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4.5 ÁGUA DOCE: INDICADORES PRIMÁRIOS 169 

4.5.1 Quantidade de água 169 

Dois indicadores foram definidos pela ONU (2007) para o subtema Quantidade de água: a proporção utilizada dos recursos hídricos totais e a intensidade de uso da água por atividade econômica. A proporção utilizada indicava escassez ou abundância de água para atender demandas da sociedade. A ONU (2007) definiu o IDS como a relação entre o volume de água subterrânea e de superfície captado anualmente para uso humano na agricultura, moradias e indústrias, e o volume total de água renovável disponível pelo ciclo hidrológico. A escassez hídrica seria um alerta de vulnerabilidade e podia ter efeitos

negativos na sustentabilidade, restringindo desenvolvimento econômico e regional e podendo causar perda de biodiversidade.

Os entrevistados integrantes da amostra construída para análise da política distrital da água expressaram ter como crença que a proporção utilizada era alta. A visão de futuro era a de um aumento na proporção, com demandas crescentes para produção de água potável e de estabilidade nas captações para fins agrícolas ou industriais. Os impactos identificados tinham natureza social e econômica. Durantes as entrevistas foram descritas, no entanto, diferenças regionais no consumo final de água potável. Em regiões habitacionais de alto poder aquisitivo, caracterizadas por moradias com amplos jardins, o consumo de água por habitante era maior do que em regiões de baixa renda. Conforme descrito por um dos entrevistados, representante dos usuários, o volume de água captada para fins de fabricação de água potável aumentava a cada dia, acompanhando o crescimento populacional observado em praticamente toda a Capital Federal. Apesar de reconhecer diferenças regionais e sociais no consumo, o entrevistado afirmou que isso tinha pouca importância desde que considerada a integração entre bacias hidrográficas, realizada pela CAESB. Como exemplo foi citado o caso da captação de água bruta na bacia do Descoberto, cujo consumo ocorria na bacia do Paranoá. O entrevistado descreveu que entendia o problema da alta proporção a partir de outro ponto de vista: o sazonal. O problema da escassez seria considerável apenas durante o período de estiagem, entre maio e outubro, quando praticamente não chovia em Brasília, causando rebaixamento de lençóis freáticos e reduções nas vazões dos cursos de água de superfície.

As crenças expressas nas entrevistas eram pertinentes com valores estimados a partir de mensurações de disponibilidade e demanda que subsidiaram a elaboração do PGIRH. GOLDER-FAHMA (2006) estimou, a partir de dados coletados em 38 estações fluviométricas, que a vazão média de longo termo, dos rios do Distrito Federal e do entorno imediato, correspondia a um volume de 149 m3/s ou 4,7 quilômetros cúbicos por ano (km3/ano). A área considerada para a estimativa foi de 8.764 km2, o que implicou em uma

vazão especifica igual a 17,0 litros por segundo por quilômetro quadrado (l/s.km2). A vazão era mais baixa do que a média brasileira, igual a 21,0 l/s.km2.

O volume total de água captado anualmente foi estimado também por GOLDER- FAHMA (2006). A demanda estimada para o consumo humano era, em 2004, de 7,1 m3/s.

Os demais usos exigiram a captação equivalente a uma vazão de 7,0 m3/s, sendo que 6,6

m3/s destinavam-se à irrigação da produção agrícola. Dessa forma, com um uso total de

0,45 km3/ano, a proporção utilizada dos recursos hídricos atingiu, nesse ano, o valor de

tendencial descrito em GOLDER-FAHMA (2006). Os dados descritos no cenário indicaram que, para os anos de 2010, 2015 e 2025, a proporção aumentaria para 12,2%, 14,4% e 19,1%, respectivamente.

A intensidade de uso da água por atividade econômica apontava para a pressão da economia sobre o consumo do recurso. O indicador foi descrito pela ONU (2007) como o volume de água em metros cúbicos utilizado por unidade de valor adicionado bruto por atividade econômica. O volume utilizado consistia da soma da água captada, em caráter temporário ou permanente, diretamente do ambiente, e da água recebida de outras indústrias, incluindo reuso. O valor adicionado foi definido como o de venda ao consumidor final de bens e serviços menos o dos insumos adquiridos. O indicador era útil na avaliação do afastamento ou da proximidade do uso da água com o crescimento econômico.

Conforme as crenças expressas nas entrevistas, a intensidade de uso da água, de um modo geral, era baixa em Brasília. Os entrevistados, contudo, descreveram a existência de diferenças regionais quanto à intensidade. Nas regiões agrícolas, em especial na área de agricultura intensiva da bacia do rio Preto, o consumo era alto e aliado à criação de pouca riqueza. A visão de futuro, pelo esgotamento da expansão agrícola, era de manutenção do consumo e da geração de riqueza. Nas regiões urbanas, ao contrario, havia um baixo consumo de água tanto pelas famílias quanto pelas atividades comerciais, industriais e de serviço. Esse consumo baixo correspondia a uma elevada geração de riqueza. Para um dos entrevistados, representante do Poder Público, as duas realidades eram distintas por natureza. Os agricultores, de um modo geral e na ausência de episódios prolongados de seca, captavam tanta água quanto julgassem necessário sem nenhum custo, salvo aqueles de construção e operação da rede hidráulica, tal como a energia elétrica para bombeamento e a manutenção de equipamentos. A água bruta, coletada diretamente no meio ambiente, era um insumo gratuito. Outra realidade era encontrada nas moradias, no comércio e na indústria, caracterizada pela presença de usuários finais de água tratada. Era preciso que os usuários pagassem os custos de construção e manutenção de reservatórios e de captação, tratamento e distribuição da água, além da remuneração do capital empregado pela CAESB. Era necessário também que fossem cobertos os custos correspondentes à coleta, tratamento e disposição dos efluentes antes do lançamento no meio ambiente. A água tratada e disponível para os usuários não era gratuita. O futuro tendencial, tal como descrito pelos entrevistados, era de uma redução na intensidade pela generalização de ações de redução de consumo e reuso da água.

A crença expressa pelos entrevistados era condizente com dados econômicos e de consumo de água referentes ao ano de 2004. Para a GOLDER-FAHMA (2006), haviam sido captados para realização de atividades de agricultura e pecuária, ao longo desse ano, 219,96 milhões de m3 de água bruta, correspondentes a uma captação média de 6,975 m3/s.

A CODEPLAN (2009) apresentou que as atividades econômicas da agricultura, silvicultura, exploração florestal, pecuária e pesca adicionaram na economia distrital, a preços livres de impostos e subsídios, em 2004, um total de R$ 198 milhões. A intensidade do uso agrícola correspondia, então, a um valor igual a 1,11 metros cúbicos por real (m3/R$). As demais

atividades econômicas consumiram 222,5 milhões de metros cúbicos, equivalentes a um consumo de 7,056 m3/s (GOLDER-FAHMA, 2006). O valor adicionado por essas atividades

foi de R$ 62,8 bilhões (CODEPLAN, 2009). A intensidade foi, assim, de 0,00354 m3/R$ ou

3,54 litros por real. O valor econômico adicionado pelo consumo de água tratada foi, em resumo, cerca de 314 vezes maior do que aquele obtido com a utilização da água bruta.