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LIMITES DE GESTÃO E INTEGRAÇÃO DE POLÍTICAS 196 

A qualidade e a disponibilidade hídricas podem ser afetadas a partir de decisões e ações tomadas no âmbito de diferentes políticas e, da mesma forma, a gestão da política da água pode impactar, de modo direto ou indireto, vários setores de atividade antrópica e também o meio natural. A avaliação da atual política distrital da água, apresentada neste capítulo, apontou limites de gestão e a necessidade de integração entre políticas para o alcance de um desenvolvimento sustentável e equilibrado quanto aos pilares social, ambiental e econômico.

A tomada de ações e decisões, capazes de alterar de modo direto valores correspondentes aos cinco indicadores primários, definidos para o tema Água doce, estava dentro de limites das competências dos atores institucionais responsáveis pela gestão da política distrital. As crenças expressas em entrevistas feitas com representantes dos gestores apontaram que valores referentes aos IDS do subtema Quantidade de água estavam na lista de preocupações de órgãos públicos e de instâncias colegiadas. Os valores eram condizentes com a realidade, segundo estimativas realizadas a partir de dados

coletados no âmbito da presente pesquisa. Nas entrevistas, o uso proporcional dos recursos hídricos foi apontando como alto e a intensidade de uso da água por atividade econômica foi julgada como baixa. O uso proporcional alto era uma questão apenas a ser considerada nos períodos de estiagem, que eram normais e de ocorrência anual. A construção de reservatórios havia reduzido o problema para fins de produção de água potável. Contudo, o uso agrícola necessitava de ações, algumas das quais já estavam em andamento, para que fosse garantido o recurso em volume adequado durante todo o ano. As crenças quanto aos valores relativos ao uso econômico revelaram uma assimetria entre o consumo de água para fins de potabilização e para fins agrícolas. Tendo valores absolutos equivalentes, a primeira destinação gerava uma riqueza maior do que a segunda. No âmbito de competência dos gestores estaria a tomada de ações para convencimento da população, e do setor agrícola, sobre a escassez e o valor do recurso. Seria necessário reduzir desperdícios e difundir conceitos de uso racional e consciente entre os consumidores de água potável. O uso de instrumentos para atribuição do real valor a água captada para fins agrícolas deveria ser implantado e apoiaria o financiamento de estudos, pesquisas e obras necessários para garantir a disponibilidade necessária do recurso.

Para os entrevistados, valores referentes aos IDS definidos para o subtema Qualidade da água não preocupavam os responsáveis pela gestão. As crenças expressas permitiram descrever uma homogeneidade territorial e a existência de impactos positivos sobre a sustentabilidade social, ambiental e econômica. Os valores correspondentes à proporção da oferta de água potável com níveis não recomendados de coliformes fecais e à demanda bioquímica de oxigênio nos cursos de água foram considerados baixos, enquanto que a proporção de esgotos tratados foi avaliada como alta. Os valores expressos eram coerentes com a realidade estimada. Contudo, os gestores deveriam ter como meta a tomada de decisões e ações que contribuíssem para garantir a estabilidade ou a melhoria marginal dos valores. Era preciso também investir em equipamentos e processos para assegurar a operação de uma rede coletora de dados que permitisse monitorar a qualidade hídrica de todo o território.

As crenças descritas nas entrevistas mostraram que os valores dos indicadores relacionados ao tema Pobreza e saúde não eram objeto de preocupação dos gestores da política. Pouco poderia ser feito, segundo os entrevistados, a partir das atuais competências institucionais dos gestores, embora fosse de interesse o monitoramento para eventuais ações visando a garantir solidez ao pilar social da sustentabilidade. Nas entrevistas, foi apontado que era alta a proporção da população com acesso a recursos de saneamento e a fontes de água melhoradas e que era baixa a proporção de residentes habitando em

moradias precárias. Os valores estimados corroboraram com as crenças expressas. Contemplada com o mais elevado valor de PIB per capita do País, o DF era uma Unidade da Federação favorecida por uma homogeneidade territorial e social, pelo menos quanto a esses IDS.

