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Nesta seção é dada a resposta para o segundo objetivo específico identificando-se o entendimento dos empreendedores Y sobre gestão do conhecimento.

Para análise de conteúdo desse objetivo, foi elaborada uma categorização. Nela, as categorias gerais foram: gestão do conhecimento e o conhecimento. As categorias empíricas foram divididas em criação do conhecimento, compartilhamento do conhecimento, uso do conhecimento, dados, informações e sabedoria. Já as subcategorias são: intenção, autonomia, flutuação e caos criativo, redundância, variedade, tácito e explícito.

O quadro abaixo foi elaborado para apresentar essa categorização.

Quadro 22 - Categorização do Objetivo Específico 2: Identificar o entendimento dos empreendedores Y sobre Gestão do Conhecimento.

Categorias

Gerais Empíricas Subcategorias

Gestão do Conhecimento: conjunto de processos adotados para gerenciar o conhecimento acumulado de funcionários, a fim de transformá-los em ativos da empresa, fazendo com que os conhecimentos (tácito e explícito) tornem-se disponíveis para outras pessoas.

Criação do conhecimento: fruto da interação entre conhecimentos.

Intenção: é definida como as aspirações da organização às suas metas.

Autonomia: refere-se à autonomia dada aos membros de uma

organização, os quais devem ter permissão para agir autonomamente até onde permitam as circunstâncias. Flutuação e caos criativo: representam uma ordem cujo padrão é difícil de prever inicialmente. Eles estimulam a interação entre a

organização e o ambiente externo.

Redundância: é a existência de informação que vai além das exigências operacionais imediatas dos membros da organização.

Requisito variedade: a variedade pode ser realçada pela combinação de

informações de maneiras diferentes, flexíveis e rápidas para toda organização.

Compartilhamento do conhecimento: resultado dos processos de conversão do conhecimento. Uso do conhecimento: aplicabilidades dos conhecimentos adquiridos. Conhecimento: É crença verdadeira

justificada. É fonte de poder. É uma mistura fluida de experiências condensadas, valores, informação contextual e insight experimentado, a qual proporciona uma estrutura para a avaliação e

incorporação de novas experiências e informações.

Dados: têm pouca relevância ou propósito e representam um conjunto de fatos distintos e objetivos. Informações: têm por finalidade influenciar o receptor provocando

mudanças a sua perspectiva e insights. Conhecimento: é uma mistura fluida de experiências condensadas, valores, informação contextual e insight experimentado, a qual proporciona uma estrutura para a avaliação e

incorporação de novas experiências e informações.

Tácito: não é facilmente visível e explicável. São intuições, práticas, princípios.

Explícito: é fácil transmitir. Pode ser expresso em palavras, números ou sons, e compartilhado na forma de dados, fórmulas científicas, recursos visuais, fitas de áudio, especificações de produtos ou manuais. Sabedoria: a experiência

com a aplicação do conhecimento. Fonte: Elaboração própria (2013).

Gestão do conhecimento é uma ferramenta essencial para o empreendedorismo. De acordo com Nonaka e Takeuchi (1998), gestão do conhecimento é um conjunto de processos adotados para gerenciar o conhecimento acumulado de funcionários, a fim de transformá-los em ativos da empresa, fazendo com que os conhecimentos (tácito e explícito) se tornem disponíveis para outras pessoas.

A gestão do conhecimento foi dividida em 3 categorias empíricas, foram elas: criação do conhecimento, compartilhamento do conhecimento e uso do conhecimento. A seguir, cada uma delas será discutida.

A criação do conhecimento, que, de acordo com Nonaka e Takeuchi (2008), é fruto da interação entre os conhecimentos tácitos e explícitos. Ela pode ser estimulada por meio de cinco fatores,

são eles: intenção, autonomia, flutuação e caos criativo, redundância e variedade (NONAKA E TAKEUCHI, 2008).

A intenção para criação do conhecimento está relacionada com as metas do empreendimento. Para Nonaka e Takeuchi (2008), ela é definida como as aspirações da organização às suas metas. No Papo de Universitário observa-se que existe uma coerência, entre os entrevistado, a respeito das metas do empreendimento. Esse fator é evidenciado nas falas abaixo:

A gente tenta trazer tudo o que falta para a pessoa (estudante). Se a pessoa sente que tá faltando um curso de liderança, a gente tenta trazer um especialista dessa área para pode orientá-los. Esses são os palestrantes. Como acontece no Fórum de Jovens Líderes (Entrevistado A).

