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3. Redes Sociais Virtuais: Conectividade, Interconectividade e Mobilidade

3.1 Panorama conceitual: Globalização

Globalização pode ser compreendida como um fenômeno hegemônico de poder versus a um conjunto de processos interdependentes e interconectados em âmbito global, dando origem, deste modo, não só espaços de dominação, mas também de contestação, de criatividade, de criação e de recriação. Tais espaços envolvem várias temáticas: econômica, política, cultural e histórica que possibilitam ao cidadão a interconectividade global. (GRIFOS MEUS)

O conceito de globalização, adotado nesta discussão, traz à baila a conceituação de Santos (2002) o qual assevera que a globalização ultrapassa as relações político-financeiras, desta forma, recuperando as especificidades e as singularidades dos atores sociais, configuradas e (re)configuradas pelo imaginário social. Tal imaginário está atrelado à capacidade imaginária dos atores sociais como sujeitos históricos de estabelecer seus respectivos valores, instituições tendo como ponto de partida os significados que lhe são atribuídos. E devo salientar que o imaginário cultural permeia as relações intersubjetivas, as quais se tornam lócus em que se pode observa teias de significados imbricados por uma pluralidade de sentidos e valores oriunda do fenômeno da cidade global. Esse fenômeno permite-me como pesquisador observar de forma acurada as implicações raciais e sociais (neste caso particularmente do Brasil e nos Estados Unidos) produzidas pelas mudanças promovidas pela globalização em termos econômico, cultural (potencializado pelos suportes tecnológicos) e político.

Nesse processo de observação, notei de acordo com Fernandes (2006) que há um recrudescimento da discriminação racial e dos preconceitos no processo de percepção “quem é o Outro”, o imigrante, o estrangeiro, o negro. Tais qualificadores levam-me a categoria social do “diferente”, o não branco a qual suscita nos atores sociais (os brasileiros e os estadunidenses)

134 inseridos em uma aldeia global recuperar/ trazer à tona a memória (constructo social, dialógico e histórico) no momento do embate da alteridade qual se constitui por um jogo de imagens, de representações que se materializam diante das desigualdades.

Dando continuidade as implicações engendradas pelo fenômeno da globalização, Held e McGrew (2003, p.04) ponderam que a globalização

Denotes the expanding scale, growing magnitude, speeding up and deepening impact of interregional flows and patterns of social interaction. It refers to a shift or transformation in the scale of human social organization that links distant communities and expands the reach of power relations across the world`s major regions and continents20.

Por outro lado, os autores enfatizam os aspectos negativos da globalização, ao pontuarem que

[...] the rise of the anti-globalization protests demonstrates, it should not be read as prefiguring the emergence of a harmonious world society or as a universal process of global integration in which there is growing convergence of culture and civilizations.. Not only does the awareness of growing interconnectedness create new animosities and conflicts, it can fuel reactionary politics and deep-seated xenophoblia. Since a significant segment of the world´s population is either untouched directly by globalization or remains largely excluded from its benefits, it is arguably a deeply divisive and, consequently, vigorously contested process21. (HELD E MCGREW

(2003, p.04).

Esse preâmbulo, acerca do conceito de globalização, permite-nos, neste momento, desmistificar o pressuposto de que a globalização é o mero produto do capitalismo e da revolução tecnológica, ou, nas palavras de Giddens (1990), a influência da modernidade ocidental disseminada pelo orbe. O fenômeno da globalização ultrapassa a simples rubrica mencionada, uma vez que é considerada um processo que envolve múltiplas facetas: econômica, política e tecnológica as quais engendram um processo transnacionalização que, de forma concomitante, possibilita vislumbrar, por intermédio das relações de poder subjacentes (as quais modelam e remodelam pelo viés neoliberal a capa da invisibilidade da assimetria entre os países) uma dicotomia: cooperação/conflito, integração/fragmentação; exclusão/inclusão; convergência/divergência.

20 Tradução livre: Denota a escala em expansão, o crescimento em magnitude, a aceleração e aprofundamento do impacto inter-regional dos

fluxos e modelos de interação social. Isso refere-se a mudança ou transformação na escala da organização social humana que conecta comunidades distantes e amplia o alcance das relações de poder por meio das grandes regiões e continentes do mundo.

21 Tradução livre: O aumento dos protestos antiglobalização demonstra que não deveria ser compreendido como um prenúncio do surgimento

de uma sociedade mundial harmoniosa ou um processo universal da integração global onde há uma crescente convergência da cultura e civilizações. Não só a consciência da crescente interconectividade cria novas animosidades e conflitos, mas também incentiva políticas reacionárias: xenofobia. Já que um segmento significativo da população mundial não sofre com os impactos da globalização ou mantém-se excluídos de seus benefícios, isto é sem dúvida um grande processo de fragmentação/divisão e, consequentemente, gera protestos

135 Held e McGrew (2003) alerta-nos ao fato de que o conceito de globalização envolve um significante de reconfiguração dos princípios que regulam a vida social e a ordem mundial. E menciona que três aspectos são identificados na discussão teórica sobre o fenômeno da globalização: a reconfiguração do paradigma sócio econômico, territorial, conforme Castells 1996; Dicken 1998, é reconfigurado e reinventado em virtude da conjuntura vivenciada pela sociedade globalizada e de poder. E finaliza ponderando que “by eroding the constraints of space, time and transnational social organization, for instance global production networks and regulatory regimes, while simultaneously making communities in particular vunerable locals to global conditions or developments, as expressed in the events of 11 September 2001 and the

responses to them22”. (HELD E MCGREW 2003, p.07).

Sendo cônscio da relevância de cada um dos aspectos (sócio econômico, territorial e de poder) no processo de globalização, será abordado próximo subitem o aspecto cultural em termos local e global e suas imbricações fomentadas pela tecnologia da informação, a qual rompe barreiras e remodela e reconfigura a questão da territorialidade.