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BOA TIPO

3.6 O sistema didático para a formação/atualização de habilidades

Na perspectiva Histórico-Cultural, o processo de ensino-aprendizagem deve instruir, educar e desenvolver o indivíduo.

Durante el proceso de aprendizaje, el hombre asimila no sólo la experiencia intelectual29, sino también otros tipos de experiencia: moral, estética, etc. Cuando se trata de la asimilación de estos tipos de experiencia, entonces a este proceso se llama educación.

[...] con desarrollo se compreende el nível presente de algo ya formado, asimilado, lo que ya pasó del plano de la experiencia social al plano de la experiencia individual, que además, condujo a la aparición de algunas formaciones nuevas de la personalidad y del intelecto (TALÍZINA, 2009, p. 27-32).

Segundo Silvestre Oramas e Zilberstein Toruncha (2003) e Labarre Reyes E Valdívia Pairol (2007), para que o processo tenha essas características existem aspectos chaves a serem considerados: O diagnóstico; o protagonismo nos distintos momentos da atividade de aprendizagem; a organização e direção do processo; a concepção e formulação das tarefas.

No diagnóstico se pode apreciar não só o nível de instrução que o

aprendente já alcançou, mas também aquilo que o motiva, como pensa e se comporta, como estuda, que desenvolvimento já alcançou em suas habilidades intelectuais, em seu pensamento. Isto permite explorar até onde pode chegar e fazer de forma independente, ou seja, quais são as suas potencialidades.

O protagonismo do aprendente, assumir uma posição verdadeiramente

ativa, que não seja somente levantar a mão para repetir mecanicamente o que diz o

29 A experiência intelectual (científica).

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livro, muda a posição do docente (do orientador). Este passa a ser responsável pela

direção e organização da atividade, individual e coletiva, orientada a busca e

exploração do conhecimento e que estimule e propicie o desenvolvimento do pensamento e a independência. A concepção e formulação das tarefas, como consequência deve, então, revelar todos os elementos do conhecimento que devem ser assimilados, cujas ações e operações exigirão uma atividade mental elevada, rica em reflexões e valorizações que incidam na formação (assegurar uma maior interação-comunicação entre os envolvidos no processo). Nesse caso, as tarefas deverão propiciar a metacognição30).

Esses aspectos fundamentam o planejamento do processo de ensino no enfoque da didática materialista dialética e histórica. Este se objetiva na sequência de tarefas que inter-relaciona as características do conteúdo, as necessidades dos aprendentes e as condições materiais existentes. Esse conjunto de tarefas pode ser designado de Sistema Didático e se constitui uma forma de organização do ensino na qual é estabelecido o uso de determinados meios e metodologia que munen os oportunos sistemas de informação, motivação e orientação, fazendo a relação interativa entre os participantes do processo de ensino-aprendizagem.

Sendo uma forma de organização do ensino, o Sistema Didático se fundamenta em pressupostos e princípios teóricos-metodológicos. Para Núñez e Ramalho (2012), esses pressupostos do planejamento aparecem de forma explícita ou implícita. Quando aparecem explícitos, a direção do processo de ensino não ocorre de forma espontânea, o que, segundo os autores, pode diminuir a ocorrência de resultados indesejados na aprendizagem.

Em um sistema Didático para a atualização de uma habilidade geral,

baseado na Teoria de Galperin, são considerados alguns aspectos importantes, como a definição de pressupostos teóricos sobrevindos da perspectiva Histórico- Cultural. Segundo Rico Monteiro, Santos Palma e Martín-Viaña (2013), esses pressupostos são:

a) A unidade entre a atividade, a comunicação e a personalidade como os mediadores dos níveis de desenvolvimento e aprendizagem;

30 As tarefas devem propiciar ao aprendente analisar o que realizou, como o fez, o que permitiu o êxito, em que pode ter se equivocado, como pode eliminar ou minimizar seus erros, que defenda seus critérios para o grupo, os reafirme, aprofunde ou modifique o que pensa, que se autocontrole e valore seus resultados e formas de atuação, assim como a de seus colegas (SILVESTRE ORAMAS; ZILBERSTEIN TORUNCHA, 2003).

