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CAPÍTULO 1- O MUSEU DE ARQUEOLOGIA DE ITAIPU E SUAS

1.2 Identificação do Museu de Arqueologia de Itaipu

1.2.5 Os primeiros anos do MAI

De acordo com a cronologia elaborada por Fonseca (2005), o MAI foi criado dentro do período identificado como Fase Moderna (1970-1980) – no que diz respeito à política de preservação do patrimônio. Dentro do IPHAN ela é marcada pela aposentadoria de Rodrigo Melo Franco de Andrade, gestor que gozava de ampla autonomia e participação política, sucedido por Renato Soeiro, arquiteto com menos trânsito e expressão política.

Se durante a sua criação o IPHAN foi profundamente vinculado ao movimento cultural43 e às questões políticas, a partir da década de 1970 ele se torna uma “ilha a

parte das grandes questões culturais e políticas” (FONSECA, 2005, p.140). É

importante lembrar também que nesse período o projeto de desenvolvimento do país era comandado pela Ditadura Militar, que atrelava uma visão progressista e nacionalista aos propósitos imediatos do governo ditatorial. Associando o desenvolvimento à industrialização e à urbanização, a Ditadura se contrapunha ao ideal de preservação que até então era a tônica do IPHAN: a valorização do passado através do patrimônio edificado, das cidades históricas e dos centros históricos (Idem, p.141). Diante desse conflito de interesses, o IPHAN perde potencial em sua característica marcante: o tombamento.

Em 1975 o governo Geisel, em busca de uma aproximação com alguns setores da sociedade e visando combater o desgaste político instaurado entre governo e sociedade, lança a primeira Política Nacional de Cultura. Essa proposta encerrava em si, sem abrir mão do controle militar sobre os bens culturais, um planejamento desenvolvimentista para a área de cultura, mas principalmente a ampliação e o fortalecimento do mercado de consumo cultural (SILVA, 2001, p.195). Essa característica pode ser notada pelos objetivos expressos, tais como dinamizar o mercado editorial, incentivar a circulação e o consumo de bens culturais, estimular o turismo como fonte de renda para cidades onde exista patrimônio histórico (Idem, p.196). Dentro dessa Política o governo expressa sua posição diante dos museus: “Valorizar os

museus, reunindo neles o que há de mais caracteristicamente expressivo de nossa cultura” (Idem, p.137).

43 Em especial ao movimento modernista, como é possível notar pelos intelectuais que atuavam na política cultural da época.

64 Os objetivos da Política Cultural afetaram diretamente o posicionamento do IPHAN diante do patrimônio. A instituição torna-se cada vez menos renovada e mais técnica (ARANTES, 1987 p.52), característica apropriada à nova Política que prevê investimentos na capacitação de recursos humanos, inclusive de seu próprio quadro funcional, com objetivo de incentivar e apoiar a formação de profissionais para o mercado cultural (SILVA, 2001 p.196). Para Fonseca (2005, p.142), nesse período, desligava-se do IPHAN o personagem que protagonizava batalhas judiciais pelo patrimônio edificado e em seu lugar construía-se uma imagem de negociador – aquele que procura sensibilizar e persuadir os interlocutores, bem como conciliar os interesses econômicos e culturais:

O objetivo era demonstrar a relação de valor cultural e econômico, e não apenas procurar convencer autoridades e sociedade do interesse público de preservar valores culturais, como ocorrera nas décadas anteriores. Essa articulação foi feita em duas direções: seja considerando os bens culturais enquanto mercadorias de potencial turístico, seja buscando nesses bens os indicadores culturais para um desenvolvimento apropriado (FONSECA, 2005, p.142)

O novo entendimento do MEC considerava também a necessidade de partilhar as responsabilidades sobre o patrimônio. O IPHAN passa então a buscar os governos estaduais e locais. Essas parcerias vinham suprir a falta de recursos financeiros e administrativos do IPHAN: enquanto o órgão federal entrava com as referências conceituais e técnicas, os órgão locais davam publicidade ao patrimônio e ofereciam mão de obra profissional, normalmente ligada ao turismo (FONSECA, 2005, p.143).

O Museu de Arqueologia de Itaipu, criado em 1977, passou a integrar a organização administrativa da 6ª Diretoria Regional do SPHAN.

Nesse período, as “atividades culturais do Museu44” eram coordenadas pela

arquiteta Maria Lúcia Goulart, mediante a cessão da profissional pelo Museu Nacional e com o auxílio do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico - CNPq. Maria Lúcia e Lina Kneip eram funcionárias do Museu Nacional e foram as responsáveis pela elaboração da primeira exposição do MAI “Abordagens da Arqueologia Brasileira”, que tratava de apresentar os vestígios do Sambaqui do Forte de Cabo Frio, acervo pertencente ao Museu Nacional.

44 Conforme consta na credencial expedida por Renato Soeiro. Arquivo Central: Arquivo Noronha Santos - IPHAN.

65 Quando de sua designação para coordenar as atividades do Museu, a arquiteta apresentou a seguinte proposta de atividades45:

a) Zelar pela conservação do monumento.

b) Reunir documentação sobre o antigo Recolhimento e sobre a exposição

Abordagens da Arqueologia Brasileira.

c) Elaborar relatório de atividades e frequência do Museu.

d) Atender a comunidade convidando Arqueólogos para darem palestras e

visitas comentadas. (“Levantamento sobre a situação dos museus e casas históricas do Estado do Rio de Janeiro em 1984.” Arquivo Central: Arquivo Noronha Santos – IPHAN.)

A equipe era formada pela arquiteta, um zelador e dois seguranças cedidos pela Prefeitura de Niterói durante 6 meses. Devido às dificuldades de renovação de cessão dos funcionários, inclusive da arquiteta, o MAI passou por diversos momentos de abertura e fechamento durante os anos de 1978 e 1979. Ainda assim, Lina Kneip e Maria Lúcia montaram mais duas exposições temporárias: “Arte Rupestre no Brasil” e “Blocos Testemunhos”. A comunidade46 também foi atendida, conforme o previsto na

proposta de atividades da coordenadora, através de palestras e visitas. Foram realizadas nos dois primeiros anos cerca de 11 atividades educativas, todas envolvendo aulas para cursos universitários no Museu, palestras e visitas escolares. Dentre essa última apenas duas eram escolas infantojuvenis de Niterói.

Em 1980 o MAI é fechado por falta de equipe e para mais obras no edifício. Ele só voltará a ser reaberto em 1982.

Em 1982, através de um convênio assinado entre o SPHAN, a Fundação Nacional pró-Memória e a Empresa Niteroiense de Turismo S.A. – ENITUR, o MAI passa a ser objeto de cooperação entre os órgãos. Durante os 2 anos de vigência do contrato, ficava sob a responsabilidade da Fundação pró-Memória a gestão técnica, administrativa e financeira e cabia à ENITUR dar publicidade, realizar a visitação pública, bem como manter uma equipe no local. Essa equipe era formada por 2 guardas de sala e 2 orientadores de visitantes, que abriam o Museu das 12 às 17 horas. Não estava previsto no corpo técnico do Museu o cargo de direção ou coordenação. Sobre

45 Informações do documento “Levantamento sobre a situação dos museus e casas históricas do Estado do Rio de Janeiro em 1984.” Arquivo Central: Arquivo Noronha Santos – IPHAN.

46 Não é possível afirmar qual era a concepção de “comunidade” para o MAI naquele momento. Não foi encontrada nenhuma referência nos relatórios de atividades que envolvessem os pescadores ou os

66 esse período não foram encontradas informações relevantes para esta pesquisa. Podemos perceber, diante desse convênio, que os objetivos expressos na Política Cultural de 1975 para a preservação do patrimônio, aqueles que o associavam ao desenvolvimento econômico ao potencial turístico e a necessidade de partilhar as responsabilidades entre as esferas federal, estadual e municipal, ainda estava repercutindo durante os meados da década de 80.

Em 1982 foi inaugurada a nova exposição de longa duração intitulada “Aspectos da pré-história brasileira correspondente à faixa litorânea compreendida entre Itaipu e Cabo Frio no Estado do Rio de Janeiro”. A exposição foi organizada através de uma parceria entre o SPHAN/FNpM, o Instituto de Arqueologia Brasileira -IAB e o Museu Nacional.

Entre 1983 a 1992 as atividades do Museu foram essencialmente voltadas para cursos de cerâmica, desenho e pintura, apresentações musicais e algumas exposições temporárias sobre acervos arqueológicos ou como resultado dos cursos artísticos. Eram realizadas também visitas escolares, mas não foram encontradas documentações sobre os conteúdos trabalhados.

De acordo com a ex-diretora Vera Gigante47, o MAI sempre passou pelo problema da falta de funcionários. No quadro permanente estavam apenas os seguranças e os da recepção do público. Vera explica que no período anterior a sua entrada no Museu, em 1994, no que diz respeito ao processamento técnico com o acervo, havia uma museóloga que morava no Rio de Janeiro e vinha, sem muita rigidez de dias e horários, trabalhar no Museu. Entre 1994 e 1997 eram 4 funcionários – diretora, servente, segurança e uma funcionária na área educativa. Com a aposentadoria dessa funcionária, em alguns períodos entre 1997 e 1999 o Museu chegou a fechar por falta de equipe. De acordo com a ex-diretora, até 2010 o MAI nunca teve mais que 5 funcionários.

Embora tenha sido montada em 1982, a exposição de longa duração “Aspectos da pré-história brasileira correspondente à faixa litorânea compreendida entre Itaipu e Cabo Frio no Estado do Rio de Janeiro” foi renovada em 1994, para atualização dos

47 Vera Gigante trabalhou no MAI entre 1994 e 2011. Entre 1996 e 2010 ela desempenhou a função de diretora Administrativa. Ver Heringer, Pedro Colares da Silva. p.102.

67 recursos expográficos, mas não houve mudanças no tema, na composição do acervo e dos textos.

Como nessa pesquisa não serão estudadas as exposições de curta duração é importante frisar que no ano de 1993 houve duas exposições temporárias sobre a temática da pesca, uma organizada em parceria com o Museu Forte Defensor Perpétuo48 e outra organizada pela Associação Livre dos Pescadores e Amigos da Praia de Itaipu – ALPAPI. Nos anos subsequentes foram realizadas exposições temporárias, principalmente de fotografias, sobre o Canto de Itaipu e sobre questões ambientais49.