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Configurando o Atendimento Educacional Especializado

O Atendimento Educacional Especializado é um serviço ofertado pela Educação Especial, sendo parte integrante de todo processo educacional. A sua função consiste em

[...] complementar ou suplementar a formação do aluno por meio da disponibilização de serviços, recursos de acessibilidade e estratégias que eliminem as barreiras para sua plena participação na sociedade e desenvolvimento de sua aprendizagem (BRASIL, 2009, p. 1).

Em geral, dentre as barreiras encontradas nas escolas – arquitetônicas, curriculares e atitudinais – esta última vem se configurando como a mais difícil de ser eliminada.

A respeito do AEE, o Decreto 7.611/2011 estabelece o:

[...] atendimento educacional especializado, compreendido como o conjunto de atividades, recursos de acessibilidade e pedagógicos organizados institucional e continuamente, prestado das seguintes formas:

I – complementar à formação dos estudantes com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento, como apoio permanente e limitado no tempo e na frequência dos estudantes às salas de recursos multifuncionais; ou II – suplementar à formação de estudantes com altas habilidades ou superdotação (BRASIL, 2011, art. 2º. § 1º).

Preferencialmente, o AEE deve ser desenvolvido na chamada Sala de Recursos Multifuncionais (SRM), existente na própria escola ou em outra escola regular da rede pública, mas o atendimento também pode ser realizado em “[...] centro de Atendimento Educacional Especializado da rede pública ou de instituições comunitárias, confessionais ou filantrópicas sem fins lucrativos, conveniadas com a Secretaria de Educação ou órgão equivalente dos Estados, Distrito Federal ou dos Municípios” (BRASIL, 2009, p. 2).

A SRM deve dispor de espaço físico, materiais didáticos, mobiliário adequado, recursos pedagógicos e de acessibilidade e equipamentos específicos para a oferta do Atendimento Educacional Especializado aos alunos público alvo da Educação Especial (BRASIL, 2009).

Nas palavras de Alves (2006), as Salas de Recursos Multifuncionais:

[...] são espaços da escola onde se realiza o atendimento educacional especializado para alunos com necessidades educacionais especiais, por meio do desenvolvimento de estratégias de aprendizagem, centradas em um novo fazer pedagógico que favoreça a construção de conhecimentos pelos alunos, subsidiando-os para que desenvolvam o currículo e participem da vida escolar [...] Esse serviço se realiza em espaço dotado de equipamentos e recursos pedagógicos adequados às necessidades educacionais especiais dos alunos, podendo estender-se a alunos de escolas mais próximas, nas quais ainda não exista esse atendimento. Pode ser realizado individualmente ou em pequenos grupos em horário diferente daquele em que frequentam a classe comum (ALVES, 2006, p.13-14).

A partir dos dados do Censo Escolar/INEP, realizado anualmente em colaboração entre secretarias de educação estaduais e municipais, e escolas públicas e particulares, o MEC/SEESP planeja e organiza novas ações para as escolas que já possuem Salas de Recursos Multifuncionais, como a conversão de salas tipo I e tipo II. Essa distinção de tipos de sala se dá a partir da matrícula de alunos cegos nas classes comuns, diferindo entre si os itens disponíveis, como mostra as tabelas a seguir (01 e 02).

Tabela 01: Itens da Sala Tipo I

Equipamentos Materiais Didático-Pedagógicos

02 microcomputadores 01 Material Dourado

01 Laptop 01 Esquema Corporal

01 Estabilizador 01 Bandinha Rítmica

01 Scanner 01 Tapete Alfabético Encaixado

01 Impressora laser 01 Memória de Numerais I

01 Teclado com colmeia 01 Software Comunicação Alternativa

01 Acionador de pressão 01 Sacolão Criativo Monta Tudo

01Mouse com entrada para

acionador

01 Quebra Cabeças – sequência lógica

01 Lupa eletrônica 01 Dominó de Associação de Ideias

Mobiliários 01 Dominó de Frases

01 Mesa redonda 01 Dominó de Animais em Libras

04 Cadeiras 01 Dominó de Frutas em Libras

01 Mesa para impressora 01 Dominó tátil

01 Armário 01 Alfabeto braile

01 Quadro branco 01 Kit de lupas manuais

02 Mesas para computador 01 Plano inclinado – suporte para leitura

02 Cadeiras 01 Memória Tátil

(BRASIL, 2010, p.11)

A sala tipo II é composta por itens que atendem às necessidades de alunos com deficiência visual (DV). Contém os mesmos itens da sala tipo I, acrescida dos itens a seguir.

