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4. INSTITUCIONALIDADE E DINÂMICA SOCIOPOLÍTICA

4.3. Considerações Finais 70

A organização e articulação da sociedade civil é marcada por duas características que convivem lado a lado: a busca e afirmação de organização autônoma por parte das organização da sociedade civil na relação e articulação com outros sujeitos políticos na cidade, especialmente com o poder público (executivo e legislativo), e por outro lado, uma sociedade civil ainda marcada por um histórico de dependência e relações clientelistas, com o poder constituído. A percepção, ainda frágil, da afirmação de direitos, convive com práticas de dependência de atores da política local, que tutelam e apadrinham a sociedade civil.

Caracteriza a organização das associações de moradores uma atuação em torno à questões mais locais e imediatas e com algumas iniciativas de articulação mais ampla com outras organizações. A participação e incidência em espaços públicos participativos vem se constituindo em uma prática da sociedade civil local, revelando capacidade de pautar o poder público local para algumas agendas de interesse da sociedade civil. Este foi o caso da Consocial, proposta e assumida inicialmente pela sociedade civil e posteriormente, assumida pela Poder Público.

Dentre os espaços de gestão participativa em São Vicente, destacam-se três: Orçamento Participativo e Conselhos de Políticas Públicas, como instâncias mais permanentes, a Agenda 21 Local, como um espaço de caráter mais temporário. São espaços promovidos e articulados pela prefeitura. O Orçamento Participativo e os Conselhos, são valorizados pela sociedade civil, como espaços de construção de prioridades e de políticas públicas.

Os Conselhos de políticas públicas, na visão das organizações da sociedade civil, são importantes, porém carecem de maior autonomia e efetiva implementação de suas deliberações pelo poder público municipal. A qualidade da representação dos conselheiros da sociedade civil e do poder público é questionada. A forma da indicação dos representantes nem sempre é pautada pelo objetivo de atuar nestes espaços para a construção da política pública, mas em alguns casos são indicados representantes para estarem a serviços de grupos políticos e parlamentares. Isso gera uma distorção no funcionamento destes espaços, na medida em que esses representantes não ajudam a construir efetivamente um espaço de construção da política pública de responsabilidade daquele conselho.

O Orçamento participativo é considerado um espaço importante de participação da população, ainda que haja questionamentos em relação à metodologia na definição das prioridades pelo executivo, sem a adequada participação dos representantes eleitos pela comunidade.

A Agenda 21 Local, construída entre 2006 e 2008, resultou em publicação de um Plano Local de Desenvolvimento Sustentável “Agenda 21 São Vicente – rumo a 2021”, é mais valorizado pelo Poder Público Local do que pela Sociedade Civil, que raramente faz referência à Agenda 21 nas entrevistas, provavelmente por não haver um espaço público de acompanhamento da implementação da Agenda.

Há um reconhecimento bastante amplo sobre avanços na gestão da cidade na última década. Por outro lado aparece uma insatisfação com a atuação dos gestores no seu trato com a cidade: planejamento substituído pela lógica da relação com o legislativo (que assumiria papel executivo), que permite o uso da máquina pública para interesses eleitorais. Diante de promessas eleitorais não cumpridas, as lideranças comentam que os bairros das regiões mais carente são lembradas só no períodos eleitorais.

Necessidade de planejamento intersecretarial e planejamento metropolitano, para garantir serviços e estrutura pública regional, na perspectiva de construir um litoral sustentável.

A avaliação das políticas públicas e dos serviços prestados é reconhecida como melhor ao longo dos últimos anos, porém ainda considerada como deficitária em diferentes aspectos e em diferentes áreas.

As políticas públicas que mais se destacam nas entrevistas são o transporte, a saúde, a segurança e a educação. Na questão do transporte público, para além das insuficiências no atendimento à demanda (tratamento

desrespeitoso diante dos idosos e demais passageiros com acesso livre, desorganização, falta de capacitação dos motoristas e cobradores, a frequência de circulação insuficiente, veículos ruins e lotados, sobretudo aqueles que vêm da parte continental do município e o preço alto), a inexistência de um sistema de transporte coletivo,

71 operado via ônibus municipais, parece produzir certo “desconforto”. O transporte intermunicipal também é alvo de muitas críticas.

