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A sociedade, dinâmica e contemporânea sofre transformações constantes que incidem sobre todos aqueles que a constituem, incluindo as pessoas com deficiência. Historicamente, essas pessoas alcançaram direitos em áreas díspares, a contar com a área educacional.

No Brasil, segundo estudos de Omote (1999), Kassar (2011), Porto (2014), Mantoan (s.d), entre outros, o atendimento das mesmas, voltado a medidas educacionais, aconteceu em três períodos:

1854 A 1956: INICIATIVAS DE CARÁTER PRIVADO

Atendimento clínico especializado, incluindo a educação escolar –

assistência a pessoas com

deficiência mental, física e sensorial. O atendimento foi se constituindo separadamente das crianças sem deficiência; já se constituía de forma paralela à educação regular.

1957 A 1993: AÇÕES OFICIAIS DE ÂMBITO NACIONAL

Serviços públicos de atendimento especializado são oferecidos com maior frequência. Passa-se a considerar a pessoa com deficiência como pessoa de direitos. A Portaria nº 69/86 registra, pela primeira vez, o

uso do termo “atendimento

educacional especializado”.

Posteriormente, a Constituição Brasileira de 1988, no artigo 208, estabelece: “[...] o dever do Estado com a educação será efetivado mediante a garantia de [...]

atendimento educacional

especializado aos portadores de deficiência, preferencialmente na rede regular de ensino”.

1994 AO MOMENTO ATUAL:

AÇÕES VOLTADAS A INCLUSÃO ESCOLAR.

Fortalecimento do paradigma da Inclusão. A Educação Especial ganha forças através de documentos legais e políticas públicas. Passa a haver uma preocupação em garantir que o aluno receba o atendimento especializado e frequente a sala de aula regular, sem que uma seja substitutiva da outra.

É sabido que a escolarização de pessoas com deficiência pode ser considerada recente em termos de políticas e práticas, buscando consolidar-se diariamente em suas garantias e direitos. Trataremos o tema, situando-o a partir do momento em que essas pessoas começaram a ingressar nas escolas regulares.

A partir de meados de 1960 emerge o Paradigma da Integração. Neste, o princípio era integrar o aluno com deficiência à escola regular, aproximando-se ao máximo do ensino oferecido as pessoas sem deficiência. Apesar de representar uma conquista - pois a integração promoveu rupturas de ideias acerca da incapacidade das pessoas com deficiência -, esse movimento mesmo na escola regular, ainda

deixava segregada as pessoas com deficiência. De acordo com Fávero (2007), “[...] na ótica da integração é a pessoa com deficiência que tem de se adaptar à sociedade, e não necessariamente a sociedade é que deve criar condições para evitar a exclusão” (p. 37).

Segundo Mantoan (2006), “[...] o uso da palavra „integração‟ refere-se mais especificamente à inserção de alunos com deficiência nas escolas comuns [...]”, isto porque os alunos deveriam adequar-se ao ensino regular, caso contrário perderiam o direito de estar no ambiente regular e iriam para centros especializados, nos quais conviveriam com pessoas de “iguais condições”.

Uma das dificuldades do sistema integracionista se constituía em não considerar a diferença para os processos de aprendizagem. Não considerando a diferença, excluía o aluno com deficiência do ensino oferecido na escola regular, deixando de lado os trabalhos sobre sua autonomia, cooperação, criatividade e espírito crítico. Neste sentido, Rodrigues (2003), corrobora conosco no momento em que afirma que todos somos diferentes: “[...] não só os alunos são diferentes, mas os professores são também diferentes, e ser diferente é uma característica humana comum, e não um atributo (negativo) de alguns”.

Em 1988, a Constituição da República Federativa do Brasil, promulga em seu artigo 208, inciso III, o “[...] atendimento educacional especializado aos portadores de deficiência, preferencialmente na rede regular de ensino”. O artigo 205 ainda pontua:

[...] a educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho (BRASIL, 1998).

Em outras palavras, o direito de todos à educação é garantido; o Atendimento Educacional Especializado para pessoas que apresentam deficiência, foi assegurado pela Constituição de 1988, assim como a igualdade de condições para o acesso e permanência na escola.

A partir de meados de 1990, um novo paradigma começou a surgir e, assim, “[...] o termo integração começa a perder força, sendo substituído pela ideia de

inclusão, uma vez que o objetivo é incluir, sem distinção, todas as crianças, independentemente de suas habilidades” (ENUMO, 2005, p. 336).

O paradigma da Inclusão compreende as diferenças como algo inerente ao ser humano, tenha ele deficiência ou não. Para tanto, o sistema de ensino deve receber a todos e, a partir dessa compreensão da diferença, promover ajustes para atender e não aguardar a adaptação do aluno a um sistema rígido.

Nessa compreensão de, primeiramente, adaptação da sociedade, Sassaki (2006) define inclusão social como “[...] o processo pelo qual a sociedade se adapta para poder incluir, em seus sistemas sociais gerais, pessoas com necessidades especiais e, simultaneamente, estas se preparam para assumir seus papéis na sociedade” (p.39).

