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Durante a realização da nossa pesquisa contamos com a participação de 4 (quatro) sujeitos: 1 (uma) professora e 3 (três) alunos do Atendimento Educacional

19 Braille é o sistema de leitura para cegos baseado em 64 símbolos em relevo, resultantes da combinação de até seis pontos.

Especializado. Organizamos, no quadro a seguir (04), algumas informações sobre estes sujeitos20.

Quadro 04: Informações gerais sobre os sujeitos da pesquisa.

Nome Função Idade Sexo Série Escola

regular

Turno AEE

Michele Professora 45 anos F Não se

aplica Escola Municipal da Aprendizagem Matutino e Vespertino

Bia Aluna 10 anos F 4º ano Outra escola21 Vespertino

Ythalo Aluno 13 anos M 7º ano Escola

Municipal da Aprendizagem

Vespertino

Gabriel Aluno 11 anos M 6º ano Escola

Municipal da Aprendizagem

Vespertino

Fonte: Arquivo da pesquisadora (2016)

Michele22 é a professora do Atendimento Educacional Especializado da Escola Municipal da Aprendizagem. Tem formação em Pedagogia e Pós-graduação em Psicopedagogia e Psicomotricidade, em nível de especialização. No momento da realização de nossa investigação realizava formação continuada com base em leituras, formações promovidas pelo Setor de Educação Especial do município de Parnamirim/RN e em eventos acadêmicos na área da Educação Inclusiva, pois acreditava que, para o professor do AEE realizar o atendimento de maneira adequada, deve estar em formação constante (CARVALHO; MELO, 2015).

Fomos bem recebidas pela professora, que se mostrou sempre solícita aos nossos questionamentos. Concordou em participar da pesquisa, permitindo-nos conhecer o desenvolvimento do seu trabalho e selecionar os demais sujeitos da pesquisa: os alunos do AEE. Também nos apresentou os registros dos alunos e os materiais que a sala possuia.

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Para melhor compreensão quando for necessária uma retomada rápida para esclarecimento no texto 21 Refere-se a uma das escolas que é filiada à escola polo da pesquisa.

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A professora tinha bastante experiência com alunos público-alvo da Educação Especial, desde o início da sua carreira. Ela relata a respeito:

- Eu tive escola por 25 anos. Então, antes, muito antes de se falar em processo de inclusão, na nossa escola, nós já tínhamos eles [alunos com necessidades educacionais especiais]. Tinha aluno que necessitava de cadeira de rodas para circular, tinha aluno com síndrome de Down – na Educação Infantil -, tinha aluno com TDH, tinha aluno com Autismo [...] diante do comportamento da criança eu fui percebendo e “divulguei” [para] a família, orientei a busca” (MICHELE, 2016).

Atuante nos turnos matutino e vespertino, ela atendia, em média, acerca de 40 alunos, individualmente ou em pequenos grupos, devido à grande demanda. Na Sala de Recursos Multifuncionais atuava por volta de 1 (um) ano e meio. Michele nos contou que desejava realizar o trabalho na SRM e, quando soube que existia a vaga para professor do AEE, buscou preenchê-la.

A partir das funções previstas para o professor do Atendimento Educacional Especializado, a professora expõe, durante a entrevista, algumas dificuldades, como o contato com os professores da sala regular dos alunos atendidos na Sala de Recursos Multifuncionais. Detalharemos tais aspectos no capítulo 4.

Bia é uma menina alegre e sorridente de 10 anos de idade. No ano de realização da nossa pesquisa, cursava o 4º ano do Ensino Fundamental I, no turno matutino, em outra escola, que não era a qual realizávamos a pesquisa, pois, conforme destacamos anteriormente, a Escola Municipal da Aprendizagem se caracteriza como uma escola polo, pois atendia aos alunos público alvo da Educação Especial no AEE de outras duas escolas, além dos alunos que estão nela matriculados.

As dificuldades que Bia apresentava foram investigadas por seus familiares e há 4 (quatro) anos possuía laudo médico, com diagnóstico pontuando Deficiência Intelectual (DI), CID 10 F70. Além do atendimento na Sala de Recursos Multifuncionais, recebia atendimentos complementares com fonoaudiólogo, neurologista, psiquiatra e psicóloga.

Frequentava a Sala de Recursos Multifuncionais na Escola Municipal da Aprendizagem desde maio de 2016. Nela, demonstrava estar à vontade, conhecer o

espaço e possuir um bom vínculo afetivo com a professora. Sua frequência ao AEE era satisfatória, faltando apenas em situações especiais, por exemplo, quando ia para consultas médicas. Era sempre acompanhada pela genitora, a qual, segundo a professora, era dedicada às necessidades da filha, sempre buscando ajudar e tirar dúvidas quanto à escolarização e inclusão, de forma geral.

