• Nenhum resultado encontrado

A função comunicativa da linguagem permite ao homem vivenciar processos de interlocução entre si. Além desse importante papel, a linguagem permite a formulação de conceitos e assim, abstrair e generalizar a realidade, por meio das atividades mentais, do pensamento lógico.

Através da palavra designamos e representamos objetos, abstraímos e generalizamos suas características. A utilização dos conceitos nos liberta dos limites da experiência concreta, isto porque não é preciso estar em contato direto com

66

determinado objeto, ser, ou até mesmo, uma ação, para que possamos dar um sentido a este.

Os conceitos exercem, por meio da comunicação, um papel fundamental de interação. Na palavra, segundo Vigotski (1991), designamos objetos, os representamos, abstraímos e generalizamos suas características. Os conceitos são, dessa forma, elementos de proposições assim como as palavras são elementos de uma sentença. Sendo assim, conceitos são unidades psíquicas abstratas e universais que servem para designar categorias ou classes de entidades, eventos, relações.

A formação dos conceitos envolve todas as funções mentais superiores e, para Vigotsky (2005), é um processo mediado por signos. Estes constituem o meio para a sua aquisição. Nesse processo, o mediador é a palavra, a palavra é o meio para a atenção, observação, comparação, abstração de determinadas características, síntese e generalização para a formação de um signo e daí uma palavra com sentido (um conceito).

A lógica define conceito como construções mentais que identificam as características permanentes de um conjunto de objetos, necessárias para o estabelecimento de uma correta articulação formal. Sendo construções mentais, são elementos constitutivos do pensamento, são representações abstratas que designam um conjunto ou uma classe de objetos ou seres.

Santos (1959, p. 26) enfatiza que “Para a lógica formal, o conceito é um objeto ideal, intemporal, forma do pensamento”.

Segundo Pozo (1998), eles parecem cumprir duas funções essenciais para a sobrevivência do homem. Por um lado, proporcionam um universo organizado; por outro, têm função de predição, de modelos interpretativos aplicados à realidade, e têm como função a adaptação aos fatos não previstos por nossos modelos explicativos. Segundo o autor, são eles que nos obrigam a gerar conceitos novos, a modificar nosso modelo conceitual.

Para Giordan e Vecchi (1996), os conceitos constituem, ao mesmo tempo, pontos de agrupamento e instrumentos de investigação na elaboração das ciências. São pontos de agrupamento, porque, permitem reunir um conjunto de aquisições esparsas, oriundas das observações, experiências ou investigações relacionadas, com o fim de responder a certo número de questões (ex.: o conceito de fecundação permite agrupar aquisições sobre os diversos modos de reprodução – ovíparo,

67

vivíparo, ovovivíparo). E são instrumentos de investigação, porque podem ser o ponto de partida de novas pesquisas que possibilitem a conexão entre certas aquisições (ex.: os conceitos de cromossomos e gene permitiram a conexão entre as abordagens hereditária e citológica).

O materialismo dialético, segundo Kopnin (1978), considera o conceito uma forma original de reflexo dos objetos, das coisas do mundo material e das leis do movimento destes. O conceito reflete o conteúdo que as coisas encerram.

Para Kopnin (1966, p. 230), “[...] por trás do conceito biológico de espécie, há implícita a realidade objetiva, [...] já que reflete um grupo de seres parecidos entre si que se diferenciam de outros grupos de seres mais parecidos com eles”.

Segundo Kopnin (1966), a relação entre o conceito e o mundo objetivo tem um caráter complexo e contraditório. Entre o conceito e os objetos do mundo material não há identidade. O conceito do objeto, e o próprio objeto, não é uma mesma coisa. As coisas, os objetos do mundo material, existem na realidade antes e independentemente dos conceitos humanos. O conceito não possui a realidade objetiva que é inerente às próprias coisas. Os conceitos são objetivos por seu conteúdo, unicamente por sua origem, mas são subjetivos pela forma de sua existência – existem em nossa mente, em nossa consciência.