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b) A aprendizagem é o processo de apropriação da cultura, sob condições de orientação e interação social que requer ações ativas, reflexivas e reguladas;

c) A integração entre os aspectos cognitivos e formativos que correspondem a área afetivo-motivacional da personalidade;

d) A relação dialética entre o histórico-social e o individual, num processo ativo de reconstrução da cultura e de descobrimento do sentido pessoal e a significação que tem o conhecimento para os sujeitos; e) As habilidades gerais como um tipo específico de atividade, um

conhecimento parte dos saberes necessários à docência;

f) A relação dialética entre a dimensão material das ações e a dimensão psicológica.

Nessa perspectiva, o sistema didático é planejado tendo como proposição a função protagonista daquele que aprende. A integração do cognitivo com o afetivo, do instrutivo com o educativo, como requisitos psicológicos e pedagógicos essenciais. A realização das tarefas implica comunicação e ação intencional, num processo dialético que inclui: objetivos, conteúdos, método, avaliação, organização docente e também, segundo Almentero et al. (2013), as relações que se dão entre os componentes do processo formativo (de aprendizagem), as quais se ampliam com a inserção do problema que, como expressão de desenvolvimento, enuncia a contradição necessária para elevar o nível de aprendizagem, cujo caráter mediado e cooperativo incorpora cada indivíduo, junto ao grupo e o orientador do processo, como protagonistas do processo. Logo, a comunicação é elemento indispensável para a ocorrência desse intercâmbio de conhecimentos e experiências. Pode-se dizer que, não existe tal processo (atividade), sem a comunicação seja ela verbal ou não verbal.

A ação mental, explicitada no enunciado da teoria de Galperin, nos revela a relação dialética entre a dimensão material das ações (externa) e a dimensão psicológica (interna). Segundo Núñez (2009), o ponto de partida da teoria é a concepção de ensino que coloca no centro da atenção o processo de assimilação como elemento central da relação que se produz entre quem ensina e aquele(s) que aprende(m). Para o autor, isso supõe uma nova conceitualização da aprendizagem, de seu caráter ativo e transformador da realidade que permite a assimilação em dois planos: no plano concreto e na sua forma de expressão mental. Nesse sentido,

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Núñez e Farias (2004) expressam que, para aprender novas habilidades, conceitos e generalizações, o sujeito precisa realizar determinada atividade, que primeiramente, acontece num plano material externo e, posteriormente, como consequência da internalização, a um plano mental.

Esses pressupostos oferecem possibilidades para a instrumentalização do planejamento em uma prática pedagógica (planejamento das estratégias, procedimentos, indicadores qualitativos e tarefas), que se relaciona a concepção de uma aprendizagem que desenvolve. Nesse planejamento, do ponto de vista didático,

a categoria objetivo ocupa um lugar de destaque, uma vez que, segundo

Almentero et al. (2013), cumpre a importante função de determinar o conteúdo, os métodos, os meios, a avaliação e as formas de organização do ato didático31.

Isto porque, o objetivo expressa as aspirações, os propósitos, os interesses que durante o processo, vão sendo confirmados no modo de pensar, sentir e atuar, daquele que aprende, o fim a ser alcançado. É o componente orientador do processo de ensino-aprendizagem. Por isso, o objetivo é ponto de partida e, ao mesmo tempo, meta que se relaciona aos motivos. E nesse sentido, tem caráter subjetivo (relativo ao sujeito). Sendo meta, decorre das necessidades da vida material, e depende dos meios disponíveis para que seja alcançada, daí vem sua objetividade.

Segundo Salcedo Estrada et al. (2009), o propósito, ideal subjetivo, do objetivo, adquire objetividade, e se torna concreto, nas tarefas desenvolvidas sob uma orientação dirigida. Logo, ao elaborar os objetivos, estes devem ser expressos em habilidades, a serem concretizadas em relação ao objeto de estudo, e devem ser reconhecidos os conhecimentos que se relacionam a estas habilidades.

