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2. REVISÃO DA LITERATURA

2.7 Conjuntura económica

A conjuntura económica portuguesa nos últimos anos tem sido de recessão económica de um modo geral, caraterizado por uma clara desalavancagem dos bancos e consequentemente dos restantes agentes económicos privados, com particular incidência nas PME’s e no crédito ao consumo dos particulares.

A crise da dívida soberana teve o seu início em meados de 2009, resultando de desequilíbrios que foram criados e aprofundados ao longo dos anos devido ao excessivo endividamento do estado português. Porém salienta-se que a crise económica e financeira não é apenas uma crise do Estado, dado que tanto o Estado como as empresas e os particulares atingiram um nível de endividamento muito grande, que se tornou deste modo dificilmente sustentável.

Segundo Ferrão (2012) as entidades financeiras percebendo o aumento do risco sistémico, não deixaram de reagir conforme o esperado, aumentando as taxas de juro por forma a refletir nas taxas os seus receios e as suas perspetivas de risco acrescido relativamente aos novos empréstimos. As empresas portuguesas, à semelhança de outros agentes económicos, começaram a pagar pelo fraco rating da República Portuguesa, sendo que esta situação veio castigar principalmente as PME’s que deveriam ser os motores do desenvolvimento económico.

Este cenário levou a que o Governo português se visse obrigado a efetuar um pedido de assistência económica e financeira junto de entidades internacionais (FMI, BCE, CE), o que culminou com a celebração de um conjunto de acordos com as referidas entidades, tendentes a corrigir os desequilíbrios vigentes na economia portuguesa.

Após a celebração desses acordos, os bancos foram obrigados a adotar políticas de concessão de crédito mais seletivas, na medida em que passaram a ter que respeitar indicadores de risco mais conservadores. Synek (2015, p.9) refere no seu estudo que «Entre as principais exigências destinadas ao setor bancário, citam-se o reforço de capitais próprios e de provisões para o crédito em risco, determinando o aumento da solvabilidade, e por outro lado a melhoria da liquidez e do seu financiamento visando assegurar o regresso a valores positivos dos rácios de rendibilidade».

Inevitavelmente as empresas passaram a ter maiores dificuldades no acesso ao crédito (principalmente as PME’s) e a pagar mais caro por esse crédito. Constatou Ferrão (2012) no seu estudo que as empresas portuguesas, quer as pequenas e médias, quer as grandes,

51 estão a passar por um período de significativa desigualdade ao nível do custo do capital, quando comparado com as suas congéneres da zona euro. Tornando-se mais elevado o custo do capital, o investimento tende a baixar porque menos projetos conseguem ultrapassar o limiar da viabilidade. Neste contexto, menos capacidade existe para fazer crescer a economia e gerar emprego.

Todo este movimento no sentido de corrigir os desequilíbrios na economia portuguesa tem colocado uma enorme pressão no consumo privado e no investimento exatamente no sentido inverso. Isso mesmo fica patente na análise ao Quadro 2, referente à evolução do PIB e suas componentes. Após um ligeiro aumento do PIB em 2010 (1,9%), deu-se quedas sucessivas na atividade económica nos três anos seguintes, caraterizados por uma forte retração do consumo público, do consumo privado e principalmente do investimento.

Quadro 2: Evolução do PIB e suas componentes

Fonte: Banco de Portugal e INE

Já mais recentemente deu-se a conclusão da intervenção externa na economia portuguesa (em 2014), porém não significando que os desequilíbrios macroeconómicos que marcaram o seu desempenho na última década estejam ultrapassados, em particular no que tange ao excessivo endividamento. Segundo informações da análise setorial das SNF em Portugal 2011-2016 do BdP, se a nível mundial a economia cresceu a um ritmo similar ao do ano anterior, a Zona Euro por sua vez registou sinais de recuperação, tendo a economia portuguesa acompanhado esta tendência. Pela primeira vez desde 2010 deixou de registar crescimento económico negativo (crescimento de 0,9p.p em 2014).

Observando o Quadro 2, verifica-se que com a exceção do consumo público (redução de 0,5%), todas as componentes do PIB tiveram uma evolução positiva. O consumo privado registou um crescimento de 2,3% (depois de uma redução de 1,2% em 2013), resultado

2010 2011 2012 2013 2014 2015

PIB 1,90% -1,80% -4,00% -1,10% 0,90% 1,60%

Consumo Privado 2,40% -3,60% -5,50% -1,20% 2,30% 2,60%

Consumo Público -1,30% -3,80% -3,30% -2,00% -0,50% 0,80%

Formação bruta de capital fixo -0,90% -12,50% -16,60% -5,10% 2,30% 4,50%

Exportações 9,50% 7,00% 3,40% 7,00% 4,30% 6,10%

52 segundo a análise setorial das SNF em Portugal 2011-2016 do BdP, do alívio do ajustamento dos níveis de despesa e endividamento das famílias portuguesas registado em anos anteriores. A formação bruta de capital fixo aumentou em 2,3p.p em 2015, interrompendo um período de três anos consecutivos de constante variação negativa deste indicador do nível de investimento no país. As exportações por sua vez, apesar de terem apresentado uma variação positiva de 4,3%, apresentaram uma desaceleração relativamente ao ano anterior (crescimento de 7,0% em 2013), ao passo que as importações (aumento de 7,8%), pelo contrário, registaram uma aceleração face ao observado em 2013 (4,7%).

Os dados de 2015 apontam à continuidade da recuperação da atividade económica em Portugal. O PIB cresceu em 1,6p.p (0,7p.p acima da variação verificada no ano anterior), sendo que todas as suas componentes apresentaram uma variação positiva. Destaca-se ainda o aumento do consumo público que pela primeira vez no horizonte temporal em análise apresentou uma evolução positiva, bem como a formação bruta do capital fixo que cresceu em 4,5%, dando continuidade ao crescimento apresentado em 2014, em contraste com os anos anteriores.

Apesar dos sinais de recuperação económica dada pela evolução do PIB e das suas componentes, ainda são diversos os desequilíbrios macroeconómicos que persistem na economia portuguesa.

Em 2015 a CE no âmbito do MIP realizou uma análise a 26 países da união (Grécia e Chipre foram excluídas por estarem sujeitos a programas de ajustamento macroeconómico), onde concluíram existirem desequilíbrios em 16 estados membros. Numa escala de 1 a 6, correspondendo o nível 1 à ausência de desequilíbrios e o nível 6 a uma situação de desequilíbrios excessivos com a ativação do Procedimento dos Desequilíbrios Excessivos, Portugal foi incluído no lote de países com maiores desequilíbrios macroeconómicos (juntamente com a França, Itália, Croácia e Bulgária), situando-se no nível 5, correspondente a situação de desequilíbrios excessivos que requerem acompanhamento específico e atuação política decisiva (Synek, 2015). Dos 14 indicadores analisados pelo MIP, Portugal apresenta desequilíbrios em 7, onde se pode destacar o desemprego, o endividamento do setor privado e o endividamento do setor público.

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