Segundo Davidov (1988), o conceito, criação histórica da sociedade, existe na forma de atividade mental humana e no resultado dessa atividade. Existe e se expressa tanto teoricamente, como nos objetos criados. O conceito se abstrai das características e atributos individuais de diversas percepções e representações. Ele é o resultado da síntese de um elevadíssimo número de percepções e representações de fenômenos e objetos homogêneos. Isto significa que, no conceito, estão envolvidas: a abstração (apreensão das características distintivas) presentes em um número significativo de elementos de uma classe de objetos e a síntese (generalização das características), incluindo-as numa representação abstrata das características comuns a todos os elementos dessa classe de objetos.

O conceito, como esquema abstrato, como o esquema de uma série, é invariante.

Os indivíduos que compõem a série são variantes.

Assim, cavalo, enquanto conceito (esquema abstrato), é invariante, mas os cavalos, como elementos fácticos de uma série, são variantes (SANTOS, 1959, p. 207).

Para a lógica existem duas propriedades formais dos conceitos: o conteúdo e a extensão. Designa-se conteúdo, o conjunto de características

68

substanciais dos diversos objetos (seres) que nele estão representadas, por exemplo: animal (inclui todas as características comuns a todos os homens). Já extensão, é o conjunto ou a totalidade dos objetos (seres) a que se pode aplicar esse conceito, tomando o mesmo exemplo: animal (todo o conjunto de seres que podem ser incluídos nesse conceito).

“O conceito de ser, por exemplo, abrange toda a extensão da predicação, pois o que é universal é; o que é particular é; o que é individual é; e as diferenças de ser ainda são ser.” (SANTOS, 1959, p. 213).

Para Vigotsky20 (2005, p. 184), a construção conceitual não é um processo passivo ou uma simples formação por associação: “o conceito não é simplesmente um conjunto de conexões associativas que se assimila com a ajuda da memória, não é um hábito mental automático, mas um autêntico e completo ato do pensamento”.

E nesse ato do pensamento, de acordo com a teoria histórico-cultural, o processo de apropriação se efetiva nas relações que estabelecemos com o mundo. Essas relações são determinadas pelas condições produzidas social e historicamente, ou seja, é na vivência, informal ou formal que desenvolvemos as ideias que caracterizam os conceitos. Podemos diante disso, destacar dois tipos de conceito: Os conceitos cotidianos e os conceitos científicos.

Vigotsky (2005, p. 67) evidencia as relações existentes entre conceitos cotidianos e científicos

Aunque el concepto científico y el espontáneo se desarrollan em direcciones inversas, los dos processos están intimamente conectados. La evolución de um concepto espontáneo debe haber alcanzado um determinado nível para que se pueda absorver um concepto científico afin.

Para Vigotsky (2005), os conceitos espontâneos (cotidianos) e os científicos fazem parte de um mesmo processo, ainda que se formem, e se desenvolvam, sob condições externas e internas diferentes, determinados por situações ou problemas diferentes. A formação de um ou de outro depende fundamentalmente de como é organizado e sistematizado seu processo de assimilação.

20 O nome do autor aparece na bibliografia grafado de difersas formas: Vigotski, Vygotsky, Vigotskii, Vigotskji, Vygotski. Isso porque as versões são traduções de traduções, visto que o autor escreveu somente em russo. As traduções mais recentes no Brasil trazem a grafia Vigotski. As versões cubanas geralmente possuem a grafia Vigotsky.

69

As investigações de Pozo (1998) possuem resultados semelhantes aos dos trabalhos realizados por Vigotsky (2005). Neles existem dois sistemas de formação de conceitos: um que se baseia em categorias difusas e probabilísticas, que se relaciona a contextos particulares (protótipos), e outro que se baseia na lógica, os conceitos clássicos ou logicamente definidos.

Para a concepção probabilística, os conceitos possuem uma estrutura difusa, não existem atributos necessários nem suficientes que os definam, são considerados em sua maioria como conceitos cotidianos; por exemplo, “cadeira”, “lápis”, etc. Nessa visão, o conceito é formado a partir da abstração de atributos que ocorrem em maior frequência entre os membros de uma categoria, seguido da construção de uma representação mental denominada protótipo que servirá de modelo para a classificação de objetos nessa categoria (o protótipo do conceito). Nesse caso, a aplicabilidade do conceito depende do grau de similaridade que exista entre o objeto estudado e o protótipo do conceito.

