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Condicionamentos à análise económica e financeira

3. ESTUDO EMPÍRICO

3.6 Condicionamentos à análise económica e financeira

Os dados recolhidos para este estudo têm origem nas demonstrações financeiras individuais no âmbito da informação empresarial simplificada (IES). De acordo com a estrutura conceptual do SNC, as demonstrações financeiras de uma empresa têm o papel de informar acerca da posição financeira, do desempenho e das alterações da posição financeira de uma entidade que seja útil a um vasto leque de stakeholders para a tomada de decisões económicas.

Neste âmbito Brealey e Myers (2010) apud Antão e Peres (2016) salientam que a análise financeira é muitas vezes vista como um mecanismo para revelar o que está oculto nas

61 informações contabilísticas, porém, não é por si só uma bola de cristal. Na verdade, a leitura estática em termos absolutos das demonstrações financeiras, mesmo que através dos rácios económico-financeiros, não permite de forma isolada obter uma análise completa e crítica sobre a situação de uma entidade quanto à sua atividade, capacidade e estrutura financeira, rendibilidade e risco.

Para contornar esse facto, neste trabalho a análise aos rácios económico-financeiros é realizada sobretudo em termos comparativos, sendo efetuada uma avaliação longitudinal e crítica a cerca das informações recolhidas. Segundo Correia (2014), é sobretudo nestes moldes que a análise económica e financeira através de rácios assume a sua mais correta utilidade, não sendo razoável que os stakeholders se limitem a efetuar uma análise estática e isolada dos indicadores económico-financeiros, mas antes sim observar a evolução dos referidos indicadores ao longo do tempo, efetuando comparações com outras empresas do setor. Sublinha ainda que a análise destes indicadores dá-nos, acima de tudo, indícios (e não conclusões), pelo que devem ser complementados por outras técnicas (tais como a análise de fluxos) e, se necessário, pelo recurso a fontes de informação complementares. Outros cuidados relacionam-se com a possível distorção da informação no caso de alterações às políticas contabilísticas. Como documenta Peres (2014, p.53) no seu estudo «A utilização de critérios fiscais para o cálculo de amortizações, depreciações e imparidades de contas a receber podem provocar distorções materiais na correta expressão dos ativos e resultados».

Nesta linha Gonçalves (2017) no seu estudo sobre a fraude de relato financeiro, apresenta o «Triângulo da fraude» de Cressey que exibe de forma gráfica as três principais condições que incentivam as empresas a distorcer a informação financeira divulgada para os stakeholders.

62 Figura 4: Triângulo da fraude

Fonte: Gonçalves (2017), «Fraude de relato financeiro»

O primeiro vértice representa a necessidade financeira sentida que induz as empresas a distorcerem a informação financeira. Um estudo da PricewaterhouseCoopers (2009) intitulado «The Global Economic Crime Survey» documentou a existência de um maior risco de fraude durante os períodos económicos de crise, referindo que o aumento de incentivos/pressões constituíam o principal motivo duma maior distorção da informação financeira. Os fatores que mais contribuiriam para o aumento das pressões/incentivos seriam: objetivos financeiros mais difíceis de atingir, medo de perder o emprego e o facto da remuneração dos gestores estar indexada ao desempenho financeiro.

Quanto ao segundo vértice representa a oportunidade apercebida, nomeadamente a inexistência ou ineficácia dos controlos e a maior capacidade dos gestores derrogarem os controlos. Segundo o estudo da PricewaterhouseCoopers (2009), o aumento das oportunidades para cometer fraude durante os períodos de recessão económica está relacionado com a redução do pessoal, resultando no enfraquecimento do controlo interno, em consequência da redução da segregação das funções e da menor monitorização das transações e atividades suspeitas.

O terceiro e último vértice, por sua vez, simboliza a justificação, estando relacionado com a atitude de certos gestores e com um conjunto de valores éticos que lhes permite distorcer intencionalmente as informações financeiras divulgadas.

63 Breia (2013) apud Antão e Peres (2016) sugere um conjunto de indicadores de alarme que podem ser identificados através de uma leitura crítica das informações contabilísticas, revelando possíveis distorções nas informações financeiras. De entre os sinais de alarme propostos pelo autor podemos destacar os seguintes:

 Taxas excessivamente reduzidas de depreciação/amortização de ativos, de provisões ou de imparidades relativamente ao ano anterior e/ou ao conjunto do setor de atividade;

 Instabilidade nos critérios de depreciação/amortização de ativos;

 Fortes aumentos ou reduções não justificados de provisões/imparidades de um ano para o outro;

 Impostos diferidos ativos referentes a perdas que estão sujeitas a declarações fiscais e ausência de evidência clara de adoção de medidas apropriadas para reestruturação que permita a recuperação dessas perdas.

Essas ações provocam distorções que, em muitos casos, são materialmente relevantes na informação prestada, fazendo com que a análise isolada dos indicadores económico- financeiros resulte em avaliações muitas vezes equivocadas. Segundo Pires e Rodrigues (2004) a informação financeira prestada pela maioria das empresas não cumpre com a ordem normativa estabelecida a nível nacional e a nível internacional, agravando-se pelo facto de que em Portugal só uma minoria das empresas serem auditadas, o que implica a necessidade de proceder a ajustamentos de conformidade e substantivos, com vista a obter uma informação financeira paralela à informação contabilística, garantindo-se assim uma avaliação mais adequada e rigorosa da situação financeira das empresas.

Dada a impossibilidade de se proceder a esses ajustamentos no presente trabalho, pelo motivo de as demonstrações financeiras serem referentes a grupos setoriais e não a empresas individuais, sempre que possível as indicações dadas pela análise dos rácios económico-financeiros serão complementadas por outras informações recolhidas junto de fontes diversas como as análises setoriais do BdP, análises promovidas por outras instituições (consultoras de negócios), e análises das próprias associações setoriais.

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3.7 Análise dos indicadores económico-financeiros