• Nenhum resultado encontrado

Crenças sobre sustentabilidade 123 

3.5 COMITÊ DE BACIA SEINE-NORMANDIE 107 

3.5.5 Crenças sobre sustentabilidade 123 

Nas reuniões, os participantes puderam expressar crenças sobre a sustentabilidade, compartilhando com a Assembléia aquilo em que acreditavam. As crenças apresentavam visões e opiniões pessoais ou institucionais de grupos de interesses, tais como agricultores, pescadores profissionais ou empresas de distribuição de água. Conforme explicou Sabatier (1993), uma crença, em um sistema político, poderia ser entendida como uma aceitação, por um indivíduo ou um grupo, de motivos de um fato ou de relações tipo causa-efeito. A codificação dos comentários, a partir da definição de um referencial qualitativo para as crenças, permitiu ir além da avaliação quantitativa das menções feitas aos IDS propostos pela ONU (2007).

O referencial qualitativo foi construído, conforme discutido por Sabatier (1993), como uma estrutura escalar unidimensional do tipo Likert, com três opções numéricas possíveis, na qual os pontos finais representavam posições extremas e se situavam a uma distância de cinco posições. Para ser codificado como tendo posição de valor unitário, um comentário deveria exprimir a crença na existência de problema ou em impacto negativo para a sustentabilidade. No outro extremo, para receber valor de código igual a cinco, um comentário deveria exprimir a crença na inexistência de problema ou em impacto positivo sobre a sustentabilidade. Por fim, foram codificados como tendo valor três aqueles comentários que exprimiam uma crença na incerteza quanto à existência de problema ou ao impacto sobre a sustentabilidade. O questionário-guia apresentado no Apêndice A foi utilizado como suporte à codificação das crenças. A abordagem fundamentada no referencial permitiu codificar todos os 695 comentários da amostra sendo que 318, 235 e 142 deles receberam valores um, três e cinco, respectivamente.

Uma vez codificados, os comentários puderam ser utilizados na avaliação da evolução quanto às crenças expressas pelos participantes. A Tabela 7 traz as médias aritméticas µ das posições estruturais das crenças, detalhadas por tema, por classe e por Presidência. Para os temas Água doce e Biodiversidade, as médias estão apresentadas desagregadas por subtemas. A hipótese de conformidade dos valores codificados com uma distribuição do tipo normal foi verificada pela aplicação de testes de Shapiro-Wilk aos comentários referentes aos temas Território, Oceanos, mares e costa, e Consumo e produção, que possuíam menos de 50 valores cada um. Para os demais temas, que possuíam mais de 50 valores, as hipóteses de conformidade foram verificadas a partir de testes de Kolmogorov- Smirnov. Descartadas as hipóteses de conformidade para os temas e subtemas, a verificação da igualdade das médias não pode ser feita pelo método ANOVA unidirecional. No lugar do método, então, foi aplicado o teste não paramétrico de hipótese para igualdade de médias, chamado de análise de variância unidirecional de Kruskal-Wallis (K-W), no qual não era assumida uma distribuição normal da população. Os resultados dos testes de Kruskal-Wallis, realizados com uma margem de significância de 5%, estão apresentados também na Tabela 7. A inexistência de diferença estatística entre os valores µ está representada pela sigla n/s e, a existência, por d/e. A impossibilidade de aplicação do teste, causada pela falta de valores suficientes, está representada pela sigla n/a.

Tabela 7 - Médias das crenças por Presidência, classe e tema

Tema: subtema Presidência K-W

Classe 1a 2a 3a 4a 5a 6a (0,05)

Água doce: Quantidade

Coletividades 1,7 2,2 3,3 2,1 3,0 1,7 n/s

Usuários - 2,4 3,0 3,0 2,3 2,5 n/s

Estado 2,0 2,8 3,8 2,1 2,7 3,8 n/s

Agência 1,0 3,4 3,0 3,0 3,7 1,7 n/s

Comitê 1,7 2,6 3,3 2,6 3,0 2,8 n/s

Água doce: Qualidade

Coletividades 2,1 2,7 3,0 2,6 2,0 2,0 n/s Usuários 3,0 2,0 1,4 3,0 1,8 2,0 n/s Estado 2,6 3,7 2,1 - 1,7 3,0 n/s Agência 4,0 2,3 2,4 2,8 2,6 3,0 n/s Comitê 2,8 2,4 2,3 2,8 2,1 2,5 n/s Território Coletividades 3,0 - 2,7 2,4 1,0 1,5 n/s Usuários 1,8 3,0 1,0 1,0 3,0 2,0 n/s Estado 2,0 - 3,0 3,0 1,5 1,7 n/s Agência - - 3,0 3,0 3,0 2,5 n/s Comitê 2,0 3,0 2,4 2,5 1,8 1,8 n/s

