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Perspectivas e potencialidades para um desenvolvimento sustentável

4. INSTITUCIONALIDADE E DINÂMICA SOCIOPOLÍTICA

4.2. Leitura Comunitária – Visão do Município e os Desafios para um Desenvolvimento Sustentável 54

4.2.4. Perspectivas e potencialidades para um desenvolvimento sustentável

Ao pensarem sobre o futuro da cidadeo clima é, entre os participantes da pesquisa e por parte de alguns

entrevistados das entidades, muitas vezes de otimismo. O tom geral das falas ressalta que a cidade vai continuar a crescer.

“São Vicente não é mais a mesma, está crescendo muito. A riqueza vai vir.”

“É uma cidade com futuro promissor (...) cidade calma, cidade do sossego, isso nós já estamos cansados (...) São Vicente foi a primeira cidade, foi onde nasceu o Brasil. A cidade estava no fundo do poço, o povo chamava de São Viselva. Era terra de índio, de gente burra de gente feia e isso está mudando”.

“Vai crescer sim (...) a gente já vê o exemplo por hoje. A gente já viu como era antes e como é hoje, então não tem como andar para trás ( ...) a tendência é crescer”.

Houve entrevistados de organizações, com percepção mais pessimista em relação ao futuro. O pessimismo em geral relaciona-se à falta de comprometimento dos “políticos” com a cidade. Faltaria “vestir” a camisa da cidade.

“Eu não sei se a gente é muito crítico, mas não vejo muita perspectiva de futuro bom. Eu nem fui naquele evento [da cápsula do futuro, São Vicente daqui a 500 anos]... Não dá para ter muita esperança com o futuro de São Vicente, não”.

“É que o desenvolvimento passa pela mão de políticos, infelizmente, aí você perde um pouco a esperança... A gente só fica com o pó. A gente podia ter o filé mignon, mas a gente só fica com o pó... Acho que Itanhaém e Peruíbe vão até melhorar um pouquinho, porque são menores, vai trazer desenvolvimento; mas, aqui, a gente só vai ter problema [com o Pré-sal]”.

“Expectativa é que realmente a cidade tenha um despertar político A política em S. Vicente até agora serviu muito mais como meio de ascensão social. Muita gente se candidatou se elegeu para ganhar um salário

65 melhor. As promessas de campanha ficaram como promessas. A gente tem vivido esse sistema há alguns anos. A cidade estacionou.”

“Lutar pra mudar a cidade. Praia grande, por exemplo, mudou assim, deu um ‘boom’!” “Ninguém ainda ‘veste a camisa’ de S. Vicente, em relação a tudo”.

Porém a sensação mais geral é que São Vicente vem se desenvolvendo, ainda que com imensos desafios a serem enfrentados, porém com potencialidades e perspectivas para um desenvolvimento sustentável.

As potencialidades e perspectivas apontadas para o desenvolvimento de São Vicente basicamente giram em torno de três possibilidades: o comércio, o turismo e o desenvolvimento de atividades subsidiárias da Petrobras/Pré-sal.

4.2.4.a. O Comércio – Principal atividade econômica do município e sua principal vocação

Aos olhos da maioria dos entrevistados, seja nos grupos de pesquisa como entre as organizações da sociedade civil, o comércio constitui a principal atividade econômica de São Vicente e a sua principal vocação. O turismo ainda se faz presente, mas ocupa um lugar secundarizado face ao atual vigor comercial do município.

“Aqui é mais o comércio. O turismo é mais em Santos, por causa do porto. Mesmo a cidade sendo mais velha que Santos, Santos tem um polo turístico, tem a Bolsa do Café, isso é conhecido, então as pessoas se

interessam...” (Gr2)

“Hoje, é o comércio a principal vocação”. “A Vocação hoje é Comércio e turismo”.

Os participantes dos grupos pesquisa comentam que o comércio ganhou relevância, impulsionou o crescimento da cidade e constitui-se, hoje, em uma referência regional. Menciona-se que ele atrai moradores dos municípios do entorno para compras e empresários para investir na cidade, suplantando Santos, até então o maior centro de compras da Baixada.

Se a importância adquirida pelo comércio de São Vicente, tornando um Pólo Comercial de referência regional, já se constitui uma realidade importante para o desenvolvimento do município, poderá ser ampliar e expandir mais ainda no futuro, acreditam os entrevistados, tendo vista a perspectiva da vinda da Petrobras e evento do Pré-sal para a região.

Segundo entrevistados, seria necessário potencializar o comércio na área continental do município, tendo em vista o seu crescimento no último período e portanto com muitas perspectivas de crescimento para gerar renda e novos empregos.

