2.3 Gestão do Conhecimento
2.3.1 Conhecimento
Diante do atual cenário econômico, o conhecimento tornou-se a fonte segura de vantagem competitiva. Nonaka (1991, p.27) afirma que, “numa economia onde a única certeza é a incerteza, apenas o conhecimento é fonte segura de vantagem competitiva. No entanto, poucos gerentes compreendem a verdadeira natureza da empresa que cria conhecimentos – e muito menos sabem gerenciá-la”.
O conhecimento, portanto, tornou-se uma fonte de poder. De acordo com Toffer (1990), o conhecimento é a mais democrática fonte de poder e seu controle é o ponto crucial da futura luta mundial pelo poder em todas as organizações humanas.
Para o empreendedorismo o conhecimento é fonte de riqueza. “A inovação baseada no conhecimento é a ‘superestrela’ do espírito empreendedor. Ela ganha publicidade. Ela ganha dinheiro. Ela é o que as pessoas normalmente querem dizer quando falam sobre inovação” (DRUCKER, 2011, p 149). E para inovar a partir do conhecimento, normalmente, é preciso contar com a convergência de vários tipos de conhecimento, entre eles os científico e tecnológico.
Para a cidadania, conhecimento significa consciência. “A base instrumental da consciência crítica e criativa, para melhor intervir na realidade como sujeito capaz de conduzir seu destino, dentro das circunstâncias externas dadas” (DEMO, 2009, p.53).
Para a competitividade, conhecimento é inovação. “Conhecimento significa a fonte essencial de inovação e competência formal dos recursos humanos” (DEMO, 2009, p.53).
De acordo com a ONU, educação e conhecimento formam o eixo da transformação produtiva com equidade, o fator fundamental da cidadania e da competitividade. Sendo o desenvolvimento humano sustentado como questão de oportunidade, a maneira mais competente de a fazer é manejar e construir conhecimento (DEMO, 2009).
Na educação, o conhecimento é ensinado. Edgar Morin (2002) elaborou uma revisão do relatório da UNESCO sobre a educação para o século XXI, coordenado em 1998 por Jacques Delors, e apontou sete tipos de saberes necessários à educação do futuro: 1.As cegueiras do conhecimento: o erro e a ilusão; 2. Os princípios do conhecimento pertinente; 3. Ensinar a condição humana; 4. Ensinar a identidade terrena; 5. Enfrentar as incertezas; 6. Ensinar a compreensão e 7. A ética do gênero humano. Entre os sete saberes, o conhecimento deve ser tratado como necessidade primeira de cada cidadão e é essencial para a formação humana e crítica da sociedade.
Para o ensino superior, conhecimento deve ser promovido nas universidades. “A universidade poderia ser uma das instituições mais relevantes da sociedade e da economia, desde que fosse o lugar privilegiado da construção do conhecimento e da educação de novas gerações” (DEMO, 2009, p. 52).
Mas o que é esse tão desejado conhecimento?
Embora ainda não exista um consenso sobre a sua definição, alguns autores buscam formar um conceito comparando dados, informação e conhecimento. Para Davenport e Prusak (1998), os dados por si só têm pouca relevância ou propósito e representam um conjunto de fatos distintos e objetivos. As informações, refletem o significado da palavra ‘informar’ que quer dizer ‘dar forma a’. Por isso considera-se que as informações têm por finalidade influenciar o receptor provocando mudanças a sua perspectiva e insights. Elas devem informar para fazer a diferença. E o conhecimento não é puro nem simples.
Conhecimento é uma mistura fluida de experiências condensadas, valores, informação contextual e insight experimentado, a qual proporciona uma
Figura 4 - Ciclo de aprendizagem.
estrutura para a avaliação e incorporação de novas experiências e informações. Ele tem origem e é aplicado na mente dos conhecedores. Nas organizações, ele costuma estar embutido não só em documentos ou repositórios, mas também em rotinas, processos, práticas e normas organizacionais (DAVENPORT; PRUSAK, 1998, p. 6).
Dados, informações, conhecimento e sabedoria possuem conceitos diferentes, mas estão relacionados entre si. Na análise de Child (2000), o conhecimento deve ser diferenciado de dados e informação, pois os dados são elementos brutos, a informação é uma etapa subsequente que passa a permitir que interferências sejam feitas e o conhecimento tem um maior valor agregado, uma vez que permite que a informação seja considerada e revista criticamente com referência ao contexto de sua aplicabilidade. Já a experiência com a aplicação do conhecimento leva à sabedoria, no sentido de que uma avaliação feita sobre quando e de que forma o conhecimento pode ser aplicado, especialmente em face a situações não usuais.
