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CAPÍTULO 4 ANÁLISE DA PRÁTICA PEDAGÓGICA NA EDUCAÇÃO

4.2 PRESSUPOSTOS TEÓRICOS METODOLÓGICOS DOS PROFESSORES

4.2.1 Concepções de infância, criança e corpo em movimento

Com base nos fundamentos teóricos apresentados nos capítulos I e II, realizamos as descrições e análises dos dados a fim de obtermos uma melhor compreensão das concepções de infância, criança e corpo em movimento dos professores que atuam na Educação Infantil.

Infância é tema central quando se pensa na educação de crianças. Numa perspectiva sociológica, as crianças são entendidas como atores sociais que pertencem a uma categoria social geracional, sendo produtoras de cultura exercem a cidadania ativa, atribuindo uma interpretação singular à sociedade (ARROYO, 2012).

Faz-se necessário a compreensão de criança e infância por parte do educador. Ao analisarmos as respostas dos professores, constatamos concepções diferenciadas em relação à criança e a infância. Alguns professores apresentam o entendimento de uma criança ativa, participante, que interage e modifica o ambiente em que vive, destacamos isso na fala das professoras a seguir:

A criança é um sujeito ativo, criativo, que necessita de cuidados, de carinho, que tem suas necessidades. Na infância, ela também tem seus direitos, seus deveres e as suas obrigações enquanto criança, aluno. Também necessita de cuidado, a criança na sua infância já tem um senso de responsabilidade maior, ela já consegue tomar decisões, expor suas ideias, com um determinado grau de senso crítico, consegue questionar determinadas ordens, determinados combinados. Ela fica mais ativa dentro de projetos, dentro de ações que ela possa participar, ela tem mais ação (PR11EE - Entrevista).

A criança é um indivíduo participativo da sociedade. A família tem a parte importante na concepção de criança, porque ela vai ajudar em seu desenvolvimento. (PR4ER – Entrevista).

Arroyo (2012) destaca que a compreensão da criança tem sido marcada pela ideia da falta, instituindo uma forma de pensar a criança em sua incompletude. “É um sujeito inacabado, que precisa ser completado. É um ser não presente, mas futuro” (ARROYO, 2012, p. 282). Com base neste autor, ressaltamos que dessa maneira de compreender a criança, derivam formas de trabalho que visam o desenvolvimento linear e uniforme, o desenvolvimentismo tem lugar privilegiado, como podemos verificar nas respostas dos professores a seguir.

A criança é um ser em construção. É na infância que a gente tem que trabalhar para que ela se torne um adulto consciente (PR1ED - Entrevista).

Criança é o que? É um ser que a gente tem que trabalhar ali com eles, princípios, valores... Na Educação Física, nossa preocupação não é tanto com o conteúdo em si e quanto ao desenvolvimento deles nas atividades, mas sim com uma visão maior para os valores, principalmente na nossa comunidade (PEF2ER - Entrevista).

Bom, criança são os indivíduos até os 12 anos. E a infância é o período de desenvolvimento, onde eles adquirem as habilidades, aperfeiçoam os aprendizados, tanto, físico quanto psicológico (PEFEE - Entrevista).

Entendemos a corporeidade como o princípio básico, que deve pautar a ação do professor na EI. Sendo assim, é muito importante considerar que o conhecimento do próprio corpo se faz desde as primeiras descobertas da criança, por meio das brincadeiras, dos movimentos, na interação com seus pares e com o ambiente. Dos professores entrevistados, constatamos nos dados obtidos a relação da concepção de criança e infância com o brincar.

Eu acho que para a criança ter infância, ela tem que brincar. Isso é primordial, a criança que brinca tem infância, tem histórias para contar. Para mim isso é o mais importante acho que porque eu tive uma infância bem legal, eu brinquei muito. Criança é sinônimo de brincar, eles têm que estar sempre juntinhos. A criança e a brincadeira (PR5ER - Entrevista).

