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2. REVISÃO DA LITERATURA

2.5 Gestão eficiente do fundo de maneio

2.5.3 Gestão de existências

As existências compreendem as matérias-primas, produtos em vias de fabrico, ou mercadorias à espera de serem vendidos, constituindo em muitas empresas uma importante fatia do total de ativos de curto prazo.

Tal como a gestão das disponibilidades e a gestão do crédito concedido a clientes (contas a receber), a gestão das existências baseia-se no trade-off maximização da rendibilidade vs minimização do risco. Também à semelhança das contas a receber, os níveis de existências dependem consideravelmente das vendas, mas enquanto as contas a receber aumentam depois de serem realizadas as vendas, as existências devem ser adquiridas antes das vendas. Ora isto constitui uma diferença crítica, pois a necessidade de quantificar previamente as vendas antes do estabelecimento dos níveis ideais de inventário torna a gestão de existências uma tarefa complexa (Weston & Brigham, 2000).

Na literatura, as pesquisas relacionando o nível de inventário à performance empresarial têm crescido consideravelmente nas últimas décadas. De entre estes estudos, a ideia mais

30 aceite é a do paradigma stock zero, que associa reduções de inventários com maiores índices de rendibilidade. Segundo este paradigma o inventário é um elemento oneroso, que só se torna necessário por causa de problemas não resolvidos em vários processos do negócio, ou seja, o inventário de exploração não resolve problemas, mas esconde dificuldades (Obermaier & Donhauser, 2012).

Robert W. Hall foi um dos primeiros autores americanos a descrever a política japonesa just-in-time (JIT), que é um processo de aplicação prática do paradigma stock zero, sendo um caso de grande sucesso e de notoriedade por parte de gestores de todo o mundo aquando do início da sua aplicação. Hall (1983) esclarece que a política stock zero não significa que as empresas devem desenvolver a sua atividade literalmente sem inventários, mas em vez disso o stock zero indica um nível de perfeição nem sempre atingível num processo produtivo, porém requer um elevado nível de excelência, sendo importante porque estimula a busca pela melhoria constante através da atenção tanto para a tarefa global como para os detalhes minuciosos.

Uma segunda corrente de pesquisa pode ser identificada, examinando os benefícios específicos da aplicação do paradigma stock zero e outras tecnologias modernas de fabricação, no desempenho do inventário. Huson e Nanda (1995) por exemplo, estudaram uma amostra de 55 empresas que adotaram o JIT, encontrando evidências dum aumento da rotatividade de inventário após a sua implementação. Além disso, encontraram uma correlação significativa entre melhorias da rotação de inventários e crescentes ganhos por ação. Lieberman e Demeester (1999) por sua vez estudaram 52 empresas japonesas num período decorrente entre o final dos anos 1960 e o início dos anos 1980, lançando luz sobre a ligação entre o inventário e a produtividade. Como esperado do ponto de vista do paradigma stock zero, encontraram evidências que as empresas que reduziram o nível de inventário substancialmente foram capazes de melhorar a produtividade do trabalho significativamente.

Mais recentemente, a corrente de pesquisa voltou-se para a relação explícita entre o inventário e o desempenho das empresas. Chen, Frank e Wu (2005) analisaram essa relação numa perspetiva de mercado de capitais, encontrando indícios de que empresas com inventários anormalmente elevados estão associadas a um fraco desempenho no mercado de ações.

31 Analisando a relação entre o inventário e o desempenho financeiro, Shah e Shin (2007) encontraram evidências de uma melhor performance financeira para as empresas com menores níveis de existências para a indústria transformadora nos EUA no seu todo. Nessa mesma corrente, Capkun, Hameri & Weiss (2009) encontraram uma relação significativa entre níveis de existências mais baixos e a rendibilidade das empresas para uma ampla gama de indústrias nos EUA, ao longo de um período de 26 anos decorridos entre 1980- 2005.

Já Elsayed e Wahba (2016) por seu turno, num estudo sobre uma amostra de 84 empresas egípcias cotadas entre 2005 e 2010, desenvolveram uma perspetiva diferente, considerando que a relação nível de inventário e desempenho pode depender da fase de ciclo de vida organizacional. O pressuposto subjacente a este argumento é que as organizações desenvolvem as suas próprias estratégias para caber entre o sistema de inventário e as configurações organizacionais, sendo que o design do sistema de inventário não é um processo linear, sendo em vez disso um processo dinâmico que surge e evolui em resposta ao poder e interesses dos stakeholders. Então os resultados sugeriram que embora a relação entre os níveis de inventário e o desempenho da organização seja negativa em fase de crescimento inicial e na fase da maturidade, é positiva na fase de crescimento rápido. Da análise aos diferentes estudos é percetível que na literatura da gestão de operações predomina o paradigma stock zero, que associa menores níveis de inventários com a melhoria da rendibilidade empresarial.

Vale salientar que apesar do tamanho e da importância do investimento em existências, em algumas empresas o controlo efetivo deste não está sob a alçada direta do gestor financeiro, sendo esta função remetida para o gestor de aprovisionamento, o gestor de produção e o gestor comercial. Contudo, segundo Weston & Brigham (2000), mesmo nesses casos o gestor financeiro está vitalmente preocupado com esta componente do ativo corrente, pois tem a responsabilidade de acompanhar fatores que afetam a lucratividade geral da empresa, e como em geral as existências têm uma proporção significativa nos ativos totais, logo um mau controlo prejudicará efetivamente a lucratividade.

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