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3. Redes Sociais Virtuais: Conectividade, Interconectividade e Mobilidade

3.3 Globalização, Tecnologia e Mídia

3.2.2 Sistemas Complexos Adaptativos

Sistema é um conjunto inter-relacionado, uma totalidade integrada de partes diferenciadas, formando um todo organizado que propicia a consecução de algum fim a partir de suas interações conjuntas. Isso implica que sua natureza e seu funcionamento não podem ser explicados pela simples análise das unidades ou partes que o compõem. (SANTAELLA 2010, p. 18)

Deve-se ponderar que as propriedades sistêmicas deixam de existir a partir do momento em que o sistema é dissolvido em partes/elementos isolados tanto em termos físicos ou teóricos. Santaella (2010, p. 18) enfatiza que

A descrição é tão geral que tudo, visível ou invisível, o que nos rodeia -um conjunto de partículas que se atraem mutuamente, os sistema solar, um grupo de pessoas de uma organização, um circuito elétrico, um computador, um ser vivo, uma cidade etc. pode ser descrito como um sistema. As entidades de um sistema tanto podem ser moléculas, pessoas, máquinas, objetos, informações quanto mesmo outro sistema, no caso, um subsistema. Existe uma fronteira entre um sistema e o que está fora dele. O que lhe é externo é chamado de meio “ambiente do sistema”.

Tendo como base essa diretriz teórica, pode-se depreender que há sistemas isolados e abertos, este interagem com o ambiente externo, no momento em que se processam entre ambos: trocas de informação que são cognominadas de “inputs” e “outputs”, tais trocas ocorrem por meio dos canais de comunicação. De acordo com Bidarra (2005), as características gerais do sistema abertos são:

145 a) a totalidade do sistema tem características singulares e é superior a soma de seus elementos;

b) os elementos do sistema são interdependentes;

c) os subsistemas e sistema estão relacionados e integrados em uma cadeia;

d) os sistemas desempenham o papel de autorregulação e controle, tendo como objetivo a manutenção de seu equilíbrio;

e) os sistemas conseguem influenciar o meio exterior e vice-versa, por intermédio dos “inputs” e “outputs” de informação e de energia;

f) a capacidade de se metamorfosear em forma adaptativa às mudanças do meio exterior é oriundo da autorregulação dos sistemas e

g) os sistemas conseguem alcançar seus fins por diversos modos.

Deve-se salientar, ao meu coenunciador, que a autorregulação é uma necessidade para a manutenção da ordem e ao combate ao caos, gerando um processo de regulação que implica o processamento e a recepção de informação do “output” acerca do estado do sistema (feedback) e posteriormente a entrada dessa informação no sistema para que desempenhe o papel de correção dos erros (retroacção).

Dando continuidade a descrição dos sistemas, será explicado, ao coenunciador, os sistemas adaptativos complexos os quais permitem avalar e extrair “insights” com a finalidade de compreender as redes sociais. Segundo Rheingold (2004, p.205), as características essenciais são:

a) ausência de controle centralizado imposto; b) natureza autônoma das subunidades; c) alta conectividade entre as subunidades e

d) causalidade em rede não linear de iguais que exercem influência sobre iguais.

As similitudes dessas características/propriedades com o comportamento das redes sociais trazem, à baila, a maneira de acesso, de troca de informações, de ideias, de sentimentos no processo de constituição de nichos e desenvolvimentos de estratagemas. Santaella (2010, p.21) alerta-nos (enunciador e coenunciador) que “estamos rodeados de sistemas complexos por todos os lados” e pondera que “a maioria das coisas que presumimos são sistemas complexos adaptativos que se explicam por meio de parâmetros, e o primeiro deles é a auto- organização”. Essa propriedade, conforme Heylighen (1997), pode ser definida por intermédio da criação espontânea de padrões globalmente coerentes tendo ponto de partida as interações locais. E graças a sua peculiaridade (caráter distributivo, este tipo de organização tem a tendência de ser robusta e resistente a perturbações), a dinâmica desses sistemas, de acordo com

146 Santaella (2010, p.22), é “tipicamente não-linear, em função de relações circulares ou de retroalimentação entre os componentes”. E complementa que

A retroalimentação positiva provoca um crescimento explosivo do sistema que só cessa quando todos os componentes já estiverem absorvidos na nova configuração, o que deixa o sistema em um estado estável, de retroalimentação negativa. São vários estados estáveis dos sistemas não lineares e eles tendem a crescer (bifurcar) na medida em que um aumento do “input” de energia empurra o sistema para longe de seu equilíbrio termodinâmico.