Acho que criança é o momento que eles mais imaginam... é meio mágico né?! É muita imaginação, muito movimento. Muita brincadeira (PR6ED - Entrevista).

Para Garanhani (2002) o corpo em movimento constitui a matriz básica da aprendizagem, sendo assim, segundo a autora a criança transforma em símbolo aquilo que pode experimentar corporalmente, e seu pensamento se constrói, primeiramente, sob a forma de ação.

A criança necessita agir, se movimentar para conhecer e compreender os significados presentes em seu meio. [...] Nesse cenário, a criança utiliza a movimentação do seu corpo como linguagem para compreender, expressar e comunicar suas ideias, entendimentos e desejos, etc. E, este fato, nos faz (re) pensar uma concepção de Educação Infantil que valorize a movimentação da criança, não somente como necessidade físico-motora do desenvolvimento infantil, mas também como uma capacidade expressiva e intencional (GARANHANY; NALDONY, 2008, p. 67).

Ao analisarmos as respostas dos professores, identificamos em grande parte dos questionários e entrevistas a relação do corpo em movimento com o desenvolvimento e com o movimento do corpo propriamente dito. Assim, destacamos nas respostas de alguns professores a concepção dos mesmos sobre o corpo em movimento.

O nosso corpo foi criado para se movimentar, tudo que você não usa, atrofia né. Então creio que para eles terem um desenvolvimento melhor, precisam se movimentar. Então tudo que você colocar para eles, todo jogo, toda brincadeira, toda atividade que você puder colocar movimento, colocar algo físico, será bem aceito por eles e será melhor (PEF3ER - Entrevista).

Tudo na verdade está ligado. Porque nas brincadeiras, nos jogos, nas brincadeiras de faz de conta que eles representam, tudo aquilo que ela vivencia, então é importante

para o desenvolvimento dela. Porque se a criança tem uma coordenação motora boa, ela vai ter uma aprendizagem boa, está tudo interligado, tanto a parte de coordenação motora quanto a parte de aprendizagem da criança (PR4ER - Entrevista).

Numa primeira impressão o corpo em movimento é dançar, se mexer, pular... Mas eu acho que vai além dessa concepção. Porque corpo em movimento também são os cinco sentidos que precisamos estimular (PR1ED - Entrevista).

Ressaltamos que os movimentos das crianças são permeados de uma significação. O RCNEI (BRASIL, 1998, v. 3, p. 15) ressalta que o movimento humano, é mais do que o simples deslocamento do corpo no espaço, ele se constitui em uma linguagem que permite às crianças agirem sobre o meio físico e atuarem sobre o ambiente, mobilizando as pessoas por meio de seu teor expressivo. Quatro (4) dos professores entrevistados destacam o corpo em movimento como meio de expressão, o que nos revela a compreensão dos mesmos com relação as capacidades comunicativas do corpo, ou seja, como forma de linguagem.

Aquela criança que está sempre se movimentando, seja fazendo uma pintura, seja numa brincadeira, seja fazendo uma fila, caminhando cantando, acho que tudo que ele acaba fazendo, não deixar ele nunca parado, sem fazer nada (PR5ER - Entrevista). Corpo em movimento? Eu acho que é a base da vida. Porque movimenta o tempo todo, por mais que a gente esteja parada, alguma coisa está movimentando... o coração, os pulmões... Movimento é vida né (PR6ED - Entrevista).

É trabalhar as brincadeiras, não deixar as crianças só sentadinhas (apesar de nós termos as cadeirinhas) mas ter as brincadeiras, ter o movimento, a questão da música, da dança (PR8EE - Entrevista).

Por meio das falas dos professores constatamos que o corpo em movimento se faz presente, em parte, no entendimento dos docentes, o que pode influenciar a prática pedagógica da EI, já que os mesmos entendem o corpo como a primeira forma de expressão da criança.