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3. AS RELAÇÕES DE CRÉDITO

4.5. PROPOSTA DE UM NOVO CONCEITO

4.6.4. Portugal

Abordando a questão do superendividamento em Portugal (lá designado de “sobreendividamento”), pondera Catarina Frade, sobre as vantagens da resolução alternativa de litígios (“RAL”) através da conciliação, mediação e arbitragem:

Os processos de RAL, pelas suas características de informalização, procura do acordo, celeridade, custo tendencialmente mais reduzido e menor estigmatização pessoal e social, são procedimentos favoráveis a uma maior procura de tutela jurídica por parte de cidadãos que não se revêem no modelo clássico dos tribunais e que acabam por não reagir perante as agressões aos seus direitos. Por isso, ao garantir o acesso à justiça, a RAL contribui para o reforço da cidadania e do Estado democrático.282

280

MARQUES, Cláudia Lima. Sugestões para uma lei sobre o tratamento do superendividamento de pessoas físicas em contratos de crédito ao consumo: proposições com base em pesquisa empírica de 100 casos no Rio Grande do Sul. In: MARQUES, Cláudia Lima; CAVALAZZI, Rosângela Lunardelli (Coord). Direitos do

consumidor endividado: superendividamento e crédito. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais. 2006, p.

267-270.

281

Vale registrar a existência do Observatório do Endividamento dos Consumidores (OEC), constituído em 2001, através de um Protocolo celebrado entre o Instituto do Consumidor e a Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra - Centro de Estudos Sociais, que tem como objetivo principal a investigação da problemática do endividamento e do sobreendividamento dos consumidores. Disponível em: http://oec.ces.uc.pt/apresentacao/apresentacao.html. Acesso em 12 fev 2010.

282

FRADE, Catarina. A resolução alternativa de litígios e o acesso à justiça: a mediação do sobreendividamento. In: Revista Critica de Ciências Sociais, n° 65. Coimbra, maio 2003, p. 113

Relata, ainda, Catarina Frade, a existência dos Julgados de Paz, onde a mediação se estabelece dentro do próprio tribunal, mas, tendo os mediadores total autonomia em relação aos juízes e, dos Centros de Arbitragem de Conflitos de Consumo.

Nestes Centros de Arbitragem para resolução de conflitos de consumo busca-se, por meios extrajudiciais como a mediação, conciliação e arbitragem, a composição de conflitos de consumo283 relativos à aquisição de bens e serviços, em estabelecimentos situados a respectiva área territorial de cada um destes Centros.284

Os Centros de Arbitragem285 geralmente são compostos de um Serviço de Informação, cujo objetivo é prestar esclarecimentos aos consumidores e profissionais e encaminhar as reclamações apresentadas; um Serviço de Mediação, responsável pela obtenção do acordo entre os interessados, e o Tribunal Arbitral, constituído por um único Árbitro, designado pelo Conselho Superior da Magistratura. No julgamento pode ser usada a equidade, caso as partes nisso acordem. A decisão é vinculativa para as partes e tem força executiva.

Tanto os acordos obtidos, como as decisões proferidas em julgamento arbitral são vinculativos e a decisão proferida pelo Tribunal Arbitral tem o valor das decisões proferidas pelos Tribunais Judiciais de 1ª Instância e constitui título executivo (art. 48.º, n.º 2 do Código de Processo Civil português).

Convém observar, contudo, que há competência em razão do valor, variável entre estes Centros de € 3.740,98 a € 14.963,94. Destarte, o Tribunal Arbitral só poderá intervir na resolução de conflitos de consumo cujo valor não ultrapasse o legalmente fixado para a alçada dos tribunais de comarca. Em sede de mediação, porém, não há valor limite para as reclamações.

Apesar das vantagens deste procedimento, vislumbra-se o inconveniente da limitação do valor de alçada que pode, em muitos casos, ser ultrapassado pelo montante das

283

“Consideram-se conflitos de consumo os que decorrem da aquisição de bens ou serviços destinados a uso não profissional e fornecidos por pessoa singular ou colectiva, que exerça com carácter profissional uma actividade

económica que vise a obtenção de benefícios”. Disponível em:

http://www.portaldocidadao.pt/PORTAL/entidades/MJ/GRAL/pt/SER_arbitragem+institucionalizada+- +consumo.htm”. Acesso em 12 fev 2010.

284

“A Arbitragem de Consumo é uma arbitragem institucionalizada, promovida por associações privadas sem fins lucrativos que criam Centros de Arbitragem que têm por objecto a resolução de conflitos de consumo relativos à aquisição de bens e serviços, em estabelecimentos sitos na respectiva área territorial”. Disponível em: http://www.portaldocidadao.pt/PORTAL/entidades/MJ/GRAL/pt/SER_arbitragem+institucionalizada+-

+consumo.htm.. Acesso em 12 fev 2010.

285

A discriminação das atividades dos Centros de Arbitragem para resolução de conflitos de consumo pode ser vista em http://www.portaldocidadao.pt. Acesso em 12/02/2010.

Interessante pesquisa foi elaborada pela Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra em 2002, tentando estabelecer o perfil do consumidor sobreendividado em Portugal. Disponível em: http://www.oec.fe.uc.pt/biblioteca/pdf/pdf_estudos_realizados/sobreend.pdf

dívidas, já que nelas é considerado tanto as obrigações presentes como as de exigibilidade futura.286

Em 14 de setembro de 2004, entrou em vigor o Código da Insolvência e da Recuperação de Empresa (CIRE), aprovado pelo art.º 1.º do Decreto-Lei n.º 53/2004, de 18 de Março, através do qual ficou regulamentada a insolvência das pessoas físicas.

Por este diploma legal, não fica obrigado o devedor pessoa singular não titular de empresa, apresentar-se à insolvência, mas, para poder beneficiar-se da exoneração do passivo restante, deve fazê-lo no prazo de seis meses da constatação da sua situação de insolvência.

Caso o devedor ingresse com o procedimento, poderá apresentar o plano de insolvência ou o plano de pagamentos, consoante for o caso e, declarar, ainda, se pretende a exoneração do passivo restante (arts.23.º, n.º 2-a, 235.º e seguintes).

O plano de pagamentos está reservado apenas ao devedor que seja pessoa singular e que nos três anos anteriores à instauração do processo de insolvência não tenha sido titular da exploração de qualquer empresa ou que, tendo-o sido, não haja, à data da propositura do processo de insolvência, quaisquer dívidas laborais, nem mais do que vinte credores, nem o passivo global ultrapasse o valor de € 300.000,00 (art.º 249.º).287