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3. ESTUDO EMPÍRICO

3.3 Relevância dos setores analisados

O presente estudo incide essencialmente em quatro setores de atividade: indústria do calçado, indústria do vestuário, setor do alojamento e setor da restauração e similares. Após consultar informações da análise setorial das SNF em Portugal 2010-2015 do BdP, verificou-se que em 2015 o setor industrial era o segundo mais relevante em termos de volume de negócios, sendo responsável por 26% dos mesmos nas SNF em Portugal, só ultrapassada pelo setor comercial (38%).

Dentro do setor industrial, optou-se pela análise particular da indústria do calçado e da indústria do vestuário, por serem setores que evidenciaram um notável crescimento nos últimos anos, contrariando a tendência de decréscimo do volume de negócios e das rendibilidades evidenciada em média no agregado das SNF em Portugal, motivado principalmente pela conjuntura de crise económica e financeira vivida no país a partir do ano de 2009.

Salienta-se também que as indústrias transformadoras (onde se incluem a indústria do calçado e do vestuário), segundo dados da INE representavam em 2012 o grupo setorial com a maior proporção de empresas de elevado crescimento (empresas com pelo menos 10 trabalhadores remunerados, que apresentem taxas de crescimento médias anuais do volume

55 de negócios ou do número de trabalhadores superiores a 20% durante três anos consecutivos), sendo que a indústria do vestuário dentro da indústria transformadora era a atividade com maior peso por número de EEC (15,7%). Já a indústria do calçado apesar de ser um setor de menor dimensão (em termos de número de empresas), destacava-se em termos de proporção de EEC, sendo que em 2011, segundo dados da análise setorial da indústria do calçado do BdP, 14% das empresas do setor eram EEC, valor superior ao apresentado pelo agregado das SNF no mesmo ano (8%).

Ademais, pode-se referir o facto de que as exportações representam a única componente do PIB a apresentar uma evolução constantemente positiva durante os últimos seis anos (2010-2015), sendo que segundo as projeções do BdP, à semelhança do que vem acontecendo nos últimos anos, o crescimento da economia portuguesa continuará a ser maioritariamente impulsionado pela sua evolução a par do aumento da procura interna. Ora os setores do calçado e do vestuário representam indústrias viradas claramente para a exportação, sendo que o primeiro exporta 98% da sua produção, enquanto que o segundo exporta 82% do total que produz. Então, desse ponto de vista também é interessante analisar a evolução dos indicadores económico-financeiros destes setores dado que estão incluídos no leque de setores exportadores que têm funcionado como o motor da recuperação da atividade económica em Portugal.

Mediante o exposto, as indústrias do calçado e do vestuário suscitaram alguma curiosidade, de forma a desenvolver um estudo mais aprofundado tendente a analisar as principais causas desta evolução inversa á verificada na maioria dos setores de atividade em Portugal e a compreender de melhor maneira, a realidade económica e financeira destes setores. Sob outra perspetiva e relativamente aos setores do alojamento e da restauração e similares, sublinha-se que segundo o plano estratégico nacional do turismo 2013-2015, o turismo é um setor estratégico em Portugal, com uma crescente relevância na economia, constituindo-se como um dos motores do desenvolvimento social, económico e ambiental a nível regional e nacional. Um estudo do Conselho Mundial de Viagens e Turismo que analisou o impacto económico do setor em 184 países com base em dados de 2013, avançou que enquanto o contributo do turismo para o PIB é de 5,8% em Portugal, na Europa é de 3,1%, e no mundo é de 2,9%.

No emprego direto, o contributo do turismo é de 7,2% sobre o total, acima dos 3,1% que se registam em média nos países europeus e dos 3,4% em termos globais. Já nas exportações,

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medidas através dos gastos dos visitantes (incluindo as despesas com transportes), o contributo é de 19,6% face ao total do comércio internacional. Uma percentagem superior à que se verifica na Europa (5,3%) e no mundo (5,4%). Por último quanto ao contributo para o investimento, o estudo evidenciou que a relevância deste setor para o investimento é quase três vezes superior aos contributos médios registados no mundo: 12,5% em Portugal, contra 4,6% na Europa e 4,4% em termos globais.

Posto isto, dentro do setor do turismo, decidiu-se analisar o setor da restauração e similares e o setor do alojamento que constituem pilares basilares do setor do turismo, constituindo conjuntamente os dois setores, segundo dados da análise do setor do turismo do BdP, 71% do número de empresas e 75% do número de pessoas em serviço. Estes dois subsetores

vêm sendo desafiados nos últimos anos a consolidar a competitividade pelo ajustamento dos seus negócios, sobretudo devido à queda da procura interna verificado nos últimos anos, em consequência da diminuição do poder de compra das famílias portuguesas.

A recente crise económica e financeira internacional teve um efeito negativo sobre o setor do alojamento e o setor da restauração e similares, sendo que ambas deterioraram-se quer a nível de volume de negócios quer a nível das rendibilidades. A situação financeira destes setores é precária, estando grande parte das empresas em situação de sobre-endividamento, sendo que quase metade (49%) das empresas do setor do alojamento e restauração e similares (aqui conjuntamente) apresentam capitais próprios negativos, ou seja, estão tecnicamente falidas.

Salienta-se ainda que segundos dados da análise setorial da consultora BDO, conjuntamente o setor do alojamento e restauração representavam em 2015 o terceiro setor a empregar o maior número de trabalhadores em Portugal (8% do total) só atrás do setor do comércio por grosso e a retalho (21%) e do setor da construção (9%).

Então pela relevância do setor na economia portuguesa, quer em termos de números de empresas (cerca de 85 mil) quer pelos postos de trabalho que assegura, e pela atual

situação financeira das suas empresas, achou-se relevante a realização de uma análise mais

aprofundada por forma a melhor compreender as causas das rendibilidades negativas apresentadas no período 2010-2015, e a examinar a sua débil situação económica e financeira.

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