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3.5 COMITÊ DE BACIA SEINE-NORMANDIE 107 

3.5.7 Perspectiva de tempo 130 

De acordo com o Relatório Brundland, o desenvolvimento sustentável é “aquele desenvolvimento capaz de satisfazer as necessidades presentes, sem comprometer a capacidade das gerações futuras de suprir suas próprias necessidades" (ONU, 1987). Com o intuito de avaliar como a gestão pelo Comitê e as classes evoluíram no tocante ao horizonte temporal do desenvolvimento sustentável, cada um dos comentários foi codificado como tendo perspectiva de tempo: i) presente, quando expressava uma preocupação com o presente ou com o passado; ou ii) futuro, quando expressava uma inquietação com o que ainda iria ocorrer. Segundo Bursztyn (2001), a sustentabilidade pressupunha solidariedade. Residia aí, segundo o autor, um imenso desafio: reduzir as desigualdades intra-geracionais, pela promoção da justiça social, e ao mesmo tempo, evitar uma degradação ambiental que implicasse em desigualdades inter-geracionais. A solidariedade com aqueles que ainda iriam nascer tratava do direito a um meio ambiente que permitiria sobreviver no futuro com uma qualidade de vida não inferior àquela encontrada no presente.

Em 565 dos 695 comentários codificados haviam sido abordadas questões com perspectiva presente e, no restante, foi tratado do futuro. O questionário-guia apresentado no Apêndice A foi aplicado na codificação dos comentários quanto à perspectiva temporal. A Tabela 10 traz os valores %tct da relação entre o número de comentários mencionando um dado horizonte temporal ncpc e o total de comentários por Presidência e por classe. Em todos os Mandatos Presidenciais, os comentários com perspectiva presente foram citados pelo CBSN em maior número de vezes do que aqueles com horizonte futuro. Os valores de %tct, para os comentários codificados como futuro, variaram entre o mínimo de 5% e o máximo de 38% do total. Os valores apresentaram uma alta contínua da 1a até a 3a

Presidência, de 11% para 33% e para 38%. A partir da 4a Presidência os valores caíram

para 5%, tiveram uma elevação até 19% e novamente caíram para 12% no derradeiro Mandato.

Tabela 10 - Distribuição dos comentários por Presidência, classe e perspectiva de tempo

Presidência Tempo 1a 2a 3a 4a 5a 6a Classe ncpc %tct ncpc %tct ncpc %tct ncpc %tct ncpc %tct ncpc %tct Presente Coletividades 18 90 25 78 18 42 36 92 23 100 38 90 Usuários 17 100 23 59 27 82 21 91 25 96 42 86 Estado 12 80 14 58 18 75 13 87 28 90 33 85 Agência 8 80 18 72 9 53 35 85 39 95 25 93 Comitê 55 89 80 67 72 62 105 89 115 95 138 88 Futuro Coletividades 2 10 7 22 25 58 3 8 0 0 4 10 Usuários 0 0 16 41 6 18 2 9 1 4 7 14 Estado 3 20 10 42 6 25 2 13 3 10 6 15 Agência 2 20 7 28 8 47 6 15 2 5 2 7 Comitê 7 11 40 33 45 38 13 11 6 5 19 12

Fonte: Dados compilados pelo autor.

A distribuição dos comentários por classe mostrou que a maior variação de %tct havia ocorrido nos comentários feitos pela Coletividades que tratou, durante a 3a Presidência,

mais do futuro do que do presente. A classe com menor variação de %tct foi a Estado, com uma variação de 32 pontos percentuais entre o máximo e o mínimo de comentários com horizonte presente. As classes Usuários e Agência apresentaram variações de %tct próximas, em torno de 42%, e com mínimos e máximos em torno de 60% e de 100%. O Gráfico 2 ilustra a evolução dos comentários com perspectiva de tempo futuro.

0 10 20 30 40 50 60 1a 2a 3a 4a 5a 6a %tc p fu tu ro Presidência Coletividades Usuários Estado Agência Comitê

Gráfico 2 - Distribuição por Presidência dos comentários com perspectiva de tempo futuro Fonte: Dados compilados pelo autor.