[O Papo] Busca formas de enriquecer o conhecimento para o seu público, como foco em encaminhá-lo para o seu crescimento profissional, coisas que normalmente não são abordadas em sala de aula (Entrevistado C).

Conhecimento. A gente tem uma lacuna muito grande de conhecimento na graduação e o Papo tenta levar educação empreendedora, educação criativa, educação financeira para os universitários saírem mais capacitados (Entrevistado B).

Crescimento pessoal e profissional, autoconhecimento (Entrevistado D). Construir informações de extensão que possam criar um diferencial competitivo na graduação. A ideia é que o estudante universitário ele possa encontrar no Papo o que ele não encontra na faculdade (Entrevistado E). Essas evidências demonstram que, a partir das informações coletadas com o público alvo do Papo de Universitário, seus integrantes elaboram metas e executam suas atividades entendendo onde querem chegar. Dessa forma há a evidência da intenção para criação do conhecimento proposta por Nonaka e Takeuchi (2008).

A autonomia para criação do conhecimento refere-se à autonomia dada aos membros de uma organização, os quais devem ter permissão para agir autonomamente até onde permitam as circunstâncias (NONAKA; TAKEUCHI, 2008).

No Papo de Universitário essa autonomia é percebida nos entrevistados, pois os mesmos afirmam que a liderança no Papo é situacional e todos têm liberdade para agir e liderar, deste que suas ações estejam alinhadas com as metas do trabalho. Um exemplo observado durante o desenvolvimento do evento 3º Fórum de Jovens Líderes, foi que enquanto o Entrevistado B

tinha autonomia para escolher os palestrantes, o Entrevistado D tinha autonomia para desenvolver a logística, os entrevistado A e C tinham autonomia para direcionar o marketing, no entanto, vale ressaltar que eles sempre mantinham contato para conectar as ações por meio de reuniões e telefonemas. Esse fator também foi analisado na seção 4.2.1.1.

No entanto, isso nem sempre aconteceu e já é fruto do amadurecimento da organização, pois os entrevistados também afirmaram que o líder costumava ser muito centralizador. Por esse motivo os demais não tinham tanta autonomia.

A flutuação e o caos criativo representam uma ordem cujo padrão é difícil de prever inicialmente. Para Nonaka e Takeuchi (2008), eles estimulam a interação entre a organização e o ambiente externo. Os momentos de caos são observados com frequência no Papo de Universitário devido ao rápido crescimento da plataforma do empreendimento. Em apenas 3 anos de atividade o Papo conta com um livro publicado, site, fanpage, revista, 3 eventos grandes (Papo de Universitário, CPEJE e Fórum de Jovens Líderes), palestras itinerantes e um programa de TV. Embora esse crescimento tenha sido considerado bom, registrou-se que em 2013 o CPEJE teve o menor público dos últimos anos.

Por esses motivos, a equipe precisou ser ampliada e o seu fundador foi forçado a delegar mais funções e responsabilidades. Assim, foi gerada uma flutuação na qual, corroborando o que dizem Nonaka e Takeuchi (2008), os novos membros e a nova estrutura provocaram uma decomposição de rotinas e hábitos. Sobre esses acontecimentos, os entrevistados relatam que perceberam as seguintes diferenças:

A organização. Nosso chefe era muito centralizador, ele centralizava todo o trabalho. Hoje ele tá aprendendo a delegar funções. E eu acho que colaborei com isso, com feedbacks (Entrevistado A).

Organizacional, mais foco nos objetivos (Entrevistado C).

A gente tem ouvido mais o mercado. E a gente tá percebendo que ainda tá nadando no oceano azul, ainda (Entrevistado E).

A profissionalização. A gente tem conseguido deixar a coisa mais profissional. Antes era tudo muito de cabeça, muito empírico e hoje eu já consegui elaborar uma planilha para gerenciar tudo. Eu acho que o principal é isso, organizar a casa para cada um saber o que cada um faz, porque antes todo mundo era tudo e agora todo mundo tá fixo e tem um cargo (Entrevistado B).

Cresceram os contatos. Mas o Papo, empresa, não mudou muito em termos de profissionalismo (Entrevistado D).

De acordo com as falas apresentadas, percebe-se que todos os entrevistados sentiram as flutuações e o caos criativo, apresentados por Nonaka e Takeuchi (2008), ao demonstrarem ter percebido as mudanças, a falta de ordem para um evento inesperado, ou que tenha acontecido antes do tempo previsto e que, com o tempo, aprenderam a lidar.

