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2. REVISÃO DA LITERATURA

2.4 Equilíbrio financeiro de curto prazo

2.4.1 Fundo de maneio

O FM representa a parte dos capitais permanentes de uma empresa que não é absorvida no financiamento dos ativos não correntes, e como tal poderá ser canalizado para o financiamento (parcial ou total) das necessidades do ciclo de exploração.

Neste âmbito destaca-se que o capital permanente deve financiar o ativo não corrente e servir de margem de segurança necessária para fazer face a imprevistos ou diferenças relevantes entre os prazos de exigibilidade do passivo e de realização do ativo. Segundo Breia et al. (2014, p.74) «(…) deverá ainda cobrir as rúbricas de curto prazo afetas ao ciclo de exploração e não cobertas pela própria exploração (fornecedores) dado que tem caraterísticas de «imobilização» (renovação de forma mais ou menos continuada)».

Constata-se no FM uma natureza essencialmente estática, dado que a sua evolução temporal depende de variáveis empresariais de natureza essencialmente estrutural: as políticas de investimento em ativos não correntes, as políticas de amortização do imobilizado, a rendibilidade global, a política de distribuição de dividendos e também as políticas de financiamento (Silva, 2010). Desta forma e de modo a ser coerente com o princípio de continuidade em que assenta a realização das demonstrações financeiras, a sua análise não deve ser dissociada da natureza e nível de atividade, da rendibilidade e da tesouraria de exploração empresarial, conferindo assim um maior valor à sua avaliação. Quando positivo, o FM representa a parte dos capitais permanentes que se encontra disponível para financiar o ciclo de exploração. Apresentando um valor negativo, significa que parte dos fundos não estáveis estão a financiar ativos não correntes, o que, por si só, é um fator de fraqueza da estrutura financeira, que acarreta riscos (Neves, 2012). Porém um FM negativo não significa necessariamente desequilíbrios financeiros, dado que os níveis

17 de FM têm de estar em linha com as exigências de capital do ciclo de exploração. Ora, por vezes o ciclo de exploração é totalmente financiado pelos fornecedores, de modo que não é necessário a existência de uma margem de segurança para fazer face ao desfasamento temporal existente entre a aquisição de existências e o recebimento de vendas efetuadas. Nesse caso o FM poderá ser negativo desde que as NFM sejam ainda mais negativas (é o caso frequente, por exemplo, das empresas da grande distribuição).

A avaliação da variável FM assume particular ênfase quando se procura analisar o resultado de empresas quer no que respeita à sua qualidade, quer relativamente à sua sustentabilidade. Ora é nesta linha que a determinação de um FM ajustado ao volume e à natureza da atividade empresarial reveste-se de grande importância, seja para o desenvolvimento das atividades de gestão, seja, consequentemente, pela importância que tem na determinação do valor da empresa (Pires, 2006).

Porém, embora a necessidade de adequação do FM seja de grande importância para o sucesso empresarial, na prática torna-se difícil a definição de limites ideais para esta variável. Essa dificuldade, segundo Pires (2006), prende-se no facto de a quantificação de forma ajustada do FM ao nível e volume de operações, ser condicionada por um conjunto de fatores, de onde se destacam:

 A duração do ciclo de exploração - nas empresas industriais será, por princípio, superior ao das empresas comerciais, dado a necessidade de financiar o intervalo de tempo consumido pelo ciclo de produção;

 A natureza da atividade - poderá determinar, por exemplo, a necessidade de se recorrer a trabalhos especializados ou de se efetuarem determinados adiantamentos para garantir a compra de certas matérias-primas;

 Os PMR e PMP - mesmo em empresas do mesmo setor de atividade, com uma dimensão similar e volume de negócios idênticos, estes prazos podem determinar necessidades de FM diferenciadas;

 O grau de maturidade e/ou desenvolvimento em que se encontra a empresa;

 O preço dos diferentes fatores de produção - este determinará um ciclo de exploração mais ou menos oneroso;

 A possibilidade de ocorrerem situações extraordinárias que influenciem o ciclo de exploração, como avarias técnicas, greves, absentismo, conjuntura desfavorável, etc.

18 Assim sendo, a adequação do FM pressupõe uma análise prévia à estrutura do ativo circulante, quer sob a perspetiva do equilíbrio financeiro, quer sob a perspetiva económica ou da maximização da sua rendibilidade.

Salienta-se que a eficácia da avaliação estática do FM é estreitamente condicionada pela evolução a curto prazo do autofinanciamento e do nível e estrutura das aplicações de fundos, dado que grandes variações destes parâmetros poderão provocar problemas de liquidez não detetáveis pela análise do FM existente num determinado momento. Assim sendo, o estudo isolado do FM sem qualquer comparação com as NFM e com a evolução da tesouraria de curto prazo, apenas nos faculta meras indicações sobre a situação de liquidez da empresa num momento perfeitamente localizado (Menezes, 2008).

A inexistência de uma correta adequação do FM pela sua insuficiência, poderá levar a um peso exagerado dos créditos de funcionamento (fornecedores, outros credores e créditos de curto prazo), fazendo com que a estrutura financeira das empresas esteja permanentemente sob pressão, dando lugar ao incumprimento das responsabilidades assumidas e à diminuição dos proveitos operacionais porquanto do consumo exagerado de recursos pela função financeira. Referem Pires (2006) e Ferreira e Macedo (2011), que embora uma situação de desequilíbrio financeiro de curto prazo não traduza, necessariamente, uma situação de fracasso empresarial na medida que este desequilíbrio poderá ser resultante de uma estrutura de financiamento desadequada, é importante ter a noção que não raras vezes, processos de insolvência iniciam-se com desequilíbrios financeiros de curto prazo que vão deteriorando a exploração e, numa espiral de dependência de recursos de curto prazo insuficientes, entram em processo de insolvência.

Por outro lado, o excesso de FM dado pelo FM superior ao que é exigido pelas condições normais de funcionalidade, leva a uma quebra nas rendibilidades quer seja porque representa capitais subaproveitados, quer porque se incorreu em financiamentos desnecessários e, consequentemente se está a suportar incorretamente o custo desse financiamento.

Por tudo isso, conclui-se que o FM só assume a sua eficácia na avaliação do equilíbrio financeiro de curto prazo, quando a sua análise estiver associada aos níveis de capitais exigidos pelo ciclo de exploração, assegurando a manutenção da atividade normal da empresa. Salienta-se ainda que é fundamental a correta adequação dos níveis de FM, dado

19 que um FM desajustado influencia negativamente a tesouraria, os resultados e consequentemente o valor da empresa (Baños-Caballero et al. 2013b).