Esta abordagem pode ser representada conforme a figura apresentada abaixo.
Fonte: Kolb (1984) e Child (2001).
O conhecimento também pode ser considerado como algo voltado para ação. Como afirma Sveiby (1998), o conhecimento é tácito, orientado para ação, sustentado por regras e está em constante mutação.
A teoria da gestão do conhecimento considera a dimensão ontológica e da dimensão epistemológica do conhecimento. Takeuchi e Nonaka (2008), afirmam que ontologia relaciona- se aos indivíduos e a epistemologia em tipos de conhecimento.
A dimensão ontológica parte do princípio de que todo conhecimento é produzido pelos indivíduos. De acordo com Tschá (2011, p. 36), “uma organização não pode criar conhecimento sem os indivíduos, este é um processo que amplia organizacionalmente o conhecimento criado individualmente e o cristaliza como parte da rede de conhecimentos da organização”.
Para a epistemologia, o conhecimento está dividido em tácito e explícito. De acordo com Takeuchi e Nonaka (2009), existem dois tipos de conhecimento que são: o conhecimento tácito e o conhecimento explícito.
[...] o conhecimento em si é formado por dois componentes dicotômicos e aparentemente opostos – isto é, o conhecimento explícito e o conhecimento tácito.
O conhecimento explícito pode ser expresso em palavras, números ou sons, e compartilhado na forma de dados, fórmulas científicas, recursos visuais, fitas de áudio, especificações de produtos ou manuais. O conhecimento explícito pode ser rapidamente transmitido aos indivíduos, formal e sistematicamente. O conhecimento tácito, por outro lado, não é facilmente visível e explicável. Pelo contrário, é altamente pessoal e difícil de formalizar, tornando-se de comunicação e compartilhamento dificultosos. As instituições e os palpites subjetivos estão sob a rubrica do conhecimento tácito. O conhecimento tácito está profundamente enraizado nas ações e na experiência corporal do indivíduo, assim como nos ideais, valores ou emoções que ele incorpora (TAKEUCHI; NONAKA, 2009, p.19).
Em suma, o conhecimento explícito é formal e sistemático. Ele é o ponto final do processo. Já o conhecimento tácito é altamente pessoal, se encontra profundamente arraigado na ação e no comprometimento do indivíduo com determinado contexto, consiste em parte de habilidade técnica e tem importante dimensão cognitiva (NONAKA, 1991).
Estas diferenças entre os conhecimentos tácito e explícito são apresentadas com mais detalhes no quadro a seguir.
Quadro 13 - Diferenças entre Conhecimento Tácito e Conhecimento Explícito.
Conhecimento Tácito Conhecimento Explícito
Subjetivo Objetivo
Da experiência (corpo) Da racionalidade (mente) Simultâneo (aqui e agora) Sequencial (lá e então)
Análogo (prático) Digital (teoria)
Envolvem: percepções, modelos mentais, emoções, crenças, valores, ideais
Envolve conhecimentos de fato
É adquirido principalmente pela prática É adquirido principalmente pelas informações Difícil de expressar e transmitir por métodos
sistemáticos ou lógicos
Facilmente expresso em palavras e números
Difícil de articular, codificar e formalizar Facilmente articulado, codificado e formalizado De difícil compartilhamento, exigindo participação
e envolvimento.
Facilmente compartilhado. Fonte: TSCHÁ (2011, p. 37) adaptado de Nonaka e Takeuchi (1997, p. 67)
De acordo com a epistemologia sul, ou Teoria do Conhecimento, o conhecimento é crença verdadeira justificada (NONAKA; TAKEUCHI, 1995) e todos os saberes, ou conhecimentos, são válidos e dignos, o que implica dizer que “nenhum saber poderá ser desqualificado antes de
ter sido posta à prova a sua pertinência e validade em condições situadas” (NUNES, 2010, p.279).
O conhecimento pode ser aprendido e compartilhado. Para Peter Senge (The fifth discipline, 2000), é possível aprender a aprender e esta será uma das maiores necessidades apresentadas pelas organizações nesta nova sociedade do conhecimento.
Para Garvin (1993, p.63), “as empresas devem analisar seus sucessos e fracassos, avaliá-los de maneira sistemática e registrar os ensinamentos de modo aberto e acessível para os empregados”. Esse processo, que foca nas possíveis formas de tornar o conhecimento aberto e acessível para a empresa, foi sistematizado na Espiral do Conhecimento, elaborada por Nonaka e Takeuchi e descrita com maiores detalhes a seguir.