O sistema operado via vans/lotação, não condiz mais com o crescimento e a evolução em curso na cidade. O sistema operado pelas vans, é considerado pelos entrevistados da sociedade civil como positivo no início de sua implantação, pelo bom funcionamento e pelo impacto positivo que teve na dinamização do comercio local, é tido hoje como já insuficiente.

Na política de Saúde, não obstante a existência de Postos de Saúde em vários bairros, são comuns as queixas quanto à demora no atendimento nessas unidades e às filas para marcação de consultas com especialista, e o atendimento insuficiente do hospital municipal, tendo que recorrer para os casos mais complexos à Santos. No que toca à Educação, há queixas quanto à precariedade das escolas e à qualidade do ensino. Não obstante a existência de creches noturnas – serviço bastante valorizado pelos entrevistados – comenta-se que faltam creches na cidade. Para as escolas estaduais as críticas são mais duras, pelo déficit de professores, aliado à violência existente nas mesmas.

Na Segurança Pública, por vezes citado como maior problema da cidade entre os participantes da pesquisa qualitativa, as queixas mostram-se genéricas. O aumento do efetivo policial durante a temporada de verão parece diminuir a sensação de insegurança. Porém fora esta época o efetivo policial seria insuficiente. Por outro lado, alguns notam o surgimento de índices de violência na área continental do município dos quais não se ouvia falar há poucos anos.

Há diferentes opiniões sobre os serviços de recolhimento e tratamento lixo e saneamento básico. Para parte dos entrevistados trate-se de mais uma prestação de serviço que deixa a desejar, principalmente por conta de má gestão. Para outros, o serviço atende às demandas primeiras da população, sendo esta a principal responsável pelo eventual descarte inapropriado de lixo. Avaliam como positiva o cata-treco e o serviço de coleta semanal de material reciclável. É necessário encontrar solução regional para a questão dos resíduos, apontam interlocutores. Na política habitacional, entrevistados apontam falta de planejamento. Muito se falou sobre como a falta de um acompanhamento mais atencioso do tema por parte do poder público facilita um crescimento desenfreado da especulação imobiliária, que tem motivado um aumento expressivo do valor dos imóveis e dos custos de

permanência e manutenção das moradias em todo o território de São Vicente. Os relatos sugerem que aumento do custo da moradia tem estimulado a ocupação de áreas sem infraestrutura pública adequada para instalação

de novos bairros e ‘bolsões habitacionais’.

São Vicente melhorou nos últimos 10 anos. O Novo Polo Comercial da Baixada vem ajudando a resgatar a

identidade e autoestima dos vicentinos. Depois de anos à sombra de Santos e pouco prestigiada no cenário local, o município parece desfrutar de maior prestígio na região e junto a seus moradores. A imagem de uma cidade

dormitório ainda se faz presente, mas ela não é unânime. Isso faz parte do passado, ou seja, “na verdade, era

assim”, mas hoje mudou.

A encenação da fundação de São Vicente, “a primeira cidade do Brasil”, constitui-se em um evento bastante valorizado por uma parte dos entrevistados, que tende a contribuir para o resgate e reforço da auto-estima do cidadão.

O dinamismo do comércio local e o novo shopping construído na cidade também são motivo de orgulho entre a maioria dos entrevistados, contribuindo sobremaneira para compor a imagem de uma cidade em franco

Chama a atenção nas entrevistas com as organizações da sociedade civil a associação da Petrobras com responsabilidade social, investimento na preservação ambiental e desenvolvimento econômico. A Petrobras também vem fortemente associada a empregos valorizados, bem remunerados e estáveis.

O pré-sal parece algo “distante” (no tempo e no espaço), mais associado à cidade de Santos do que a São Vicente, para participantes da pesquisa. Vêem Santos como o destino dos seus benefícios. Percebem porém que a

exploração do petróleo e gás vem ganhando relevância na dinâmica econômica da Baixada e fomentando a criação de cursos voltados a formar mão de obra para o setor. A pergunta que fica é se os moradores locais serão beneficiados pelos empregos gerados.

São Vicente não tem estrutura para acolher um eventual afluxo de pessoas que aportarão na Baixada atraídas pela Petrobras. Como Polo Comercial Regional, alguns entrevistados mostram-se temerosos de que o aumento excessivo de consumidores e moradores resulte na elevação dos preços na cidade.