A escola inclusiva deve ter uma nova visão do aluno, de quem ele é, e ser nova escola, rompendo com o fazer antigo, dando lugar ao novo. Envolve uma nova concepção sobre ensinar e aprender para incluir a todos os alunos.

Glat (1995) considera que, no Brasil, o modelo de inclusão, na prática, ainda não se configura como uma proposta educacional amplamente difundida e compartilhada. Mesmo que nos últimos anos tenham sido realizadas boas experiências, a grande maioria das redes de ensino ainda carece de condições institucionais necessárias para sua viabilização.

Dessa maneira, reconhece-se que a inclusão escolar é um processo ainda não estabelecido em sua totalidade. Para que se efetue não basta o amparo através de leis e decretos, mas, sim, um preparo da escola como um todo, em sua arquitetura, em seu currículo, em suas práticas educacionais e na postura de aceitação das pessoas acerca das pessoas com deficiência no espaço escolar. A inclusão não é meramente o acesso à escola, mas, sim, a garantia de permanência na mesma, com qualidade (MIRANDA, 2003; SILVA et al, 2014).

O movimento da Inclusão apoiou-se, legalmente, na Declaração de Salamanca, publicada em 1994, a qual destaca o termo Necessidades Educacionais Especiais (surgido dentro de movimento da Integração) e acresce o público alvo:

[...] aquelas crianças ou jovens cujas necessidades educacionais especiais se originam em função de deficiências ou dificuldades de aprendizagem.

Muitas crianças experimentam dificuldades de aprendizagem e, portanto, possuem necessidades educacionais especiais em algum ponto durante sua escolarização (BRASIL, 1994).

No que diz respeito aos fatores relativos à escola, este documento ainda dispõe que uma rede contínua de apoio deve ser providenciada para as crianças com necessidades educacionais especiais, oferecendo desde a ajuda mínima na classe comum, até programas de apoio à aprendizagem dentro da escola regular (ibidem).

A partir desses documentos, a Inclusão ganhou forças no tocante a aspectos teóricos e práticos no Brasil, que impulsionaram garantias legais quanto à educação de pessoas com deficiência.

A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional – LDBEN, de 1996, vem agregar a garantia de direitos à educação das pessoas com deficiência, assegurando-lhes o direito ao Atendimento Educacional Especializado nos artigos 58, 59 e 60.

Esta Lei entende por Educação Especial “[...] a modalidade de educação escolar oferecida preferencialmente na rede regular de ensino, para educandos com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades ou superdotação” (art. 58). Em outras palavras, a Educação Especial é uma modalidade de ensino que perpassa por todas as etapas do ensino básico e superior, complementando e/ou suplementando a aprendizagem dos alunos, conforme a necessidade.

De acordo com o artigo 58, inciso 2º, “O atendimento educacional9

será feito em classes, escolas ou serviços especializados, sempre que, em função das condições específicas dos alunos, não for possível a sua Integração nas classes comuns de ensino regular” (art. 58, § 2º). Isso quer dizer que, quando houver necessidade de complementar e/ou suplementar a aprendizagem, de fazer uso de materiais e recursos específicos, os alunos público-alvo da Educação Especial poderão ter acesso à oferta do AEE, mas sem deixar de frequentar a sala regular, pois esse serviço não é substitutivo a escolarização comum.

9 “Atendimento especializado” e “serviços de apoio especializado” são usados como termos equivalente a Atendimento Educacional Especializado.

Outro importante documento é a Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva (2008), elaborada pelo MEC, que visa “[...] constituir políticas públicas promotoras de uma educação de qualidade para todos os estudantes” (BRASIL, 2008, p. 1).

De acordo com este documento, para que a inclusão escolar seja vivenciada,

[...] os sistemas de ensino devem organizar as condições de acesso aos espaços, aos recursos pedagógicos e à comunicação que favoreçam a promoção da aprendizagem e a valorização das diferenças, de forma a atender as necessidades educacionais de todos os estudantes. A acessibilidade deve ser assegurada mediante a eliminação de barreiras arquitetônicas, urbanísticas, na edificação – incluindo instalações, equipamentos e mobiliários – e nos transportes escolares, bem como as barreiras nas comunicações e informações (BRASIL, 2008).

Destacamos, ainda, a Resolução CNE/CEB 04/2009, que institui as Diretrizes Operacionais para o Atendimento Educacional Especializado na Educação Básica, e as Orientações para implementação da Política de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva (2015) como documentos importantes para o funcionamento do AEE.

Mas, o que é o Atendimento Educacional Especializado? Onde ocorre? Quem é o seu público alvo? Como é ofertado? Quem é o professor do AEE? Vamos responder a estes importantes questionamentos, ainda que de maneira sucinta já tenhamos mencionado alguns aspectos a respeito, no texto introdutório.