Além disso, segundo Heylighen (1997), de maneira geral um sistema auto-organizativo tem a possibilidade de estabelecer um número de subsistemas autônomos e fechados organizacionalmente, contudo estes subsistemas permanecem a interagir de uma forma direta e enfatiza que

Essas interações tenderão a se estabelecer em configurações “fechadas”, autossuficientes, determinando subsistemas em um nível mais alto da hierarquia que contém os subsistemas originais como componentes. Esses sistemas de alto nível podem interagir até que eles atingem um padrão fechado de interações, definindo assim um sistema de ordem ainda mais alta. (HEYLIGHEN 1997 apud

SANTAELLA 2010, pp. 22/23). E Santaella (2010, p.23) elucida que

[..] os sistemas complexos tendem a apresentar uma arquitetura hierárquica de caixas dentro de caixas (caixas chinesas), nas quais, em cada nível, distingue-se um número de organizações fechadas e relativamente autônomas. Assim é a arquitetura, por exemplo, que vai da célula a um ecossistema. É a membrana de fechamento organizacional que transforma uma coleção de elementos em um todo individual coerente.

Assim, pode-se observar que a totalidade do sistema emerge de sua forma organizacional e não podem ser restritas às propriedades de seus elementos (essa propriedade chamamos de emergentes). Com fulcro em esclarecer a discussão teórica é adequado, neste momento, demonstrar ao coenunciador um exemplo: as redes sociais (sistema complexo, constituídos por elementos discretos, isto é, cada um deles é radicalmente complexo, visto que se trata de seres humanos), em virtude das plataformas que lhes estão disponíveis, conseguem processar, interagir e realizar atos comunicativos em alta velocidade, intensidade e volume. Santaella (2010, pp.23/24) pontua que “essas interações engendram propriedades que os elementos tomados em sua individualidade e discrição não possuem”. E enfatiza que condicionar o “comportamento desses elementos discretos, essas propriedades emergentes irão gerar processos de autoformação de elementos discretos”. Braga (2009) apresenta duas características fundamentais da propriedade emergente:

147 a) imprevisibilidade, em outras palavras, não existe a possibilidade de prever, partindo de um ponto de vista pré-emergente, apesar de conhecer suas respectivas partes e suas leis que regulam/governam as suas interações, as quais serão as propriedades emergentes de sistemas complexos; a autora, sintetiza ponderando que é uma imprevisibilidade ontológica, uma vez que não dependem do sujeito da observação e

b) irredutibilidade, ou seja, as propriedades e as leis emergentes devem ser estudadas pela ciência da complexidade e são irredutíveis às categorias conceituais de ciências específicas.

Tais características fundamentais remetem-nos a pensar acerca das comunidades moveis: blogosfera, redes sociais e as mensagens síncronas (em tempo real) as quais produzem como propriedade emergente, de acordo com Santaella (2010, p.25), “a mente coletiva – um tipo de inteligência gerada pela interação entre os agentes em comunicação”. E assevera que

Trata-se, evidentemente, de uma inteligência que vai ganhando em complexidade na medida em que passa das formigas, cardumes e dos pássaros para os seres humanos, sendo estes o epítome da complexidade e cujas múltiplas interações resultam em capacidades cognitivas amplificadas pelo pensar, agir e sentir em rede.

(SANTAELLA 2010, p.25).

E complementa que

Na cultura digital, a constatação da inteligência coletiva, termo criado por Pierre Lévy (1998), já se tornou um consenso. Outros nomes para essa mesma propriedade emergente são: inteligência emergente (Johnson), “coletivos inteligentes” (Rheingold), “cérebro global” (Heylighen), “sociedade da mente (Minsky), “inteligência (Kerchkhove), “redes inteligentes” (Barabasi) e “pensamento coletivo (Nyiri). Recentemente, essa mesma propriedade vem sendo chamada de “ecologia cognitiva”, termo que preferimos aos outros, pois a palavra “inteligência” está muito sobrecarregada culturalmente com o componente semântico de racionalidade, enquanto “ecologia cognitiva” lembra a diversidade e a mistura entre razão, sentimento, desejo, vontade, afeto e o impulso para a participação, estar junto, cuja força brota do simples fato de que é bom estar junto, ainda mais quando o compartilhamento, a reciprocidade e a cumplicidade não tem outro destino ou finalidade a não ser o puro, singelo e radical prazer de estar junto. (SANTAELLA 2010, pp.25/26)

Sendo assim, pode-se justificar o fomento das SMS e das redes sociais a qual tem como base/estrutura a mobilidade para a comunicação on line, em tempo síncrono, a qual acena como possibilidade da promessa do eterno estar junto. Sendo anuente desse postulado, será discutido na parte III do capitulo III a temática a conectividade, interconectividade e mobilidade no cenário contemporâneo e as suas influências e imbricações nesse cenário diverso e multifacetado em termos cultural, socioeconômico e histórico.

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Parte III

CONECTIVIDADE, INTERCONECTIVIDADE E

MOBILIDADE

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