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Capítulo 10

«Plínio Salazar»? O corporativismo

português e a democracia cristã

como elementos de inspiração

A principal composição política do movimento integralista esteve pre- sente no pensamento do líder, Plínio Salgado. Pertencente a uma família conservadora e tradicional do interior paulista, nasceu em 1895, na cidade de São Bento do Sapucaí. Ainda jovem foi para São Paulo onde se desta- cou nos anos de 1920 no modernismo; para formar, na década seguinte, o primeiro movimento de massa do Brasil: a Ação Integralista Brasileira (AIB). Com matrizes múltiplas, Salgado tinha como propósito a constru- ção de uma doutrina política original, no entanto a circularidade de ideias do período fez com que o Chefe sofresse influências consideráveis para a formação de seu pensamento. Buscou em Portugal o exemplo doutrinário, o Integralismo Lusitano (IL): um movimento de cunho nacionalista da direita radical com visível formação embasada na precursora do conser- vadorismo, a Action Française; que, assim como todos os grupos políticos do princípio do século XX, estabeleceram uma resposta prática para a teoria

proferida pelo papa Leão XIII, em 1891, através da Rerum Novarum. Após a influência lusitana na formação do pensamento pliniano e a idealização do integralismo, novamente Portugal foi um destaque na organização doutrinária de Plínio Salgado, quando passou os anos de 1939 a 1946 no exílio, durante o período do Estado Novo getulista, momento que utilizou para reordenar o seu pensamento, ações e articulações políticas, tendo a vertente do espiritualismo católico como força central. Com o fim do pe- ríodo ditatorial varguista, retornou para o Brasil com a afirmação de ser um luso-brasileiro, passando a ser um defensor supremo da política de António de Oliveira Salazar, imagem que seguiu até ao fim da vida.1

1As relações transnacionais e comparativas com o pensamento e prática conservadora

Com a aproximação do fim do Estado Novo getulista, Plínio Salgado teve, como consequência natural, o regresso ao Brasil, e o ano de 1945 foi de duplo sentido para o autor. Havia a necessidade de manter a base organizacional do cristianismo e o estabelecimento de uma versão «Plínio pós-guerra». Dessa forma, caminhou em três ações: a manutenção das ações para o fortalecimento como intelectual católico, imagem consoli- dada no exílio; o estabelecimento de uma nova composição metodoló- gica através da Democracia Cristã; e as articulações políticas que preci- savam ser construídas para um bom regresso para o seu estabelecimento no Brasil, além da consolidação do Partido de Representação Popular (PRP). Para o sucesso do projeto, havia um modelo exemplar a ser se- guido: António de Oliveira Salazar.

Detentor de uma política autoritária2com fortes dogmas católicos, in-

clusive com apoio da Igreja Católica, e ao mesmo tempo, sem entrar no contexto de fascitização, sobrevivendo no pós-Segunda Guerra, Salazar promoveu uma espécie de sedução a Plínio, que tentou transportar para a nova versão política brasileira, projetos e ideias semelhantes aos de Por- tugal do Estado Novo, em uma tentativa clara de restituir o integralismo, mas sem a conceção fascista da década de 1930.

O término do ano de 1944 foi um momento revelador para a com- preensão do pensamento político de Plínio Salgado. A defesa de uma política baseada nos componentes políticos presentes na Democracia Cristã portuguesa passou a ser a ideia central do discurso do líder inte- gralista, que precisava de um tom democrático em uma nova sociedade que estava por vir após a Segunda Guerra Mundial. Pela primeira vez no exílio, publicamente abordava o assunto política.3Em um processo de

