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CAPÍTULO 2 EDUCAÇÃO INFANTIL: ASPECTOS DA LEGISLAÇÃO E

2.1 A LEGISLAÇÃO SOBRE A EDUCAÇÃO INFANTIL

Abordar sobre a Educação Infantil (EI) implica considerarmos as mudanças em relação a legislação e diretrizes curriculares ocorridas, bem como os avanços conquistados nessa área. Para construir a trajetória da EI que resultou em sua contemporaneidade, buscamos compreender os modelos educacionais instituídos para responder aos desafios da organização da sociedade.

Primeiramente, foram as iniciativas voltadas à infância como uma concepção assistencialista. Do ponto de vista histórico, a educação da criança pequena esteve por séculos sob a responsabilidade exclusivamente da família. O papel da família nos cuidados com a criança pequena é apontado na legislação. A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional - LDB nº 9.394/1996 (BRASIL, 1996) indica que o atendimento à criança deve ser dado em complementação à educação da família. Ou seja, o Art. 29 define que “a Educação Infantil, primeira etapa da Educação Básica, tem como finalidade o desenvolvimento integral da criança até os seis anos de idade, em seus aspectos físico, psicológico, intelectual e social, complementando a ação da família e da comunidade”.

Analisando o processo histórico do surgimento da EI no Brasil, as fontes apontam para o fato de que, assim como na Europa, as primeiras creches surgiram devido a modificação do papel da mulher na sociedade. Devido ao

processo de urbanização e industrialização, houve a necessidade de incorporar um grande número de mulheres ao mercado de trabalho. Decorrente deste processo, a criança passa a ser atendida por terceiros, ficando a maior parte do tempo fora do contato com seus pais. Neste contexto, a função de educar passou a ser delegada a terceiros, e aos pais cabia o papel principal de prover recursos financeiros para sustentar as necessidades básicas da família (OLIVEIRA, 2002).

Apesar das inúmeras mudanças sociais com a entrada da mulher no mercado de trabalho, o surgimento das instituições formais para o atendimento à criança aconteceu de forma gradativa, acompanhando as necessidades que eram criadas socialmente em diferentes contextos históricos. De acordo com Oliveira (2002), no final do século XIX surgem os primeiros jardins de infância, sob os cuidados de instituições privadas, bem como aparecem interpretações históricas que perduram até a atualidade, a ideia de assistencialismo e de educação compensatória. Uma importante mudança ocorreu nesse período: a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional – LDB nº 4024/1961 (BRASIL, 1961), aprofundou a perspectiva apontada desde a criação dos jardins de infância.

Durante o período dos governos militares, houve uma nova configuração das instituições voltadas às questões de educação, saúde e política. Houve embates com programas federais às instituições privadas com a finalidade assistencial ao pré-escolar, e a defesa em nível municipal da creche e pré- escola com função educativa. O Estado assumiu algumas responsabilidades de atendimento infantil, mas dividiu custos com setores particulares, contando com o trabalho de associações religiosas, médicos e educadores. Destacamos que ainda nesse período, foi dado ênfase à medicalização da assistência e à psicologização do trabalho educativo. O atendimento a essa criança tinha como objetivo formar o homem do futuro e fortalecer o Estado. Podemos perceber essa influência sobre a infância na Constituição de 1937 (BRASIL, 1937) em que foram explicitadas na Carta Magna, as ideias a respeito dessas crianças, que eram vistas como “colaboradoras da grandeza do Brasil”, uma vez que contribuíam para o sustento da família com seu trabalho (CARTAXO, 2013).

O final do regime militar e a abertura política foram marcados por lutas pela democratização da escola pública. Com a ideia de que a creche não diz respeito somente à família, mas também ao Estado e as empresas, novas

discussões foram retomadas buscando romper com as concepções meramente assistencialistas e compensatórias, propondo-lhes uma função pedagógica, que enfatizasse o desenvolvimento linguístico e cognitivo das crianças (OLIVEIRA, 2002).

A pressão dos movimentos sociais por creches possibilitou uma grande conquista, a Constituição Federal de 1988 que apresenta um novo olhar para a criança com o reconhecimento da educação em creches e pré-escolas como um direito da criança e um dever do Estado a ser cumprido nos sistemas de ensino, vinculando o atendimento à área educacional e não apenas a área assistencialista. Encontramos a seguinte afirmação no Art. 227, Capítulo VII – Da Família, Da criança, da Constituição Federal:

É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança, ao adolescente e ao jovem, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão (BRASIL, 1988).

Desse modo, percebemos que a Constituição de 1988, fundamenta-se em uma nova concepção de criança cidadã, sujeito de direitos, cuja proteção integral deve ser assegurada com absoluta prioridade pela família, sociedade e pelo poder público, reconhecendo seu direito de acesso à EI. Em seu Artigo 206, inciso VII da Constituição estabelece a garantia da qualidade (BRASIL, 1998), retirando a EI do âmbito de assistência inserindo-a no sistema educacional.

Na década de 1990 debates, pesquisas e ações buscam a melhoria da educação no país, com o propósito de construir uma nova concepção para a educação de crianças de zero (0) a seis (6) anos. No ano de 1990, foi criado o Estatuto da Criança e do Adolescente – ECA, de acordo com a Lei nº 10.8069/1990 (BRASIL, 1990), o qual concretizou as conquistas dos direitos das crianças promulgados pela Constituição, evidenciando em seu Artigo 4º o direito ao atendimento às crianças de zero (0) a seis (6) anos em creches e pré-escolas.

