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Configuração e a (re) configuração do território informacional

3. Redes Sociais Virtuais: Conectividade, Interconectividade e Mobilidade

3.3 Globalização, Tecnologia e Mídia

3.3.3 Configuração e a (re) configuração do território informacional

Território informacional são áreas de fluxo informacional digital em uma zona de intersecção entre o ciberespaço e o espaço urbano. O acesso e o controle informacional realizam-se a partir de dispositivos móveis e redes sem fio. O território informacional não é o ciberespaço, mas o espaço movente, híbrido, formado pela relação entre o espaço eletrônico e o espaço físico. Por exemplo, o lugar de acesso sem fio em um parque por redes Wi-Fi é um território informacional, distinto do espaço físico parque e do espaço eletrônico internet. Ao acessar a internet por essa rede Wi-Fi, o usuário está em um território informacional imbricado no território físico (e político, cultural, imaginário, etc.) do parque, e no espaço das redes telemáticas. (LEMOS 2007, p.128)

Deve-se enfatizar que o território informacional cria um lugar dependente dos espaços físico e eletrônico o qual o ator social vincula-se, por exemplo, pode-se citar o caso do ator social que acessa a internet, no aeroporto, por meio da rede Wi-Fi. Tal fato demonstra-nos que não só o lugar consubstancia-se por meio das atividades/práticas sociais que estabelecem laços de pertencimentos (simbólico, afetivo, econômico), mas também é, segundo TUAN (2003), a fixação enquanto que o espaço é abertura, visto que necessita de tempo e de experiência para se formar. Devo pontuar que tanto esse espaço, aeroporto, quanto restaurantes, cybercafé, hotéis, praças caracterizam-se por meio das redes telemáticas e das redes físicas das cidades, constituindo, deste modo, um ambiente, nas palavras de Lemos (2007, p.130), “generalizado de acesso onde qualquer pessoa pode, dentro de seu território informacional constituído por intermédio de suas senhas de acesso, envio e recebimento de informações multimodais em mobilidade”.

Nesse contexto, emerge uma nova maneira de mobilidade: a mobilidade por fluxos de informação, por território informacional que, de acordo com Lemos (2007, p.130), “altera e modifica a mobilidade pelos espaços físicos da cidade, como a possibilidade de acesso, produção e circulação de informação em tempo real”. E ressalta que

[.] o uso de celulares e sistemas de localização podem mudar a prática do uso do transporte urbano. Com o telefone celular, o usuário pode se informar, em tempo real sobre o horário da passagem de um ônibus, podendo alterar a forma de espera e criar novas dinâmicas de movimentos no espaço físico ao dessa atividade social. Assim, mobilidades informacionais criam gestões fluidas do tempo e, consequentemente, do espaço. Não há deslocamento entre os espaços e as correlatas mobilidades, mas a intersecção entre espaço eletrônico e espaço físico, criando territórios informacionais. (LEMOS IBIDEM)

Deve-se pontuar que o celular, na sociedade da informação, pode ser pensado como um dispositivo híbrido móvel de conexão multirredes (DHMCM), visto que amplia a compreensão do dispositivo e rompe com a analogia com telefone. Lemos (2007b, p.24) elucida a sigla DHMCM ponderando que

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O que chamamos de telefone celular31 é um Dispositivo (um artefato, uma tecnologia

de comunicação) Híbrido, já que congrega funções de telefone, computador, máquina fotográfica, câmera de vídeo, processador de texto, GPS entres outras; Móvel, isto é , portátil e conectado em mobilidade funcionando por redes sem fio digitais, ou seja, de Conexão e Multirredes, já que pode empregar diversas redes como: Bluetooth e infravermelho, para conexões de curto alcance entre outros dispositivos; celular para as diversas possibilidades de troca de informações; internet (Wi-Fi ou Wi-Max) e redes de satélite para uso como dispositivo GPS.

E complementa que

Os DHMCM aliam a potência comunicativa (voz, texto, foto, vídeo), a conexão em rede, a mobilidade por territórios informacionais, reconfigurando as práticas sociais de mobilidade informacional pelos espaços físicos das cidades. Trata-se da ampliação da conexão, dos vínculos comunitários, do controle sobre a gestão do seu tempo e espaço na fase pós-massiva da comunicação contemporânea. (LEMOS 2007b, p 24)

