BRESOLIN, Kleberson; CICHOWSKI, Vicente Cougo. Sobre o conceito de justiça em John Rawls e Robert

Nozick. Clareira: revista de filosofia da Região Amazônica, v.1, n. 2, p.123-138, ago./dez. 2014. Disponível em: <http://www.revistaclareira.com.br/index.php/clareira/article/viewFile/31/24>. Acesso em: 19 jun. 2017.

149 JONAS, Hans. O princípio da responsabilidade: ensaio de uma ética para a civilização tecnológica. Marijane

Lisboa, Luiz Barros Montez (trad.). Rio de Janeiro: Contraponto, 2006. p. 48-49.

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perigo as condições necessárias para a conservação indefinida da humanidade sobre a Terra. Sempre no sentido de uma ética com a vida das presentes e das futuras gerações. Afirma ainda que a responsabilidade com as futuras gerações é similar à responsabilidade entre pais e filhos; e acima de tudo, de respeito e responsabilidade com as gerações vindouras151.

Vistas brevemente as concepções de justiça que permeiam as três teorias, elas são importantes para, em menor ou maior grau, tecer um paralelo com determinados aspectos correlatos à produção de biocombustíveis no Brasil, como o seu viés ambiental e foco do