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CONSIDERAÇÕES SOBRE A ANÁLISE DOCUMENTAL DAS

No documento patriciamariareiscestaro (páginas 141-146)

4 O QUE DIZEM OS DOCUMENTOS CURRICULARES DAS

4.4 CONSIDERAÇÕES SOBRE A ANÁLISE DOCUMENTAL DAS

O curso de Pedagogia e a construção de seus aspectos legais e curriculares tem se constituído importante objeto de pesquisas na área da educação, especialmente com a promulgação da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (BRASIL, 1996). A partir desse texto legal, instaurou-se uma grande expectativa em relação à oferta e qualidade da formação de professoras (es) no âmbito do Ensino Superior, fruto da conquista política em contraposição ao engendramento de mecanismos de simplificação e aceleração dessa formação.

A Educação Infantil, definida como primeira etapa da Educação Básica, a partir da LDB/96, fez germinar uma quantidade maior de pesquisas, dando-se, assim, visibilidade às especificidades das instituições responsáveis pelo cuidado-educação de bebês e crianças

34 Os registros dos módulos se encontram no Anexo L. 35 Os registros dos módulos se encontram no Anexo M.

pequenas. Nesse sentido, colocou-se em evidência a preocupação com a formação de professoras para atuar junto a esses sujeitos.

Estudos e pesquisas desenvolvidos durante esses 23 anos trouxeram o consenso da relevância da formação docente para a qualidade do trabalho na Educação Infantil. Nunes e Kramer (2013) apontam que a docência em creches e pré-escolas requer uma gama de conhecimentos acerca do desenvolvimento infantil, de questões curriculares e pedagógicas, da função cultural e social das instituições. Essas são peças fundamentais para a elaboração de propostas pedagógicas, organização do tempo e do espaço, planejamento e registro de atividades, acompanhamento individual dos sujeitos e projetos desenvolvidos, da relação com as famílias e comunidade. Todos esses aspectos podem ser considerados complexos e exigem formação, tanto inicial, como continuada.

Pode-se considerar que a definição do curso de Pedagogia como o lócus principal da formação de professoras de Educação Infantil, a partir de 2006, com a aprovação das Diretrizes Curriculares Nacionais para o Curso de Pedagogia (BRASIL, 2006b) é uma conquista, já que a formação em nível superior pode possibilitar a discussão, a reflexão e a concretização da educação como direito para os bebês e crianças, constituindo-se direito também para as próprias profissionais que decidem trabalhar no contexto da EI.

Apesar do movimento na direção do reconhecimento da necessidade da formação inicial para docentes da EI, principalmente a partir das DCNCP (BRASIL, 2006b), de modo geral, ainda se percebe uma fragilidade de conhecimentos a respeito de bebês, crianças bem pequenas e suas relações com os contextos coletivos de educação-cuidado nos desenhos curriculares dos cursos de Pedagogia investigados. Tal fato se confirma pelo registro escrito dos Projetos Pedagógicos dos Cursos de Pedagogia, matrizes curriculares, planos de ensino das disciplinas/módulos e respectivas ementas.

Com a intenção de sinalizar e facilitar a visualização, segue um quadro com alguns aspectos observados nesses documentos curriculares, tomando como foco a formação da professora que atua/vai atuar com os bebês e crianças bem pequenas no contexto da creche.

Quadro 15 – Impressões do campo

Projeto Pedagógico do Curso Matriz Curricular com

Disciplinas/módulos Planos de Ensino/Ementas

Desconsideração das DCNEI (BRASIL, 2009c) e outros documentos

oficiais da EI na fundamentação legal do curso de Pedagogia das IES Tulipa

e Hortência. Quantidade reduzida de disciplinas/módulos que discutem a EI em seus conhecimentos teóricos e práticos. IES Tulipa: quatro (uma específica e três de formação

teórica e prática). IES Hortência: duas (uma específica e uma de formação

prática).

IES Rosa: dois módulos (um específico e um que discute

somente a pré-escola).

Fragilidade dos conhecimentos específicos para a atuação da

professora nas creches.

Em todos os PPCs, é mencionada a formação da (o) pedagoga (o) para o

exercício da docência na Educação Infantil, conforme apregoa as DCNCP

(BRASIL, 2006b).

Ausência de diálogo sobre bebês, crianças bem pequenas e

creches entre os componentes curriculares.

A relação dos bebês e crianças bem pequenas no contexto da creche não foi identificada pela proposta de discussão da área da

Psicologia. De modo geral, percebe-se o uso de

termos e verbetes direcionados mais à escola. Entretanto, esse aspecto é mais

relativizado no PPC da IES Rosa.

Desequilíbrio relação teoria- prática.

Falta de especificação clara como os estágios são organizados, realizados,

supervisionados e acompanhados. Fragilidades na escrita para identificar

a creche como parte integrante da EI.