Observa-se, nesse cenário comunicacional potencializado pelo suporte tecnológico, que há maior fluxo de imagens (fotos) e vídeos entre os usuários possibilitando, assim, criar a sensação de pertencimento ao grupo e de estar junto em tempo real. Porém é mera ilusão, uma vez que o processo de intersubjetividade torna-se desterritorializado, aberto, presenteísta e esfacelado, de acordo com Rivière (2006), o processo de valoração das trocas simbólicas entre os interlocutores circunscreve o presente banal e não as circunstâncias especiais e solenes, porque as fotos são tiradas, observadas e descartadas de forma imediata, já que basta apenas o aspecto de sociabilidade. Lemos (2007b, p.32) alerta-nos ao fato de que as fotos ou os vídeos não são “produzidos para marcar memória como um arquivo, para ficar no dispositivo, imprimir e guardar em um álbum”. E enfatiza que

O consumo se dá pela circulação na rede, o envio rápido e imediato. Trata-se de circular e não memorizar, para reforçar laços sociais....

[.] o uso e a prática a associada a fotos e vídeos por celulares é complemente diferente da prática e uso com câmera fotográficas e de vídeos tradicionais. O que importa é tocar o Outro, distante na rede, ou ao meu lado (“veja essa foto que fiz agora”). A ideia não é a exibição na sociedade do espetáculo para o “público” para a “massa”, mas para a minha “comunidade individual”, pela circulação.

Nesse cenário de transição entre o público para a comunidade individual em uma esfera movediça, hibrida tanto em termos comunicacionais (massiva e pós-massiva) quanto meio de suporte tecnológico, torna-se fulcral traçar um caminho de discussão acerca do processo de alteridade que ultrapasse a dicotomia (estabelecidas ao longo do século XIX e XX) entre negros versus brancos, entre homens versus mulheres, enfim, que seja capaz de abarcar e compreender

31 No Brasil, atualmente existem mais de 100 milhões de telefone celular em funcionamento. Conforme com a ACE (Associação Nacional das

154 não só os múltiplos agenciamentos que o sujeito sócio histórico está sujeito, mas também atentar-se ao fato de que a identidade é um processo de construção e desconstruções de subjetividades. Cardoso da Silva (2001, p.45) reforça meu processo hermenêutico ao asseverar que

É preciso conceber a alteridade independente dos essencialismos, como construções produzidas pelas trajetórias dos indivíduos, onde as circunstâncias impõem determinadas respostas, agenciamentos; faz-se necessário assim, pensar as diferenças enquanto caminhos traçados pelos sujeitos a partir de suas configurações culturais, uma vez que a heterogeneidade não nega o entrelaçamento ou a complementaridade.

Albuquerque Jr (1993, pp. 88/89) ressalta que

[..] superar a ênfase nos aspectos de sujeição dos indivíduos ao código cultural, para ressaltar o processo de subjetivação deste código pelos indivíduos, produzindo – o e se produzindo ao mesmo tempo. Como cada indivíduo, ou cada trajetória cultural é uma singularização em relação à configuração cultural de que fazem parte; cada configuração é pois móvel, ela muda constantemente de acordo com os deslocamentos provocados pelas múltiplas trajetórias culturais que se entrelaçam, se cruzam, se conflitam.

Na medida em que as trajetórias culturais refletem uma sucessão ou coexistências de vários/múltiplos segmentos temporal e espacial, de acordo com Albuquerque Jr (1993, p.89), “são diferentes tempos, espaços e vidas entrelaçam-se, cruzam-se na textura dos diversos discursos, práticas e memórias que compõem essas trajetórias”. Sendo anuente da relevância do termo cultural no processo de subjetivação do indivíduo, devo posicionar-me asseverando que o utilizo, neste trabalho, como um dispositivo que demarca/delimita a identidade em curso como um constructo dialógico permeado por símbolos, por imagens, por discursos que engendram uma produção de subjetividade social que possibilita operalizar com a estrutura psíquica do sujeito e observar as implicações desse processo de maneira singular e não de forma homogênea/coletiva.

Optar por essa noção de subjetividade, significa, para mim como pesquisador, a possibilidade de compreender, no século XXI, o processo de singularização dos afro-brasileiros e dos afro-americanos (inserido em um cenário de embate/de resistência à pluralidade de sentidos dominantes) por intermédio de uma análise que me possibilite observar e entender o fenômeno do racismo nestes países, enquanto um processo de configuração e (des)configuração de identidade do negro brasileiro/estadunidense.

155 Em virtude da relevância da questão da subjetividade no processo de percepção de Outro na sociedade atual, pretende-se, no Capítulo IV: Modelo de Análise Netnográfico, apresentar uma proposta de modelo netnográfico como método de pesquisa com fulcro em descortinar/compreender, nas redes sociais virtuais, o processo de subjetivação dos atores sociais: afro-americano e afro-brasileiro.

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CAPÍTULO IV

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