As crenças expressas apontaram interesse e inquietação dos gestores da política em relação a valores dos IDS referentes ao tema Território. Interesse pelo impacto real e potencial sobre os recursos hídricos e inquietação pela falta de competência institucional direta para alterar os valores, que eram compatíveis com estimativas feitas na presente pesquisa. Dentre os IDS contemplados no subtema Estado e uso do território, o referente às mudanças no uso do território foi considerado como tendo alto valor e o relativo à degradação do solo foi julgado como baixo. As mudanças impactavam de forma negativa os recursos hídricos e a sustentabilidade ambiental, embora fossem necessárias, muitas vezes, para melhoria de parâmetros sociais e econômicos, como a destinação de terras para urbanização ou uso agrícola. A tomada de ações isoladas no âmbito de competência dos gestores da política da água teria pouco resultado. Seriam necessárias ações integradas com outras políticas, como a de zoneamento econômico e ecológico e a de fiscalização de uso do solo. A baixa degradação, vinculada a processos erosivos, estava limitada a alguns pontos do território. Uma vez que as erosões eram resultados de mudanças ou gestão inadequadas da destinação do solo a atuação isolada dos gestores era novamente limitada. Os valores dos indicadores referentes ao subtema Agricultura não eram fontes de preocupações para os responsáveis pela gestão. A eficiência no uso de fertilizantes e o uso de pesticidas foram avaliados como altos e a área de agricultura orgânica julgada baixa. O uso de fertilizantes era mais intenso em uma bacia não qual não existiam captações para fabricação de água potável. O uso de pesticidas era intenso na mesma região, mas também em áreas vizinhas a importantes fronteiras naturais, como a APA de Cafuringa. Ações diretas, apoiadas em conceitos de educação ambiental, poderiam ser tomadas pelos gestores visando a minimizar o uso de fertilizantes químicos e de pesticidas. A gestão deveria também atuar na direção de uma integração com a política agrícola, buscando favorecer práticas orgânicas marcadas pelo abandono do uso de pesticidas e fertilizantes capazes de afetar de forma negativa a biodiversidade.

As entrevistas revelaram, a partir dos IDS do tema Biodiversidade, a existência de uma inquietação dos gestores quanto aos ecossistemas e às espécies nativas. Os indicadores relativos ao subtema Ecossistemas mostraram uma preocupação com duplo caráter: preservação ambiental e viabilidade econômica, uma vez que mananciais encontrados nas UC sob regime de proteção integral eram utilizados como captações de

baixo custo de tratamento pela indústria de potabilização. Enquanto as crenças quanto ao alto valor da proporção do território protegido era coerente com estimativas, a efetividade da gestão, julgada baixa, foi, ao contrário, estimada como alta. Com as atuais competências dos gestores da política, pouco poderia ser feito para influenciar de forma direta fosse a proporção, fosse a gestão das áreas remanescentes do cerrado original sob proteção integral. As entrevistas revelaram que não eram preocupantes os valores identificados para os indicadores relativos ao subtema Espécies. Os valores da abundância de espécies e a mudança no estado de vulnerabilidade das mesmas foram julgados como alto e baixo, respectivamente, para a maioria das espécies nativas da flora e fauna. Esse julgamento era condizente com as estimativas feitas. O alto valor do indicador relativo às espécies invasoras foi considerado como um relevante problema ambiental. Tendo como ponto de partida o reconhecimento do impacto sobre a biodiversidade, os gestores da política da água deveriam buscar uma integração com a política ambiental. A integração das políticas poderia favorecer o estabelecimento de mecanismos de decisão e processos de ação, manter e melhorar a realidade atual das UC e contribuir de forma positiva para que o meio ambiente e a indústria de fabricação de água potável tivessem recursos hídricos disponíveis em qualidade e quantidade adequadas.

Conforme descrito pelos entrevistados, o valor do IDS Geração de resíduos perigosos era baixo e não constava da lista de preocupações dos responsáveis pela gestão. Contudo, segundo valores estimados, existia um problema a enfrentar, decorrente do risco do transporte desses produtos, em especial aqueles pertencentes à classe dos líquidos inflamáveis. A gestão poderia atuar de forma integrada com a política de produtos perigosos, visando a minimizar riscos mediante a definição de locais de produção adequados e rotas seguras de transporte.