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4.1 Professor

4.1.1 Formação

Para atuar no Atendimento Educacional Especializado, como professor, é necessário que o profissional seja detentor de uma formação inicial que o habilite para o exercício da docência. Ao contrário do que pensam alguns, não é apenas o professor licenciado em Pedagogia que pode atuar no AEE, mas, sim, o profissional que possua qualquer licenciatura, por exemplo, ser licenciado em História e Matemática.

Todavia, não basta que o professor seja licenciado, é necessário que ele também possua uma formação continuada específica para a Educação Especial, como estabelece o art. 12 da Resolução CNE/CEB nº 4/2009 e a PNEE-PEI (2008).

Michele, nossa professora investigada, é pedagoga, possui especialização em Psicopedagogia e Psicomotricidade. Referente à primeira, Almeida Junior (2012) pontua que

[...] a presença do psicopedagogo na educação especial é de extrema importância, pois poderá contribuir mediante a um contexto multidisciplinar em um ambiente educacional inclusivo através do atendimento à criança com necessidades educacionais especiais em parceria e/ou com o auxílio de outros profissionais, sejam estes da área educacional, saúde e assistência social incluindo sua família e, englobando satisfatoriamente a escola de ensino regular e os professores, em vista de apoiá-la efetivamente no processo de ensino-aprendizagem e na inclusão desta na sociedade (p. 9, grifo nosso).

Nesse sentido, concordamos com o autor quando este afirma que a atuação do professor, que é psicopedagogo e tem formação na Educação Especial, é algo muito relevante, pois favorece a sua atuação em um contexto multidisciplinar.

As Diretrizes Operacionais para o AEE na Educação Básica (2009), por sua vez, preconizam que os professores responsáveis pelo serviço também devem ficar responsáveis por um trabalho articulado com outros profissionais, assim como com a família.

Art. 9º A elaboração e a execução do plano de AEE são de competência dos professores que atuam na sala de recursos multifuncionais ou centros de AEE, em articulação com os demais professores do ensino regular, com

a participação das famílias e em interface com os demais serviços setoriais da saúde, da assistência social, entre outros necessários ao atendimento.

Conforme a Política Nacional de Educação Especial numa Perspectiva Inclusiva (BRASIL, 2008), o AEE é realizado mediante a atuação de profissionais com formação que contemple conhecimentos específicos sobre: Comunicação alternativa; sistema Braille; orientação e mobilidade; uso do Soroban; ensino da LIBRAS; ensino de Língua Portuguesa para Surdos; Atividades Cognitivas; adequação e produção de materiais didáticos e pedagógicos, dentre outros, com vistas a um aprofundamento e enriquecimento curricular.

Como mencionamos no capítulo 3, mas sem a intenção de sermos redundantes, a professora Michele destacou que buscava realizar formações continuadas, quando revelou realizar uma dessas formações através de leituras, fato que pudemos comprovar algumas vezes ao chegar na Sala de Recursos Multifuncionais, quando a encontrávamos debruçada sobre material bibliográfico e/ou audiovisual, pesquisando sobre um tema específico, enquanto aguardava a chegada do próximo aluno à sala.

Quanto à formação continuada em serviço, a professora Michele participava de momentos formativos oferecidos pelo setor de Educação Especial do município de Parnamirim/RN, no dia de seu planejamento. É importante destacar que essa formação era apenas para os professores do AEE, acontecendo quinzenalmente, segundo um cronograma pré-estabelecido, ou mais vezes quando julgado necessário.

Mesmo reconhecendo a importância da formação para o desenvolvimento profissional, para Imbernón (2006) o desenvolvimento formativo do professor acontece a partir de qualquer ação intencional de aprimoramento de seu fazer pedagógico, com vistas à qualidade de sua atuação.

Compreendemos que a formação continuada é de extrema importância, sendo “[...] entendida como um processo permanente de aperfeiçoamento dos saberes necessários à atividade profissional, realizado após a formação inicial, com o objetivo de assegurar um ensino de melhor qualidade aos educandos” (CHIMENTÃO, 2009, p. 3).

Ainda de acordo com a autora, uma boa formação inicial não é motivo para descartar uma formação continuada, principalmente para os profissionais que já atuam há algum tempo, uma vez o avanço dos conhecimentos e tecnologias demandam aperfeiçoamento contínuo.

