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O Atendimento Educacional Especializado na visão de Ythalo

4.2 Alunos

4.2.2 O Atendimento Educacional Especializado na visão de Ythalo

Ythalo foi o segundo aluno a ser entrevistado. Em conformidade com sua característica tímida/reservada, respondeu aos nossos questionamentos sempre de maneira objetiva, sem a adição de detalhes em suas respostas.

Quando perguntamos se o aluno gostava de estudar na Sala de Recursos Multifuncionais, ele nos respondeu que sim. Perguntamos por que isso ocorria e ele nos contou que aprendeu “[...] a ler e escrever aqui na sala [SRM]” (YTHALO, 2016). Sobre as atividades que vivenciava na Sala de Recursos Multifuncionais, Ythalo destacou “[...] estudar e aprender o alfabeto”.

A partir da resposta de Ythalo às duas perguntas que lançamos, percebemos que Michele oferecia condições de acesso ao currículo da sala regular, através das atividades desenvolvidas no AEE, como é instituído nas Diretrizes Operacionais para o Atendimento Educacional Especializado na Educação Básica (2009).

Chamamos atenção, ainda, para o reconhecimento do próprio aluno quanto às aprendizagens adquiridas a partir de sua frequência ao serviço, as quais faziam parte do objetivo do AEE elencado por Michele para o educando: alfabetização. Ythalo reconhecia, ainda, que precisava adquirir novas aprendizagens, quando nos

relatou que só aprendeu parte do alfabeto e que ainda “faltava” a aprendizagem sobre os números. Tais conhecimentos eram necessários para que o aluno tivesse acesso às aprendizagens da sala regular que frequentava - o 6º ano.

Procuramos saber, também, se Ythalo considerava que Michele conseguia o ajudá-lo nas aprendizagens e este nos relatou que isso ocorria, que ela realmente conseguia ajudá-lo, ao afirmar: “[...] quando eu não entendo a atividade ela lê, aí respondo. Consigo entender só depois que ela explica. Eu não consigo fazer sozinho [...]” (YTHALO, 2016).

Entendemos que essa ajuda de Michele se constituiu como fundamental para Ythalo, pois era através delas que as suas competências de leitura e escrita estavam sendo desenvolvidas. Para realizar uma atividade, por exemplo, ele necessitava que Michele o ajudasse com a leitura e interpretação do que se devia realizar, para então, executar o que havia sido proposto.

Ainda a respeito da leitura e escrita, Michele nos relatou que Ythalo já reconhecia seu nome, lendo-o ao encontrá-lo em qualquer lugar, assim como já realizava a escrita do mesmo. Pontuou, ainda, que estava iniciando o processo de aquisição da leitura, realizando pequenas leituras, mas que já demonstrava interesse pelos livros de literatura que estavam disponíveis na Sala de Recursos Multifuncionais. Na escrita também tinha apresentado avanços, como pudemos perceber na observação empreendida e já relatada.

De acordo com Severino no prefácio do livro “A importância do ato de ler”, de autoria de Paulo Freire (1989), “[...] aprender a ler, a escrever, alfabetizar-se é, antes de mais nada, aprender a ler o mundo, compreender o seu contexto, não numa manipulação mecânica de palavras, mas numa relação dinâmica que vincula linguagem e realidade”.

Sobre os materiais utilizados durante os atendimentos, o aluno nos contou que fazia uso de coleções (lápis de cor), computador, desenho e livro. Sobre este último, ainda acrescentou “eu leio”, demonstrando mais uma vez como é importante a aquisição dessa competência para si.

Nesse sentido, de acordo com Guedes (1981), a aprendizagem só é reconhecida e aceita quando o aluno percebe a importância do conteúdo informativo

para seus próprios objetivos. Dessa maneira, uma pessoa só aprende significativamente os fatos e as informações que percebem ligados à manutenção e desenvolvimento do “eu”.

Durante a realização da entrevista com Michele, ela pontuou outros recursos para o desenvolvimento das habilidades de Ythalo, como recorte, colagem, traçado das letras e uso do computador. Percebemos, ainda, o uso de materiais como lápis, papel e borracha. Os materiais e recursos ditos por Ythalo e Michele - e percebidos por nós -, indicam o desenvolvimento de um trabalho, além de outros, quanto à coordenação motora fina, de grande importância para a competência da escrita.

A partir do bom desenvolvimento psicomotor, Pinheiro (2010, p. 17) afirma que

[...] o educando terá algumas das capacidades básicas apropriadas para um melhor desempenho escolar. A psicomotricidade se caracteriza como uma área do desenvolvimento humano que se utiliza do movimento para atingir outras capacidades mais elaboradas, como as intelectuais [...] A psicomotricidade é um campo que desenvolve aspectos da coordenação motora, da afetividade e da cognição do educando.

