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CAPÍTULO 3: POLÍTICAS E PROCESSOS COMUNICACIONAIS – AS

3.4 Considerações acerca das ações educativas

O primeiro projeto educativo elaborado no MAI foi resultado de uma parceria entre o Museu e o Laboratório de Educação e Patrimônio Cultural - LABOEP da Universidade Federal Fluminense - UFF. Firmada em 2000, essa parceria deu origem, em 2002, ao projeto Caniço e Samburá.

180 O projeto foi desenvolvido a partir de um diagnóstico preliminar com o apoio do MAI, mas devido à falta de equipe, foi conduzido especialmente pela equipe do LABOEP, em especial pelas Professoras Doutoras Lygia Segala e Léa Calvão. O objetivo da parceria era propor ações educativas que tivessem como eixo “as discussões

contemporâneas sobre patrimônio natural, cultural e arqueológico e novas metodologias de uma pedagogia interativa para museus e lugares de memória”90. No

diagnóstico, são apontadas propostas de ação de inúmeras ordens, em especial as educativas e as de divulgação, tais como instalação de placas de trânsito que identificassem o MAI, a urbanização da praça em frente ao Museu, a iluminação externa das ruínas, a elaboração de uma nova exposição permanente etc.

Voltado para os professores das redes públicas ou privadas de ensino, o Caniço e Samburá aludia, já em seu nome, a dois objetos referentes ao cotidiano da pesca. Caniço é o outro nome pelo qual se conhece a vara de pescar, e samburá é o cesto onde se deposita o pescado do dia. O objetivo desse projeto era fornecer aos docentes informações sobre o Museu e sobre as temáticas que seriam abordadas na visita ou que poderiam ser desenvolvidas em aula. Consistia no empréstimo às instituições de ensino que agendavam as visitas, um samburá contendo fitas de vídeo sobre o Museu, apostilas sobre arqueologia e patrimônio histórico, fita cassete com entrevistas junto a pescadores da localidade, recortes de jornais e revistas.

Esse projeto foi muito utilizado e, segundo os depoimentos, era bastante procurado pelos professores, embora não exista um acompanhamento sistemático ou instrumento de avaliação sobre como esse material era utilizado na escola pelos professores. De qualquer forma, é interessante notar que, em 2000, o MAI procurava, através da ação educativa, debater com o público escolar sobre arqueologia, patrimônio histórico e pesca artesanal. No entanto, o material que buscava trazer informações recentes de periódicos sobre o patrimônio e os acontecimentos locais, muito rapidamente tornou-se desatualizado, especialmente depois do advento da internet. As notícias sobre a região propagavam-se rapidamente pelas redes sociais e periódicos locais virtuais, os elementos desgastavam-se com o tempo e o uso, o cassete deixou de ser utilizado e os professores hoje pouco se dispõem a ir ao Museu buscar o cesto.

181 Em 2010, através de uma parceria entre o MAI e o Parque Estadual da Serra da Tiririca, é criado então o segundo projeto de ação educativa do MAI. Intitulado inicialmente de “Diagnóstico e Monitoramento da Saúde Lagunar e dos Recursos Pesqueiros em Itaipu”, esse projeto procurava abordar a problemática ambiental referente à conservação dos ecossistemas e aos recursos naturais explorados em Itaipu. Voltado para as escolas públicas locais, o projeto reunia a equipe do Museu e a equipe do PESET em visitas e oficinas periódicas com as crianças do 5º ano da Escola Municipal Marcos Waldemar de Freitas Reis durante 1 ano. O projeto visava

“(...) estimular o espírito investigativo característico da faixa etária dos alunos participantes, considerando os conhecimentos e costumes da comunidade local e suas interfaces com a conservação de tais recursos.” (Diagnóstico e monitoramento da saúde lagunar e dos recursos pesqueiros de Itaipu - Arquivo técnico do MAI.)

