Em virtude do trabalho desenvolvido, várias conclusões foram extraídas, não só da análise do fenômeno do superendividamento, mas, também, das questões correlatas suscitadas para a consecução desta pesquisa.
1. De plano, identificou-se a importância dos princípios como referenciais hermenêuticos, que, mesmo dotados de grande abstração, são aptos a integrar as normas ordinárias do ordenamento jurídico.
2. Ademais, restou provado que o princípio da dignidade humana, em virtude da importância que lhe foi atribuída como fundamento da República, tornou-se norma fundante da estrutura jurídica do nosso direito interno, podendo, perfeitamente, por conseguinte, atuar sobre as normas infraconstitucionais.
3. Em seguida, verificou-se que o princípio da dignidade da pessoa humana possui patente exigibilidade, mesmo diante de situações eminentemente privadas, como é o caso dos contratos firmados entre os indivíduos, que, apesar da autonomia que é atribuída às partes, não podem afrontar aquele princípio.
4. Constatou-se, também, que, não obstante a ausência de uma limitação explícita acerca dos juros, em sede constitucional, vários dispositivos legais, a exemplo do art. 161, § 1° do Código Tributário Nacional, estabelecem limites, pautando-se dentro dos princípios da boa-fé e do equilíbrio material.
5. A análise dos princípios tradicionais da teoria geral dos contratos evidenciou a significativa transformação por eles sofrida, diante dos fenômenos da constitucionalização e da repersonalização do direito civil.
6. Verificou-se, ainda, que a boa-fé objetiva e os deveres gerais de conduta que dela são derivadas, justamente pela possibilidade de impor condutas, independentemente da vontade das partes, podem ter múltiplas funções em relação aos contratos de fornecimento de crédito, para evitar a ocorrência das situações de superendividamento, já que este padece de um tratamento legislativo especificamente concebido para evitar sua ocorrência ou para saná- lo a posteriori.
7. Percebeu-se, também, que a boa-fé e os deveres gerais de conduta estabelecem o dever de cooperação e de informação nos contratos de fornecimento de crédito, razão pela qual os fornecedores de crédito podem ser responsabilizados civilmente pela não obediência a tias princípios.
7. Restou demonstrado que o conceito de superendividamento esposado pela doutrina deve ser modificado porque não abrange todas as situações que podem deflagrar o superendividamento, razão pela qual lançamos a proposta de um novo conceito.
8. Verificou-se que o tratamento aplicado aos vícios de consentimento e ao tratamento da insolvência é inadequado para o tratamento das situações de superendividamento, embora aqueles institutos possam servir como um paliativo para algumas situações de endividamento extremado, diante da ausência de um tratamento específico.
9. A final, chegou-se à conclusão que, mesmo inexistindo legislação sobre o tema, ou dispositivo legal apto a atacar problema como um todo, a situação do superendividamento, comporta tutela jurídica no direito brasileiro, através da concretização de princípios constitucionais, como o da dignidade da pessoa humana, da solidariedade social, e de outros princípios havidos na teoria geral dos contratos, em especial, a boa-fé objetiva e o equilíbrio material.
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