O fator redundância, subcategoria do processo de criação de conhecimento, favorece o compartilhamento do conhecimento tácito. Ela é a existência de informação que vai além das exigências operacionais imediatas dos membros da organização (NONAKA; TAKEUCHI, 2008). Tal redundância é observada tanto em reuniões internas do Papo de Universitário, como em palestras ministradas pelos membros. Exemplos disso são apresentados enquanto cada membro compartilha com os outros, durante as reuniões de avaliação, o que fizeram e deu certo e o que fizeram que deu erro. Percebe-se que apesar dos atritos que são gerados durante esses momentos, os observados acabam fortalecendo seus laços e analisando melhor seus papéis na organização.

O requisito variedade sugere que o maior número de informações estejam rapidamente disponíveis para todos os membros da organização. Essa variedade pode ser realçada pela combinação de informações de maneiras diferentes, flexíveis e rápidas para toda organização (NONAKA; TAKEUCHI, 2008).

No Papo de Universitário, esse requisito tem sido alcançado sem muitos problemas. A equipe ainda é pequena, conta oficialmente com 5 membros responsáveis diretos pela mesma, e todos eles estão conectados diariamente, seja por meio de e-mail compartilhados, telefonemas, whatsapp, grupo fechado no facebook e reuniões presenciais.

O compartilhamento de conhecimento é resultado dos processos de conversão do conhecimento (NONAKA; TAKEUCHI, 2008). Sobre o compartilhamento do conhecimento, o Entrevistado E diz que:

[...] Na minha cabeça, não faz sentido não compartilhar informação. Reter informação, sonegar informação, reter informação privilegiada, sabe? O que eu compartilho com os meninos do Papo, eu compartilho com qualquer pessoa que me procure. E o livro gratuito foi uma forma de fazer isso, o projeto é uma forma de fazer isso, os eventos, tudo é uma forma de fazer isso. Eu gosto de falar as coisas para quem quer ouvir, sabe? E não tem formação e informação

melhor pra quem é do que pra quem não é não [do Papo]. Eu penso isso, penso que a gente é hoje, mas não é amanhã [...] Eu passo a informação toda para a galera que tá com a gente, da mesma forma que poderia passar a informação para qualquer pessoa que me procure (Entrevistado E).

Com essa fala analisa-se que compartilhar conhecimento é um dos focos do empreendimento. Cabe ressaltar que o empreendimento estudado direciona suas atividades para serviços educacionais e para viabilizar tais atividades, os mesmos constantemente compartilham o que aprenderam, o que ora é conhecimento tácito, ora é explícito.

O uso do conhecimento torna o conhecimento mais significativo. E, segundo Nonaka e Takeuchi (2008), refere-se a aplicabilidade dos conhecimentos adquiridos. O Entrevistado E dá um exemplo desse processo ao falar que:

Na graduação em computação eu percebi que eu podia interferir na realidade. Na graduação em psicologia eu percebi que poderia ajudar as pessoas a se ajudarem e a se tornar a melhor versão delas mesmas (Entrevistado E). O conhecimento adquirido no empreendimento estudado (Papo de Universitário) tem sido aplicado para organização interna, como apresentado em um dos depoimentos do Entrevistado B, citado anteriormente, e também como fonte de elaboração de produtos e serviços. Esse requisito é apresentado no depoimento abaixo:

Era muito fácil também transformar um livro em evento, consequentemente era muito fácil transformar um livro e um evento num site, e que também era muito fácil transformar um livro, um evento e um site numa revista e um programa de tv. Tinha muito conteúdo e a gente transformou numa plataforma (Entrevistado E).

De acordo com as evidências apresentadas por meio das falas do entrevistado E, analisa-se que os conhecimentos adquiridos com as experiências vividas estão sendo empregados na sua atuação empreendedora, conforme sugerido pela teoria de Nonaka e Takeuchi (2008).

Ao analisar esses 5 requisitos apresentados até aqui, conclui-se que o Papo de Universitário apresenta um ambiente propício para a criação, compartilhamento e uso do conhecimento.

A próxima categoria analisada é o conhecimento. Ele e sua relação com dados, informações e sabedoria.

O conhecimento possui um significado diferente para cada pessoa que o interpreta. Para Nonaka e Takeuchi (1995), conhecimento é crença verdadeira justificada. Quando perguntado sobre o que é o conhecimento, o entrevistado A respondeu:

Conhecimento é como se fosse uma caixinha de surpresas na sua vida. Você nunca vai ter todo o conhecimento do mundo dentro de você. Conhecimento hoje é muito importante. Principalmente o conhecimento educacional, o conhecimento social e o profissional. Quanto mais conhecimento, mais portas estão abertas (Entrevistado A).