Para Piccolo e Moreira (2012) a Constituição Federal de 1988 (BRASIL,1988) e o Estatuto da Criança e do Adolescente (BRASIL, 1990) trouxeram um novo paradigma educacional, permitindo que muitas pessoas

começassem a lutar pela conquista dos espaços públicos destinados ao atendimento infantil que passou a ser reconhecido como dever do Estado e de cada município. Outro marco para a EI foi a aprovação da nova LDB nº 9394/1996 (BRASIL, 1996) que estabelece a mesma como etapa inicial da Educação Básica e determina que crianças de zero a três anos sejam atendidas pelas creches, enquanto as de quatro (4) a seis (6) anos devem frequentar a pré-escola.

Percebemos avanços em relação aos direitos da criança, sendo que a EI passa a ser considerada a primeira etapa da Educação Básica atribuindo-lhe maior relevância e com isso há uma maior preocupação com o desenvolvimento da criança como um todo.

Para Cartaxo (2013) foi com a LDB nº 9394/1996 (BRASIL, 1996) que surgiu uma concepção de EI vinculada ao sistema educacional como um todo, na qual é evidenciada a necessidade de considerar a criança em sua totalidade para promover seu desenvolvimento, havendo compartilhamento das responsabilidades familiar, comunitária e do poder público.

Sendo objeto de discussões entre professores e demais profissionais da área que estudam o desenvolvimento infantil, a EI tem obtido certa valorização. Novas concepções acerca do desenvolvimento, da cognição e linguagem modificaram as propostas pedagógicas apontadas para a área foram pensadas. Tendo em vista, a preocupação com as propostas pedagógicas elaboradas para a EI, em 1998 o Ministério de Educação e Cultura – MEC elaborou e distribuiu o Referencial Curricular Nacional para Educação Infantil (BRASIL, 1998), que constitui a primeira proposta curricular oficial destinada a faixa etária de zero (0) a seis (6) anos, visando uma democratização do ensino na EI, no sentido de auxiliar os professores quanto a sistematização do trabalho pedagógico em relação aos conteúdos e objetivos desta etapa de ensino. Um ano depois, foram definidas pelo Conselho Nacional de Educação as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil, por meio da Câmara de Educação Básica - CNE/CEB (BRASIL, 2010) organizando assim as propostas pedagógicas específicas para as crianças dessa idade. Só com advento das Diretrizes Curriculares Nacionais os espaços institucionais adotaram objetivos voltados à educação. A partir dessa função, a pré-escola começa a estimular a criatividade das crianças, além de se preocupar com as

propostas de atividades que reforcem a espontaneidade (SOUZA; KRAMER, 1991).

Posteriormente, foram definidas pelo Conselho Nacional de Educação em 2009 (Parecer CNE/CEB nº 20/2009 e Resolução CNE/CEB nº 05/2009) as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil - DCNEI (BRASIL, 2010), assim foram organizadas as propostas pedagógicas específicas para as crianças dessa idade. Só com advento das DCNEI (BRASIL, 2010) os espaços institucionais adotaram objetivos voltados à EI. A partir desse documento, a pré-escola começa a estimular a criatividade das crianças, além de se preocupar com as propostas de atividades que reforcem a espontaneidade (OLIVEIRA, 2010).

A declaração do direito da criança à educação tem suscitado muitas reflexões e debates sobre a qualidade do ensino dedicado a essa fase. Ao longo dessa trajetória, podemos observar que novas políticas educacionais começam a ser delineadas para EI. Nesse processo, destacamos a Resolução nº 05/2009 (BRASIL, 2009), que fixa as novas DCNEI (BRASIL, 2010); a Emenda Constitucional de nº 53/2006 (BRASIL, 2006) que ampliou o Ensino Fundamental para nove anos, incorporando as crianças de seis anos de idade à etapa da escola básica; e a Emenda Constitucional de nº 59/2007 (BRASIL, 2007) que institui a obrigatoriedade escolar para crianças em pré-escola a partir dos quatro anos de idade, conforme o Art. 208: “Educação Básica é obrigatória e gratuita dos quatro (4) aos dezessete (17) anos de idade, assegurada inclusive sua oferta gratuita, para todos os que a ela não tiveram acesso na idade própria”. Cartaxo (2013, p. 51) destaca que a emenda é foco de discussões e preocupações por alguns pesquisadores e estudiosos da área, visto que apresenta pontos ambíguos, pois podem ocorrer situações como:

1. expansão do número de matrículas sem atender aos parâmetros de qualidade exigidos;

2. a antecipação da escolaridade apresentando características do ensino fundamental e perdendo as especificidades da educação infantil;

3. diminuição da oferta do tempo integral como forma de duplicar o número de vagas.

De certo modo, podemos dizer que os acontecimentos citados representam as novas preocupações, os objetivos e estudos nas questões

relacionadas às propostas pedagógicas que embasam as práticas pedagógicas a serem desenvolvidas na EI.

2.2 PRESSUPOSTOS TEÓRICOS METODOLÓGICOS DOS DOCUMENTOS