Nesse período, as crianças realizavam trilhas pelo Parque Estadual da Serra da

Tiririca para conversas com a comunidade tradicional do Morro das Andorinhas, debatiam a preservação ambiental da região e aspectos do cotidiano das populações tradicionais, faziam coletas e medições de espécimes na Laguna de Itaipu, recebiam instruções dos pescadores acerca dos animais encontrados e faziam visitas ao MAI, à Duna Grande e realizavam debates sobre o patrimônio cultural local.

Embora não caiba, nessa pesquisa, a análise dos impactos desse projeto sobre as crianças, é certo que houve mudanças na aproximação com os pescadores a partir do seu desenvolvimento. A circulação de crianças e os diálogos permanentes entre as instituições (MAI e PESET), os moradores locais e os estudantes, suscitaram novas abordagens patrimoniais e relações afetivas. Atualmente, o projeto foi adaptado e recebe o nome de PESA – Projeto de Educação Socioambiental e ainda desenvolve a relação entre o território, a preservação ambiental e os moradores tradicionais.

Para Stelvio Figueiró, o educativo no MAI começa a se estruturar recentemente, por volta de 2008. O educador afirma que as primeiras visitas externas foram se aprimorando a partir da percepção das relações mútuas entre os elementos patrimoniais e sociais. “se a gente vai lá na duna [Sambaqui Duna Grande] vamos falar da laguna,

vamos falar das consequências da abertura do canal. Se vamos à praia, vamos falar da formação dessa Vila de Pescadores, da vida dessas pessoas (...)”

Hoje, todos os grupos recebidos pelo Setor Educativo têm a possibilidade de realizar as visitas externas, a partir dos roteiros elaborados por essa equipe. Nesse sentido, é possível afirmar que a dimensão territorial e relacional entre os agentes que

182 circulam e atuam sobre Itaipu é o tópico principal da visita educativa. E ainda, que é através dessa ação comunicativa que o Museu não apenas assume o território e seus elementos como patrimônio, mas os interliga ao discurso institucional e expositivo.

Em geral, estudantes chegam ao MAI de ônibus, que os deixam na praia. Diante da dispersão e da inevitável tentação da praia, os educadores recebem os grupos no ponto de ônibus e os acompanham até o Museu. Sentados ou em pé no pátio de entrada, os educadores explicam ao grupo sobre o trajeto que será realizado ao longo da visita e abordam os temas que são tratados no Museu. Os visitantes são convidados a beber água, fazer uso dos sanitários e deixar seus pertences no guarda-volumes antes da caminhada.

O primeiro roteiro percorre a Duna Grande, a Laguna de Itaipu, a Praia de Itaipu, a Vila de Pescadores e o Museu. O segundo roteiro percorre a trilha até o alto do Morro das Andorinhas e volta para o Museu. A exposição é visitada em ambos os roteiros, e os educadores conversam sobre os ecossistemas presentes (laguna, praia, restinga, manguezal ou mata atlântica) e a preservação ambiental, sobre a presença das comunidades tradicionais no Morro das Andorinhas e na Vila de Pescadores e o processo de urbanização da região, sobre o passado arqueológico e a pré-história brasileira, sobre o Recolhimento de Santa Teresa e o acervo que se encontra na exposição “Percursos do Tempo – Revelando Itaipu”. A visita demora cerca de 2 horas e é feita sempre com dois ou mais educadores; em dias de sol muito forte a equipe oferece protetor solar. Ao fim da visita, o grupo é novamente convidado a beber água e a descansar nas esteiras à sombra do abacateiro, em um dos pátios do MAI.

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Figura 30 - Roteiro 1 – Programa de Educação Socioambiental.

Fonte: Elaborado por Mirela Leite de Araujo, 2015

Figura 31 - Roteiro 2 – Programa de Educação Socioambiental.

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Figura 32 - – Roteiro 1. Visita realizada pelo Setor Educativo, no alto do Morro das Andorinhas. Ao fundo a Praia de Itaipu, o canal da Laguna de Itaipu e a Praia de Camboinhas

Foto: Mirela Araujo, 2013