Oceanos, mares e costas

Coletividades 3,0 1,0 5,0 - 1,0 - n/a Usuários - 1,0 - - - 1,0 n/a Estado 3,0 - - - - 1,0 n/a Agência - 1,0 3,0 5,0 - 3,0 n/s Comitê 3,0 1,0 3,7 5,0 1,0 1,7 n/a Biodiversidade: Ecossistemas Coletividades 3,0 3,5 4,2 1,8 1,7 1,9 d/e Usuários 3,0 3,5 2,0 2,4 1,9 1,8 n/s Estado - 4,2 4,2 1,5 2,0 2,5 d/e Agência 3,0 2,5 3,7 3,8 3,2 3,3 n/s Comitê 3,0 3,5 3,4 2,3 2,2 2,2 d/e Biodiversidade: Espécies Coletividades - - - 3,0 - 1,5 n/a Usuários 1,0 - - - 1,0 1,5 n/a Estado - 2,0 - 1,0 5,0 2,3 n/s Agência - - - 5,0 - 2,0 n/s Comitê 1,0 2,0 3,8 3,0 1,7 n/s Consumo e produção Coletividades - - 4,3 1,7 3,0 3,0 n/s Usuários - - 3,7 - - 3,0 n/a Estado 3,0 - 3,0 - 2,0 2,0 n/s Agência - - 1,0 3,0 3,0 - n/s Comitê 3,0 3,2 2,0 2,7 2,7 n/s

Fonte: Dados compilados pelo autor.

Para os subtemas Quantidade de água e Qualidade da água os resultados dos testes de K-W mostraram que, com uma margem de erro de 5%, os valores µ eram estatisticamente iguais para as seis Presidências, sendo os valores, dessa forma, provenientes de uma mesma distribuição. Os testes confirmaram que as médias para as crenças das quatro classes eram também estatisticamente iguais. A mesma constatação, de que as diferenças entre as médias intra-presidências era maior do que entre as

Presidências, tanto para as classes quanto para o CBSN, foi encontrada para os temas Território, Oceanos, mares e costas, Consumo e produção e no subtema Espécies.

Todavia, os testes de K-W para o subtema Ecossistemas mostraram não existir evidência estatística para suportar a hipótese de que os valores µ para o Comitê, nas seis Presidências, fossem estatisticamente iguais. Os K-W mostraram que as médias das 1a, 2a e

3a Presidências eram estatisticamente iguais e proviam de uma mesma distribuição. Da

mesma forma, os valores das 4a, 5a e 6a Presidências eram provenientes também de uma

mesma distribuição. Comparadas com a escala de Likert construída, as médias nas três primeiras presidências, entre 3,0 e 4,2, indicam uma crença próxima do extremo escalar superior, correspondente a inexistência de problema ou de impacto negativo para a sustentabilidade. As três últimas Presidências, com valores de µ iguais a 1,8, 1,7 e 1,9, apontam que o Comitê havia progredido para uma posição escalar mais baixa e próxima da crença na existência de problema ou em impacto negativo para a sustentabilidade.

As crenças apontaram para diferenças quanto à evolução de duas classes no tocante ao subtema Ecossistemas. As médias para as classes Coletividades e Estado apresentaram diferenças estatísticas que confirmaram que não eram provenientes de uma mesma amostra. Para a Coletividades, os valores µ, referentes às 1a, 2a e 3a Presidências, eram

estatisticamente iguais. Os valores das 4a, 5a e 6a Presidências eram provenientes também

de uma única distribuição. Em relação à Estado, as médias nas 2a e 3a Presidências eram

iguais assim como nas 4a, 5a e 6a Presidências. Os valores mostram que ambas as classes

tinham uma crença mais próxima da não existência de problema ou de impacto negativo nas primeiras do que nas últimas Presidências.