Para Bia, o Atendimento Educacional Especializado tinha como principal objetivo o seu desenvolvimento quanto à alfabetização - leitura e escrita, como pontuado pela professora da SRM. A própria aluna, durante a realização da entrevista, revelou a consolidação desse objetivo, quando mencionou já ter aprendido a ler e a escrever o alfabeto.

De acordo com Ferreiro (1985), ao ler uma criança tem a possibilidade de pensar, duvidar, imaginar, interagir, questionar, desenvolver seu potencial crítico, dentre outras habilidades.

Ythalo também participou de nossa pesquisa, demonstrando ser uma criança reservada. Interagiu quando solicitado, sendo sempre objetivo em suas falas, apresentando poucos momentos de iniciativa própria para estabelecer diálogo. Era estudante do 7º ano do Ensino Fundamental II, na Escola Municipal da Aprendizagem, tinha 13 anos de idade e frequentava o Atendimento Educacional Especializado regularmente e, quando faltava, apresentava motivos justificados.

Sua genitora o acompanhava durante os atendimentos na SRM, assim como nos demais atendimentos complementares, com psicólogo e terapeuta. Seu laudo médico era do ano de 2013 e constava, dentre outras, informações como: microcefalia23, atrofia cerebral24, atraso neuropsicomotor e neuropatia degenerativa não progressiva de etiologia ambiental.

Ythalo possuia outros problemas de saúde, que dificultavam sua frequência à escola, como, por exemplo, a diabetes. Em decorrência da diabetes, houve o

23 Microcefalia – é uma malformação congênita, em que o cérebro não se desenvolve de maneira adequada. Cerca de 90% das microcefalias estão associadas com retardo mental, exceto nas de origem familiar, que podem ter o desenvolvimento cognitivo normal. O tipo e o nível de gravidade da sequela vão variar caso a caso. Disponível em: < http://portalsaude.saude.gov.br/index.php/links-de-interesse/1225-zika/21854-a- microcefalia-pode-levar-a-obito-ou-deixar-sequelas> . Acesso em: 29 jul 2017.

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Atrofia cerebral é uma situação em que o cérebro sofre uma redução de seu volume devido à morte parcial de suas células, os neurônios, afetando suas capacidades para realizar as atividades diárias de aprendizagem e de memória. Os seus sintomas da dependem da área do cérebro afetada. Disponível em: <https://medicoresponde.com.br/o-que-e-atrofia-cerebral/>. Acesso em: 29 jul. 2017.

desenvolvimento da neuropatia, a qual se caracteriza como uma doença do sistema nervoso. Esta doença traz, como sintomas, dores musculares e, no caso de Ythalo, as dores estão apresentadas como torcicolo e problemas na coluna, o que acarreta uma má postura do aluno. Em decorrência disso, observamos que ele caminhava de maneira curvada.

A presença de dores frequentes fazia com que Ythalo, por vezes, faltesse às aulas na escola regular e também ao Atendimento Educacional Especializado, pois o uso de medicamentos para combater essas dores o deixava sonolento, prejudicando sua qualidade de vida, tanto no ambiente escolar, como fora dele. Embora não tenhamos a intenção de detalhar aspectos relativos à sua situação de saúde, organizamos um esquema visual (figura 06), detalhado a seguir, para melhor compreensão do que foi dito a respeito desta particularidade do aluno.

Figura 06: Esquema visual para neuropatia – Ythalo.

Fonte: Arquivo da pesquisadora (2016)

Para Ythalo, assim como para Bia, o AEE tinha como principal objetivo a alfabetização das diferentes linguagens, além do próprio reconhecimento - autoestima. O aluno, durante a entrevista, pontuou suas aprendizagens quanto à

escrita do nome próprio e à aprendizagem do alfabeto, assim como o seu desejo relativo à aprendizagem da leitura escrita e dos numerais.

A professora Michele usava como recursos, durante o atendimento, livros, computador, dentre outros materiais didáticos e, como estratégias, realizava recortes, colagens, traçado das letras e trabalhos relativos à sequência lógica.

Gabriel foi nosso terceiro aluno participante da pesquisa. Mesmo demonstrando características de timidez, nos ofereceu sorrisos e uma boa interação. Aos 11 anos de idade, estava matriculado na Escola Municipal da Aprendizagem, cursando o 6º ano do Ensino Fundamental II.

A dificuldade que levou Gabriel ao Atendimento Educacional Especializado foi percebida pelos familiares. Desde os 4 (quatro) anos de idade possuia laudo médico, pontuando sua necessidade na CID 10 4903 – deficiência auditiva, com perda irreversível. Atualmente, possuia atendimento, além do AEE, com fonoaudiólogo, psicólogo e, ainda, aulas de reforço escolar.