Em contrapartida, a concepção lógica destaca que o conceito é constituído por uma série de atributos necessários e suficientes, de tal maneira, que todos os exemplos contêm necessariamente traços ou atributos comuns a todos os membros de uma categoria; e nenhum outro objeto que não faz parte da classe de objetos deste conceito, possui tais atributos ou características necessárias e suficientes.

Para Vigotsky (2005), existe uma interação dinâmica entre estes dois sistemas. Essa interação acontece via de mão dupla, ou seja, os conceitos científicos possibilitam realizações que não poderiam ser efetivadas pelo conceito espontâneo e vice-versa. Isso significa que os conceitos científicos não são assimilados de forma pronta, mas por meio de um processo de desenvolvimento relacionado à capacidade geral do sujeito de formar conceitos. E, este nível de compreensão, está associado com o desenvolvimento dos conceitos espontâneos. Os conceitos espontâneos21 seguem seu caminho para o alto, em direção a níveis maiores de abstração, abrindo caminho para os conceitos científicos, em seu caminho para baixo, rumo a uma maior concretude.

70

2.3.1 Os conceitos científicos e os conceitos do cotidiano

Os conceitos são instrumentos culturais que orientam as ações dos sujeitos em sua relação com o mundo material e espiritual. Sua formação está diretamente associada ao processo de aquisição da linguagem A palavra, a medida que é internalizada, se constitui no signo para o processo de construção conceitual (VIGOTSKI, 2011). Os conceitos encontram no objeto a sua materialização e têm sua essência revelada nas relações que se estabelecem entre os sujeitos e os objetos em determinado contexto histórico-cultural que é responsável pela atribuição de significados. São, portanto, os conceitos cotidianos e científicos, consequência da reorganização cognitiva propiciada pelo desenvolvimento da linguagem.

Vigotski (2011), a partir do resultado de investigações, apresenta dois tipos de conceitos: os conceitos "cotidianos" e os conceitos "científicos".

Segundo Núñez (2009), as condições nas quais os conceitos espontâneos (cotidianos) e os científicos se formam são diversas, dependendo fundamentalmente de como é organizado e sistematizado seu processo de assimilação.

Conceitos cotidianos são compreendidos por Vigotsky (2005) como aqueles que vão sendo formulados à medida que se utiliza a linguagem para nomear objetos e fatos, presentes em sua vida diária. São, portanto, formados no dia-a-dia, por meio da mediação, nesse contexto são cotidianos, ligados às situações imediatas, se referem a elementos que se encontram nas situações concretas das pessoas.

Núñez (2009) declara que esses conceitos se caracterizam pela ausência de percepção consciente das relações que se dão na estrutura de sua definição. As relações são orientadas pelas semelhanças concretas e as generalizações isoladas. Para o autor, os conceitos espontâneos (cotidianos) são categorias ontológicas que formam a base das teorias do senso comum sobre o mundo, intuitivas e próprias de cada indivíduo, que se desenvolve como um produto das experiências diárias individuais e sociais. Embora ricos em experiências práticas, esses conceitos são dependentes do contexto.

Dessa forma, no processo de formação de conceitos espontâneos, quanto maior a interação dialógica com seus semelhantes, maior será o distanciamento do concreto, ou seja, maior será a abstração da forma generalizada da realidade.

71

Por conceitos científicos, Vigotsky (2005) considerou aqueles formados a partir da aprendizagem sistematizada, ou seja, que estão relacionados ao trabalho escolar. Os conceitos científicos são todos aqueles que derivam de um corpo articulado de conhecimento e que aparecem nas propostas curriculares, como fundamentais na organização de conteúdos a serem trabalhados nas atividades pedagógicas. Para Núñez pode-se afirmar que esses conceitos inserem-se nos sistemas de relações entre objetos definidos em teorias formais, formulados pela cultura científica para serem assimilados em processos pedagogicamente organizados no contexto escolar.

Vigotski (2011) expõe que o aprendizado escolar induz o tipo de percepção generalizante, desempenhando assim um papel decisivo na conscientização do indivíduo dos seus próprios processos mentais. Os conceitos científicos, com seu sistema hierárquico de inter-relações, parecem constituir o meio no qual a consciência e o domínio se desenvolvem, sendo, mais tarde, transferidos a outros conceitos e a outras áreas do pensamento. A consciência reflexiva chega ao indivíduo através dos portais dos conhecimentos científicos. E esses conhecimentos, segundo Kopnin (1966), têm por finalidade a apreensão da essência e do fenômeno, da lei de sua dinâmica e desenvolvimento. Para o autor, o homem necessita conhecer as leis da natureza e da sociedade para que sua atividade prática seja eficiente. Esse conhecimento, da lei, da essência dos fenômenos, se manifesta na forma de conceitos - os conceitos científicos, que são formados nas atividades mediatizadas, sistematizadas no contexto escolar.