Dessa maneira, com o desenvolvimento de atividades que promoviam o desenvolvimento psicomotor do aluno, Michele contribuiu com as necessidades motoras, afetivas e cognitivas de Ythalo.

Considerando a relação que o AEE deve ter com a sala regular, de acordo com a PNEE-PEI (2008) e com a Resolução CNE/CEB 04/2009, realizamos alguns questionamentos sobre esta e os professores que nela atuam. Perguntamos a Ythalo se os professores da sala regular ensinavam da mesma maneira que a professora Michele, o qual respondeu que os professores responsáveis pelas disciplinas de Matemática e Ciências o ajudavam, explicando.

A partir do discurso do aluno, podemos afirmar que apenas os professores de Matemática e Ciências buscavam incluir Ythalo em suas aulas e que esse aluno se sentia excluído pelos demais professores. Ele era aluno regular do 6º ano do Ensino Fundamental I, ano de ensino em que existem diversos professores responsáveis pela turma, por exemplo, os docentes de Língua Portuguesa, Artes, Geografia e História. Dessa maneira, percebemos que os professores da sala regular

apresentavam dificuldades em compreender o processo de inclusão, ainda que atuassem em uma escola que atendia aos alunos público alvo da Educação Especial, em salas regulares.

Segundo Carvalho (1997), a escola inclusiva tem como desafio transformar a docência, através da adoção na escola de nova pedagogia capaz de oferecer a todos as mesmas oportunidades, de acordo com suas necessidades e possibilidades. A situação vivenciada por Ythalo nos faz entender a necessidade de salientarmos que a deficiência não está na pessoa, mas na situação cultural em que ela se encontra.

Diante disso, indicamos a necessidade formativa desses professores e a urgência da escola, assim como da Secretaria de Educação de Parnamirim/RN, de atentar para as situações de “não inclusão”, de oferecer espaços para formação continuada e de diálogos para que os professores da sala regular possam participar.

Ainda a esse respeito, Machado (2008, p. 72-73) chama a atenção:

Na perspectiva inclusiva e de uma escola de qualidade, os professores não podem duvidar das possibilidades de aprendizagem dos alunos, nem prever quando esses alunos vão aprender. A deficiência de um aluno também não é motivo para que o professor deixe de proporcionar-lhe o melhor das práticas de ensino [...] [o ensino] deve partir da capacidade de aprender desses e dos demais alunos, levando em consideração a pluralidade das manifestações intelectuais.

Sobre Ythalo não se sentir incluído por todos os professores, lembramos de um trecho da nossa entrevista com Michele, quando ela nos contou que o aluno não permanecia todo o tempo em sala de aula, sendo acompanhado por sua auxiliar, também, nesses momentos.

Podemos inferir dois aspectos sobre essa situação: o primeiro é que, pelo fato de Ythalo ter uma auxiliar, os professores não se sentiam responsáveis por ele, pois inferiam que a mesma dava conta das necessidades do aluno, o que é errôneo, pois o papel da auxiliar não é o de única educadora, sem mencionar que o responsável pelo aluno é, ainda, o professor da sala regular. O segundo aspecto se deve ao fato de Ythalo não se sentir incluído em sala, por esse motivo, não desejar permanecer nela. Havia, então, necessidade de existir um olhar da escola sobre os sinais que o aluno vinha demonstrando, buscando entendê-lo e atender às suas necessidades.

Sobre a Sala de Recursos Multifuncionais, o educando destacou sobre o que mais gostava: dos livros do corpo humano, das histórias e do computador. Quando perguntado se gostaria que algo mudasse na SRM, afirmou que “[...] do jeito que está, está bom. Não precisa mudar. Bom”.

A partir da realização da entrevista com Ythalo, percebemos que a SRM tem se constituído em um espaço agradável, composto por elementos e aprendizagens que o satisfazem. A SRM para Ythalo é o espaço na escola em que ele se sentia acolhido, onde existiam recursos e materiais adequados à sua aprendizagem e que tinha a participação de uma docente que lhe possibilitava meios para alcançar as aprendizagens, a partir de suas possibilidades. Em contrapartida, de forma geral, a sala regular não vinha se constituindo em um espaço efetivamente inclusivo, havendo necessidade de serem revistas posturas e procedimentos didáticos- pedagógicos.

4.2.3 O ATENDIMENTO EDUCACIONAL ESPECIALIZADO NA VISÃO DE