Para Talízina (1987, p. 68): “Constructivamiente formular el objetivo de la assimilación de los conocimientos significa mostrar las habilidades en las cuales estos conocimientos van a funcionar.”

Para Núñez (2009), a formulação dos objetivos deve apresentar as seguintes características:

31 Ato didático – momento em que se processa a informação e os diferentes meios implicados adquirem um sentido pedagógico. Segundo Rojas Espinosa (2007), o ato didático reafirma a comunicação didática como pilar fundamental para o desenvolvimento de um processo de aprendizagem eficaz que determina as maneiras como o indivíduo se adapta a cultura na qual se encontra imerso

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a) Serem compreensíveis: devem ser expressas, com clareza, as ações que devem ser realizadas, ou seja, as habilidades que se deseja alcançar.

b) Serem alcançáveis: deve ser levado em consideração, as limitações no tempo, condições materiais, o nível de desenvolvimento dos estudantes e as possibilidades de superar as dificuldades apresentadas inicialmente em relação aos conhecimentos.

c) Serem mensuráveis: devem conter os indicadores de qualidade que permitam a sua valoração.

Fariñas León (1999) define a categoria indicadores de qualidade como um dos pilares do edifício teórico de Galperin. Isto porque, segundo Núñez (2009), eles funcionam como um parâmetro para caracterizar a qualidade das habilidades formadas. Segundo o autor são os seguintes: a forma da ação, o grau de generalização, o grau detalhamento, o grau de consciência, o grau de independência, retenção da atividade, domínio e caráter racional. E são distintos em primários e secundários.

Para Talízina (1987, p. 68-69)

Las propriedades primárias constituyen el grupo de las propriedades fundamentales. Son características independientes de las operaciones, de las cuales ninguna es consecuencia de otras. En este grupo de propriedades fundamentales se encuentran la forma, en la cual se realiza la acción, la medida de su generalización, el grado de despliegue e la assimilación.

En lo que respectaa las propriedades secundarias, las mismas son siempre una consecuencia de una o de algunas primarias. Al número de propriedades secundarias pertenecen cualidades tan importantes de la acción como son la solidez, el grado de consciência y el carácter racional.

Núñez (2009) expressa que elencar indicadores qualitativos foi o mérito de Galperin ao criar a Teoria da Assimilação de Ações Mentais por Etapas.

A categoria conteúdo está vinculada aos objetivos e sua caracterização

é importante à medida que as tarefas que farão parte do sistema didático objetivam a formação/atualização de habilidades gerais de acordo com os indicadores qualitativos.

Os procedimentos lógicos determinam a conformação de estruturas cognitivas do pensamento que permitem ao indivíduo, a partir da assimilação ou apropriação do sistema de ações previsto para cada procedimento e o nível de conscientização acerca das operações racionais que deve realizar, utilizá-los em qualquer ramo do saber, daí seu grau de generalidade.

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Com muita frequência, nas estratégias lógicas do pensamento são introduzidos novos conhecimentos que se apoiam nos mesmos tipos de ação, isto porque os procedimentos lógicos, por serem gerais, abarcam um grande número de novos conhecimentos (TALÍZINA, 1984).

Por serem, as habilidades gerais, procedimentos relacionados ao grupo das habilidades lógicas, não é necessário o estabelecimento de uma estrutura funcional invariante conceitual, uma vez que a tradição lógica já tem determinado a invariante desses procedimentos.

Levando em consideração a unidade dialética entre conceito e ação, ou seja, que a assimilação dos conceitos está estreitamente relacionada com a formação e o desenvolvimento das habilidades – e vice versa, Hernández Díaz e González Hernández (2012) explicitam que o ensino de procedimentos lógicos através de uma matéria específica requer uma série de ações que garantam o sucesso de tal propósito. Essas ações podem ser executadas seguindo a seguinte ordem proposta pelas autoras:

a) Delimitar o sistema de procedimentos lógicos que utiliza e requer o conteúdo, objeto de aprendizagem.

b) Definir a ordem de sua assimilação já que alguns procedimentos são mais elementares e estão, por sua vez, contidos nos outros.

c) Planejar tarefas concretas com o conteúdo específico da disciplina para garantir a formação desses procedimentos.