2Sobre o pensamento autoritário no período do Estado Novo, cf. Martinho (2007). 3Em Portugal, participou de diversas conferências, contou com extensa publicação

que tinha como foco uma ação política travestida de religiosa e com uma atuação na imprensa em todo o país, transformando suas ações em ferramenta para uma nova con- cepção política após o exílio, que coincide com o fim da Segunda Guerra Mundial e a consequente destruição dos regimes fascistas. Em Portugal, buscou uma nova forma de desenvolver o discurso integralista, era o tempo da «renovação» política. No contexto da Segunda Guerra Mundial, era necessária uma forma de sobrevida na sociedade política portuguesa e brasileira. Passava a ser caracterizado como um teólogo, responsável por promover reflexões de ordem cristã. Vê-se que o contexto político de Portugal foi um elemento no âmbito de um novo discurso para a sua sobrevida. Importância significativa tiveram as conferências e publicações divulgadas no exílio, com o objetivo claro de ex- pressar a imagem religiosa e propagadora da paz, quando, no entanto, o teor político es- tava ainda mais vivo. Os simpatizantes do integralismo, antigos ou novos militantes, ao mencionarem o período do exílio, utilizam com frequência termos como apóstolo, pro- feta e evangelista, para o caracterizarem. A sua associação com elementos da religiosidade

controle e articulação operacional, analisou questões políticas, mas com base em um pensamento centralmente religioso. A Democracia Cristã passava a ser temática presente no seu pensamento e a intensidade polí- tica foi notada pela intelectualidade lusitana, que apontava o autor como o detentor de uma palavra sábia que tem condições claras de constituir um futuro digno e cristão, como assim afirmou o integralista lusitano Alberto de Monsaraz:

Em Conceito Cristão de Democracia já não é nomeadamente o Apóstolo que ergue a voz; mas, sim, o Doutor da Igreja e o Doutor em Ciências Polí- ticas que toma a palavra. O seu grande trabalho, duma lógica indestrutível na análise, duma incomparável clareza e elegância na forma, constituindo, sem dúvida, um dos melhores ensaios políticos nestas últimas décadas pu- blicados em língua portuguesa. [...] Muito estimarei, creia, pelo que o estimo, considero e admiro e porque angustiosamente me interessa o futuro da nossa Juventude, que o meu caro Plínio Salgado continue, durante todo o tempo que ainda lhe reste passar em Portugal, a atacar assim, pela raiz, a erva dani- nha duma propaganda adversa, com absurda inconsciência consentida e que vemos, por forma assustadora, arraigar-se e frutificar, dia a dia, na alma da gente moça.4

Uma organização política foi consolidada com a Democracia Cristã, sendo que o pensamento de Plínio Salgado tinha como base o mime- tismo que tanto criticava teoricamente, tornando-se em prática sua rota intelectual. Em 27 de março de 1945, em entrevista ao jornal República que ao lado do Diário de Lisboa dirigia uma oposição possível ao regime, na seção «Da Literatura» afirmou: «procuramos na obra alheia tudo o que apraz a nossa própria personalidade, ou tudo o que podemos tradu- zir da personalidade alheia para a nossa».5

Como o próprio Plínio disse na entrevista, há a busca de inspirações, reflexões e influências em outros autores e teorias. Uma afirmação que jamais seria identificada na década de 1930, no auge da AIB. O momento

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passou a ser mais evidente em 1942 com o lançamento do livro Vida de Jesus, momento que coincidiu com a «crise» ocorrida em torno do planejamento secreto com os nazistas, dessa forma; essa imagem religiosa veio a calhar no momento, principalmente por ter em Portugal um terreno fértil para a prática conservadora e religiosa. Cf. Gonçalves (2012).

4Correspondência de Alberto Monsaraz com Plínio Salgado, 15 de junho de 1945

(APHRC/FPS-PL 15-6-1945).

5Plínio Salgado, «A crítica e os escritores: a resposta de Plínio Salgado: entrevista», Re- pública, Lisboa, 27 de março de 1945.