Vale salientarmos, também, que o aluno era acompanhado, através de atendimentos pelo SUVAG/RN, o qual

[...] é uma instituição filantrópica que há 35 anos trabalha voltada à promoção da saúde auditiva, visando à prevenção, o diagnóstico da surdez e a reabilitação da audição e da fala de pessoas com deficiência auditiva, favorecendo a inclusão delas na sociedade. Ao chegar ao SUVAG, o paciente, é atendido por uma equipe multidisciplinar formada por médicos. Ao se confirmar o diagnóstico da surdez, os profissionais, em conjunto, avaliam a possibilidade de inserir o paciente na reabilitação (SUVAG, 2017).

Apesar de vir perdendo sua audição progressivamente, Gabriel não tinha iniciado a aprendizagem da Língua Brasileira de Sinais (LIBRAS), nem na sala de aula regular, nem no AEE, tão pouco em seus atendimentos complementares. Isso se deve ao motivo dos seus familiares, assim como do próprio aluno não se reconhecer como surdo, mas, sim, como deficiente auditivo, que – até o momento da investigação - oralizava e ouvia com a ajuda de aparelho.

Cabe ressaltarmos que nem todas as pessoas que apresentam surdez integram a Cultura Surda, por não se identificarem como pessoas surdas. A escolha familiar da linguagem a ser utilizada com a criança surda é influenciada pela

condição dos pais – surdos ou ouvintes – pelo grau de perda auditiva da criança, dentre outros fatores (FARRELL, 2008).

Todavia, cabe pontuarmos que a deficiência auditiva de Gabriel é progressiva, ou seja, pouco a pouco a audição irá desaparecendo, até chegar ao momento em que o uso de aparelhos não será suficiente. Neste sentido, é importante que seja iniciado o ensino da Língua de Sinais Brasileira – LIBRAS, tanto no ambiente escolar (sala regular e AEE), como nos atendimentos complementares.

Gabriel fazia uso do Implante Coclear (IC), o qual

[...] é uma prótese eletrônica introduzida cirurgicamente na orelha interna. Beneficia pacientes portadores de surdez severa e profunda bilateral que apresentam pouco ou nenhum benefício com próteses auditivas convencionais. Ao contrário da prótese auditiva convencional, o IC capta a onda sonora e transforma-a em impulso elétrico estimulando diretamente o nervo coclear (BENTO; NETO; SANCHEZ, 2001, p. 131).

Os implantes cocleares podem ser usados sozinhos ou com aparelhos auditivos. No caso de Gabriel, ele utiliza das duas formas, a depender da situação. O aparelho auditivo utilizado por Gabriel, junto ao implante coclear, é o Sistema FM25, o qual consiste em

[...] um transmissor e um receptor. O transmissor, que deve estar situado próximo à fonte sonora, possui um microfone que capta o sinal via frequência modulada e envia diretamente ao receptor que estará acoplado ao aparelho auditivo [...] com o Sistema FM, o sinal é enviado sem fio diretamente ao aparelho auditivo. Assim, a intensidade e qualidade do som permanecem constantes mesmo com a distância entre o locutor e o indivíduo com deficiência auditiva (ARGOSY, 2017).

Em outras palavras, utilizando como exemplo a realidade, Gabriel entregava aos professores, em suas respectivas aulas, o transmissor, o qual possui um microfone. O aluno ficava com o receptor, unido ao aparelho auditivo. Na figura abaixo (07), situamos o aparelho do sistema FM e exemplo de seu uso.

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Figura 07: Aparelho Sistema FM.

Fonte: Google imagens26 (2017)

Gabriel participava do Atendimento Educacional Especializado, o qual tinha como principal objetivo, elencado pela professora, as aprendizagens matemáticas, as quais se configuravam como suas maiores dificuldades para as aprendizagens na sala regular. Para além, a professora Michele também desenvolvia a mediação do AEE visando o desenvolvimento das habilidades de leitura e interpretação. Durante a entrevista, o aluno afirmou já ter aprendido as operações de adição e subtração na SRM.

Gabriel, ainda, demonstrava satisfação em estar frequentando o AEE, afirmando que gosta de estar na sala e “[...] de pegar no lápis e fazer as contas (as operações) ” (GABRIEL, 2016).

Assim como pudemos ouvir durante as entrevistas, estudos como o de Fernandes (2013) revelam que os alunos que frequentam o Atendimento Educacional Especializado demonstram satisfação em participar do serviço.

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Site:

https://www.google.com.br/search?q=sistema+fm&client=opera&hs=06K&source=lnms&tbm=isch&sa=X&ved =0ahUKEwjTgYO1zc_TAhWBGZAKHcswBecQ_AUICigB&biw=1366&bih=659

Destacamos que todos os alunos sujeitos da pesquisa frequentavam a sala de aula regular no turno matutino e o Atendimento Educacional Especializado no turno vespertino. O atendimento era realizado duas vezes por semana27, com duração de 50 minutos cada atendimento. As informações aqui expostas foram resultado das observações, das entrevistas com os alunos e professora do AEE, além de uma conversa com o responsável pelos alunos, a título de esclarecimento de algumas informações.