“Eu conheço pessoas em Cubatão, em Santos, Praia Grande, Mongaguá, Peruíbe, Bertioga que vem fazer compra em São Vicente, porque aqui tem tudo. Quando é feriado em Santos, em São Vicente você não consegue nem andar (...) Tinha uns turistas lá que falaram que parecia a 25 de março (...) aqui o comércio supera Santos, supera Cubatão, Guarujá... (...) na Baixada Santista a alíquota é de 5% e aqui reduziu para 1%”. “O comércio de São Vicente cresceu tanto que agora tem ponto de comércio ali numa das principais ruas, na Martim Afonso. Ali é o ponto mais disputado da Baixada Santista porque todo mundo quer trabalhar ali, estou falando dos empresários. Eles querem ter um ponto ali (...) moradores de outras cidades vem fazer compras aqui (...) meu patrão tem loja aqui e em Santos e ele não consegue faturar lá o que ele consegue faturar aqui, então o negócio virou...”

“Com a chegada de tudo isso que está se prevendo com a Petrobras, pode ser que o setor comercial de São Vicente se expanda”.

“O comércio que desenvolveu bastante nos últimos anos. Essa área continental tem tudo para ser um polo comercial que vai gerar muito emprego, muita renda pras famílias...”.

Ainda que bem minoritária, tem opinião de entrevistados que discordam da pujança do comércio, principalmente porque haveria muito comércio irregular, o que o comprometeria como uma atividade para o futuro, tendo em vista que não garantiria os direitos trabalhistas e a remuneração justa.

“Tem gente que vai alegar que tem o comércio, mas isso é balela. Minha cunhada passou fome no final do ano passado... Uns 60% [dos estabelecimentos de comércio] é irregular... Não pode ser uma coisa só dessa gestão, tem que ser algo para o futuro”.

“Mas é comércio irregular, uma escravidão, muitas horas de trabalho, sem carteira registrada”.

4.2.4.b O Turismo – Perspectiva de desenvolvimento a ser resgatada

São Vicente é um dos 15 municípios paulistas considerados estâncias balneárias pelo Estado de São Paulo, por

cumprirem determinados pré-requisitos definidos por Lei Estadual. Tal status garante a esses municípios uma

verba específica por parte do Estado para o desenvolvimento do turismo. Também, o município adquire o direito

de agregar junto a seu nome o título de Estância Balneária, termo pelo qual passa a ser designado tanto pelo

expediente municipal oficial quanto pelas referências estaduais.

Porém, apesar de a cidade portar esse estatuto diferenciado para a promoção da atividade e reconhecerem o turismo como um potencialidade a ser resgatada e desenvolvida, muitos entrevistados avaliam que o setor é pouco e/ou mal explorado no município. Por isso o turista não viria mais para o município como vinha no passado. Haveria pouco investimento no turismo e as políticas seriam muito pontuais, sem planejamento. O pouco aproveitamento do potencial turístico do município é por vezes relacionado mais à falta de divulgação dos atrativos oferecidos pelo município do que à falta de pontos turísticos, que haveria muitos. O turismo atualmente se restringiria à praia.

“Potencial é o turismo. Devia ter um planejamento regional também”. “O turismo é fraco. Turista não vem mais para cá”.

“Quando eu era pequeno, vinha todo mundo... Agora, vai todo mundo para a Praia Grande”.

“O turismo é feito assim... apagando incêndio, sabe? Apaga aqui, apaga ali... Só temos o turismo aqui... não tem indústria, não tem porto!”.

“Tem pouco incentivo e exploração do turismo. Se restringe só à praia. Deveriam ser divulgados os outros pontos”.

“Existem quase 40 pontos turísticos na cidade. A cidade está bem servida de pontos turísticos. Não tem como criar mais. O mirante de São Vicente, por exemplo, foi construído por Oscar Niemeyer. Talvez aproveitar também rios e fazer dessas regiões um passeio turístico”.

Entre as potencialidades existentes para tornar o turismo uma atividade significativa para o desenvolvimento do município, os entrevistados das organizações apontam possibilidades em diversas modalidades turísticas: turismo náutico, turismo histórico, turismo ecológico, turismo de praia, cultural.

Para desenvolver o turismo ecológico o município contaria ainda com áreas verdes, cachoeiras e rios que poderiam ser explorados. A dimensão histórica que caracteriza São Vicente deveria ser valorizada e articulada com outras possibilidades turísticas, como o resgate da cultura caiçara, como um elemento turístico importante.

“Eu acho que, como potencialidade, é o turismo... ecologia...tem muita cachoeira...São Vicente tem bastante... e não é explorado... acho que seria um polo da Baixada...os rios que tem, que contorna a gente aqui, podiam ser mais bem explorados...”.

