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2.2. Compras Internacionais

2.2.3. Ciclo de Compras Internacionais

2.2.3.2. Verificação de questões de custo

A análise do valor final poder ser prejudicada pela falta de domínio de determinado fator que, repetidamente, poderá representar falta de competitividade no mercado internacional. O conhecimento pleno da estrutura de custos é assunto complexo e envolve custos de produção, custos de distribuição, custos de promoção, custos variáveis e margem de contribuição (LOPEZ; GAMA, 2010). Uma gestão estratégica de custos envolve relacionamentos mais intrínsecos e contínuos entre clientes e fornecedores de forma mais consciente, explícita e formal, pois é importante que a empresa conheça não somente seus próprios custos, mas o de seus intermediários e fornecedores (SHANK; GOVINDARAJAN, 1997; MARTINS, 1998).

Além de conhecer a estrutura de custos, deve-se levar em consideração também os impostos e taxas representativos de uma importação. Apesar do aumento dos fluxos de comércio nos últimos anos e consequente redução de barreiras tarifárias no Brasil, os tributos ainda representam alguns dos maiores componentes de arrecadação do Comércio exterior com incidência de tributo sobre tributo em sistema

de cascata, como a Lei nº 10.865/04, que instituiu a incidência do PIS e da COFINS nas importações (SANTOS, 2004, LUDOVICO, 2007; MOREIRA, 2006). Os tributos recolhidos no ato do registro da Declaração de Importação são, primeiramente, em âmbito federal: II (Imposto de Importação), IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados), PIS (Programa de Integração Social)/PASEP (Programa de Formação de Patrimônio do Funcionário Público) e COFINS (Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social), seguidos do ICMS (Imposto sobre circulação de Mercadorias e Serviços), de âmbito estadual. No Quadro, verificam-se as principais características de cada um dos impostos e respectivas bases de cálculo:

Quadro 4: Principais Tributos de Importação

CARACTERÍSTICAS BASE DE CÁLCULO

II Tributo Federal. Função Econômica e regulatória. Pode ser alterado por Acordos Internacionais, como Mercosul. Incidente quando a mercadoria entra no país.

Alíquotas variam de acordo com unidade de medida e ad valorem, conforme Tarifa Externa Comum. Cálculo a partir do Valor Aduaneiro: Valor da Mercadoria convertido em Reais + Frete Internacional + Seguro.

IPI Tributo Federal. Principal função fiscal, porém também é regulatório, pois o governo pode isentar ou diminuir alíquotas para incentivos. Incidente no desembaraço e na saída do produto importado no mercado nacional.

Alíquotas variam de acordo com TIPI (Tabela de Incidência do Imposto de Produtos Industrializados). Cálculo a partir do Valor Aduaneiro + Impostos Incidentes no desembaraço e encargos sociais efetivamente pagos.

PIS/

COFINS Contribuições Sociais. Uma das funções é proteção do trabalho nacional. Incidente no desembaraço aduaneiro e saída do produto importado no mercado nacional.

Alíquotas: No geral, PIS é de 1,65% e COFINS 8,60%. A base de cálculo é: Valor Aduaneiro + II + IPI + ICMS.

ICMS Tributo Estadual. Função Regulatória. Incidente no desembaraço aduaneiro e saída do produto no mercado nacional.

Alíquotas variam de acordo com RICMS (Regulamento de ICMS de cada estado). Cálculo a partir do Valor Aduaneiro + Impostos incidentes no desembaraço e encargos cambiais efetivamente pagos, próprio ICMS e despesas aduaneiras. Fonte: Adaptado de: Receita Federal (2012), Liesegang e Chieregatto (1999), Santos (2004),

Figueiredo (2004), Ludovico (2007).

Não cabe aqui um aprofundamento da questão tributária, porém é importante destacar que cada imposto possui regras próprias, tais como isenções, reduções e regimes especiais. É importante ressaltar que impostos não cumulativos como o IPI, ICMS, a COFINS e o PIS são passíveis de compensação contábil pelos lançamentos (débito e crédito), porém o Imposto de Importação é um custo efetivo (LUDOVICO, 2007). Em relação ao COFINS, houve recente mudança com a Medida Provisória 563 de 2012, com alteração na Lei 10.865 de 2004 em uma série de setores tiveram o acréscimo de um ponto percentual, aumentando a alíquota de 7,60% para 8,60%, sendo que este ponto percentual adicional não é passível de

compensação contábil na maior parte dos casos (VALOR TRIBUTÁRIO, 2012).

Além dos tributos e taxas, é importante que se considere numa Compra internacional os possíveis riscos associados à flutuação de moeda e risco cambial, consequências naturais nas instituições que operam no mercado internacional. Eitemann et al (2002) afirmam que a exposição cambial pode implicar numa mudança potencial da lucratividade, do fluxo de caixa líquido e do valor de mercado de uma empresa em função de uma mudança nas taxas de câmbio. Para tanto, a empresa tem a opção de contratar o hedge, palavra inglesa que na sua concepção original significa cerca ou proteção, e é usada no mercado financeiro para minimizar o risco pelo descasamento de fluxos, prazos ou taxas. O hedge é utilizado por empresas como meio de proteção contra a incerteza e serve a dois objetivos: proteção contra variações no valor de ativos ou passivos em moeda estrangeira ou administração de riscos com uma posição oposta à exposição original a partir de um ganho que compense eventual perda (PAXSON; WOOD, 2001).

A gestão do hedge é multidisciplinar e envolve mercados e ativos, contratos de seguros, gestão de fluxo de caixa e de capital de giro, além de áreas da empresa como Contabilidade, Produção, Marketing, Finanças, Tributário e Jurídico (KOZIOL, 1994). No Brasil, a contratação de hedge com instituições financeiras possui um custo elevado e nem todas as empresas possuem experiência e controles internos eficientes, embora saibam da necessidade pelas possíveis instabilidades econômicas e financeiras (LAMEIRA; FIGUEIREDO; NESS, 2005). Normalmente, as operações de hedge são realizadas na BM&F (Bolsa de Mercadorias & Futuros), quando uma empresa possui negócios em moeda estrangeira e compra um contrato de moeda futuro em que deixa pré-fixado o valor a receber ou a pagar para evitar riscos de flutuações de moeda (ARAUJO et al, 20011). As empresas que possuam operações de importação e exportação ainda poderão tentar fazer internamente o controle do chamado hedge natural sem recorrer às instituições financeiras.