Nesse depoimento, observa-se que o entrevistado reconhece que nunca saberá de tudo e que o conhecimento é importante para abrir as portas, ou oportunidades.

A maioria dos entrevistados enfatizou o conhecimento associado à prática, ou seja, o conhecimento tácito. O conhecimento tácito, segundo Nonaka e Takeuchi (2008), não é facilmente visível ou explicável, são intuições, práticas e princípios. Essa afirmação é validada com os seguintes registros:

Conhecimento é informação aplicada. Porque não faz sentindo eu saber de uma coisa que não boto em prática. Conhecimento é prático (Entrevistado E). Conhecimento é o conteúdo que a gente tem para desenvolver as atividades (Entrevistado B).

Foi o que eu conquistei praticando cada atividade e que me deram a base e o conhecimento muito importantes para eu ter visão. (Pensamento) É parte do C.H.A. eu tenho conhecimento, tenho habilidades e tenho atitude para fazer tudo aquilo (Entrevistado D).

Eu tenho os dados ali, que são diferentes da prática. A prática já é o conhecimento (Entrevistado D).

Os entrevistados também estabeleceram uma diferença entre o conceito de dados, informações, conhecimento e sabedoria. Corroborando, por meio das falas abaixo, o ciclo de aprendizagem defendido por Kolb (1984) e Child (2001), no qual os dados são brutos e sem significados, as informações surgem quando agrega-se sentido aos dados, o conhecimento é resultado da interação e análise das informações e a sabedoria reflete a experiência adquirida com o uso dos conhecimentos.

Além disso, também concordaram com a sequência estabelecida por Kolb (1984) e Child (2001): dados > informações > conhecimento > sabedoria. Esse fato é apresentado nos depoimentos abaixo.

Acho que existem diferenças [entre dados, informações, conhecimento e sabedoria], mas todos estão relacionados. A sabedoria ficaria em último lugar, porque sem os dados e as informações, você não adquire conhecimento e sem conhecimento você não tem sabedoria (Entrevistado A).

Acho que existe diferença entre eles. Eu tenho um dado, por exemplo, 70% do público dos nossos eventos é composto por mulheres. Tá, mas o que eu vou fazer com isso? Informação. Que é algo mais detalhado. [...] e sabedoria é o que você fez com aquilo que ficou. Sabedoria é quando você liga os pontos. E eu acho que tem uma ordem, a ordem é dado, informação, conhecimento e sabedoria (Entrevistado E).

Acho que existe sim diferença. Entre dados e informação eu nem sei, talvez não tenham muita diferença, mas conhecimento são os dados que você consegue reter e conseguir com a experiência, aquilo que é seu. E a sabedoria é como você usa isso (Entrevistado B).

A sequência é informação, conhecimento e sabedoria (Entrevistado B). Quando perguntados sobre de que maneira a gestão do conhecimento auxilia na criação de novos empreendimentos, os entrevistados deram os seguintes depoimentos:

A gestão do conhecimento, partindo de um ponto de vista crítico, auxilia bastante o desenvolvimento do empreendimento. Porque quando você presta atenção e avalia de uma forma crítica, um empreendimento que já existe, você vai encontrar o que falta nele, as falhas dele, você vai buscar se aquela sua ideia é um jeito de suprir essas faltas, essas falhas (Entrevistado A).

Compartilhando conhecimento, surgem mais opiniões, novas ideias. Dessa forma empreendimentos são criados e com a gestão do conhecimento organizamos o trabalho e auxilia-se na administração e identificação de gastos (Entrevistado C).

Auxilia sim, é o que vai ajudar a conhecer o mercado (Entrevistado D). Não é só uma questão de adquirir conhecimento, é muito mais de conectar os pontos. Pontos e pessoas. Porque implantar novos processos, novas ideias, não é um trabalho individual. De um ciência só. Eu acho que é muito mais de você ter o feeling para perceber que tudo é muito similar e que você precisa conectar outras pessoas que têm um complemento de habilidades que você não tem. Esse é o segredo. É você se juntar com pessoas que são boas naquilo que você é ruim, mas com foco, com objetivo (Entrevistado E).

Diante dos achados, observa-se que os entrevistados acreditam que a gestão do conhecimento é fundamental para a criação de novos empreendimentos. Esta afirmação é corroborada por Peter Drucker (2011), quando o mesmo apresenta o conhecimento como a super estrela da inovação empreendedora.

Após identificar o entendimento dos empreendedores sobre a gestão do conhecimento, a próxima seção apresenta os modos de conversão do conhecimento que são utilizados pelos mesmos.