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CAPÍTULO 4 ANÁLISE DA PRÁTICA PEDAGÓGICA NA EDUCAÇÃO

4.2 PRESSUPOSTOS TEÓRICOS METODOLÓGICOS DOS PROFESSORES

4.2.3 Encaminhamento metodológico e a produção de conhecimento na

Vygotsky (1984) enfatiza que o aprendizado e o desenvolvimento estão inter-relacionados desde o primeiro dia de vida da criança. Segundo o autor, as relações humanas estabelecidas a partir das atividades e das mediações promovem a construção do homem além do aspecto biológico, ou seja, a construção em um ser cultural. Dessa forma, entendemos que o homem se desenvolve pela cultura, pela atividade e relações, ampliando seus conhecimentos para que possa interferir no mundo. A motricidade é uma condição de adaptação vital, e sua essência reside no fato, de nela, o pensamento poder manifestar-se.

Buscamos compreender, por meio das respostas dos questionários e das observações das aulas, como se dá o encaminhamento metodológico sobre o corpo em movimento e a produção de conhecimento na EI. Tendo como base as contribuições de Le Boulch (1988), apontamos a relevância das

práticas relacionadas a uma ação corporal, favorecendo o desenvolvimento integral da criança.

Durante as observações, pude acompanhar o desenvolvimento de um Projeto na Escola Diamante, que tinha como objetivo trabalhar um gênero musical. Ao decorrer das aulas as crianças tiveram a oportunidade de conhecer diferentes instrumentos musicais, de ouvir um profissional tocando e de tocar o instrumento. Puderam se caracterizar e dançar ao som deste gênero musical em uma festa proposta pela co- regente para as turmas de Infantil 4 e Infantil 5. Pode-se perceber o envolvimento das crianças durante o Projeto e a preocupação das professoras em realizar atividades diferenciadas, valorizando as múltiplas linguagens. (Notas de campo – pesquisadora).

Segundo Gardner (1999, p. 220) “os educadores precisam levar em conta as diferenças entre as mentes de estudantes e, tanto quanto possível, moldar uma educação que possa atingir a infinita variedade de estudantes”. O professor que identifica o potencial que a criança expressa nos momentos de exploração dos movimentos, conseguirá traçar um meio mais viável para ela aprender, e é por esse caminho que deverá ensinar.

Percebemos que alguns professores em sua atuação concebem a brincadeira e/ou as atividades lúdicas como estratégia didático-pedagógica. Nas respostas obtidas, tivemos (8) oito apontamentos em relação a este tipo de encaminhamento metodológico.

Eu sempre faço assim, porque acho mais fácil para eles entenderem, sempre trazendo para o lúdico. Por exemplo, vamos estudar os dinossauros, então vamos imitar a sua forma de locomoção, explicar que ele tem a pisada forte, bate o pé no chão e fazer com que eles façam esse movimento. Acho que é mais prático para eles compreenderem (PR6ED - Entrevista).

Então a gente tenta sempre buscar as coisas que fazem sentido para eles. Senão, não adianta. Eu pelo menos tento sempre encaixar, adaptar uma brincadeira ou alguma coisa relacionada ao movimento com o conteúdo que a gente está vendo (PR7ED - Entrevista).

Que nem semana passada eu estava trabalhando a letra do nome. Então eu vou lá fora, faço a letrinha do nome deles, eles andam por cima, as vezes pego um carrinho e peço para eles passarem com os carrinhos em cima. Às vezes com a corda, faço o molde da letra para eles passarem por cima, dessa forma (PR8EE - Entrevista). Eles aprendem o tempo toda através de brincadeiras, de jogos, qualquer ação a partir do corpo deles, podem estar aprendendo. Mesmo numa brincadeira, por mais simples que seja ele estará utilizando o raciocínio lógico, a noção de espaço, são várias questões que nós podemos estar trabalhando a partir dos movimentos. Vemos muito isso quando eles trabalham com lego né... Como eles manipulam, criam a partir dos brinquedos que temos disponíveis na sala (PR12EE - Entrevista).

Todo conteúdo, seja letras, números, nomes, sobre os animais, seres vivos, meio ambiente, datas comemorativas, qualquer assunto que for abordado em sala sempre

tem a parte lúdica e a parte de registro que a gente chama de produção; produção visual, produção artística (PR13EE - Entrevista).

Com base nas respostas dos professores, podemos constatar grande influência da abordagem Psicomotricista. Com uma conotação mais pedagógica, focaliza-se na criança pré-escolar e utiliza-se da atividade lúdica como impulsionadora dos processos de desenvolvimento e aprendizagem.

Porém, Neira (2014, p. 35) aponta que ao colocar a brincadeira essencialmente como estratégia para o alcance de objetivos educacionais, desconsidera-se o fato de que a brincadeira selecionada pode não possuir ancoragem social, ou seja, não estar lastreada na cultura do grupo. O autor diz que em muitos casos, pode ser que até as crianças participem, mas não significa que compreendam ou que reflitam a partir dessa experiência. Neira (2014) destaca que ao selecionar determinadas práticas lúdicas com objetivos a serem alcançados, o professor pode criar confrontos com a origem da criança e por vezes, até causar a recusa em participar. Podemos perceber isso, na resposta da PR13EE ao ser questionado sobre o interesse e participação das crianças neste tipo de atividade.

Eles gostam bastante. Eles gostam dessa prática do brincar, do movimento, dos jogos, das músicas, com gestos. Porém, para eu realizar a brincadeira, colocar o corpo em movimento, sempre eu tenho um tempo gasto com eles para que haja uma compreensão das orientações, para que eles possam compreender as regras da brincadeira. Eu percebo que assim, determinadas brincadeiras eles se identificam, realizam com empenho, com prazer, com alegria. Outras brincadeiras quando apresento, dependendo do dia, eles já não querem. Eles preferem outras, por exemplo eu proponho fazer uma atividade no pátio, e daí eles argumentam que preferem brincar na sala (PR13EE - Entrevista).

É perceptível nas respostas dos professores o reconhecimento e a importância do lúdico, porém ainda faltam elementos que articulem a necessidade dessa atividade à sua efetiva realização, diante das peculiaridades que envolvem o cotidiano e a prática pedagógica na EI.

Piccolo e Moreira (2012) ressaltam que o prazer está no ato da brincadeira e não no resultado de uma ação. Sendo assim, destacamos que não basta simplesmente acrescentar práticas de todos os tipos e formatos, mas que é necessário desenvolver um novo olhar à criança, uma sensibilidade diferente, valorizando as formas de comunicação, de expressão, desenvolvendo assim, outras linguagens. As mais diversas experiências podem e devem ser compartilhadas nos mais diversos espaços educativos de maneira

colaborativa. Os professores, como organizadores de cada espaço educativo são participantes desse processo e precisam contribuir para a sua constituição, mas não sozinhos. As crianças podem e devem estar no processo.