Fragilidades na escrita para identificar a creche como parte

integrante da EI.

Os planos de ensino/ementas das disciplinas/módulo que

contemplam saberes da EI abarcam muitos conteúdos, porém revelam pouco tempo

para serem discutidos. Referências bibliográficas carentes de sugestões de livros e

materiais direcionados à EI, creche, bebês, crianças bem

pequenas.

Fragilidades na escrita para identificar a creche como parte

integrante da EI. Fonte: Elaborado pela autora.

A partir das análises empreendidas nesses documentos curriculares, observa-se que a Educação Infantil está presente nos cursos de graduação em Pedagogia pesquisados. Ainda que de forma embrionária, constitui como elemento importante para o desenvolvimento das profissionais que atuam/atuarão na docência com crianças de 0 a 5 anos de idade. No entanto, cabe ressaltar que a creche precisa ser mais evidenciada nesses contextos. Há demandas para

que a formação abranja dialeticamente as especificidades teórico-práticas no cotidiano das instituições educacionais para a infância. Pode-se inferir, a partir dos documentos curriculares, que, nos cursos de Pedagogia pesquisados, ainda são pouco trabalhadas algumas das dimensões relacionadas à atuação em contextos educativos da EI, principalmente da creche.

A carga horária e a quantidade de disciplinas/módulo específicos da EI apresenta- se de maneira distinta para cada instituição. As análises das ementas indicam que a Pedagogia tem sido o curso que prepara a profissional para a Educação Infantil, mesmo que de forma incipiente. As disciplinas/módulo propõem estudos que direcionam a compreensão de criança e infância; conhecimento das funções, objetivos da EI e organização curricular das instituições, porém revelam pouco tempo para essas discussões.

É preciso ressaltar, ainda, a necessidade de que as diversas áreas de conhecimento tenham como objeto de preocupação os bebês, as crianças e as infâncias, consolidando a inserção de teorizações e práticas na formação docente.

Em se tratando da área de Psicologia, posso dizer que não consegui identificar a relação dos bebês e crianças bem pequenas com os seus contextos educacionais coletivos.

Para melhor compreensão da oferta da formação que atenda às especificidades da EI em cada instituição, é preciso levar em consideração outros aspectos. É necessária uma imersão da realidade de cada instituição por meio de estudos aprofundados das relações dos projetos curriculares dos cursos com os planos de ensino; estrutura física das instituições, qualificação docente; propostas de ensino e metodologias, enfim, uma compreensão dinâmica do currículo vivido. Para entender um pouco melhor dessa realidade, no próximo capítulo, trago as vozes dos sujeitos que vivenciam/vivenciaram esses contextos.

É fundamental reconhecer que a formação docente para a Educação Infantil se constitui uma luta histórica traçada ao longo dos anos e tem se consolidado nos aspectos legais e nas propostas curriculares dos cursos de Pedagogia. Apesar de identificar que há uma predominância de propostas de formação para os anos iniciais do Ensino Fundamental, estando em segunda ordem a formação de professoras para a Educação Infantil, mesmo assim é preciso reconhecer os avanços no campo, principalmente em relação aos conhecimentos referentes à pré-escola. A creche ainda fica invisível nesse processo. Faz-se necessária uma sólida formação teórico-prática, a qual possibilite a ação da (o) pedagoga (o) junto aos bebês e crianças bem pequenas no cotidiano dessas instituições. São essenciais as discussões que evidenciem as especificidades do trabalho com a Educação Infantil em sua plenitude.

Santos (2014) aponta a necessidade de refletir sobre a maneira como se dá essa formação, para evitar a alienação e a automatização do fazer docente. É preciso (re) significar

conceitos e concepções para atender a infância em seus direitos básicos, bem como indagar sobre quais saberes serão eleitos ou devem ser privilegiados na formação inicial dessas profissionais, além de selecionar quais saberes possibilitam a construção de práticas que priorizam o bebê, a criança e suas experiências. Mais recentemente, o campo da Educação Infantil tem debatido a natureza da docência com os bebês. Em síntese, a questão é como garantir que o conjunto de interrogações possa, de fato, significar qualidade nas instituições que recebem bebês e crianças pequenas nas instituições de Educação Infantil.

Esta pesquisa defende a ideia de que a atuação da docência na Educação Infantil necessita de conhecimentos que deverão a princípio ser adquiridos no âmbito da formação inicial do curso de Pedagogia e depois, ao longo de toda a trajetória profissional docente.

Para tal, torna-se imprescindível que a formação da professora de Educação Infantil seja implementada com base no reconhecimento das potencialidades e particularidades do bebê e da criança, situada em um mundo globalizado, no contexto do século XXI, com novos contornos nas relações familiares e de trabalho.

No documento patriciamariareiscestaro (páginas 141-146)