Tabela 02: Itens da Sala Tipo II

Equipamentos e Materiais Didático-Pedagógicos 01 Impressora braile – pequeno porte

01 Máquina de datilografia braile 01 Reglete de Mesa

01 Punção 01 Soroban

01 Guia de Assinatura

01 Kit de Desenho Geométrico 01 Calculadora Sonora

(BRASIL, 2010, p.12)

O espaço da SRM foi planejado para eliminar barreiras e promover a autonomia dos alunos público alvo da Educação Especial dentro e fora da escola. Esse público está definido no artigo 4º das nas Diretrizes Operacionais para o Atendimento Educacional Especializado na Educação Básica (2009, p. 17), confome está detalhado no quadro 03:

Quadro 03: Público alvo da Educação Especial

Alunos com deficiência

Aqueles que têm impedimentos de longo prazo de natureza física, intelectual ou sensorial.

Alunos com transtornos globais do

desenvolvimento

Aqueles que apresentam um quadro de

alterações no desenvolvimento

neuropsicomotor, comprometimento nas relações sociais, na comunicação ou estereotipias motoras. Incluem-se nessa definição alunos com autismo10 clássico, síndrome de Asperger, síndrome de Rett, transtorno desintegrativo da infância (psicoses) e transtornos invasivos sem outra especificação.

Alunos com altas habilidades/superdotação

Aqueles que apresentam um potencial elevado e grande envolvimento com as áreas do

conhecimento humano, isoladas ou

combinadas: intelectual, liderança, psicomotora, artes e criatividade.

(BRASIL, 2009; 2015)

10 Lei Nº 12.764 de 2012 - Art. 1, § 2º: A pessoa com transtorno do espectro autista é considerada pessoa com deficiência, para todos os efeitos legais.

Apesar de existirem três “categorias” para alunos público alvo da Educação Especial, vale salientarmos que o professor deve possuir um plano específico para cada aluno - mesmo que mais de um aluno possua a mesma deficiência – pois, para a realização do atendimento, no plano do AEE deve constar: identificação das necessidades educacionais específicas, definição dos recursos necessários e das atividades a serem desenvolvidas, como estabelece o Documento Orientador Programa Implantação Salas de Recursos Multifuncionais (2012). São ainda consideradas matérias do AEE:

[...] Língua Brasileira de Sinais (LIBRAS); interpretação de LIBRAS; ensino de Língua Portuguesa para surdos; código braile; orientação e mobilidade; utilização do soroban; as ajudas técnicas, incluindo informática adaptada; mobilidade e comunicação alternativa/aumentativa; tecnologias assistivas; informática educativa; educação física adaptada; enriquecimento e aprofundamento do repertório de conhecimentos; atividades da vida autônoma e social, entre outras (BRASIL, 2012).

A oferta do Atendimento Educacional Especializado deve acontecer no turno inverso ao da escolarização regular do aluno, ou seja, se o aluno frequenta a sala comum no turno matutino, ele poderá frequentar o AEE no turno vespertino e vice- versa. Esse atendimento pode acontecer de forma individualizada ou em pequenos grupos, organizados pelo professor da Sala de Recursos Multifuncionais, de acordo com o seu cronograma. Além do professor especialista, o AEE também pode contar com outros profissionais da educação, como o tradutor intérprete de LIBRAS, guia- intérprete e outros que atuem no apoio (BRASIL, 2012).