67 “Temos esse pedacinho verde preservado... temos um mar desse lindo...”.

“Há também uma beleza na cidade que é muito pouco aproveitada. O ecoturismo também”.

“Quem sabe estimular um tipo de turismo associado aos aspectos históricos da cidade, que deve, inclusive, receber maior trabalho de valorização. Valorizar a cultura caiçara também. Precisa fazer tudo isso, mas sempre bem articulado com dimensão histórica”.

Um destaque nas falas de interlocutores da sociedade civil refere-se ao potencial do turismo náutico, que em grande medida depende de readequação urbanística em um dos pontos turísticos e patrimônio histórico tombado de São Vicente: a ponte Pênsil.

Será necessário elevar a ponte pênsil para permitir a circulação de embarcações turísticas, de pesca, entre outras, com o intuito de potencializar o uso da baía para atividades náuticas: marinas, transporte aquático,

desenvolvimento da pesca, passeios turísticos, etc.

“Tem um potencial maior do que Santos aqui. Tem muito mais natureza preservada, mais bonita. São Vicente vai ser outra cidade se eu tirar isso daqui [a Ponte Pênsil]”.

“Se subir a Ponte Pênsil, São Vicente vai ser outra. Olha a baía que nós temos aqui. É propício para ter marinhas aqui. Você já viu o tanto de emprego que gera uma marinha? Eu acho que isso vai mudar São Vicente. Mas com responsabilidade. “Tem oito marinhas à míngua”.

“Exige o destombamento da ponte pênsil, para elevá-la e estimular o trânsito de embarcações e desenvolvimento das marinas da região”.

“Ia poder ter entreposto de pesca, centro de pescado. Nem isso não passa aqui”.

“A segunda maior marinha do Brasil está aqui, no Guarujá. Oito bilhões de reais se somar todas as embarcações que estão na marinha. Só perde para a marinha da Glória no Rio”.

“Tem uma associação de marinheiros aqui que está morrendo de fome. Para trabalhar, têm que ir todos para o Guarujá”.

“E o primeiro porto do Brasil tá aqui, a 200 metros...”.

“Lá poderia ter pontos de atracação, para a pessoa pegar barcos, não pegar trânsito. Poderiam botar teleféricos”.

“Por isso que eu digo que tem que ter transporte aquático. A gente tá rodeado de água! Põe uns flutuantes... Não tem semáforo...”.

Segundo os interlocutores o investimento no turismo não deveria se restringir somente à área insular do

município, tendo em vista que lá se localizam os principais atrativos turísticos. Apontam a necessidade de que os bairros da parte continental também deveriam ser integrados no desenvolvimento turístico.

“Os principais pontos turísticos estão na área insular. Deve haver investimento também nos bairros da periferia, e há espaço pra isso”.

“Investimento é massivamente voltado à área insular e deixa a desejar nos bairros”.

Para parte entrevistados das entidades, a área continental do município é tida como um espaço ainda disponível para a instalação de novos empreendimentos – principalmente industriais – que possam gerar empregos na cidade, para além do setor comercial. A percepção de que Santos já se encontra no limite da sua expansão industrial, aumenta a possibilidade de indústrias se instalarem em São Vicente, tendo em vista ainda possuir áreas, na parte continental, que comportam atividades industriais.

“O que eu acho é que tem que ter investimento de empresários aqui, na cidade, principalmente, na área continental, que é imensa... mas o que falta é interesse dos políticos... os empresários vão tudo para Santos... [mas] Santos tá começando a ficar saturada...”.

“São Vicente falta investimento em indústria... tem, tem como construir, desde que siga as leis de meio ambiente”.

“Que invistam em fábricas, na área continental... vai ser benéfico pra eles e pra cidade... e a área continental é a única que pode receber essas indústrias...”.

A grande oportunidade para a expansão industrial seria a oportunidade aberta pelo Pré-sal, cujas atividades de exploração de petróleo e gás demandariam empresas subsidiárias que forneçam produtos e serviços como suporte e complemento às suas atividades.

Os mais otimistas vislumbram a possibilidade de um novo Pólo industrial na baixada em São Vicente, ao lado de Cubatão e do Porto de Santos, basicamente como suporte para a exploração do Pré-sal.

Segundo os entrevistados é necessário que o poder público municipal incentive a vinda de empresas para a cidade. Inclusive comentam da necessidade de instalação de estaleiro

“Eu acho que vai ter um ganho, né? Se realmente for se concretizar tudo isso que estão dizendo, né? (Pré-sal). Eu acho que seria muito bom: geração de emprego, geração de postos de trabalho”

“Com essa coisa do pré-sal as autoridades podiam entrar em contato com as empresas para investir em criação de emprego e aumento da renda da população”.