Segundo Núñez (2009), os conceitos espontâneos são aprendidos pela conversão, pela experiência sensorial, na generalização de natureza empírica. E os conceitos científicos são aprendidos pelos símbolos escritos, pela generalização teórica, em situações específicas, pela via do abstrato ao concreto.

A principal diferença psicológica entre conceitos espontâneos (cotidianos) e científicos está na ausência de um sistema nos conceitos espontâneos. A sistematização entra na mente do sujeito através do aprendizado dos conceitos científicos e são posteriormente transferidos para os conceitos cotidianos, mudando sua estrutura psicológica “de cima para baixo”.

“Podría decirse que el dessarrollo de los conceptos espontáneos procede de modo ascendente, y el de conceptos científicos em forma descendente, hacia um nível más elemental y concreto.” (VIGOTSKY, 2005, p. 67).

72

Assim, os conceitos cotidianos e científicos seguem caminhos diferentes porque os conceitos cotidianos (espontâneos) se desenvolvem “de baixo para cima”, da experiência concreta para a generalização; e os conceitos científicos “de cima para baixo”, partem de generalizações para situações específicas.

Para Núñez (2009) os conceitos cotidianos constituem a base dos conceitos científicos e quando os últimos são assimilados, permitem a formação de outros conceitos cotidianos com possibilidades de uso consciente e deliberado. Para o autor, entre os processos de formação de conceitos científicos e os espontâneos, existe uma relação dinâmica, expressa em forma de unidade dialética, intimamente relacionada, apesar de formarem-se em direções opostas.

Vigotski (2011, p. 135-136) expressa,

Embora os conceitos científicos e espontâneos se desenvolvam em direções opostas, os dois processos estão intimamente relacionados. É preciso que o desenvolvimento de um conceito espontâneo tenha alcançado um certo nível para que a criança possa absorver um conceito científico correlato... Ao forçar a sua lenta trajetória para cima, um conceito cotidiano abre caminho para um conceito científico.

Mais adiante continua o autor, “Os conceitos científicos, por sua vez, fornecem estruturas para o desenvolvimento ascendente dos conceitos espontâneos”. (VIGOTSKI, 2011, p. 136).

É possível perceber que Vigotsky destaca a interação dinâmica entre os dois tipos de conceitos, que acontece no que se pode chamar uma via de mão dupla: os conceitos científicos possibilitam realizações que não poderiam ser concretizadas pelo conceito espontâneo e, em contrapartida, os conceitos científicos não são assimilados em sua forma já pronta, mas em um processo de desenvolvimento relacionado à capacidade geral do sujeito de formar conceitos. E, este nível de compreensão, por sua vez, está associado com o desenvolvimento dos conceitos espontâneos.

Dessa forma, os conceitos não são estruturas imutáveis. Eles podem ser compreendidos como estruturas complexas do pensamento que comunicam e tornam o homem capaz de compreender a realidade e interagir entre si e com o meio.

Segundo Talízina (2009), durante a assimilação de conhecimentos, os aprendentes se relacionam com vários tipos de conceitos. As diferenças estão

73

relacionadas ao conteúdo22 (características necessárias e suficientes) do conceito. Em alguns conceitos, as características necessárias e suficientes se completam formando o conteúdo, de acordo com o qual os objetos se unem formando uma classe. Em outros conceitos, a relação entre as características necessárias e suficientes é diferente. As características não se complementam uma a outra, mas se substituem. Isto significa que uma característica é equivalente à outra. Nesse caso, as características não são necessárias simultaneamente. Esses conceitos são assim determinados, segundo a autora:

a) Conceitos conjuntivos: são os conceitos em que as características necessárias e suficientes, que formam seu conteúdo, se relacionam entre si com a conjunção “e” (ex.: mamífero: animal de sangue quente que apresenta glândulas mamárias, (para a secreção de material nutritivo para alimentar a prole) e apresenta o corpo coberto por pêlos). b) Conceitos disjuntivos: são os conceitos em que as características não

precisam ser simultâneas, cada uma delas se equivale as demais. Elas se relacionam entre si com a conjunção “ou” (ex.: algas são protistas autótrofos uni ou pluricelurares).