Desta maneira, para formar um procedimento lógico, que dizer, para conseguir que os sujeitos realizem as diferentes ações seguindo as regras lógicas, a atividade deve ser planejada em um conteúdo específico e, por sua vez, este conteúdo deve ter sido assimilado sobre a base de um sistema lógico bem estruturado, tendo em conta as regularidades do processo de formação destes procedimentos. Ou seja, as habilidades (os procedimentos) são formadas (atualizadas) sob a base de conhecimentos e de outras habilidades formadas anteriormente.

A organização das tarefas, segundo Núñez (2009), deve ser planejada

considerando os indicadores qualitativos definidos como objetivos e sendo observadas as seguintes exigências: Os objetivos; a natureza do conteúdo; a forma da ação segundo o programa estabelecido e os níveis de ajuda necessários. Segundo o autor, a tarefa, como conceito psicológico, é o objetivo da atividade nas

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condições apresentadas ao aluno. Nela, está presente a ação que o aluno deve executar para assimilar a habilidade, o modelo do sistema de ações para a apropriação do objeto de estudo.

Quando se forma uma ação nova, fora dos limites de generalização, e o objetivo planejado na atividade pressupõe que ao final do processo a ação tenha a orientação na forma mental, a ação deve passar pelas etapas definidas pela Teoria de P. Ya. Galperin, onde cada uma das etapas é caracterizada pelos índices dos parâmetros qualitativos requeridos no planejamento. “As tarefas para a formação da habilidade devem ser organizadas considerando os indicadores qualitativos definidos como objetivos.” (NÚÑEZ, 2009, p. 196).

Sendo o conjunto de tarefas um ato didático, pode ser considerado como uma interação comunicativa entre os participantes, que se põe em manifesto na organização da atividade que se realiza com outros (GONZÁLEZ MAURA et al., 2000). Nesse ato didático, ao produzir-se a influência mútua se produzem novas intenções conjuntas para a atividade, cada pessoa faz seu aporte, são intercambiados conhecimentos, ações, hábitos, valores, etc.

Mas, é imprescindível, segundo Silvestre Oramas (2001), assegurar a atenção às diferenças individuais, de forma que se possa estimular o desenvolvimento daqueles aprendentes que não alcançam o êxito da maioria e também assegurar demandas aos que mostram um rendimento superior na realização das tarefas propostas.

Para Silvestre Oramas (2001), é necessário que no processo de desenvolvimento das tarefas, o aprendente analise o que realizou; como fez; em que se equivocou; como pode eliminar os erros, reafirmar ou modificar seus critérios, a fim de que possa enriquecer seus conhecimentos e consolidar o procedimento, que é objeto de estudo. Enquanto isso, realiza o autocontrole, valora seus resultados, possibilidades e comportamento, sendo capaz de regular-se.

A organização das distintas etapas em um sistema didático para a formação/atualização de habilidades gerais deve considerar aspectos importantes da Teoria de Galperin, como objeto de estudo (no caso as habilidades gerais), o motivo (a situação problema, o contexto apresentado, aquilo que motiva a aprendizagem), a Base Orientadora da Ação (a orientação para a realização das tarefas que serão propostas no sistema didático). Essa organização é uma exigência para que se possa dar uma direção ao processo de aprendizagem. Segundo Corona

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Martinez e Fonseca Hernández (2009), ao conceber o planejamento deve ser levado em consideração que as ações a serem realizadas na atividade devem ser suficientemente conhecidas pelo orientador e pelos aprendentes, para que seja possível alcançar como resultado o desenvolvimento daquele que aprende, de forma eficiente. Essa organização pode ser: Diagnóstico (para identificar o nível de desenvolvimento da habilidade), a formação/atualização da habilidade (composta de: etapa motivacional, etapa para o estabelecimento da orientação-BOA, etapa materializada, etapa da linguagem externa e etapa da linguagem interna) e controle final.

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