Chimentão (2009, p. 9) ainda pontua que “[...] para que realmente a formação continuada atinja ao seu objetivo, precisa ser significativa para o professor”, sendo importante que este a busque, sinta desejo em adquirir novos conhecimentos, reconheça o elo entre a teoria e a prática, elevando seu interesse em participar destes momentos formativos.

Durante a realização da entrevista, verificamos que a professora Michele reconhece que, para sua atuação na Sala de Recursos Multifuncionais, é importante existir um investimento no tocante a sua formação continuada. A esse respeito destaca:

- Precisa, constantemente! Para dar conta da demanda dos ditos “normais”, já há uma grande necessidade, porque nós somos seres humanos e nós somos diferentes. A gente diz isso, a gente repete isso todo dia, que nós somos diferentes, mas, parece que a gente só vê as diferenças nas pessoas que trazem alguma patologia, né? Ou que dependem de algum instrumento para se locomover [...] porque, na verdade, apesar de ser Educação Especial, são alunos com necessidades específicas, né? Cada um, dentro da sua especificidade, há uma necessidade (MICHELE, 2016).

Apesar de empreender estudos, Michele nos revela que não se sente preparada para oferecer o serviço do Atendimento Educacional Especializado para todos os alunos, buscando sempre se aprimorar com este objetivo. Destaca que a falta de preparo não decorre, simplesmente, do fato desses educandos terem uma deficiência, mas, sim, da diversidade humana em si. Sobre isso, expõe:

- A gente tem a consciência de que a gente nunca está pronta, nunca está acabado, né? Então, eu sei que eu preciso adquirir ainda algumas habilidades para favorecer e melhorar, mas eu me empenho, gosto, faço leituras, estou sempre buscando, mas realmente, ainda não estou pronta (MICHELE, 2016).

Dentro das habilidades que Michele ainda não havia adquirido, estavam a Língua Brasileira de Sinais - LIBRAS e o Sistema Braille. O não domínio desses

sistemas específicos de comunicação com pessoas surdas e cegas, respectivamente, se configurava num entrave para a oferta do AEE, especialmente, no momento em que a mesma realizava o atendimento a um aluno que fazia uso da Língua Brasileira de Sinais. Durante este atendimento, a professora recebia o auxílio de Thayla28, instrutora de LIBRAS da escola. Mas – nós nos questionamos – e no que dia que Thayla não puder estar presente na SRM, como esse atendimento acontecerá?

Quanto à apropriação do Sistema Braille, não percebemos uma preocupação de sua parte neste sentido, talvez, devido ao fato de não haver ainda nenhum aluno com deficiência visual matriculado no AEE. Vale lembrarmos que um sistema inclusivo deve estar preparado para receber a todos os alunos, sendo essa preparação realizada o mais breve possível e não apenas com a chegada do aluno.

Acreditamos ser pertinente destacar que essa preocupação com o domínio da LIBRAS e com a apropriação do Sistema Braille deva, também, partir da Secretaria de Educação e do setor responsável pela Educação Especial. Segundo informações recebidas através do setor responsável pela Educação Especial, no município, no segundo semestre de 2015 apenas uma professora responsável pelo Atendimento Educacional Especializado possuía habilidades para atender a alunos com deficiência visual.

É importante destacar que as Diretrizes Operacionais (2009), assim como a Política Nacional de Educação Especial numa Perspectiva Inclusiva (2008), preveem professores que atuam na oferta do AEE a alunos com qualquer deficiência e em qualquer nível de escolaridade, o que - por sua vez - acaba exigindo que o professor seja “multifuncional”. Contudo, estudos como o de Delevati (2012) revelam que o professor atuante no AEE não é “multifuncional”, tão pouco a SRM será realmente produtiva, enquanto não houver mudanças que determinem a transformação das situações vivenciadas no cotidiano escolar, hoje.

Concordamos com a referida autora, quando pontua que, se continuar a existir: a presença de alguns professores de AEE em apenas um turno na escola; a existência de alunos atendidos oriundos de outras escolas; a falta de professores

28 É importante destacar que Thayla não acompanha Gabriel, devido o mesmo, e sua família, não desejar realizar a aprendizagem da LIBRAS.

substitutos para possibilitar que o professor da sala comum possa receber orientações dos profissionais especializados atuantes em seu horário de trabalho ou para participar dos encontros de formação, haverá dificuldades para a efetivação do trabalho a ser empreendido na Sala de Recursos Multifuncionais.