2.3.2 A formação de conceitos e tipos de generalização

A formação de conceitos é um dos problemas centrais da Psicologia e um dos mais importantes para o ensino de Ciências

Segundo Davidov e Slobódchikov (1991), uma das muitas teorias de Vigotsky é a dedicada aos problemas das funções e da formação da generalização e do conceito enquanto modalidade específica de reflexão da realidade na consciência do homem.

Vigotski (2011, p. 246) afirma que

[...] o conceito é, em termos psicológicos, um ato de generalização. [...] a essência do seu desenvolvimento é, em primeiro lugar, a transição de uma estrutura de generalização a outra. Em qualquer idade, um conceito expresso por uma a palavra representa uma generalização. [...] no início ela é uma generalização do tipo mais elementar que, [...] é substituída por generalizações de um tipo cada vez mais elevado, culminando o processo na formação dos verdadeiros conceitos.

22 A lógica diferencia, nos conceitos, o conteúdo e o volume. Conteúdo é o sistema de características essenciais, de acordo com a qual se dá a inclusão dos objetos dados na classe única (se chamam características necessárias e suficientes). Por volume se compreende a classe de objetos que se relacionam com este conceito e que se unem através dele (TALÍZINA, 2009).

74

Um conceito é assim formado a partir da atuação do homem sobre a natureza e sobre si mesmo. E, à medida que as relações se tornam mais complexas, os conceitos modificam seus sentidos. Dessa forma, a medida que os instrumentos psicológicos (signos), mediadores da relação entre o homem e a realidade, tornam- se cada vez mais necessários e mutáveis, os conceitos assumem um nível superior de complexidade. Isto porque, os conceitos são originários do desenvolvimento histórico-cultural do homem.

Para Vigotski (1991), as operações com signos aparecem como um processo prolongado e complexo, sujeito a todas as leis básicas da evolução psicológica. A atividade de utilização de signos não é inventada e tampouco ensinada; ela surge de algo que originalmente não era uma operação com signos, tornando-se desse tipo somente após uma série de transformações qualitativas.

Vigotski (2011) apresenta o processo de formação de conceito com três níveis ou fases principais de generalização: fase do sincrético, fase da formação por complexo e a fase da formação do conceito propriamente dito. De acordo com Núñez (2009), essas fases se encontram nos períodos de desenvolvimento do pensamento e não exclusivamente nos processos de maturação biológica. Ou seja, não é suficiente ter todo o aparato biológico de nossa espécie para aprender e se desenvolver. Não há desenvolvimento por si só, as aprendizagens mediante as experiências a que somos expostos.

O pensamento sincrético, para Núñez (2009) se orienta por conexões subjetivas, sem fundamentos suficientes nem afinidades. Os critérios usados para construir um grupo são frágeis e podem mudar com muita facilidade durante a atividade.

No pensamento por complexo, o segundo estágio do desenvolvimento do pensamento, a internalização dos significados ocorre pela associação da impressão subjetiva com as conexões reais que existem entre os objetos. As ligações são construídas a partir de critérios, sendo, portanto, concretas e não abstratas, conforme afirma Vigotski (2011, p. 96):

Em um complexo, as ligações entre seus componentes são concretas e factuais, e não abstratas e lógicas... As ligações factuais subjacentes aos complexos são descobertas por meio da experiência direta. Portanto, um complexo é, antes de mais nada, um agrupamento concreto de objetos unidos por ligações factuais.

O pensamento por complexo não se eleva acima de seus elementos como acontece com os conceitos verdadeiros, ao contrário, o pensamento nesse

75

estágio une-se com os objetos ou fatos concretos que compõem a realidade, ou seja, existe a fusão do geral com o particular.

Para Núñez (2009), a principal função dos complexos é estabelecer nexos e relações. Na última etapa dessa fase (pseudo-conceitos), começam a aparecer possibilidade de sínteses, como consequência da diferenciação de elementos, em