da década de 1940 fornecia-lhe a necessidade de criar uma imagem pú- blica que diferenciasse da década anterior, mas sem radicalizar a sua con- ceção política. A resposta mais uma vez ocorreu com base na sociedade portuguesa. Para a formação da AIB, na década de 1930, houve a relação teórica com o IL, enquanto para esse novo momento, o Centro Acadé- mico da Democracia Cristã (CADC)6ocupou um papel de destaque na

organização do seu pensamento. Doutrina pautada na Democracia Cristã, mas em torno da conceção idealizada em Portugal e defendida nos preceitos da democracia orgânica do regime Salazar. Um conglome- rado de fatores proporcionou a criação de uma «nova» conceção política para Plínio Salgado, sendo o CADC, a política salazarista e o direciona- mento do Vaticano através da Radio-mensagem do sumo pontífice Pio XII, no Natal de 1944, elementos centrais para o seu discurso com o fim da Segunda Guerra Mundial. Foi neste contexto que Plínio Salgado realizou uma conferência política/religiosa, em 8 de dezembro de 1944, em Coimbra, discurso publicado posteriormente e transformado em mo- delo organizativo central da nova proposta pliniana.7Havia um desejo

de transposição do intelectual católico Salazar para o intelectual Salgado, sendo que, no exílio, consolidou sua imagem como líder cristão e de- fensor do catolicismo.

Após o exílio, vê-se o tempo do último suspiro em busca do poder, mostrando ser, além de um seguidor do modelo salazarista, um líder in- telectual sem a mesma força de antes, mas que alcançava certa projeção no cenário nacional na égide do PRP e, após 1964, quando passou a ser um dos sustentáculos discursivos de apoio ao golpe civil-militar, passando a figurar de forma tímida, em 1965, na Aliança Renovadora Nacional (ARENA), seu espaço político até 1974, ano de sua aposentadoria.

A proposta, portanto, é focar as novas relações de influência em torno das matrizes discursivas que tem como base Portugal; compreendendo, em um primeiro momento, como ocorreu o retorno de Plínio Salgado ao Brasil e a continuidade do pensamento luso-brasileiro,8mesmo após

6O Centro Académico da Democracia Cristã de Coimbra possuía a formação de jo-

vens que resolveram enfrentar questões religiosas e sociais através do fortalecimento das orientações papais, notadamente a de Leão XIII e a sua Doutrina Social da Igreja, uma vez que através do papa da Rerum Novarum, passou a existir de facto uma maior aproxi- mação da relação religiosa com o social. Cf. Rodrigues (1993, 9-10).

7Sobre a conferência, cf. Gonçalves (2012).

8A força lusitana no pensamento de Plínio Salgado e as ações políticas a favor do Eixo

durante a Segunda Guerra Mundial, fizeram com que as ações do autor no exílio fossem rotuladas de antibrasileiras. Seitenfus (1995). A aproximação com o Eixo foi abordada em: Solidariedade Nazista na tese de Gonçalves (2012).

o exílio. O autor passou, então, a ser um dos principais defensores dos interesses portugueses na política brasileira, com discursos inflamados a favor do Estado Novo, notadamente de seu líder Oliveira Salazar, ima- gem seguida até à morte do português, em 1970. Além do mais, a defesa de Portugal continuou sob a égide de Marcello Caetano, sucessor na li- derança do país até 25 de Abril de 1974,9momento em que ocorreu a

destituição do Estado Novo com a Revolução dos Cravos. Consolidou- -se assim a democracia no país, após quatro décadas, período que coin- cidiu com a aposentadoria de Plínio Salgado da vida política. Há um pa- ralelo entre Plínio Salgado e Portugal que pode ser notado após o exílio. Os sete anos vividos na Europa foram cruciais para a compreensão da nova fase do autor no Brasil que, aliada à formação originária em São Bento do Sapucaí e a toda sua experiência política, cultural e intelectual, formou uma nova conceção de organização no contexto democrático brasileiro. Verifica-se, ainda, como necessária, a compreensão de deter- minadas funcionalidades do Estado Novo português, para a melhor vi- sualização dos novos projetos plinianos.

