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Com a fase descritiva, constituíram-se mais elementos para resposta ao problema de pesquisa: Os Riscos podem atuar como Variável Mediadora na relação entre Compras Internacionais e Desempenho percebido de Empresas de Equipamentos dos Setores de Energia e Eletroeletrônicos? A resposta “sim” deve ser dada com a mesma cautela que o trajeto dessa pesquisa percorreu para atender aos objetivos específicos do trabalho como um todo para melhor conhecimento de cada um dos contructos a partir de uma vasta pesquisa bibliográfica, seguida da formulação de um modelo estrutural e respectivas hipóteses, pesquisa exploratória para busca de práticas corporativas e, por fim, pesquisa descritiva para dar uma resposta ao problema de pesquisa e testar suas hipóteses.

A fase de pesquisa bibliográfica trouxe uma crescente produção sobre o tema de gestão de riscos em Cadeias de Suprimentos globais, embora se tenha verificado uma carência de bibliografia que consolide as principais atividades de compras internacionais, especialmente no âmbito brasileiro e dos setores de energia e eletroeletrônicos que ainda parecem ser dependentes de tecnologia estrangeira e da atuação de multinacionais. A importância do contexto internacional para esses setores, conforme estatísticas da ABINEE na caracterização dos setores de estudo trouxe um panorama importante de dependência de tecnologia estrangeira e atuação relevante de empresas multinacionais no mercado brasileiro.

Nas quatro entrevistas da fase exploratória e qualitativa, verificou-se grande preocupação com os riscos por parte dos gestores, embora os conceitos da literatura de categorização e de gestão de riscos não tivessem aplicação clara e uniforme nas atividades do ciclo de compras dentre as empresas pesquisadas.

Por fim, na fase descritiva e de método quantitativo, as hipóteses H1 e H3 puderam ser suportadas e a maior parte das assertivas teve grau elevado de concordância entre os respondentes, com exceção dos riscos, cuja diversidade de opções e categorização conduziu a dados de menor uniformidade. Da mesma forma, como a H2 não foi suportada, cabem os comentários sobre a visão do respondente, já que trata-se de desempenho percebido e também da devida importância que precisa ser

dada para a própria Gestão de Compras Internacionais que, uma vez liderada sob ponto de vista estratégico, já concebe uma visão pró-ativa em relação aos possíveis impactos negativos de riscos ao longo das atividades.

Em relação às contribuições deste estudo, destacam-se os impactos teóricos e práticos:

a) Em relação aos aspectos teóricos, a primeira contribuição é a consolidação de uma visão macro sobre Compras Internacionais já com a devida adaptação do tema ao contexto nacional sob ponto de vista dos gargalos logísticos do Brasil e burocracias dos processos aduaneiros. Na sequência, a tentativa de aplicação do modelo teórico de Manuj e Mentzer (2008) na fase exploratória deu abertura para uma oportunidade única de verificação da teoria tanto no contexto brasileiro quanto nas especificidades nos setores de energia e eletroeletrônicos. Essa fase do estudo demonstrou que o modelo precisaria ser refinado e simplificado a partir da verificação de que não existia nas empresas pesquisadas um método tão claro e rígido quanto na teoria de gestão de riscos internacional com categorização e ações claras de mitigação, especialmente porque a postura do brasileiro dá margem para flexibilização de possíveis problemas com os riscos em Compras Internacionais. Como o modelo teórico precisaria de refinamento, optou-se por utilizar um instrumento de pesquisa bastante simplificado e que deixa como contribuição boa validade e confiabilidade, podendo ser passível de ser utilizado em outras pesquisas com as devidas sugestões de melhoria, especialmente no que tange à verificação de impactos no desempenho percebido.

b) Em relação aos aspectos práticos, é importante indicar o quanto que o tema de pesquisa é atual e está em consonância com discussões sobre inserção das empresas em contextos internacionais de globalização e necessidade de averiguação da real vantagem de se buscar novas opções desde que conhecidos os riscos e possibilidades de aumento de valor agregado. A dependência de tecnologia estrangeira já esteve na pauta de importantes políticas de nacionalização ou liberalização ao longo da história do Brasil e os

setores de energia e eletro-eletrônicos agora estão em voga porque estão relacionados aos investimentos em infraestrutura e sustentabilidade do país. Espera-se que esse estudo possa contribuir para que as empresas do setor de energia e eletroeletrônicos tenham mais elementos para direcionar a operacionalização das atividades do Ciclo de Compras Internacionais com maior consciência dos riscos e reflexo no desempenho tanto operacional quanto de negócios. A falta de clareza em relação à percepção dos respondentes do impacto de suas atividades no desempenho de negócios da empresa deixa como contribuição a necessidade de estreitamento de uma gestão operacional com a gestão de negócios com melhor visão de médio e longo prazo e treinamentos que capacitem e orientem os colaboradores a criarem mais valor para os negócios.

Para o aprimoramento da presente pesquisa, recomenda-se o prosseguimento dos estudos considerando-se as sugestões a seguir:

a) Ampliação da amostra com maior número de respondentes para garantir melhor consistência dos dados numa amostra probabilística que não seja de conveniência para que os resultados sejam passíveis de generalização, preferencialmente com executivos que tenham maior visibilidade sobre impacto no desempenho não só operacional, mas de negócios também. Ao atender o recomendado de Hair et al (2005) de pelo menos 05 questionários para cada assertiva, espera-se que não seja necessário o uso de técnicas reducionistas de variáveis, que embora sejam válidas, teriam melhor qualidade na capacidade de generalização. Ainda em relação à amostra, o porte da empresa e atuação exclusivamente em nível nacional ou multinacional poderia ser fator de divisão e comparação de resultados;

b) Uso de análise fatorial exploratória para cada um dos blocos de assertivas a partir de meta-análise com uso de regressões lineares e novos modelos de equações estruturais para determinar melhor a relação entre os constructos e efeito mediador da variável Riscos;

c) Acompanhar resultados longitudinais ao longo do tempo em relação à divulgação, treinamento, cultura e implantação de Gestão de Riscos em Compras Internacionais e resultados em curto, médio e longo prazo comparando-se o antes e depois da utilização dessas práticas;

d) Replicação da pesquisa em outros setores, tipos de compra e também em outros países para maior base de comparações e busca de um modelo ideal de gestão de riscos em compras internacionais que possa ser ajustado para diferentes contextos.