Entrevistados de organizações da sociedade civil também manifestam preocupação com à falta de planejamento metropolitano para a demanda por infraestrutura necessária na região.

Uma preocupação levantada por alguns entrevistados de entidades da sociedade civil e de participantes da pesquisa, dizem respeito à especulação imobiliária e a elevação do custo dos imóveis motivadas pelos

investimentos da Petrobras em torno ao Pré-sal, que está gerando um sentimento de “expulsão” dos vicentinos da cidade – sensação similar amplamente manifestada na cidade de Santos.

Ao pensarem sobre o futuro da cidadeo clima entre os participantes da pesquisa e por parte de alguns entrevistados das entidades, é muitas vezes de otimismo. O tom geral das falas ressalta que a cidade vai continuar a crescer.

Porém a sensação mais geral é que São Vicente vem se desenvolvendo, ainda que com imensos desafios a serem enfrentados, porém com potencialidades e perspectivas para um desenvolvimento sustentável.

As potencialidades e perspectivas apontadas para o desenvolvimento de São Vicente basicamente giram em torno à três possibilidades: o comércio, o turismo e o desenvolvimento de atividades subsidiárias da

Petrobras/Pré-sal.

O Comércio é considerado a principal atividade econômica do município e sua principal vocação. O turismo ainda se faz presente, mas ocupa um lugar secundarizado face ao atual vigor comercial do município.

O comércio ganhou relevância, impulsionou o crescimento da cidade e constitui-se, hoje, em uma referência regional. Ele atrai moradores dos municípios do entorno para compras e empresários para investir na cidade, suplantando Santos, até então o maior centro de compras da Baixada.

O Pólo Comercial de referência regional, que já se constitui uma realidade importante para o desenvolvimento do município, poderá ser ampliar e expandir mais ainda no futuro, acreditam os entrevistados, tendo vista a

perspectiva da vinda da Petrobras e evento do Pré-sal para a região.

O Turismo é visto como uma potencialidade a ser resgatada e desenvolvida. É pouco e mal explorado no

município. Por isso o turista não vem mais para o município como vinha no passado. Haveria pouco investimento no turismo e as políticas seriam muito pontuais, sem planejamento.

O pouco aproveitamento do potencial turístico do município é por vezes relacionado mais à falta de divulgação dos atrativos oferecidos pelo município do que à falta de pontos turísticos, que haveria muitos. O turismo atualmente se restringe à praia.

Entre as potencialidades existentes para tornar o turismo uma atividade significativa para o desenvolvimento do município, os entrevistados das organizações apontam possibilidades em diversas modalidades turísticas: turismo náutico, turismo histórico, turismo ecológico, turismo de praia, cultural.

Para desenvolver o turismo ecológico o município contaria ainda com áreas verdes, cachoeiras e rios que poderiam ser explorados. A dimensão histórica que caracteriza São Vicente deveria ser valorizada e articulada com outras possibilidades turísticas, como o resgate da cultura caiçara, como um elemento turístico importante.

73 Um destaque nas falas de interlocutores da sociedade civil refere-se ao potencial do turismo náutico, que em grande medida depende de readequação urbanística em um dos pontos turísticos e patrimônio histórico tombado de São Vicente: a ponte Pênsil. Será necessário elevar aponte pênsil para permitir a circulação de embarcações turísticas, de pesca, entre outras, com o intuito de potencializar o uso da baía para atividades náuticas.

A Parque Industrial impulsionado pela cadeia do Pré-sal é visto como outra potencialidade a ser incrementada. Para parte entrevistados das entidades, a área continental do município é tida como um espaço ainda disponível para a instalação de novos empreendimentos – principalmente industriais – que possam gerar empregos na cidade, para além do setor comercial. A percepção de que Santos já se encontra no limite da sua expansão industrial, aumenta a possibilidade de indústrias se instalarem em São Vicente, tendo em vista ainda possuir áreas, na parte continental, que comportam atividades industriais.

A perspectiva da expansão industrial seria a oportunidade aberta pelo Pré-sal, cujas atividades de exploração de petróleo e gás demandariam empresas subsidiárias que forneçam produtos e serviços como suporte e

complemento às suas atividades.

5. DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO