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As análises registradas neste texto situam os principais desafios quanto às práticas de governança territorial no Brasil.

Em relação às práticas de governança territorial relacionadas às formas de descentralização político-administrativa dos estados de Santa Catarina e do Rio Grande do Sul, é possível uma síntese: descentralizam-se fun- ções ou serviços públicos, mas não poder de decisão; descentraliza-se, propondo recortes territoriais definidos por critérios políticos, desrespei- tando construções com identidade territorial; produzem-se recortes de governança sobrepostos uns aos outros; substituem-se iniciativas histó- ricas por estruturas de governo descentralizadas, com restrita participação social (Cf. Dallabrida, Birkner e Cogo 2013).

Em relação às experiências de Indicação Geográfica (IG), o estudo con- firmou argumentações encontradas na literatura, referindo que a conso- lidação de tais experiências no Brasil esbarra nas questões de governança e do padrão dos processos de articulação no território. O conjunto dos desafios não é pouco significativo. Por isso, merece estudos.

Neste sentido, dois estudos realizados recentemente merecem desta- que. O primeiro, realizado no Instituto de Ciências Sociais da Universi- dade de Lisboa, se propôs investigar a situação, desafios e possibilidades de avanços em relação à participação social nos processos de decisão que ocorrem nas institucionalidades de governança territorial, de realidades brasileiras e europeias. Tal propósito direcionou os estudos nos seguintes procedimentos metodológicos: com base nos referenciais teóricos, siste- matizou-se o que se passou denominar princípios fundantes de práticas qualificadas de governança territorial; em segundo lugar, tais princí - pios foram utilizados na elaboração de uma proposta metodológica, a qual foi aplicada em 19 experiências, sendo 12 brasileiras e 7 portuguesas, averiguando a percepção dos atores envolvidos. Tendo por base os resul- tados da aplicação do inquérito, conclui-se sobre a qualidade das práticas de governança territorial.

Outro estudo, realizado concomitantemente ao primeiro, foi aprofun- dar o estudo de práticas de governança territorial, concretamente em ex- periências de especificação de ativos territoriais. O estudo esteve focado em experiências de Indicação Geográfica no Brasil e Denominações de Origem Protegida em Portugal, ou outras formas organizacionais corre- latas, como estratégias de especificação de ativos territoriais. Foram uti- lizados estudos documentais e bibliográficos, visitações, entrevistas e apli- cação de um inquérito. A pergunta orientadora da investigação foi: qual

a contribuição da estrutura organizacional e de funcionamento pro - porcionada pelos sistemas de governança territorial utilizados em expe- riências de especificação de ativos territoriais, para a sustentabilidade so- cial, económica e ambiental dos territórios envolvidos?

Os resultados em relação às experiências de IG pesquisadas apresentam alguns indicativos: a especificação de ativos territoriais, em geral, é uma vantagem diferenciadora, interferindo positivamente no desenvolvi- mento, em especial na reafirmação da identidade territorial; o sistema de governança utilizado apresenta desafios semelhantes aos apontados em experiências brasileiras, conforme já referido neste texto; é pouco signi- ficativa a preocupação com a sustentabilidade ambiental; economica- mente, enquanto em algumas experiências a estratégia contribui apenas na sobrevivência dos envolvidos, noutras, predomina o carácter de ne- gócios lucrativos privados que utilizam a estratégia do associativismo para se viabilizarem.12

São considerações que o estágio atual da investigação permite. Novos estudos são necessários; por isso, o tema é recorrente em investigações que estão sendo realizadas no Programa de Mestrado em Desenvolvimento Re- gional, na Universidade do Contestado (Santa Catarina, Brasil).

Agradecimento

Dedico um agradecimento aos colegas do Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa, em especial ao meu orientador Dr. João Fer- rão, por terem me acolhido durante 2013 como pesquisador visitante. Meu agradecimento é, também, pela oportunidade de ter usufruído da Bolsa Luso-Afro-Brasileira em Ciências Sociais 2013, sem a qual os estu- dos realizados não teriam sido efetivados.

Práticas de governança territorial e seus desafios

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