Durante todas as fases da vida, Plínio Salgado sempre se manteve fiel ao catolicismo. Em alguns momentos, usou a religião como justificativa política, mas a relação com os dogmas da Igreja Católica sempre estive- ram presentes no pensamento discursivo do autor tornando-se uma po- derosa matriz cultural. Após o exílio, era necessário criar uma nova con- ceção política e os anos vividos em Portugal mostraram ao integralista a possibilidade de um novo projeto, através de uma organização doutri- nária semelhante ao Estado Novo de Oliveira Salazar. O presidente do Conselho de Ministros deteve o poder em suas mãos de forma ininter- rupta durante anos, sobrevivendo, inclusive, à queda dos regimes totali- tários europeus após 1945. O salazarismo passou a ser uma espécie de desejo oculto de Plínio Salgado, que, aliado ao sentimento luso-brasileiro, propunha uma política semelhante à organização existente em Portugal. No Fundo Plínio Salgado do Arquivo Público e Histórico de Rio Claro (APHRC/FPS), há uma série de livros, panfletos e materiais diversos que o autor trouxe no momento do exílio e que recebeu posteriormente de amigos lusitanos. O material consiste em documentos que têm o único objetivo de exaltar a imagem de Salazar e consequentemente do Estado Novo, mostrando assim que dedicava-se a leituras10relativas à política

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9Sobre Marcello Caetano, cf. Martinho (2008).

10Após a morte de Carmela Patti Salgado em 1989 a biblioteca particular de Plínio

Salgado foi vendida pelos herdeiros a vários livreiros de São Paulo; com isso é impossível ter uma visão exata das leituras que cercavam o integralista.

portuguesa. No Brasil, o integralista manifestava constantemente posi- ções de apoio ou exaltação à política salazarista, notadamente quando interesses de Portugal estavam envolvidos na política nacional. Em 5 de junho de 1956, em comemoração ao 30.º aniversário da «Revolução Na- cional» de 28 de maio, que estabeleceu o fim da Primeira República, marco de inauguração do regime ditatorial português, Plínio esteve no salão nobre da Casa do Porto do Rio de Janeiro e proferiu eloquentes elogios a Salazar. Com repercussão na imprensa de Portugal, o Diário da

Manhã noticiou que o integralista acentuou que:

[...] sob a égide de Salazar se operou em Portugal, em todos os aspectos, a renovação dos grandes valores. Aplaudido frequentemente pela assistência que enchia por completo a sala, o orador fez um esboço histórico das últimas três décadas da Vida Nacional portuguesa, afirmando que Salazar antes de se dedicar à restauração financeira pensou na restauração espiritual, sem a qual é impossível resolver qualquer situação, seja ela qual for.11

A política salazarista era convergente e determinante para um novo projeto pliniano e a situação dos dois países representava uma possibili- dade de ligação, tendo Plínio Salgado como o elemento central da nova proposta política-espiritual. «Salazar encontrou o país, segundo ele mesmo, numa ‘desordem estabelecida’: desordem política, desordem fi- nanceira, desordem económica, e, finalmente, desordem social» (Pasch - kes 1985, 14). A crise que o líder português encontrou no fim da década de 1920 era comparada por Plínio Salgado com a crise do Brasil nas dé- cadas de 1950 e 1960. Na sua visão, havia um momento favorável para a proposta salazarista brasileira sob a égide da nova organização política, o PRP, sendo que reflexos existiram inclusive no período ditatorial a par- tir de 1964.

No entanto compreender a política salazarista não é uma tarefa sim- ples. Assim como na historiografia brasileira em relação ao integralismo não há consenso em relação à natureza do regime, aos termos, conceitos, definições e caracterizações da política vigente em Portugal, durante grande parte do século XX.12Para que a análise do regime salazarista seja

11Caloroso elogio de Salazar e do Estado Novo num discurso de Plínio Salgado. Diário da Manhã. Lisboa, 5 de junho de 1956.

12A natureza do regime salazarista é alvo de constantes discussões na historiografia.

As formulações teóricas sobre o regime foram inauguradas em Portugal principalmente após o 25 de Abril de 1974, encontrando-se entre os seus pioneiros Hermínio Martins, Manuel de Lucena e Villaverde Cabral. Martins (1969); Lucena (1976); Cabral (1976). No entanto, foi, sobretudo, a partir da década de 1980 que o debate em torno da carac-

realizada, é necessário conhecer minimamente o chefe e ignorá-lo, para a compreensão do Estado Novo português, seria um erro (Pinto 2004, 36). António de Oliveira Salazar nasceu em uma zona rural e foi educado em um meio católico e tradicionalista. Foi seminarista em Viseu, mas sua vida académica ocorreu no curso de Direito da Universidade de Coimbra, a partir de 1910 (Alexandre 2006, 20). A formação religiosa foi

