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4. CONCLUSÕES

4.2 Conclusão

Durante o recente período de recessão económica, em que de modo geral as vendas decresceram e a tendência foi pela diminuição das receitas líquidas e consequentemente dos lucros retidos, o FM das empresas foi fortemente afetado, dado que depende em grande escala da capacidade das empresas em reter lucros. Nestas circunstâncias, a gestão eficiente do FM ganha ainda uma maior relevância, aumentando o seu impacto sobre o desempenho empresarial.

Uma eficiente gestão do FM passa pela aposta em medidas tendentes a uma maior eficiência na gestão do inventário, tentando acelerar a rotação do mesmo e diminuindo o seu volume ao máximo possível sem prejuízo de perda de vendas, uma maior eficiência das contas a receber, tentando estabelecer um nível ideal/sustentável destes de modo a maximizar as vendas e ao mesmo tempo a minimizar os incobráveis, e uma eficiente gestão das disponibilidades de modo a definir um nível de caixa ótimo e a maximizar o contributo destes elementos ativos para a rendibilidade total da empresa.

Da mesma forma a eficiente gestão do FM pretende estabelecer um nível sustentável de contas a pagar (fornecedores), dado que estes representam recursos cíclicos de exploração, sendo uma importante fonte de financiamento do ciclo operacional. Porém o peso exagerado dos créditos de funcionamento faz com que a estrutura financeira das empresas esteja permanentemente sobre pressão, podendo levar a situações de incumprimento. O estudo empírico desenvolvido permitiu concluir que a aposta nestas medidas tendentes a uma melhor gestão financeira de curto prazo, tem um impacto positivo sobre o desempenho operacional. Isso foi sugerido pela associação negativa entre os rácios de atividade e o indicador de rendibilidade operacional utilizado (EBITDA/A), pois os anos em que os prazos de atividade mais diminuem, são os anos em que índice de rendibilidade operacional mais cresce.

A eficiência na gestão do FM tem o objetivo principal de elevar o desempenho operacional das empresas, garantido a liquidez para que estas possam cumprir com as suas obrigações de curto prazo, ou seja, de modo a assegurar o equilíbrio estrutural da tesouraria. Contudo, o equilíbrio estrutural da tesouraria só estará assegurado se as políticas estratégicas estiverem alinhadas com as necessidades do ciclo de exploração das empresas, ou seja, se os capitais permanentes reais estiverem ao nível dos capitais permanentes ideais.

128 No entanto a estrutura financeira de muitas empresas portuguesas não cumpre com os requisitos que asseguram um adequado equilíbrio financeiro, em virtude principalmente do sobre-endividamento de muitas delas. Isso mesmo se verifica nos quatro setores de atividade analisados onde a autonomia financeira média é reduzida (sendo mesma negativa no setor da restauração e similares). Nos setores do alojamento e da restauração boa parte das empresas apresentam capitais próprios negativos (28% e 58% das empresas por setor respetivamente), expondo assim uma situação de total desequilíbrio financeiro.

Para além do sobre-endividamento, a constante degradação dos níveis de autonomia financeira foi impulsionada nos últimos anos pela deterioração das condições de exploração, o que impulsionou os resultados líquidos negativos, contribuindo assim para uma permanente destruição de capital.

Este trabalho propôs-se a desenvolver uma análise económica e financeira às indústrias do vestuário e do calçado, e aos setores do alojamento e da restauração e similares, com o objetivo de avaliar os efeitos da crise nas condições operacionais, nos índices de rendibilidade e na capacidade financeira dos ditos setores, tentando encontrar pontos de semelhança e de assimetria entre os diversos setores, e procurando confirmar comportamentos típicos de empresas inseridas num meio envolvente de crise, descritas por alguns autores durante a revisão da literatura.

A análise económica e financeira desenvolvida permitiu constatar uma degradação das condições operacionais principalmente nos primeiros anos do horizonte temporal analisado, verificando-se uma diminuição das vendas e do EBITDA, e uma diminuição dos índices de rendibilidade operacional (EBITDA/A e ROA).

Nesse período a análise económica sugeriu que as empresas passaram a adotar políticas tendentes a uma gestão mais agressiva/eficiente do FM, diminuindo o peso das contas a receber e do inventário, e aumentando ao mesmo tempo o uso do crédito comercial como fonte de financiamento do ativo corrente. O maior uso do crédito comercial veio no seguimento da diminuição da oferta de crédito bancário pelas IC, que com a intervenção da Troika na economia nacional passaram a ser mais seletivos nos empréstimos concedidos. Desta forma, para muitas empresas o crédito comercial passou a ser a principal fonte de financiamento do ciclo de exploração, dado à insuficiência do FM, como é o caso do setor da restauração onde o FM é para todo o horizonte temporal analisado mais negativo do que as NFM.

129 Verificou-se também nos primeiros anos do período analisado uma diminuição do nível médio de autonomia financeira das empresas dos setores analisados, que já era reduzida em 2010 (principalmente nas microempresas). Ao contrário das proposições da teoria do trade-off que consideram que o nível de endividamento tende a ser maior nas empresas de maior dimensão, dado estas em princípio apresentarem maiores níveis de colaterais e ao mesmo tempo uma menor probabilidade de falência, estando assim as entidades credoras mais dispostas a financiar essas empresas, no presente estudo constatou-se para a maioria dos setores analisados que o nível de endividamento é significativamente maior nas empresas de menor dimensão, apresentando as grandes empresas os melhores rácios de autonomia financeira.

Salienta-se que a degradação das condições de exploração foi mais intensa nos setores do alojamento e da restauração e similares do que nos setores industriais. Nestes últimos verificou-se um comportamento em contraciclo com o agregado das SNF, tendo os efeitos negativos da crise sido atenuados pela vocação exportadora das indústrias do calçado e do vestuário que exportam grande parte da sua produção. Os setores do alojamento e da restauração e similares, dado serem setores mais dependentes do mercado interno, foram prejudicados num maior nível, sendo que o nível de vendas, EBITDA e de rendibilidade decresceu significativamente.

Contudo, com os sinais de recuperação da economia portuguesa a partir de 2014 indicado pela melhoria da capacidade financeira das famílias portuguesas e pelo aumento do investimento que veio impulsionar a atividade económica, o alívio das condições de exploração e a recuperação dos índices de rendibilidade estendeu-se a todos os setores analisados. Porém ainda assim verifica-se um défice de condições de exploração corrente em média nas empresas do alojamento e da restauração e similares, dado a ROA ser em média insuficiente para suportar os custos de financiamento, prejudicando assim a viabilidade económica e financeira das empresas.

Os níveis do passivo ainda são elevados, e por outro lado os índices de rendibilidade são reduzidos, de modo que o caminho a percorrer ainda é longo, rumo a um desempenho mais razoável e a uma estrutura financeira mais adequada, que permita às empresas serem sustentáveis e a maximizarem o seu valor.

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