Os comentários codificados por perspectiva temporal serviram para uma avaliação da evolução das crenças expressas pelos participantes do Comitê e das classes. Na Tabela 11 estão apresentados os resultados das médias aritméticas das crenças, segundo a estrutura de Likert adotada, por Presidência, por classe e por horizonte temporal. Testes estatísticos de Shapiro-Wilk e Kolmogorov-Smirnov permitiram descartar as hipóteses de que os valores seguiam distribuições normais. Dessa forma, o método aplicado para verificar as hipóteses de igualdade das médias foi o teste de Kruskal-Wallis, com nível de significância de 5%. Os resultados dos testes mostraram que em nenhuma das duas perspectivas o Comitê havia evoluído quanto às crenças. Quanto à perspectiva futura, a mesma constatação permanecia válida, sendo que a variação das crenças entre as Presidências havia sido menor do que dentro de cada um dos Mandatos.

Tabela 11 - Médias das crenças por Presidência, classe e perspectiva de tempo Tempo Presidência K-W Classe 1a 2a 3a 4a 5a 6a (0,05) Presente Coletividades 2,0 2,1 2,2 2,2 1,8 2,0 n/s Usuários 2,5 2,0 1,8 2,7 2,0 1,8 n/s Estado 2,0 2,1 2,7 1,8 2,0 2,5 n/s Agência 3,0 1,7 2,6 3,0 2,9 2,8 d/e Comitê 2,3 2,0 2,2 2,5 2,3 2,2 n/s Futuro Coletividades 4,0 3,9 4,0 2,3 - 1,0 n/s Usuários - 2,6 3,3 2,0 1,0 2,7 n/s Estado 3,7 4,8 4,3 3,0 3,0 4,3 n/s Agência 3,0 5,0 2,8 4,7 3,0 3,0 n/s Comitê 3,6 3,8 3,7 3,5 2,7 2,9 n/s

As médias das crenças dos comentários com perspectiva presente feitos pelos participantes da classe Agência apresentam diferenças estatísticas. Os testes de K-W confirmaram que a 2a Presidência foi caracterizada por possuir uma média diferente das

demais. No 1o, e do 3o ao 6o Mandatos, as médias das crenças da Agência eram iguais

entre si e estavam mais próximas da incerteza quanto à existência de problema ou ao impacto sobre a sustentabilidade. A média para o 2o Mandato, de forma distinta, indicou que

esse havia sido um período no qual os participantes da Agência expressaram a crença na existência, no momento presente ou no passado, de problema ou em impacto negativo para a sustentabilidade

A Lei de 1992 teve influência sobre a gestão da política pelo Comitê, no tocante às menções sobre o futuro. Tal influência foi marcante nas 2a e 3a Presidências,

correspondentes aos anos entre 1990 e 1996, conforme mostrado no Gráfico 2. Em 16 de junho de 1992, Sauvadet confirmou que a Lei da Água de 1992 havia forçado o Comitê a evoluir e a incorporar responsabilidades, como a elaboração e o acompanhamento do SDAGE. Maurice Legendre, representante da categoria Coletividades, declarou, no encontro de 29 de setembro de 1993, que a aprovação do Sexto-Programa havia confirmado que a solidariedade entre os membros do Comitê superava interesses de curto prazo. Segundo apresentou Sauvadet, na Plenária de 8 de dezembro de 1993, o SDAGE era um dispositivo de organização de ações no qual se propunha ultrapassar os limites da abordagem setorial, considerando ações de longo prazo para defesa do conjunto de ecossistemas. Michel Delprat, representante da categoria Coletividades, declarou, no dia 29 de junho de 1995, que somente uma política ambiciosa de preservação e restauração do bom funcionamento dos meios aquáticos permitiria resolver os problemas de qualidade e de quantidade de água no longo prazo (CBSN, 2005, 16 jul. 1992; 29 set. 1993; 8 dez. 1993; 29 jun. 1995).

Não foram identificadas, na literatura e documentação consultadas, citações dos participantes que permitissem rejeitar ou confirmar a influência da DQA sobre a evolução da gestão pelo Comitê, no que se referia à perspectiva de tempo.