“São Vicente falta investimento em indústria... tem, tem como construir, desde que siga as leis de meio ambiente”.

“Talvez seja um dos grandes polos da Baixada, junto com o turismo... se realmente se concretizar... vai ser que nem o polo industrial de Cubatão e o porto de Santos, como duas áreas, que eu consigo pensar, de grande geração de emprego...”.

“Que invistam em fábricas, na área continental... vai ser benéfico pra eles e pra cidade... e a área continental é a única que pode receber essas indústrias...”.

“Empresa, em São Vicente, a única empresa grande que tem é a Saint Goban... é fábrica de vidro.. é a única indústria que tem aqui, em São Vicente...”.

“Aqui, estão pleiteando uma área para estaleiros, para dar suporte. Aqui, seria uma cidade que daria suporte para a exploração [da Petrobras]”.

4.2.4.d. Questões a serem equacionadas para um Desenvolvimento Sustentável

Segundo os moradores e representantes da sociedade civil entrevistados, os principais desafios a serem superados rumo a um desenvolvimento sustentável seriam a necessidade de maiores incentivos à formação e qualificação profissional, o problema da ocupação de grandes espaços por containers abandonados, o pouco investimento em malha viária e ausência de uma política pública bem estruturada e de caráter social que dê conta do aumento do número de usuários de crack na região.

O equacionamento da demanda por qualificação formação e qualificação profissional passa pelo implementação de cursos universitários na cidade e de cursos profissionalizantes, na perspectiva de preparar e especializar a

69 população para a acessar empregos mais qualificados e valorizados, especialmente àqueles oriundos dos novos empreendimentos que se avizinham.

“Todo mundo vai fazer faculdade em Santos. Falta qualificação profissional em São Vicente”. “Tem UNESP e UniBR. Funciona muito mais como aulas não presenciais [na UniBR]”.

“Tem as Fatecs e Etecs... Vão implantar duas salas de aula da Etec aqui, no Pq. Continental. Pleiteamos cursos de petróleo e gás. Tá tendo carência de pessoas especializadas nesse área, né?”.

“A ETEC está dando esse curso de logística para facilitar, se der chance para a gente que mora aqui é maravilha, chance de emprego!”

“Estão pleiteando transporte gratuito universitário, porque não tem no município. Vamos ter encontro com os Secretários de Ciência e Tecnologia e de Planejamento, junto com os estudantes, para estar pleiteando uma audiência com o Prefeito. Precisa de cinco mil assinaturas, para se tornar projeto de lei. Já estão colhendo essas assinaturas pela internet”.

Outra questão que incomoda e gera problemas para a população são depósitos de Containeres, especialmente o depósito de containeres que se encontra na área do Hipódromo do Jockey. Demandam a sua desativação, por afetarem as construções do seu entorno e propiciarem a reprodução de mosquitos.

“Tem áreas da cidade que viraram depósito de containers. Isso é um problema seríssimo”.

“Eu acho que é o seguinte: tem esse hipódromo do Jockey. Tá abandonado, abandonado. Podia fazer um teatro ali, tá perto de tudo. A [Rodovia] Imigrantes tá atrás ali. Sabe o que fizeram com uma área ali? Usaram uma parte para fazer depósito de containers. O povo de lá tá reclamando, porque é muito peso e tá rachando as casas. Prejudica as casas, prejudica as moradias e traz dengue, porque tem lugar que acumula água”.

Outra questão recorrente em falas de entrevistados é a necessidade de investimento em estruturas viárias, para ajudar a equacionar o tráfego e trânsito no município, elemento lembrado como importante para o

desenvolvimento.

“Precisava terminar a estrada da serrinha de Peruíbe, que liga São Vicente à rodovia Regis Bittencourt, pra dar mais vazão a esse tráfego todo que passa por aqui”.

“O transito entre o interior [do Estado] e o litoral sul está impossibilitado”.

“Terminar a estrada que sai de Itanhaém e termina em Pedreira – iniciada há muito tempo e não terminada”. Por fim, vinculado o desafio de construção de políticas públicas voltadas ao tratamento dos usuários de crack e outras drogas, é sensível aos entrevistados.

“Hoje existe uma prática higienista em Santos e São Vicente, que também não é sustentável. Ninguém sabe o que fazer, por exemplo, com os usuários de crack. Aumentou muito a população de usuários de uns 2, 3 anos pra cá. A maior motivação das prisões hoje está ligada ao tráfico e uso de drogas”.

Destaca-se como grande entrave a falta de abertura e resposta por parte do poder público às reivindicações e demandas levantadas em fóruns deliberativos abertos à população, o que desestimula uma atuação mais efetiva na esfera pública.