É importante destacar que o AEE é um serviço que complementa e/ou suplementa a escolarização dos alunos, não sendo substitutivo a escolarização comum, a qual tem acesso obrigatório dos 4 aos 17 anos, Ensino Fundamental, como prevê a Constituição Federal, no art. 208, inciso I. Ao contrário da escolarização comum, o AEE é optativo, assim como outros sistemas de apoio, sendo uma escolha do aluno e de seus responsáveis, indicado para suprir e atender às suas especificidades e necessidades.

É importante lembrar que o Atendimento Educacional Especializado não se configura como reforço escolar. Ele não é prestado como repetição dos conteúdos da sala comum, mas, sim, como um conjunto de estratégias para que o aluno

aprenda/compreenda o que se está sendo trabalhado nesta sala. A esse respeito, Alves et al (2006, p. 15) pontuam que o AEE

[...] não pode ser confundido com atividades de mera repetição de conteúdos programáticos desenvolvidos na sala de aula, mas deve constituir um conjunto de procedimentos específicos mediadores do processo de apropriação e produção de conhecimentos.

O profissional responsável pela oferta do AEE para atuar na Educação Especial deve possuir, como base de sua formação inicial, habilitação para docência, assim como ter formação continuada em conhecimentos específicos da área (BRASIL, 2008; 2009; 2012).

Este profissional deve realizar o atendimento, visando complementar e/ou suplementar as necessidades educacionais específicas dos alunos. Para tanto, tem como atribuições estabelecidas nas Diretrizes Operacionais para o Atendimento Educacional Especializado na Educação Básica:

a. Identificar, elaborar, produzir e organizar serviços, recursos pedagógicos, de acessibilidade e estratégias considerando as necessidades específicas dos alunos público-alvo da educação especial; b. Elaborar e executar plano de atendimento educacional especializado, avaliando a funcionalidade e a aplicabilidade dos recursos pedagógicos e de acessibilidade; c. Organizar o tipo e o número de atendimentos aos alunos na sala de recursos multifuncional; d. Acompanhar a funcionalidade e a aplicabilidade dos recursos pedagógicos e de acessibilidade na sala de aula comum do ensino regular, bem como em outros ambientes da escola; e. Estabelecer parcerias com as áreas Inter sensoriais na elaboração de estratégias e na disponibilização de recursos de acessibilidade; f. Orientar professores e famílias sobre os recursos pedagógicos e de acessibilidade utilizados pelo aluno; g. Ensinar e usar recursos de Tecnologia Assistiva, tais como: as tecnologias da informação e comunicação, a comunicação alternativa e aumentativa, a informática acessível, o soroban, os recursos ópticos e não ópticos, os softwares específicos, os códigos e linguagens, as atividades de orientação e mobilidade entre outros; de forma a ampliar habilidades funcionais dos alunos, promovendo autonomia, atividade e participação. h. Estabelecer articulação com os professores da sala de aula comum, visando a disponibilização dos serviços, dos recursos pedagógicos e de acessibilidade e das estratégias que promovem a participação dos alunos nas atividades escolares. i. Promover atividades e espaços de participação da família e a interface com os serviços setoriais da saúde, da assistência social, entre outros (BRASIL, 2009).

É importante mencionar que o professor do AEE é um profissional que não possui regime de dedicação exclusiva, estando na maioria dos casos, atuante no AEE em um turno e, no outro, não exercendo essa função, o que configura uma das

dificuldades em realizar todas as atribuições previstas11 para este profissional, conforme pesquisas realizadas pelo Observatório Nacional de Educação Especial - ONEESP, que foram publicadas no livro Inclusão Escolar em Foco: Organização e Funcionamento do Atendimento Educacional Especializado (MENDES, CIA, VALADÃO, 2015).

É importante lembrar que a proposta de atendimento educacional especilizado deve estar articulada com a proposta pedagógica da sala comum. Dessa maneira, em conformidade com Fernandes et al (2014), deve haver diálogo entre os profissionais dos espaços especializados com vistas a viabilizar as condições necessárias à escolarização dos educandos.

2.3 O ATENDIMENTO EDUCACIONAL ESPECIALIZADO PARA OS SUJEITOS