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terização e classificação do Estado Novo como regime político passou a constituir uma linha central do debate historiográfico. Um marco importante neste domínio foi a rea- lização, em março de 1980, do colóquio «O Fascismo em Portugal». Realizado na Facul- dade de Letras da Universidade de Lisboa, o evento reuniu pela primeira vez investiga- dores dos principais centros de pesquisa do país e dele resultou de Pinto et al. (1982). A resposta à questão «O que foi o Estado Novo?» tem, desde então, dado origem a uma abundante bibliografia. O debate sobre a natureza do salazarismo, a ela subjacente, po- larizou-se. Segundo Fernando Rosas, Luís Reis Torgal ou Manuel Loff, o Estado Novo foi um fascismo. Posição diversa é a defendida por António Costa Pinto, Manuel Braga da Cruz ou Philippe Schmitter que, advogando não ter existido em Portugal um regime fascista, procuraram criar novos modelos. Segundo Fernando Rosas o salazarismo filia- -se, inequivocamente, na família dos regimes fascistas. Rosas (1986); Rosas (1989a); Rosas (1989b). Esta visão é seguida por Manuel Loff que advoga a favor do conceito eurofascista. Loff (2008). Para Loff «salazarismo e franquismo revelaram e assumiram práticas fascistas» Loff (2010, 452). Integrando-se, também, nesta corrente interpretativa, Luís Reis Torgal contesta abertamente os que se opõem à classificação do Estado Novo como regime fas- cista. Segundo este académico, «muitas das vezes os argumentos utilizados por historia- dores para afastar o Estado Novo do fascismo foram produzidos pelo próprio Salazar ou por salazaristas que, como quaisquer outros construtores de regimes nacionalistas, dese- javam apelar para a originalidade do seu sistema» (Torgal 2009, 55). Entende-se que esta tese carece de sustentação científica, deixando patente a irredutibilidade/intransigência do seu autor. Pensando o salazarismo como «uma forma identificada de sistema político» (Torgal 2009, 65), Torgal rejeita qualquer interpretação contrária, acusando os autores que advogam o carácter não fascista do regime de reproduzirem os argumentos utilizados pelo próprio salazarismo. As principais vertentes que dialogam com uma organização não-fascista estão nos estudos de Manuel Braga da Cruz, Philippe Schmitter e António Costa Pinto. Braga da Cruz afirmou que «não houve em Portugal movimento fascista apenas porque não houve condições históricas para isso» e, por isso, caracteriza o Estado Novo como um regime monopartidário e conservador. Cruz (1988); Cruz (1989). Phi- lippe Schmitter faz uma caracterização do regime como um modelo corporativista e atenta ao facto de que ser defensor desse modelo não cria necessariamente concepções fascistas (Schmitter 1999). Costa Pinto levanta uma questão de relevância na discussão que foi a presença da Igreja Católica no interior do regime; em seu entender, a Igreja Ca- tólica portuguesa funcionou como um importante fator de limitação do fascismo, con- ceituando-o como uma ditadura de direita conservadora e não fascista. Pinto (1992). O debate sobre a natureza fascista, ou não-fascista, do regime português não se circuns- creve às fronteiras nacionais. O levantamento efetuado por António Costa Pinto na pu- blicação O Salazarismo e o Fascismo Europeu: Problemas de Interpretação nas Ciências Sociais dá-nos conta da diversidade de posições a este respeito. Com este estudo pretende-se se- guir a mesma linha de raciocínio académico, quando se afirma que o objetivo está na discussão das linhas interpretativas mais importantes «na perspectiva das relações entre o regime de Salazar e o fascismo europeu» (Pinto 1992, 111).

fundamental para a inserção do jovem académico no CADC, onde pas- sou a ter uma forte amizade com aquele que viria a ser, tempos depois, cardeal-patriarca de Lisboa, Gonçalves Cerejeira. «O pensamento de Sa- lazar tem duas fontes essenciais: o tomismo, nos campos teológico e fi-