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2.1. Gerenciamento de Riscos na Cadeia de Suprimentos

2.1.3. Cadeia de Suprimentos

2.1.3.1. Os Riscos na Cadeia de Suprimentos: uma Visão Geral

Os riscos da Cadeia de Suprimentos já não são novidades para os setores de produção, revenda ou serviços, porém as soluções clássicas para minimizar possíveis interrupções com a manutenção de estoques, maiores prazos de entrega e venda de produtos ou serviços com margens de lucro majoradas para cobrir eventuais problemas já não são mais suficientes frente às crescentes exigências de padrões de qualidade e filosofias de fornecimento de estoque mínimo e sistemas integrados de planejamento de produção (RITCHIE; BRINDLEY, 2007).

No contexto da Cadeia de Suprimentos, o gerenciamento de riscos se refere à uma estratégia compartilhada para aplicação de um processo de gestão de riscos desde o fornecedor inicial até o cliente final quanto aos diversos fluxos, tais como o fluxo financeiro, de materiais, de serviços e informações, com o objetivo de se ter uma visão coordenada para redução de vulnerabilidades como um todo (JUTTNER; PECK; CHRISTOPHER, 2003; NORMAN; JANSSON, 2004). Normalmente, os riscos na Cadeia de Suprimentos são divididos em dois aspectos principais: fontes de

riscos e incertezas e consequências e; impactos no desempenho dos negócios (JUTTNER; PECK; CHRISTOPHER, 2002).

Um dos primeiros e mais importantes artigos sobre Gerenciamento de Riscos na Cadeia de Suprimentos foi o publicado por Kraljic (1983), que marcou a concepção de um modelo com seu próprio nome para gestão de compras a partir de duas concepções principais: Impacto de Lucro e Riscos sobre as fontes de Suprimentos. O que se tem visto nos últimos anos tem sido uma necessidade de novo direcionamento no gerenciamento de riscos porque as empresas estão transferindo até mesmo suas atividades principais além das fronteiras corporativas e nacionais (IAKOVOU; VLACHOS; XANTHOPOULOS, 2010).

Na última década, as forças de mercado globais, mudanças tecnológicas e influências de políticas macroeconômicas foram alguns dos motivos para busca de redução de custos a partir da compra dos países de baixo custo localizados em regiões como Sudeste Asiático e América do Sul. Como consequência, tem-se observado redes globais cada vez mais complexas e que não estão tão bem estruturadas para oferecer níveis adequados de eficiência operacional, níveis de serviço e minimização de custos totais da Cadeia de Suprimentos (TAYLOR, 2009).

Apesar da percepção de risco estar mudando, ainda existe um longo caminho a se percorrer. Como evidência dessa afirmação verificam-se pesquisas como a de Enyinda (2008) em que mais de 65% dos executivos da área farmacêutica perceberam o aumento de risco na Cadeia de Suprimentos Global em conjunto com o aumento de dificuldade de gestão de custos de forma mais efetiva, embora estes não tenham conseguido dedicar tempo suficiente para mitigar riscos. Apenas poucos acreditavam que possuíam conhecimento e ferramentas gerenciais adequadas para lidarem com toda variedade de riscos. Nessa mesma pesquisa, ainda verificou-se uma dificuldade em se estabelecerem padrões mais amplos para gerenciamento e mitigação de riscos, conforme apontaram 50% dos respondentes (ENYINDA, 2008).

Embora o número de artigos seja crescente, alguns temas ainda precisavam de melhor delineamento na época em que Meixell e Gargeya (2005) empreenderam uma pesquisa abrangente de artigos entre 1986 e 2003 de 25 periódicos que

abordavam o tema de gerenciamento de riscos na Cadeia de Suprimentos Global. Esses autores identificaram que havia uma necessidade de se entender melhor o contexto interno e de operações externas das empresas, além da necessidade de uma ênfase mais abrangente em todos os níveis da Cadeia de Suprimentos. Outros pontos averiguados foram a necessidade de conceber métricas mais amplas de medição para avaliação de desempenho.

Numa breve pesquisa em alguns artigos publicados a partir de 2005, observam-se certas mudanças nessas deficiências visualizadas por Meixell e Gargeya (2005). A seguir, estão alguns exemplos:

Contexto de geração do risco, influências e respostas afetando o desempenho das empresas (RITCHIE; BRINDLEY, 2007);

Riscos ligados às questões de tecnologia da informação (FAISAL; BANWET; SHANKAR, 2007);

Tipo de produto interferindo na questão de riscos (KHAN; CHRISTOPHER; BURNES, 2008);

Identificação das etapas do processo e fontes de riscos e implicações nas práticas gerenciais (MANUJ; MENTZER, 2008);

Contexto de complexidade global como marco de influência nos riscos e preocupação com medição da eficiência tanto dos processos internos quanto externos (TAYLOR, 2009);

Necessidade de sistema mais efetivo de gerenciamento de risco não somente por questões de perdas financeiras, mas também por perdas de mercado (IAKOVOU; VLACHOS; XANTHOPOULOS, 2010).

Nos artigos ainda mais recentes observa-se que as fontes tradicionais de riscos continuam aparecendo, tais como questões de turbulências em políticas regulatórias internacionais e empresas multinacionais (WIJEN; TULDER, 2011), preocupações com distância dos fornecedores e problemas de transporte (HALEH; HAMIDI, 2011), além da recorrente tentativa de se agruparem as principais fontes de risco para melhor tratamento (ACAR; KADIPASAOGLU; SCHIPPERIJN, 2010), enquanto surgem também visões mais abrangentes e multidimensionais com foco específico no nível de serviço ao cliente (SCHMITT, 2011).

Os países de baixo custo, tais como China e Índia estão em evidência em diversos artigos como os estudos de Enderwick (2007; 2009), que usou da Teoria dos Custos de Transação e Estrutura de Governança para falar dos possíveis comportamentos oportunistas de fornecedores. Até mesmo as questões culturais estão entrando no rol de tópicos para discussão de riscos de países como a China, conforme argumentam Jia e Rutherford (2010). Do ponto de vista da América Latina, tem-se alguns exemplos de visão a partir do México (LASSAR et al, 2010), que, embora trate da visão de multinacionais e filiais instaladas no país, faz uma análise das implicações em desempenho a partir da busca de vantagem competitiva pela RBV.