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Conjuntos temáticos e água 76 

2.6 ÁGUA E INDICADORES DE SUSTENTABILIDADE 75 

2.6.2 Conjuntos temáticos e água 76 

O conjunto temático de indicadores proposto pela EEA abordou a questão da água especificamente em um tema, que foi desdobrado em sete indicadores, cujos dados deveriam ser coletados com freqüência anual. Os três primeiros indicadores estavam restritos à água doce: i) uso proporcional, definido pela razão entre médias anuais de abstração total e de disponibilidade renovável; ii) substâncias consumidoras de oxigênio, composto pela demanda bioquímica de oxigênio (DBO) e pela concentração total de amônia nos rios; e iii) nutrientes, integrado pelas concentrações de ortofosfatos e nitratos em rios, fósforo total e nitratos em lagos e nitratos em águas subterrâneas. Dois outros indicadores abordavam tanto a água doce quanto a água salgada: i) qualidade para banho, mediante o atendimento a padrões microbiológicos e físico-químicos definidos pela Diretiva Européia de Água para Banho (EEC 76/160); e ii) nutrientes em águas de transição, costeiras e marítimas, definido pelas concentrações de nitratos e fosfatos no período de inverno. As águas de transição, costeiras e marítimas foram contempladas ainda com o indicador de clorofila durante o verão, representativo da concentração superficial de nitrogênio e fosfato no fitoplâncton. Por fim, um último indicador adotado foi o tratamento de esgotos urbanos, definido como a porcentagem da população conectada a estações de tratamento primário, secundário ou terciário de efluentes (EEA, 2005). Para a EEA (2004), os sete indicadores tinham um papel fundamental na implantação da Diretiva-Quadro da Água (DQA), ajudando a garantir taxas de extração sustentáveis no longo prazo, promovendo a sustentabilidade do uso do recurso, prevenindo deteriorações futuras e protegendo o estado dos ecossistemas aquáticos.

Nos indicadores temáticos da OCDE, em relação à água, haviam sido abordadas tanto questões de poluição quanto de gestão. Tais indicadores deveriam ser aplicados para enfrentar o desafio da gestão sustentável do recurso, evitando a super-exploração e a degradação e mantendo a oferta adequada de água doce de qualidade aceitável para uso humano e para suportar os ecossistemas. Dessa forma, a OCDE (2005) elencou quatro indicadores específicos para a questão hídrica: i) qualidade dos rios, definida em função de teores de oxigênio dissolvido e de nitrato em cursos de água representativos; ii) tratamento de efluentes, como relação percentual entre a população conectada a tratamento público secundário ou terciário de efluentes e a população conectada ótima, definida por especificidades locais; iii) intensidade do uso, expressa pela retirada bruta de água superficial e subterrânea per capita e como percentual dos recursos renováveis totais; e iv) preço domiciliar de água, expresso em dólares por metro cúbico de água tratada disponível a consumidores domiciliares finais. A OCDE (2005) apontou ser importante que os indicadores fossem utilizados apenas como uma ferramenta auxiliar para revelar tendências e identificar aspectos particulares em tarefas de análise e avaliação. Assim, interpretações posteriores eram requeridas para obter-se um significado mais amplo abrangendo, por exemplo, a ação de forças motrizes e a relevância do contexto local, cultural e histórico.

Um dos 14 temas apresentados pela ONU (2007) foi chamado de Água doce, para o qual foram estabelecidas relações primárias ou próprias com cinco indicadores, agrupados em dois subtemas: Quantidade de água e Qualidade da água. Assim como todos os outros 91 indicadores propostos, os cinco foram também classificados como sendo ou núcleos (core) ou periféricos. Os indicadores-núcleo se diferenciavam dos periféricos porque atendiam simultaneamente aos critérios de relevância para a maioria dos países-membros da ONU, de provimento de informações críticas não disponíveis a partir de outros indicadores e de possibilidade de mensuração a partir de dados que poderiam ser obtidos a um custo razoável.

Para o subtema Quantidade de água foram definidos, pela ONU (2007), dois IDS, ambos classificados como indicadores-núcleo: Proporção utilizada dos recursos hídricos totais e Intensidade de uso da água por atividade econômica. Para o outro subtema, o indicador Presença de coliformes fecais na água doce foi classificado como núcleo e os indicadores Demanda bioquímica de oxigênio nos corpos de água e Proporção de efluentes tratados foram definidos como pertencentes à classe dos periféricos.

Ainda que tenha considerado um agrupamento temático de indicadores, a ONU (2007) enfatizou a natureza multidimensional e integrada do desenvolvimento sustentável e argumentou que vários IDS eram adequados para a criação de vínculos inter-temáticos. Os vínculos foram destacados pelo reconhecimento da existência, além de relações primárias, de relações secundárias entre indicadores e temas. Para ser reconhecida como secundária, uma relação deveria existir entre um tema e um indicador que já havia sido escolhido como primário para outro tema. O estabelecimento de relação secundária passava, dessa forma, a caracterizar um indicador como primário ou como secundário, em função da consideração de um ou de outro tema. Dessa forma, a sustentabilidade, sob a perspectiva do tema Água doce, poderia ser avaliada, para a ONU (2007), a partir dos cinco indicadores primários, já citados, e de outros 18 IDS secundários. Uma representação gráfica das relações e dos indicadores primários e secundários que foram definidos para o tema é apresentada na Figura 1, adaptada de ONU (2007), na qual os IDS classificados como indicadores-núcleo estão grafados em negrito. Nessa figura, as setas largas representam as relações primárias entre temas e indicadores e as estreitas ilustram as secundárias.

Sub-tema Agricultura

Sub-tema Geração e gestão de resíduos

Sub-tema: Água costeira

Sub-tema Qualidade da água Sub-tema: Condições de moradia

Sub-tema: Água potável

Sub-tema Quantidade de água Sub-tema: Saneamento

Tema Água fresca

Tema Território Tema Biodiversidade

Tema Consumo e produção

Temas Saúde e pobreza

Tema Oceanos, mares e costa Sub-tema: Espécies

Sub-tema: Ecossistemas Sub-tema Estado e uso do

território

Sub-tema Desertificação • Área de agricultura orgânica • Uso eficiente de fertilizantes • Uso de pesticidas

• Mudança no uso do território • Degradação do território • Território afetado pela desertificação

• Proporção utilizada dos recursos hídricos • Intensidade de uso por atividade econômica • Geração de resíduos

perigosos • Presença de coliformes

fecais

• Demanda bioquímica de oxigênio

• Proporção de efluentes tratados

• População com saneamento melhorado

• População com fonte melhorada de água • Moradia urbana precária

• População em áreas costeiras

• Qualidade da água para banho • Estado de ameaça a espécies • Espécies invasoras alienígenas • Abundância de espécies-chave

• Áreas terrestres protegidas • Área de ecossistemas-chave • Gestão de áreas protegidas

Figura 1 - IDS primários e secundários para o tema Água doce

Fonte: ONU - Organização das Nações Unidas. Indicators of sustainable development: guidelines and methodologies. 3. ed. Nova Iorque: ONU, 2007. 93 p.

O conjunto de indicadores integrantes da proposta apresentada pela ONU (2007) foi considerado como pertinente para ser utilizado nas tarefas para alcançar os objetivos do presente trabalho. Esses objetivos envolveram a consideração de duas distintas escalas geográficas de gestão: uma definida por limites de uma bacia hidrográfica e outra definida também segundo fronteiras administrativas.